Vinicios Betiol: Figuras nefastas como Trump e Bolsonaro encarnam a crise do capitalismo
Tempo de leitura: 4 min
O que está por trás da evidência de figuras como Bolsonaros e Trumps
por Vinicios Betiol*
Vivemos um momento tenebroso da história.
Figuras nefastas, que antes se limitavam aos porões da humanidade, saíram de seus esconderijos, por se sentirem confortáveis.
Não só se sentem confortáveis, como ganharam milhares de seguidores.
Boa parte deles formam um exército de zumbis, sem cérebro e sedentos por sangue.
Nos EUA observamos o destaque que vem ganhando o Donald Trump.
No Brasil, o Bolsonaro é visto, por alguns, como “mito”. Mas afinal, qual motivo pode estar levando a essa onda de extrema direita, que assombra o mundo todo?
A resposta é: os grandes capitalistas estão enfraquecidos e precisam de mais força.
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Se existe a proliferação de ideias de direita, essa linha de raciocínio pode parecer incoerente, mas só conseguiremos compreender os reais motivos do capital estar abrindo as portas do inferno, se observarmos a atual conjuntura econômica e social do mundo.
O atual sistema busca a acumulação progressiva de capital. O modelo produtivo é voltado para o lucro de quem produz e não para a necessidade de consumo das pessoas.
A possibilidade de se ter acesso às necessidades básicas para a sobrevivência, está refém aos interesses de quem se apropriou dos meios de produção.
A produção está condicionada ao lucro e à necessidade de crescimento contínuo.
Vivemos em uma lógica em que o sistema produtivo busca o crescimento eterno, para obter cada vez mais ganhos.
A questão é: como viver em crescimento eterno em um planeta finito?
Para fazer o sistema sobreviver por mais alguns anos, o capitalismo utilizou da estratégia da expansão espacial para novos mercados (a famosa globalização).
Acontece que as grandes corporações já estão rodando o mundo e os recursos naturais estão cada vez mais escassos e os mercados cada vez mais estagnados.
Não precisa ser especialista em nada para perceber que é inviável a logica de crescimento progressivo em um planeta limitado. Estamos diante de uma crise de acumulação.
Dentro desse contexto, existem duas saídas: uma seria pensarmos em um novo modelo, com a sua produção voltada para as necessidades da população. Naturalmente essa ideia não será prontamente aceita pelas elites que comandam a política e a economia mundial.
A segunda saída, seria criar estratégias que façam o sistema sobreviver por mais algumas décadas. Se não há como conquistar novos mercados, o crescimento do lucro necessita de cortes de gastos.
Isso inclui cortar gastos com os produtos e sobretudo com os trabalhadores.
É diante desse contexto que a direita precisa se fortalecer. Precisam criar um ambiente de convencimento de que as medidas que estão por vir, serão boas para todos.
Tentam criminalizar a esquerda e os movimentos sociais. Mais que isso, precisam da presença de nomes autoritários que possam minar qualquer tipo de resistência.
O corte de gastos com produtos vem acontecendo gradativamente. Quanto mais as pessoas são convencidas de que tudo está sob controle, o capital ganha mais espaço para avançar contra a população.
Quase todos os produtos diminuíram de tamanho. Os biscoitos mais parecem miniaturas. Isso quando não são pacotes de ar com “amostras” de biscoito.
No bar, as pessoas deixaram de beber uma cevada para tomar milho com água e álcool. Os frascos de desodorante nem se encaixam mais debaixo do braço, de tão pequenas que são as embalagens.
Acontece que a acumulação não pode parar. Essas artimanhas já não são mais suficientes para garantir o crescimento dos ganhos dos grandes empresários. Eles precisam de mais e como já fizeram o possível para cortar gastos com produtos, chegou a hora de cortar ainda mais gastos com os trabalhadores.
É claro que não podem do dia para noite tirar todos os direitos trabalhistas e transformar os trabalhadores em escravos modernos. O momento atual é de preparar o terreno. Por isso nomes de extrema direita ganham destaque.
É preciso vender o discurso de que quem está desempregado é vagabundo; quem trabalha e questiona seus direitos é baderneiro; quem se junta a movimentos sociais é bandido e quem reclama de algo está de vitimismo.
A montagem de uma sociedade retrógrada, reacionária e cega no que diz respeito a enxergar os seus agressores, é um dos pontos centrais para se iniciar um projeto de sobrevivência do sistema por mais alguns anos, às custas do sofrimento da classe trabalhadora e da implementação de ideias liberais.
Parece estranho, se utilizar de discursos e ideias de figuras opressoras de direita, para se implementar ideias liberais. Porém, para o sistema não ruir já agora, essa foi a saída encontrada pelo capital.
O liberalismo é a última cartada daqueles que comandam o sistema. A ideia é simples, pagar menos impostos e ter mais “flexibilidade” trabalhista. Com o discurso da extrema direita decorado, o trabalhador passa a ser uma presa fácil.
A desculpa é que isso irá gerar renda e mais empregos. Acontece que essa “flexibilidade” pretende trazer um festival de terceirizações, bem como a possibilidade de uma negociação “livre” entre trabalhadores e patrões. Livre para tirar as férias, o décimo terceiro, o salário mínimo, os feriados, finais de semana, dentre outras coisas. Nada disso poderá ser questionado, afinal “partiu de um livre acordo”, até pelo fato de que “quem reclama está de vitimismo”.
Porém, precisamos lembrar que o sistema de acumulação progressiva precisa continuar crescendo. Depois que espremerem os trabalhadores ao bagaço, farão o que para continuar o crescimento? Expandirão para que mercado? Cortarão gastos com que? De onde tirarão recursos naturais?
É nesse momento que lembrarão que não vivemos em um planeta infinito e que a lógica de crescimento eterno é tão frágil quanto a ideia de que a Terra é plana.
Agora eu questiono: deixaremos a extrema direita utilizar os Bolsonaros e Trumps para montarem o ambiente necessário para a humilhação e exploração dos trabalhadores? Assistiremos passivos a implementação de ideias liberais, para dar sobrevida a um sistema que faliu e nunca dará certo?
Cabe a nós mudarmos essa história que ainda não foi escrita, mas mudemos rápido, pois o sistema capitalista sobrevive em uma UTI. A sobrevivência é a base da transfusão de sangue e esse sangue, é o sangue do trabalhador!
*Pós-graduado e mestrando pelo departamento de Geografia da UERJ





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