Os erros nas pesquisas e a possibilidade de enganos do eleitor

Tempo de leitura: 4 min

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Pesquisas improváveis

Por Paulo Hubert*, no Valor Econômico

Os resultados das eleições de 5 de outubro trouxeram algumas surpresas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Tarso Genro (PT), aparecia com larga vantagem nas pesquisas (35% contra 20% dos votos totais no último levantamento do Ibope). Após a apuração, caiu para o segundo lugar, com 28,7% do total de votos.

Na Bahia, aconteceu o contrário: o candidato do mesmo partido, Rui Costa (PT), aparecia com 36% dos votos totais, e terminou com 45,5%, eleito em primeiro turno.

Em São Paulo, mesmo acertando o resultado final (Geraldo Alckmin do PSDB reeleito no primeiro turno), a última pesquisa Datafolha apontava uma votação 3,5 pontos percentuais acima do que foi observado nas urnas.

A pergunta que ocorre então é: como explicar essas diferenças? São erros aceitáveis, já que as pesquisas são amostrais? Devem ser atribuídas à metodologia utilizada pelos institutos? Ou será o contrário: é o próprio resultado das urnas que não representa perfeitamente a vontade dos eleitores, que seria mais bem capturada pelas pesquisas?

Consideremos em primeiro lugar o erro aleatório. As pesquisas, afinal, são feitas com base em amostras de no máximo 2 mil eleitores (no caso das pesquisas para o governo dos Estados). Seria razoável portanto que, por mero acaso, ocorressem diferenças dessa magnitude. Ou não?

Conhecendo os resultados finais na população toda, podemos calcular uma medida de probabilidade associada a cada pesquisa. Assumindo que uma amostra aleatória seja retirada da população final, utilizamos um modelo simples (distribuição hipergeométrica) para obter a probabilidade de que ocorram, ao acaso, diferenças iguais ou maiores do que as que vimos nas pesquisas. Esse cálculo produz resultados interessantes.

Em São Paulo, por exemplo, a última pesquisa Ibope apresentou uma diferença cuja probabilidade de ocorrência é de cerca de 1,27% (sempre considerando a probabilidade de diferenças iguais ou superiores à encontrada). Isso significa que esperaríamos encontrar uma diferença desse tamanho (ou maior) em uma a cada 79 pesquisas, aproximadamente. No caso do Datafolha, também em São Paulo, o resultado é ainda mais extremo: probabilidade de 0,0045%, uma diferença que ocorreria, ao acaso, apenas uma vez a cada 22.154 pesquisas (ver tabela).

Podemos interpretar esses valores de diferentes maneiras. Primeiro: sabemos que os institutos de pesquisa brasileiros não utilizam a amostragem aleatória. Esse tipo de estudo tem um custo elevado, e leva um tempo maior para ser concluído. Mas a utilização de metodologias alternativas (como a amostragem por cotas, por exemplo), de custo mais baixo, só deveria ser aceitável se produzisse estimativas de qualidade próxima àquelas feitas de forma completamente aleatória. E não parece ser esse o caso, já que uma amostra aleatória raramente produziria diferenças tão grandes como essas.

Em favor dos institutos, porém, há uma segunda interpretação possível: a mudança de opinião dos eleitores.

Entre a realização da pesquisa e a votação propriamente dita, pode haver uma migração de votos de um candidato a outro.

Para analisar esse argumento, podemos repetir o exercício acima e calcular qual o tamanho dessa mudança para que as diferenças observadas atingissem uma probabilidade mínima (digamos 5% — uma ocorrência a cada 20 pesquisas em média). A resposta é diferente em cada Estado. Em Alagoas, por exemplo, seria necessário que o primeiro colocado, Renan Filho (PMDB), perdesse 1,7% dos votos totais entre a realização da última pesquisa Ibope (entre 28/09 e 3/10) e a votação. No Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB) teria que ter amealhado 3,6% dos votos entre a pesquisa e o pleito. Já em Pernambuco, Paulo Câmara, também do PSB, precisaria ter conquistado 9,8% dos eleitores nos últimos dias da campanha, para que a diferença entre a pesquisa Ibope e o resultado das urnas pudesse ser explicada pela mudança de opinião.

Não podemos descartar como impossíveis essas migrações. As próprias pesquisas, porém, mostram que grandes variações num espaço de poucos dias não são comuns.

De modo que restaria, então, a terceira possibilidade: é o resultado das urnas que é impreciso.

Seja pela dificuldade que alguns eleitores podem encontrar ao interagir com as urnas eletrônicas, seja por falhas mais graves no processo. Esta linha de argumentação ganha força se verificarmos a diferença entre os eleitores que declaravam voto em branco ou nulo, nas pesquisas, e a proporção final desse tipo de voto.

Em todos os Estados, os levantamentos Ibope e Datafolha mais próximos do dia do pleito subestimaram a proporção de nulos e em branco.

No Ceará, as pesquisas dos dois institutos apontavam 6% de nulos e em branco, e no final foram 14,8% dos eleitores a votar assim.

No Piauí a diferença foi ainda maior: 2% no último levantamento do Ibope, contra 12,2% nas urnas.

Isso significaria, portanto, que uma grande parcela de eleitores declarava preferência por algum candidato, mas terminou por anular seu voto.

Se dispensarmos aqui a hipótese de mudança de opinião, as explicações possíveis são duas: ou o eleitor mentia para os entrevistadores, vítima de algum tipo de incômodo em declarar voto nulo, ou de fato a anulação do voto foi um ato contrário a seu desejo.

Não é objetivo deste artigo apontar qual das hipóteses acima é verdadeira. Constatamos, porém, um fato: as pesquisas para os governos estaduais forneceram estimativas distantes demais do resultado final, do ponto de vista estatístico.

Considerando que essas mesmas pesquisas tiveram (e têm) grande influência em diversos setores da sociedade — da variação do índice Ibovespa à cobertura midiática das campanhas, passando pelo processo decisório de muitos eleitores — e que, além disso, esses erros podem levar a questionamentos sobre a eficácia do processo eleitoral eletrônico e sobre a isonomia dos institutos, acreditamos ser necessária e urgente uma ampla discussão sobre esses levantamentos e sua metodologia.

Só assim podemos aceitar as pesquisas como o que elas pretendem ser: instrumentos científicos de mensuração da preferência dos eleitores.

*Paulo Hubert é mestre em estatística pelo IME-USP. Colaborou Samuel Moura, cientista político e pesquisador do Cebrap

PS do Viomundo: E os autores nem falaram dos erros grosseiros das pesquisas de boca-de-urna do Ibope, que foram espantosos!


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Comentários

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Urbano

Sem contar a passividade dos eleitores enganados…

Léo

Só acreditarei em institutos de pesquisas quando forem obrigados a dar nomes, endereços, telefone, CPF ou somente o titulo de eleitor e endereço de quem votou. Possibilitaria a verificação de idoneidade da instituição que fez as pesquisas pelo TSE.
Indo um pouco para o lado da “conspiração”, institutos de pesquisas não tem obrigação (possivelmente deve ser proibido) de informar dados pessoais dos entrevistados. Poderiam perfeitamente usar-se de má fé ou até mesmo entrevistar os funcionários das empresas contratantes. Vou ainda mais longe, quem garante que no primeiro turno colocaram candidatos lá em baixo, quando estava muito bem colocado para causar espanto. Um exemplo foi as pesquisas para presidente.

Messias Franca de Macedo

ATENÇÃO, MUITA ATENÇÃO POVO BRASILEIRO!

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Posso saber em quem votei?

ESCRITO POR *ADRIANO BENAYON

*Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

O doutor em economia Adriano Benayon, autor do livro Globalização versus Desenvolvimento, filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB)

TERÇA, 21 DE OUTUBRO DE 2014

FONTE: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10164:submanchete211014&catid=72:imagens-rolantes

Marat

Ainda creio que o psdb, cheio de dinheiro como é, vai pagar hackers para manipular as urnas. Não acredito que o resultado de Aécio em SP, por masi reaças que aqui existam, fosse tão bom assim. Temos que abrir bem os olhos!

    FrancoAtirador

    .
    .
    Onde a criminalidade Tucana campeia solta,

    espera-se que a Fiscalização do PT faça,

    ao menos, a Checagem dos Pên Dráivis,

    que, aliás, no 1º Turno, apareceram

    espalhados pelas ruas, em Goiás,

    junto com todo o material Oficial

    de uma Seção Eleitoral do TRE-GO.

    (http://abre.ai/suspeita_fraude_secao-eleitoral-tre-goias)
    .
    .

    Sidnei

    Infelizmente, gostaria de ter, também, nós paulistas em tão boa conta.
    Lamentavelmente, acho que a votação de Aécio foi essa mesmo que nós vimos.
    E, para parafrasear frases que ouvi de montão nos últimos dias, se fosse o capeta contra o PT, teria tido o mesmo patamar de votos aqui em São Paulo.

FrancoAtirador

.
.
Partindo do pressuposto de que os Institutos de Pesquisas
procedem de boa fé, baseados apenas em critérios técnicos,
todas as hipóteses elencadas são passíveis de ocorrer,
em maior ou menor grau de probabilidade, como descrito.

Acontece que alguns Simuladores são Prostitutos de Pesquisas
com vinculações comerciais diretas junto às Contratantes
e, portanto, com interesses estritamente econômicos comuns.

Daí o fato de adquirirem caráter parcial, político-ideológico,
que, por conseqüência, dada a absoluta falta de transparência,
podem agir de má-fé, no exercício de manipulações eleitorais,
em favor de determinados partidos e em detrimento de outros.

Até porque é de conhecimento público que algumas Empresas,
envolvidas no Processo de Divulgação de Sondagens e Enquetes,
mantêm Negócios com Consultorias, Corretoras e Investidores
do Mercado Financeiro, inclusive, com Fundos de Investimento
atuantes na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA).
.
.

Leo V

Interessante ver ontem a Dilma no TUCA (PUC-SP) pulando e cantando “quem não pula é tucano”.
Esse canto surgiu em manifestações juvenis contra aumento de tarifa do transporte.
E aí Dilma, vai pular também com o “quem não pula quer tarifa”? Tá na hora da tarifa zero.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Olha aqui, Leo V.

    Vai reclamar Tarifa Zero do PSDB de São Paulo

    que desviou Bilhões do Metrô e da CBTM Paulistas.

    Esse teu Anarquismo SkinHead já encheu o saco!
    .
    .

    Lucia

    Peraí Franco Atirador, segura essa onda. Quer xingar o cara xinga de outra coisa. Anarquismo é coisa séria e de credibilidade.
    Esse cara aí é débil. Não misture ideologia com patologia.
    !

    FrancoAtirador

    .
    .
    Ô, Lucia. Não foi minha intenção ofender os anarquistas conscientes,

    muito menos desqualificar o Anarquismo, Sistema Político-Filosófico.

    Por isso mesmo fiz questão de especificar o tipo a que me referi.
    .
    .
    Por sinal, aprecio bastante alguns escritos de Errico Malatesta,

    que foi, inclusive, um Grande Líder da Classe Trabalhadora Italiana

    e da Luta Contra a Ascensão do Fascismo no início do Século 20:

    (http://www.viomundo.com.br/politica/leandro-fortes-de-volta-ao-brasil-colonia.html)
    .
    .

    ccbregamim

    2º turno
    brasil em jogo
    e o cara
    tem demandas..

    essa insatisfação revela
    tu é um burguinha mimado?

.

NOVAS DENUNCIAS DE LUCAS ARCANJO

https://www.youtube.com/watch?v=ipL57SC7vjE

MMES

Amigos do Vio o mundo.
Elucidativo o artigo. No creo en las brujas, mas tenho comentado com pessoas próximas que o resultado do primeiro turno do Aécio foi muito estranho. Não há explicação plausível para tal discrepância, principalmente na pesquisa boca de urna. Somando esse fato com essas pesquisas “paralelas” que mostram Aécio bem à frente, algo me cheira mal. Sinto que possa ser uma justificativa para o golpe da urna eletrônica e recadastramento biométrico. Se as urnas fecharem no domingo e der Aécio em algum lugar entre o entre o Datafolha/Ibope e o Instituto Veritas, argumentarão que só a tal pesquisa “captou” o movimento do eleitorado. Forçando uma situação em que quase metade da população que votou no Aécio, alimentados obviamente pela grande mídia, acusarão o PT de golpe e ditadura caso queiram questionar o resultado. Já aconteceu nos EUA (Al Gore X Bush), no Paraguai e em outros países. Em todos preferiram manter a integridade do país e não questionar. Aqui será o mesmo caso ocorra.

Com Gilmar Mendes vice do TSE não duvido de nada. Me pergunto, o pessoal do governo e do PT estão tomando providencias para que isso não ocorra? Estão contando 100% com a boa vontade do sistema eleitoral? Não quero acreditar que serão tão inocentes… Alguem com informação sabe de algo nesse sentido de dentro da campanha de Dilma?

paulo bueno

é bom o PT fazer campanha
nas ruas e nas redes sociais
como se estivessse em ultimo
tirar o salto alto
e ir com humildade
senão vai perder
nãodá pra confiar nestes institutos de pesquisas
uns dão 8 por cento de vantagem pro aecio
outros dão empate tecnico,
outros mostram Dilma 2 pontos a frente

é bom baixar a bola e ir com humildade
etrabalhar muito nas redes socias
e nas ruas ….
atenção redobrada e muito trabalho.

Patrick

Subestima-se a dificuldade que é votar na atual urna eletrônica, principalmente para os dois cargos do executivo.

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