Do leitor Gustavo Ferroni:
Me considero um eleitor ligado às questões ambientais e sociais. Votei na Dilma, mas acho que a Marina pode ter um papel relevante, inclusive do ponto de vista da esquerda.
Ela poderia, por exemplo, exigir um compromisso público de que a Dilma não aprovará as mudanças nefastas propostas no código ambiental pelo relatório do Aldo Rebelo. Também poderia conseguir uma revisão de Belo Monte, talvez não total, mas ao menos no sentido de incluir bem mais compensações ambientais e sociais. Ela também poderia atacar a questão dos transgênicos mudando a CTNbio para o Ministério do Meio Ambiente,alterando sua composição, aumentando a transparência das suas decisões e funcionamento. Solicitar a revisão da lei das cavernas, e etc. Ela poderia inclusive conseguir uma alteração na política energética (Pano Nacional de Energia 2030), diminuindo a presença das termoelétricas e focando em formas alternativas e também mais em PCHs do que em grande obras faraônicas. Poderia também pedir a revisão do Plano Amazônia Sustentável (o do Mangabeira que foi a gota d’água pra saída dela) incluindo uma nova MP alterando dispositivos da antiga MP 458 (MP da grilagem e do Dantas).
Enfim, a negociação com a Marina poderia ser ótima, as possibilidades de ajustes e mudanças são muitas. O problema é que a candidatura da Marina também é de conciliação, ela se afastou de movimentos sociais e setores mais radicais do movimento ambientalista. Propostas mais contundentes como estas não estão em seu programa de governo, que trata do tema em apenas diretrizes e alinhamentos gerais.
Neste sentido, a negociação que a Marina fizer pode inclusive prejudicar, e muito, a bandeira “socioambiental”. Imaginemos que ela feche um acordo com Dilma ou Serra, e que quem ela apoiar ganhe. Ora, se esse acordo for programático apenas em linhas gerais e inclua só cargos (ministérios, agências e autarquias) o risco é que o rótulo de “verde” seja aplicado a tal governo sem que este de fato o seja. Sem que este governo mude qualquer postura e/ou crie mais mecanismos institucionais para ampliar a proteção as populações vulneráveis e ao meio ambiente.
A Marina pode ter potencial de alavancar a agenda socioambiental, ou pode ter o potencial de atrasá-la reduzindo esta a chavões típicos da responsabilidade empresarial que são conhecidos como “greenwashing”, isto é, a inclusão de termos e conceitos no discurso e não no comportamento dos candidatos. Considerando sua trajetória como ministra do Meio Ambiente não creio que ela tenha uma boa capacidade de negociação por isso advogo publicamente para que ela se mantenha neutra, pois assim teremos a segurança de que ela ao menos não irá prejudicar ainda mais a nossa agenda.
Um abraço,
Gustavo Ferroni




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