Viomundo errou feio: Jornalistas Livres não foram abduzidos pelo Facebook

Tempo de leitura: 4 min

por Luiz Carlos Azenha

Um erro de apuração fez com que o Viomundo cometesse uma falta grave. E logo com um de nossos mais brilhantes parceiros: os Jornalistas Livres, de Laura Capriglione e muitos outros colegas.

Não serve como justificativa, mas aqui vai um preâmbulo: faz tempo temos sustentado que Mark Zuckerberg está matando a blogosfera.

Na verdade, o Facebook está matando todo um modelo de negócios. O objetivo, sabemos, é concentrar cada vez mais o tráfego da internet dentro da cidade murada.

Zuckerberg usa uma tática agressiva.

Escrevendo no YouPix, Bia Granja resumiu:

O Facebook se tornou o principal gerador de tráfego dos sites no mundo todo. Em alguns deles, é responsável por mais de 60% das visitas. No Buzzfeed, veículo que já nasceu sob a lógica da web social, responde por 37% da audiência. Quem faz conteúdo e tem um analytics sabe do que estou falando, é só dar uma olhadinha aí pra comprovar que o Facebook se transformou no principal pilar de distribuição.

E daí vem essa notícia de que o tráfego dos 30 maiores publishers caiu 32% desde janeiro desse ano, somando os dados de desktop e mobile. E que entre os top 10, a queda foi ainda maior, de 42.7%. Quase metade da audiência.

Outro estudo, esse da SimilarWeb, apontou que de Janeiro à Setembro, o Huffington Post perdeu 60% do seu tráfego no Facebook, indo pra 16 milhões de views por mês. Fox News perdeu 43% e o Buzzfeed 41%.

Diz a matéria do Digiday que esses dados correspondem apenas aos números de acesso via desktop. Então temos que ter cuidado com essa última pesquisa, já que mobile responde por 50% da fonte de tráfego desses sites hoje… mas não pela fonte de grana.

Além do uso crescente de ad blockers no mundo todo, colocando o modelo de banner em xeque, o problema é que a audiência já migrou pro mobile, mas o dinheiro ainda não.

A teoria mais comum sobre o motivo dessa queda é que o Facebook, todos sabem, está querendo forçar cada vez mais que a vida das pessoas aconteça dentro dos limites do seu wireframe. Já atingindo 1 bilhão de pessoas diariamente, a missão é cada vez mais concentrar todos os acontecimentos do mundo e de seus usuários na rede social.

Desde o lançamento dos Instant Articles (aqueles posts incríveis e interativos que são postados nativamente na rede social e que carregam bem mais rápido e chegam em bem mais gente) e também de sua agressiva entrada no mercado de vídeos online (“escondendo” vídeos linkados do Youtube e dando prioridade pros postados nativamente), o Facebook tem pressionado os veículos a postarem diretamente no site. Derrubando o paradigma máximo da indústria do conteúdo online de que, “haja o que hajar”, o importante é levar o usuário pro próprio site, onde ele pode ser medido, categorizado, empacotado, vendido e analisado.

Uma das táticas do Facebook para agarrar o público é permitir que seus vídeos sejam compartilhados em outras plataformas.

A tendência dos usuários é fazer isso: reproduzir seus vídeos exclusivamente no Face. Porém, sabemos a forma arbitrária como o Facebook age na hora de bloquear conteúdo.

O caso mais recente foi do jornal ABCD Maior:

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Sem apresentar qualquer motivo, explicação ou possibilidade de defesa, a página do jornal ABCD MAIOR foi arbitrariamente excluída do Facebook desde o dia 26 de dezembro.

Buscamos ao menos seis contatos com a empresa a partir das centrais disponibilizadas pela própria rede social — já que não realiza atendimentos por telefone (muito menos pessoalmente) — e obtivemos seis repostas genéricas, com informações vagas; em nenhum momento fomos ouvidos.

O Facebook acatou unilateralmente uma “denúncia” contra o ABCD MAIOR e não nos dá possibilidade de nos defender.

Lembrando que o jornal ABCD MAIOR não se envergonha de ser conhecido como um veículo de mídia alternativa. E, por isso, não foram poucas as ameaças sofridas nas redes sociais.

Por diversas vezes campanhas para realização de denúncias em massa foram sugeridas contra o ABCD MAIOR; o fato ocorreu em coberturas jornalísticas distintas e recentes, como as ocupações das escolas estaduais de São Paulo e durante a votação dos Planos Municipais de Educação pelas câmaras do ABCD, que abordaram o debate da igualdade de gênero e diversidade nas escolas.

As campanhas de difamação eram públicas. Para isso, seria suficiente uma leitura nos comentários proferidos por alguns leitores às postagens que continham os temas citados.

Por isso, lamentamos o ocorrido e esperamos o reestabelecimento de nossa comunicação no Facebook para que os leitores do ABCD tenham a oportunidade de ter acesso à novas alternativas de informação na Região. Caso contrário, estamos dispostos a buscar meios legais para tanto.

Isso, frisamos, pode acontecer a qualquer usuário do Facebook, a qualquer hora, sem transparência, sem explicação.

Dito isso, vamos ao nosso erro. Aqui, num post scriptum, o Viomundo acusou indevidamente os Jornalistas Livres de sucumbirem ao Facebook, replicando os vídeos exclusivamente naquela plataforma. Pretendíamos, na verdade, fazer um alerta, já que muitos usuários não se dão conta do risco do sumiço repentino de seu conteúdo.

Na verdade, como nos alertou a Laura Capriglione, os JL também postam os mesmos vídeos no You Tube.

Aparentemente, procuramos o vídeo na conta errada!

Laura reclamou também de não termos checado a informação diretamente com ela: outro erro grosseiro.

Por esta lambança jornalística, devemos desculpas aos Jornalistas Livres, à Laura Capriglione e aos nossos leitores.

Que o episódio pelo menos sirva para alertar os desavisados e incentivar o debate sobre o avanço avassalador do Facebook sobre toda a mídia, inclusive a alternativa.

O risco agora é perder os parcos recursos para produção de conteúdo exclusivo, obtidos com banners que estão fora dos domínios do sr. Zuckerberg.

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