Izaías Almada, sobre série da Netflix: Propaganda do conservadorismo brasileiro com verniz fascistoide

Tempo de leitura: 3 min

COXINHAS & EMPADILHAS

 por Izaías Almada, especial para o Viomundo

Peço licença aos leitores para começar esse artigo citando pequenino trecho de uma peça teatral por mim escrita, onde duas senhoras de classe média alta dialogam sobre o filho de uma delas e falam do amor e da admiração que ele tem aos Estados Unidos.

A mãe, entusiasmada no calor dos elogios, chega afirmar para a sua amiga: “o Sérgio é tão vidrado nos norte-americanos que se lá disserem que é bom comer merda por algum motivo, ele vai ser o primeiro a comer merda aqui no Brasil”. Afinal, mãe é mãe…

A lembrança, escatológica e à primeira vista fora do contexto (será?), vem a propósito de uma série produzida para a TV Netflix realizada por um diretor de cinema brasileiro que, desde cedo nos primeiros trabalhos, mostrou enorme desejo de imitar Hollywood e – se possível – ir para lá fazer os seus filmes. Nessa perspectiva seu intento foi conseguido e por lá anda o nefelibata ainda a sonhar.

Dada a repercussão negativa da tal série, sobretudo nos blogues progressistas, fui ver o por que de tanta revolta e, de fato, sobrou-me a impressão de que se trata de um caso de sociopatia, mais do que de arte.

O tal diretor, que é o criador da história (sic) e também diretor do primeiro episódio da série nos diz que vai contar um dos casos de maior corrupção no mundo, o que me levou de saída a admitir: puxa o cara deve conhecer muito bem o assunto. E olha que o tema é antigo sendo, salvo erro de avaliação, praticado em todos os países do mundo.

Se o caso brasileiro, para ele, se configura como o maior do mundo o indigitado diretor/roteirista deve conhecer também os menores, aqueles pequeninos que nós achamos que ninguém vai desconfiar, entenderam?

O homem deve estar felicíssimo com a polêmica causada, pois é da turma do “falem mal, mas falem de mim” e, com isso, fica na expectativa de conseguir financiamento para outros projetos semelhantes, principalmente nos “states” como gostam de se referir à pátria mãe. Um mecanismo bastante conhecido, aliás.

O que choca, mais do que a ignorância histórica e social de seu próprio país, é a arrogância com que tais pessoas apontam o dedo acusador para seus adversários políticos, como se estivessem a fazer um grande favor ao Brasil, munidos de um conhecimento chinfrim temperado com a inveja que têm dos donos do capital, de quem precisam “puxar o saco” para fazerem aquilo que consideram um bom cinema.

Bons tempos o do Cinema Novo com Nelson Pereira dos Santos, Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1962, Leon Hirzman, Cacá Diegues, Roberto Santos, Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e tantos outros que atraíram o olhar mundial para o nosso cinema. Cinema muitas vezes crítico e de poucos recursos, mas com imenso amor pelo país. E não com ódio ou soberba… E deslavadas mentiras.

Conhecerá o notável diretor aqui citado o clássico “Doze Homens e uma Sentença”, de Sidney Lumet, realizado em 1957, ou ainda “A Tortura do Silêncio” de Alfred Hitchcock, de 1953 ou o fantástico “Sacco &Vanzetti” do italiano Giuliano Montaldo, de 1971? “O Caso dos Irmãos Naves”, de Luiz Sérgio Person? Ou mesmo o JFK de Oliver Stone?

Se conhecer, não entendeu nada. Pois a distância que o separa desses filmes e o seu arremedo televiso é como se pudéssemos comparar Albert Einstein a Michel Temer. Ou Joana D’Arc a Janaína Paschoal… Os valores, em seus extremos, se comparam.

Estudos indicam qua a expressão “coxinha” originou-se em São Paulo ao identificar pessoas que, embora pertencendo à classe média, procuram transferir para si os chamados ‘valores’ de uma classe social mais alta que a sua, anulando-se enquanto cidadãos e atores políticos.

Uma espécie de puxa sacos da burguesia brasileira ao criticarem cegamente aquilo que identificam como sendo os partidos de esquerda e os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.

Ou como jovens dos bairros periféricos apelidaram os riquinhos que habitam algumas faixas endinheiradas da cidade. Ou ainda aos policiais que fazem batidas pelas comunidades paulistanas e param em alguns bares para comer coxinhas com guaraná.

Seja qual for a origem, a esse fenômeno crítico/gastronômico e aculturado se junta agora um telecine de raízes propagandísticas do conservadorismo brasileiro com verniz fascistoide, que poderá ser visto em doses homeopáticas num canal estrangeiro, Netflix.

Canal que deu voz e imagem aos adeptos do ódio e da violência tupiniquim, a quem poderíamos passar a chamar de os “empadilhas”.

Na vitrine dos bares da intolerância brasileira e de sua mediocridade cultural coloquemos ao lado das “coxinhas” mais um salgadinho em evidência, as “empadilhas”.

Leia também:

Marcelo Zero: Lula ou o fascismo?


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Comentários

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João Lourenço

Estou curtindo a série e sei que é uma bela ficção ,afinal vc e eu sabemos que é bem pior do que estão colocando ali.Um detalhe interessante é que toda esta celeuma que vcs criaram sobre esta séria só elevou o sucesso dela e com toda certeza os envolvidos agora sabem que vcs são mais burros do que se imaginava . Aprendam a fazer suas observações sem esta paixão desvairada por um criminoso condenado.Sim criminoso como ,Collor,Renan,Temer,Alckmin,FHC e uma leva deles !

    leonardo-pe

    como você é engraçadinho. vai para um programa de humor seu midiota puro!

FrancoAtirador

Enquanto isto…

A Escandalosa Abertura de Capital da BR Distribuidora
Por Cláudio da Costa Oliveira
https://twitter.com/luisnassif/status/978738823587942401
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/artigos-da-aepet-e-colaboradores/item/1530-a-escandalosa-abertura-de-capital-da-br-distribuidora

Cristina Silveira

Izaías, obrigada pelo seu artigo, tudo muito bem dito, com a autoridade do saber vc criou o “Empadilha.Não podia ter sido melhor. Os humorista vão dizer: por que não pensei nisto antes?…
Não vi e não gostei do tal Tropa, o título cheira trapaça cinematográfica e então Não vi e não gosto.
Obrigada, querido.

Lukas

A série é realmente muito ruim e cheia de inverdades. O filme “Lula, o filho do Brasil” também era e ninguém por aqui reclamou.

Ninguém está preocupado com o erro ou a mentira, mas só com o erro e a mentira que lhe prejudica.

Bocejo…

    leonardo-pe

    esse filme do Lula também é muito RUIM. ALIÁS, NÃO SE FAZ MAIS FILMES COMO SE FAZIAM ATÉ OS ANOS 80.

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