Bonner e Poeta fazem entrevista esclarecedora, mas não suicida

Tempo de leitura: 3 min

Captura de Tela 2014-08-27 às 01.37.23

por Luiz Carlos Azenha

William Bonner e Patrícia Poeta estavam mais calmos. Sem grosseria, conseguiram questionar Marina Silva em pontos fundamentais de seu discurso. Da parte deles, foi uma boa entrevista.

O ponto central, o confronto entre “nova” e “velha” política, ficou claramente explícito sem que ambos tivessem de recorrer à deselegância, sem as interrupções em série que marcaram a conversa da dupla, por exemplo, com Dilma Rousseff.

Relembrando o que escreveu Ricardo Amaral, no Conversa Afiada, sobre o “debate” entre os âncoras da Globo e Dilma:

Dos 16 minutos cronometrados [da entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo], Dilma falou 10 minutos e meio; [o apresentador William] Bonner, 4 e meio, e Patrícia [Poeta, a apresentadora] quase 1 minuto. Dá 65% para ela e 35% para eles. Dilma pronunciou 1.383 palavras, contra 980 da dupla (766 só do Bonner), o que dá 60% x 40%. Isso é escore de debate, não de entrevista. A dupla encaixou 26 acusações ao governo e ao PT; algumas, com ponto de exclamação. Nos quatro blocos temáticos (corrupção, mensalão, saúde e economia) Bonner lançou no ar 13 pontos de interrogação, e Patrícia, dois. A presidenta foi interrompida 19 vezes. Tomou dedo na cara de Bonner e de Patrícia, que reclamou de uma resposta com um soquinho na mesa. Isso não é comportamento de jornalista. Na entrevista com Aécio Neves – que muitos acharam “dura”, embora tenha sido apenas previsível – a dupla fez quatro interrupções e cinco reiterações de perguntas.

O descrito acima não se repetiu.

A candidata Marina Silva, do PSB, saiu-se bem. Parecia no controle da situação.

Admitiu que a Polícia Federal do governo Dilma é respeitável e, portanto, os eleitores devem esperar pela conclusão da investigação sobre o uso do jatinho supostamente emprestado por empresários à campanha de Eduardo Campos-Marina Silva.

O jatinho em que se acidentou Eduardo Campos está envolto em um “laranjal” de proporções ainda indefinidas.

As contas sobre o uso do jatinho seriam prestadas depois da campanha, afirmou Marina Silva.

Apoie o VIOMUNDO

A socialista pediu aos telespectadores o benefício da dúvida que muitos dos seus aliados não dão, nem nunca deram, quando acusações são feitas ao PT.

São dois pontos sobre os quais a presidente Dilma Rousseff pode questionar Marina em futuros debates: a eficiência da PF republicana e o benefício da dúvida a que todos tem direito.

De qualquer forma, durante a entrevista do JN, especialmente quando se tratou do jatinho, ficou no ar um odor de velha política.

A certa altura, Patrícia Poeta lembrou Marina dos magros resultados eleitorais obtidos por ela nas eleições presidenciais de 2010, em seu próprio estado.

No primeiro turno, José Serra (PSDB) teve 52,12%, Dilma Rousseff (PT) 23,92% e Marina Silva (PV) 23,45%. Ou seja, em seu estado de origem Marina não conseguiu nem um terço dos votos.

Marina justificou-se alegando ter confrontado interesses poderosos ao longo de sua carreira, no Acre.

Se o Bonner ou a Poeta fossem suicidas, fariam uma pergunta que a resposta de Marina praticamente implorava:

Como é que a senhora, se eleita presidente do Brasil, pretende enfrentar interesses como os que enfrentou no Acre, tendo como coordenadora do programa de governo uma acionista do poderosíssimo banco Itaú?

Mas esta pergunta, feita na Globo por um âncora, já seria caso para umas férias forçadas.

PS do Viomundo: Este post sofreu modificações para acréscimo de dados.

Leia também:

Seringueiro que atuou com Marina diz que ela privatizou a Amazônia

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Leia também