
por Luiz Carlos Azenha
Igor Gielow, diretor da sucursal da Folha em Brasília, diz em outras palavras que o governo Dilma quase acabou, antes mesmo de começar o segundo mandato.
É uma daquelas análises superlativas, feitas no calor da hora, que estamos acostumados a ver na mídia corporativa.
Do mesmo naipe das previsões sombrias que testemunhamos durante os protestos de junho, antes da Copa ou quando era dado como certo que teríamos um novo apagão energético.
Na CBN, sorridente, Merval Pereira concorda com Carlos Alberto Sardenberg, quando este diz que parece que o governo acabou. Misturam alhos com bugalhos, colocando na mesma cesta o escândalo da Petrobras e a decisão do governo Dilma de não adotar a política econômica dos derrotados.
Para a oposição, afinal, é isso mesmo o que está em jogo: levar um governo enfraquecido a adotar o programa dos que perderam em 2014.
Nenhum dos comentaristas acima citados nota, nas previsões sombrias, que a ação de hoje da Polícia Federal, que levou à decretação da prisão de executivos importantes das principais empreiteiras do país — dentre as quais os presidentes da Camargo Correa, OAS e Queiroz Galvão — ameaça muito mais que o governo Dilma.
Em primeiro lugar, os corruptores não escolhem partidos políticos. Basta consultar as provas levantadas na Operação Castelo de Areia, que em breve divulgaremos — foram temporariamente descartadas pelo STJ — para ver que a lama é ampla, geral e irrestrita.
Que não se fale apenas em corrompidos e se estabeleça uma relação clara entre corrompidos e corruptores é um grande avanço.
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É didático deixar claro para o grande público, também, que a origem do dinheiro que corrompe é privado.
Hoje, numa conversa informal, um amigo conservador já demonstrava desconforto com as prisões de executivos, tão acostumado que estava a atribuir tudo ao PT ou à Petrobras.
Num segundo momento, com as provas obtidas a partir da prisão de executivos, é certo que a Operação Lava Jato tende a deixar o Congresso tão enfraquecido quanto o Planalto. Ou alguém acredita que as investigações vão bater apenas em parlamentares petistas? Será que OAS, Camargo Correa, Queiroz Galvão e outras empresas do mesmo porte fazem maracutaias apenas com governos petistas?
Já houve previsões anteriores, desmentidas pelo tempo, segundo as quais a Petrobras ia afundar ou o PT seria extinto. É uma visão parcial, que expressa a falta de isonomia de nossos colunistas.
O governo Dilma está, sim, em xeque. Mais um motivo para que a presidente aja de forma decisiva, especialmente em seu objetivo de fazer a reforma política.
Mas o impacto mais amplo da Operação Lava Jato vai muito além de um partido ou governo: tende a aprofundar a crise de representatividade da qual as manifestações de junho de 2013 foram o mais claro dos sintomas.
Ao estabelecer claramente o nexo entre as grandes empreiteiras e a corrupção política, a Operação Lava Jato também fortalece aqueles que, como nós, acreditam no financiamento público de campanhas.
Sobre isso, certamente, o Merval não vai dar um único pio.
PS do Viomundo: E o editorial do Estadão, acusando Dilma e Lula de saberem de tudo, hein? Será que a operação vazou antes para o matutino paulista? Tá com cara disso. Arrastar Lula e Dilma para o meio do escândalo é a esperança dos barões das empreiteiras para escapar da cadeia.
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