Venício Lima: Revisitando o poder da mídia

Tempo de leitura: 3 min

por Venício A. de Lima, no Vermelho

Os resultados da pesquisa CNI/Ibope divulgados no dia 16 de dezembro confirmam uma clara tendência dos últimos anos e, ao mesmo tempo, recolocam uma importante questão sobre o poder da grande mídia tradicional. De fato, a aprovação pessoal e a confiança no presidente Lula atingiram novos recordes, 87% e 81%, respectivamente; e a avaliação positiva do governo subiu para 80%, outro recorde [íntegra da pesquisadisponível aqui].

A confirmação dessa tendência ocorre apesar da grande mídia e sua cobertura política do presidente e de seu governo ter sido, ao longo dos dois mandatos, claramente hostil ou, como disse a presidente da ANJ, desempenhando o papel de oposição partidária.

Isso significa que a grande mídia perdeu o seu poder?

Monopólio da informação política

Parece não haver dúvida de que a mídia tradicional não tem mais hoje o poder de “formação de opinião” que teve no passado em relação à imensa maioria da população brasileira. E por que não?

Um texto clássico dos estudos da comunicação, escrito por dois fundadores deste campo, ainda na metade do século passado, afirmava que para os meios de comunicação exercerem influência efetiva sobre os seus públicos é necessário que se cumpram pelo menos uma das seguintes três condições, válidas até hoje: monopolização; canalização ao invés de mudança de valores básicos, e contato pessoal suplementar. Com relação à monopolização afirmam:

“Esta situação se concretiza quando não se manifesta qualquer oposição crítica na esfera dos meios de comunicação no que concerne à difusão de valores, políticas ou imagens públicas. Vale dizer que a monopolização desses meios ocorre na falta de uma contrapropaganda. Neste sentido restrito, essa monopolização pode ser encontrada em diversas circunstâncias. É claro, trata-se de uma característica da estrutura política de uma sociedade autoritária, onde o acesso a esses meios encontra-se totalmente bloqueado aos que se opõem à ideologia oficial” [cf. Paul Lazarsfeld e Robert K. Merton, “Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada” in G. Cohn, org. Comunicação e Indústria Cultural; CEN; 1ª. ed., 1971; pp. 230-253].

Aparentemente, a monopolização do discurso político “mediado” pela grande mídia – em regimes não-autoritários – foi quebrada pelo enorme aumento das fontes de informação, sobretudo com a incrível disseminação e capilaridade social da internet.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, quando de sua rápida visita ao Brasil, em abril passado, o fundador do diário espanhol El País, Juan Luis Cebrian, afirmava:

“…a internet é um fenômeno de desintermediação. E que futuro aguarda os meios de comunicação, assim como os partidos políticos e os sindicatos, num mundo desintermediado? Do início ao fim da última campanha presidencial americana, circularam pela web algo como 180 milhões de vídeos sobre os candidatos Obama e McCain, mas apenas 20 milhões haviam saído dos partidos Democrata e Republicano. As próprias organizações políticas foram ultrapassadas pela movimentação dos cidadãos. Como ordenar tudo isso? Não sei. (…) …hoje existem 2 bilhões de internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária já tem acesso à rede. Há 200 milhões de páginas web à escolha do navegante. Na rede, você diz o que quer, quando quiser e a quem ouvir, portanto, o acesso à informação aumentou de forma espetacular. Isso é fato [íntegra disponível aqui].

A disseminação da internet – ou seja, a quebra do monopólio informativo da grande mídia – aliada a mudanças importantes em relação à escolaridade e à redistribuição de renda que atingem boa parte da população brasileira, certamente ajudam a compreender os incríveis índices de aprovação de Lula e de seu governo, mesmo enfrentando a “oposição” da grande mídia.

Resta muito poder

Isso não significa, todavia, que a grande mídia tenha perdido todo o seu poder. Ao contrário, ela continua poderosa, por exemplo, na construção da agenda pública e na temerosa substituição de várias funções tradicionais dos partidos políticos, vale dizer, do enfraquecimento deles.

A grande mídia, em particular a mídia impressa (jornais e revistas), ainda continua poderosa como ator político em relação à reduzida parcela da população que se situa na ponta da pirâmide social e exerce influência significativa nas esferas do poder responsáveis pela formulação das políticas públicas, inclusive no setor das comunicações.

O fenômeno Lula, que deixa o poder, como observou um analista, “amado pelo povo e detestado pela mídia”, deve servir, não só para uma reavaliação do papel da mídia de massa tradicional, mas também como horizonte para aqueles que trabalham pela universalização da liberdade de expressão e pela efetivação do direito à comunicação.

* Venício A. de Lima é professor de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010


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Comentários

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Otaciel de Oliveira

JOELMIR BETING EM BANHO-MARIA

O Sr. Joelmir Beting (telejornal da Band, 28/12) dando um chega pra lá no Lula, que disse que em 2016 o Brasil será a 5ª maior economia do mundo.

Disse o senhor Joelmir mais ou menos o seguinte: "a média do crescimento do PIB mundial será de 5% nos próximos anos. O Brasil crescerá 5,5; para chegar em 5º o Brasil precisaria crescer 7,5% ao ano até 2016.

Queixou-se ainda o Sr. Joelmir sobre uma crítica que Lula teria feito a mídia, mas não disse em que consistia a crítica, para que nós, telespectadores, pudessemos avaliar se a mesma era ou não procedente.

Também não disse o Sr. Joelmir como ele fez as contas para chegar à conclusão sobre a necessidade de um crescimento do PIB da ordem de 7,5 para sermos a 5ª economia do mundo em 2016. Portanto, seu comentário ficou em banho-maria, ou seja, aguardando explicações complementares que não foram, pelo menos que eu saiba, veiculadas. Ou seja, como o Sr. Joelmir fez essas contas?

Portanto, duas maneiras imprecisas de comentar A) uma avaliação (sobre o PIB) e B) sobre uma notícia (a de que Lula teria criticado a mídia, como se ela, a mídia, tivesse acima do bem e do mal e não pudesse ser criticada).

Portanto, eu fiquei sem saber o que disse Lula a respeito da mídia porque o Sr. Joelmir Beting resolveu esconder esta notícia.

Meus senhores, a época do chutômetro e do esconde-esconde já acabou, pelo menos na internet. Matem a cobra e mostrem a cobra morta: não precisam mostrar o pau. O pau vocês podem esconder ou usá-lo da maneira que melhor lhes aprouver.

Jairo_Beraldo

“Dilma parece estar no seu inferno astral. Além da radioterapia, ela enfrenta a entrada em cena de Marina, o empate com Ciro nas pesquisas, o envolvimento desgastante de Lula e do PT com a defesa de Sarney e, enfim, a cristalização da imagem de mentirosa (diploma, dossiê contra FHC, embate com Lina Vieira, versões divergentes de sua ação no caso Varig)” (Eliane Cantanhêde, Pulverização Governista, agosto de 2009)

Claudio Ribeiro

O Novo Brasil de Lula superou a vontade (do golpe) da grande imprensa conservadora.

http://palavras-diversas.blogspot.com/2010/10/def

A comunicação direta, sem os atravessadores de sempre, explica, em parte, o estrondoso sucesso deste governo, pois mesmo com os maiores veículos de comunicação descendo o pau no governo dia sim dia também, manteve altos índices de aprovação e fez a sucessão!

    Jairo_Beraldo

    “É óbvio também que ao longo dos últimos anos os fatos se impuseram, de maneira impiedosa, aos que elogiaram a política externa de Lula como um de seus grandes feitos. Quem sabe perdeu-se muito tempo à procura do ponto G.” (William Waack, Globo, 29 de junho de 2007)

Pedro Cruz

A Fôlha tá muito braba!!!!! Os dados abaixo são da matéria da folha.
Governo LULA põe pubicidade em 8.094 veículos de comunicação, antes eram apenas 499.
Estes veículos estão espalhados por 2.733 cidades, antes eram apenas 182.
Os valores gastos são semelhantes aos de FHC.
Um espetáculo de crescimento de veículos atendidos.
VIVA O GOVERNO LULA!!!!!!!

    Jairo_Beraldo

    “A biografia de Lula será escrita nos tribunais. O julgamento histórico de seus oito anos no poder estará estampado numa série de inquéritos penais.” (Diogo Mainardi, Veja, 20 de março de 2010)

El Cid

… segundo Nilson Lage, ele não crê que a grande imprensa tenha perdido tanto poder quanto dizem: é que nenhum discurso é capaz de competir com a realidade evidente…

    Jairo_Beraldo

    “Sobre o livro ‘Lula, minha anta‘, no caso é anta substantivo e não adjetivo. Eu não tenho grande apreço pelo intelecto do presidente mas nesse caso é animal de caça, eu caçei esse bicho durante 2 anos e ele conseguiu fugir” (Diogo Mainardi, no Programa do Jô)
    “Na única vez que fiquei ao lado do Lula, eu cometi um ato criminoso. Isso deve ser um indicativo de alguma coisa” (Diogo Mainardi, no Programa do Jô falando que participou de uma greve”)

Luiz Fortaleza

Com certeza, a internet pode ser este contraponto da mídia tradicional, já que muitos estão abandonando as tvs para ficar de frente ao computador que é viciante, sobretudo, pq temos um desejo enorme de nos expressar e de existir para o outro, mesmo que seja desconhecido e/ou virtual.

    Jairo_Beraldo

    “A chamada política nacional dos direitos humanos do governo Lula põe fim à liberdade de expressão e opinião dos meios de comunicação e de pesquisa científica. Ainda dá um chute no balde de nossa galinha dos ovos de ouro, o agronegócio. Comparadas com isso aí, as reformas de base de João Goulart que levaram os militares ao poder em 64 é café pequeno, mas hoje o presidente assina sem ler, a oposição também não lê e os militares, bem, alguém sabe por onde anda os militares?” (José Nêumanne Pinto, SBT)

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