Paulo Copacabana: Por que os setores progressistas têm de formar grande frente ampla para 2018
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Para evitar um segundo turno entre as candidaturas que despontam de Alckmin e Bolsonaro
As sementes do golpe
por Paulo Copacabana, especial para o Viomundo
Não tenho provas, mas a convicção e a memória de que as coisas caminharam assim.
O blogueiro Renato Rovai definiu que um “golpe não é, ele vai sendo”.
Concordo e acrescento: o golpe orquestrado no Brasil teve várias etapas, e ainda estamos vivendo algumas delas.
Começou com o “fogo cerrado” da grande mídia (Globo à frente) em relação à corrupção do governo federal, primeiro o “mensalão apenas do PT”, desde 2005, voltando à carga em 2012 para afetar as eleições municipais.
Sessões do STF eram transmitidas ao vivo para todo o país pela primeira vez na história, onde predominou teses absurdas como a “teoria do domínio do fato”, abrindo espaço para acusações sem provas.
O resultado eleitoral não foi como o esperado pelos golpistas.
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Primeiro, porque o país ainda crescia e gerava emprego, com políticas sociais e de infraestrutura sendo levadas adiante. Depois, porque os valores supostamente desviados eram irrisórios diante de inúmeros outros casos em todos os níveis da administração e em todos os governos.
O tema não pegou. Mas a semente do golpe estava lá: “o período de maior corrupção da história” era um tema que martelava a mente das pessoas diariamente.
Depois, a ofensiva foi sobre a economia popular, em 2013, com a história da “inflação do tomate”, com direito a protesto da “economista” Ana Maria Braga e tudo.
A subida de alguns preços internos por causa da pressão dos preços internacionais produziu celeuma e abriu espaço para o velho discurso de que isso acontecia porque o “Estado gastava muito”, maquiava as contas e tinha que manter os juros altos.
Na prática, a lógica defendida era cortar gastos e manter os juros elevados. O assunto da inflação “pegou” nas classes populares, mas como a economia ainda crescia e gerava empregos, o déficit primário de fato não existia e isso alimentava controvérsias na mídia especializada, o ajuste proposto pelos golpistas não vingou.
Mas outra semente do golpe estava plantada: “setor público gastador, corrupto e ineficiente deveria ser substituído pelo mercado em quase todas as áreas”, outro lema que era incutido diariamente sobre a população.
Em 2013, reivindicações da juventude nos grandes centros urbanos em relação ao custo do transporte, primeiro, foram reprimidas violentamente pelas policias militares dos Estados.
A reação espontânea e massiva dos jovens a esta violência, com o tempo, foi sendo infiltrada por pautas dos golpistas, com setores fascistas ocupando as ruas e impedindo manifestações partidárias. Outra semente do golpe estava plantada: “os protesto seriam apartidários, contra toda a política que estava aí”.
Temas como “Copa para quem?”, debatidos pelos movimentos sociais sobre as ações excludentes levadas adiante pelos governos e pela organização dos grandes eventos esportivos foram sendo substituídos por outros semelhantes que pediam “Educação e Saúde padrão FIFA”, mas que eram empunhados por setores conservadores da classe média e da elite que nunca utilizaram serviços públicos.
Este movimento conservador, no seu interior, começava a criticar as ações do governo federal e de alguns Estados de forma seletiva, mas seguia aceitando as práticas corruptas da cartolagem do futebol, como no caso da Fifa e da CBF.
Esta narrativa apresentou outras derivações, como a idéia de que a Copa do Mundo seria uma bagunça em organização e infraestrutura, apenas se salvando a Seleção de Futebol.
Este era o debate na véspera do evento.
Como pudemos observar, ocorreu exatamente o contrário, mas a grande mídia nunca faria este mea culpa. Daí, para as grandes manifestações conservadoras com camisas amarelas da Seleção foi um pulo, com o apoio explícito dos principais cartolas do futebol e da Rede Globo, transferindo jogos e horários das partidas aos domingos.
Estava plantada mais uma semente: “a indignação seletiva com a corrupção”, seletividade esta que também apareceria no caso de Eduardo Cunha.
A Operação Lava Jato, em 2014, permite recuperar todas as sementes plantadas anteriormente, agora, sim, turbinadas por um caso de corrupção de proporções bilionárias.
Diante das dificuldades econômicas crescentes, a noção de que uma corrupção sistêmica atinge o setor público de forma central, retira sua eficiência e seria a maior responsável pelos problemas no país conquista grande parte da população.
Estaríamos, portanto, diante da maior corrupção da história do país, patrocinada por um partido político específico, comprometendo o setor público e que estaria sendo combatida pelo Judiciário, Ministério Público e Policia Federal, absolutamente apartidários.
Todas as sementes do golpe brotaram de forma conjunta.
O parlamento mais conservador eleito desde a redemocratização do país, eleito pelo poder do dinheiro, empoderando setores “da bala, do boi e da bíblia” fizeram o que faltava, golpeando uma presidente com 54 milhões de votos sem crime de responsabilidade.
Tudo isso para abrir espaço para uma pauta completamente regressiva do ponto de vista político, social e econômico. Uma pauta antinacional, antipopular, antidemocrática e antipública.
O Estado policialesco e as candidaturas que despontam para as eleições presidenciais de 2018 refletem este cenário e a nova colheita das sementes do golpe.
De um lado, Geraldo Alckmin, o candidato do establishment conservador, apoiado pelo sistema financeiro e empresários, adorador do neoliberalismo.
De outro, Jair Bolsonaro, candidato da ultradireita fascista escancarada, que vem crescendo fortemente e constituindo-se em alternativa ao establishment.
Qualquer semelhança com o que vimos no segundo turno da eleição americana será mera coincidência.
Se não quisermos que este quadro se consolide, é vital que os setores progressistas formem uma grande frente ampla em 2018.
Temos de fazer tudo para colocar “nosso Bernie Sanders” no segundo turno. Ou também ficaremos entre “Hillarys” e “Trumps”, muito provavelmente piorados.
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