Depois de justa homenagem aos mortos em Paris, tuiteiras pedem que autoridades brasileiras façam o mesmo em relação à tragédia de Mariana
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Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil
DUAS FACES HORRENDAS PREGADAS NO MESMO ROSTO HOSTIL
por Fernando Coelho, no Facebook
Minas e Paris têm a mesma grandeza trágica. Mas perpetuam significados diferentes na explosão das duas barbáries. Uma, a francesa, de conveniência política, geopolítica, internacional. A nossa, travada nos interesse econômicos, no envolvimento do próprio Governo, bancos, investidores de outros países. Constitui-se em nossa irrevogável prisão.
Os assassinos de Paris, infernais, mostram a cara, assumem suas misérias contra o mundo. Os assassinos da calamidade brasileira se escondem em desculpas, maquinações pestilentas do subjugo do nosso desenvolvimento.
Os assassinos endemoniados do Estado Islâmico têm origem religiosa nos equívocos do fundamentalismo. Os assassinos brasileiros alimentam-se de outro tipo de covardia, o assédio moral e financeiro a comunidades, inocentes trabalhadores rurais, com a conivência de políticos e da própria burguesia reinante neste emaranhado de golpes contra o humilhado povo brasileiro.
Não haverá sublevação brasileira. A mão de ferro dos ladrões dos nossos bens é mais pesada. Portanto, não se enganem, porque haverá hierarquização da Imprensa brasileira no tratamento dos dois infelizes e monstruosos fatos. A Imprensa nacional vive de favores, donativos, vendas, negociatas dos seus espaços, cujos lucros e valores estão alijados dos envelopes de pagamentos de nós, jornalistas intimidados.
A Imprensa tupiniquim vai privilegiar a tragédia francesa, porque vai parecer constante, presente, competente e não corre risco financeiro. A ocupação da lama no território mineiro, com a explosão não acidental da barragem em Mariana, por questões de contabilidade dos donos da Imprensa, vai submergir a outro tipo de lama: o volume do capital que os anunciantes, os da Vale e os seus sócios, derramam no caixa das famílias donas da comunicação nacional.
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O Jornal Nacional deu o tom. Boba, Dilma quer que sejamos todos franceses, porque o Governo está omisso e tem interesses na Vale-Samarco. Então, que os olhos e a informação verdadeira sejam desviados daqui. Portanto, nós vamos chorar por nós mesmos. Nós temos que resolver o nosso problema de autorrespeito porque ninguém será por nós. Minas é o maior desastre socioambiental de todos os tempos.
Mostra claramente que somos um povo sem dignidade, sem eira nem beira, sem destino. E com a honra da sobrevivência maculada por causa do cinismo de suas autoridades ineficientes e aproveitadoras. Não adianta choro nem vela. Minas será esquecida pela Imprensa, pelo Palácio do Planalto, pela delicadeza.
Não posso dizer, e nunca o faria, que não sou a França. Sou, sim. Mas sou integralmente Minas Gerais. Por Minas, poeta raquítico, pego em armas. É o que devemos fazer agora, enquanto estamos respirando. E só.


PS do Viomundo: Agora que os moradores querem voltar a morar em Bento Rodrigues, as autoridades vão finalmente — em nome da mineradora — assumir que a lama é tóxica. Ah, mas então quem é que vai pagar pela limpeza de 1.000 quilômetros de margens de rios contaminadas pela lama tóxica? Adivinhou?
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