Por um Estado que proteja as crianças negras do apedrejamento moral no cotidiano escolar

Tempo de leitura: 8 min

Por um Estado que proteja as crianças negras do apedrejamento moral no cotidiano escolar

Excelentíssimo Presidente da República Federativa do Brasil, Sr. Luís Inácio Lula da Silva,

Em um ato político e humano, Vossa Excelência ofertou asilo a Sakneh Mohammadi Ashtiani como forma de preservar-lhe a vida, visto que a mesma corre risco de ser apedrejada até à morte física em seu país, o Irã.

Se me permite a analogia, pelo exemplo que Vossa Senhoria encarna para a Nação, creio que seria, além de político e humano, um gesto emblemático e valoroso se  Vossa Senhoria manifestasse sua preocupação e garantisse “proteção” às crianças negras inseridas no sistema de ensino brasileiro, zelando por sua sobrevivência moral e sucesso em sua trajetória educacional. Como Vossa Senhoria já afirmou: “Nada justifica o Estado tirar a vida de alguém”, e, no caso do Brasil, nada justifica que o Estado colabore para fragilizar a vida emocional e psíquica de crianças negras, propiciando uma educação que enseja uma violência simbólica, quando não física, contra elas no cotidiano escolar. Sim, a violência diuturna sofrida pelas crianças negras no espaço escolar pode, em certa medida, ser comparada ao apedrejamento físico, visto que o racismo e seus derivados as amordaça. Assim, emocionalmente desprotegidas em sua pouca idade, as crianças passam a perseguir um ideal de “brancura” impossível de ser atingido, fazendo-as mergulhar em um estado latente, intenso e profundo de insatisfação e estranhamento consigo mesmas.

É fato que as crianças em geral não possuem natureza racista, mas a socialização que lhes é imposta pela sociedade as ensina a usar o racismo e seus derivados como armas para ferir as crianças negras em situações de disputas e até simplesmente para demarcar espaços e territórios, bem ao exemplo dos padrões da sociedade mais ampla. A escola constitui apenas mais uma instituição social na qual as características raciais negras são usadas para depreciar, humilhar e excluir. Assim, depreciadas, humilhadas e excluídas pela prática escolar e consumidas pelo padrão racista da sociedade, as crianças negras têm sua energia, que deveria estar voltada para o seu desenvolvimento e para a construção de conhecimento e socialização, pulverizada em repetidos e inócuos esforços para se sentir aceita no cotidiano escolar.

Se há no Irã – liderados pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad – um grupo hegemônico que, embasado em uma interpretação dogmática do Islamismo e na particular percepção do que é legitimo, detém o poder de vida de  morte sob as pessoas, não menos brutal no Brasil, temos um grupo no poder que, apesar de não deliberar explicitamente pela morte física de negros e negras, investe pesadamente na manutenção da supremacia branca, advoga pelo não estabelecimento de políticas que promovam a igualdade e nega sistematicamente qualquer esforço pela afirmação dos direitos dos afro-brasileiros.

Excelentíssimo, a supremacia branca mina as bases de qualquer perspectiva de justiça social. A eliminação do racismo e de seus predicativos depende do questionamento do poder branco, visto que a subalternização dos negros é fonte permanente de riqueza, prosperidade e garantia de poder arbitrário e absoluto. Não seria esta também uma forma de matar e de exterminar? Não estaria aí um protótipo do modelo de genocídio à brasileira?

Nossa aposta, Sr. Presidente, é que estando sob um regime democrático – ainda que permeado por estrutura historicamente racista que nega aos negros os direitos de cidadania – possamos contar com  os órgãos públicos competentes no dever legal de zelar pela igualdade substantiva. Neste sentido, o Ministério da Educação (MEC) encontra-se submetido às leis nacionais e aos tratados internacionais promulgados pela ONU, o que legitima nosso direito de exigir que, sendo o órgão representante do Estado brasileiro no campo da educação, promova o bem-estar de nossas crianças, e que não contribua, portanto, para a sua dilapidação moral.

Senhor Presidente, que legitimidade tem um governo que abraça o projeto político de “Um país de todos”, mas que investe recursos públicos na disseminação de uma pedagogia racista entre os seus pequenos cidadãos? Um Estado que compra e envia para as escolas material pedagógico que contém estereótipos e preconceitos quer sejam étnicos, raciais e/ou de gênero pode ser compreendido como um Estado que fornece combustível ideológico para que a humanidade dos indivíduos tidos como “diferentes” seja desconfigurada. Não nos parece que é a proposta política deste governo incentivar e disseminar  ideologias racistas que promovem a deterioração da identidade e da autoestima da criança negra.

É neste sentido, Senhor Presidente, que a contenda sobre o livro de Monteiro Lobato deve ser vista: apenas como mais um episódio em que os negros aparecem como inconvenientes e não encontram solidariedade por parte dos formadores de opinião e representantes da administração pública. Talvez tais agentes fossem mais solidários com a luta anti-racista caso os materiais pedagógicos contivessem referências depreciativas em relação às suas identidades. Talvez conseguissem perceber o escárnio se as personagens obesas fossem referidas como aquelas que “comem como uma porca sebosa”. Talvez se motivassem a protestar caso um livro contivesse um padre católico apresentado como “lobo que devora criancinhas”.  Talvez também fossem contrários à distribuição de obras clássicas que contivessem a idéia preconceituosa de que: “os políticos agem no escuro como ratos ladrões”.

Entretanto, Senhor Presidente, ter no livro de Monteiro Lobato personagem negra que “sobe na árvore como macaca de carvão” é visto como algo absolutamente natural e que deve ser mantido para preservar a liberdade de expressão. No fundo querem que nós, negros e negras, subscrevamos tal obra como um elemento histórico que, constitutivo da “democracia racial brasileira”, deve ainda ser difundido nas escolas, a despeito dos estragos que possa produzir na formação de nossas crianças brancas e negras.

Aceitar tais práticas insidiosas é negar a nós mesmos e rasgar o histórico de resistências que marca a identidade negra.  Não podemos aceitar que nossas crianças negras sejam sacrificadas e usadas para o entretenimento, deleite e regozijo das crianças brancas. E nós, seus pais e educadores,  lamentaríamos ver nossas crianças obrigadas a se defenderem de pedradras usando pedras contra “Pedrinhos”.

A era da inocência acabou, como nos lembra a militância negra! Os chamados textos clássicos não representam a última (sacrossanta) palavra sobre o mundo social. Não é segredo que muitos dos textos sob tal categoria são na verdade a bíblia da dominação branca-masculina-heterossexual, representando uma falsa imagem sobre quem somos. Propicia, por exemplo, que homossexuais sejam agredidos no cotidiano escolar e/ou na calada da noite, nas esquinas escuras das nossas cidades.

Uma educação que oferta estereótipos étnicos, raciais, de gênero e/ou homofóbicos facilita que jovens, ainda que supostamente “bem educados”,  organizem práticas criminosas como o “rodeio das gordas”, ocorrido na UNESP ainda agora. É pelo investimento possessivo na supremacia branca, assegurado pela desumanização dos negros, que pessoas queimam índios e moradores de rua; é a partir de uma educação sexista que jovens tornam-se preconceituosos a ponto de espancar mulheres em pontos de ônibus, por acreditarem que são prostitutas. É a sistemática exposição de nossos meninos e jovens a idéias e práticas machistas que constitui terreno fértil para que quando homens crescidos, diante da percepção de ameaça à sua masculindade assassinem suas namoradas, esposas e/ou amantes, conforme constatamos nos nossos noticiários.

Assim, Senhor Presidente, trata-se de legítimo e necessário o parecer do Conselho Nacional de Educação – CNE/CEB Nº: 15/2010, sobre as medidas de combate aos estereótipos e preconceitos na literatura. Não se trata de censura política, como se quer passar, mas de proteção social das nossas crianças. Pois, assim como um buquê de rosas que apesar da beleza contém espinhos pontiagudos, os livros com teor discriminatório ferem. Alguns ferem de maneira profunda e indelevelmente marcam trajetórias de vida. Logo, podemos questionar se um educador que, ao dar a rosa, alerta sobre a existência de espinhos, estaria censurando a existência da rosa e banindo-a do jardim, ou estaria apenas, responsável que é, cumprindo o dever de proteger a criança pequena?

Há que se ter cuidado com nossas crianças que, a partir de sua próspera administrações Sr. Presidente, mais cedo adentram o cotidiano escolar. Se elas entram mais cedo na escola, é fato que também  experienciam mais cedo o contato sistemático com um cotidiano discriminatório, repleto de violência racial, vivendo precocemente a dor e o sofrimento de serem desumanizadas com qualificativos  como macaco e urubu, assim como Monteiro Lobato dissemina em suas histórias.

Infelizmente, Sr. Presidente, nós negros adultos, ainda que tenhamos sobrevivido a esses mesmos sofrimentos em nossas histórias de vida, não conseguimos encontrar remédio eficaz para curar a dor que corrói a alma de nossas crianças pequenas. Não descobrimos ainda palavras mágicas que apaguem da memória de nossas crianças a vergonha da humilhação e do escárnio público. A valorização da beleza de nossa pele e o histórico de luta de nosso povo apenas amenizam o sangramento moral. É difícil se contrapor a um ideal de beleza e de sucesso que reserva um lugar inferior na sociedade aos indivíduos de pele negra.

Sr. Presidente, em nome de seu legado que engrandeceu este país e retirou da miséria milhões de brasileiros, não permita que, sob sua administração, mesmo nestes momentos finais, prevaleça um modelo de Educação que, apenas assentado em discursos contra o racismo e o preconceito racial, utiliza-se do poder e dos recursos públicos para a compra de materiais que veiculem estereótipos e idéias preconceituosas perniciosas para milhões de crianças, futuros cidadãos, que no futuro poderiam lembrar-se não destas “leituras”, mas sim das incomparáveis conquistas da era Lula.

Vossa Senhoria que afirmou em seus discursos a importância do combate ao racismo na sociedade;  que, através da primeira  lei assinada em seu governo – Lei 10.639, em 09 de janeiro de 2003, tornou obrigatório  o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, observe atentamente para que os profissionais do Ministério da Educação não contradigam os seus pronunciamentos públicos. Talvez, Sr. Presidente, não haja mais tempo para corrigir o descaso desses para com as políticas de educação em áreas quilombolas, visto que os recursos empenhados no orçamento 2009, sequer, até a presente data, foram utilizados para o pagamento dos convênios aprovados, impossibilitando assim que as escolas quilombolas recebam material didático e pedagógico adequados. Certamente não há mais tempo para elaboração e distribuição de livros para subsidiar a prática pedagógica anti-racista, visto que a política foi interrompida em 2006, juntamente com o fim do Programa Diversidade na Universidade – que mesmo tendo recebido o aval positivo do BID para uma segunda edição ampliada, por ter sido avaliado como um programa modelo para a América Latina, não contou com a aprovação das gerências superiores do MEC.

Infelizmente, Excelentíssimo Presidente, não há tempo também, certamente, para lograr as metas de formação de professores e professoras para a educação das relações etnico-raciais, visto que as secretarias de educação estaduais e municipais, devido à ausência de uma consistente campanha de combate ao racismo na educação, comandada pelo MEC, pouco se engajaram para alcançar esse objetivo.

Essa triste realidade, Sr. Presidente, atesta que Fernando Haddad, ministro da educação, deixará, infelizmente no legado de seu governo, a triste memória de um trabalho inexpressivo no que concerne à políticas públicas para o combate ao racismo e a valorização da história e cultura afro-brasileiras. Ele que, mesmo tendo a faca e o queijo nas mãos, pouco fez para o fortalecimento da educação anti-racista e anti-discriminatória no país, encerra seu mandato sinalizando aliança com vertentes contrárias às conquistas sociais, dificultando, assim, que o Conselho Nacional de Educação cumpra o papel que lhe é devido. A devolução do parecer CNE/CEB Nº: 15/2010 dá bem a dimensão do retrocesso político e concretiza  uma velada censura às políticas de combate ao racismo pelo MEC. A atitude do ministro Haddad traduz sua vontade política e fornece elementos para compreendermos o porquê do inexpressívo desenvolvimento das políticas anti-racistas no interior do MEC e, a partir dele, nos sistemas de ensino.

Assim presidente, o senhor que compreende o combate ao racismo como uma luta pela justiça social, não permita que o Estado brasileiro retroceda nas conquistas dos direitos dos afro-brasileiros: não deixe sua consciência passar em branco! Relembrando suas palavras em relação à dívida do Brasil para com o continente africano: “Têm coisas que a gente não paga com dinheiro, mas com solidariedade, companheirismo e sentimentos”, seja solidário à Sakneh, mas também aproveite o 20 de novembro e renove o seu compromisso com o  Brasil negro.  Em nome das crianças negras e brancas, em nome dos filhos do Atlântico Negro,  manifeste-se favoravelmente às orientações do Parecer CNE/CEB Nº: 15/2010 – (www.euconcordo.com/com-o-parecer-152010).

Respeitosamente,

Eliane Cavalleiro

Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP, 2003 – coordenadora executiva de Geledés – Instituto da Mulher Negra, de 2001 a 2004; coordenadora de Diversidade da SECAD/MEC, de 2004 a 2006; ex-professora adjunta da Faculdade de Educação da UNB – de 2006 a fev/2010; presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, de 2008 a jul/2010, é cidadã brasileira, que luta para que seus netos e bisnetos e demais gerações tenham o direito a uma verdadeira educação anti-racista.


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Comentários

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Sagarana

Só as negras? E as outras crianças?

Pierre

Excelente artigo!
As idéias aqui propostas e expressas são, no âmago, soam como alternativa viável e retratam a realidade suja e inadmissível em uma sociedade que se diz humana.

parabéns!

joni

Desculpe-me, professora, mas me permita discordar da Sra. no tocante ao Ministro da Educação, Fernando Haddad. Para mim, que estou faz mais de trinta anos lecionando, o professor Haddad é, sem dúvida, o ministro que mais trabalhou por uma educação democrática e inclusiva. Ele levou, sim, a sério e com muita competência 'uma educação para todos'. Dizer "que Fernando Haddad, ministro da educação, deixará, infelizmente no legado de seu governo, a triste memória de um trabalho inexpressivo no que concerne à políticas públicas para o combate ao racismo(…)", é, na minha opinião, no mínimo, um exagero. Sobre o assunto em questão, só posso agradecer ao Ministro Haddad pela confiança demonstrada a nós, professores, pois não precisamos ser monitorados, à distância, em nossas aulas, e temos a capacidade de escolher, selecionar e discutir assuntos pertinentes as nossas disciplinas. Em tempo: quando trabalhei com meus alunos a pluralidade cultural no Brasil, um dos livros usados, dentre outros, para debate em sala de aula, foi justamente Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato.

Giovanni

Considero tão importante quanto o Bolsa Familia e todos os programas sociais e de inclusão do governo do PT, solicitar urgetemente aos diretores de cinema, documentaristas, doutores das universidades brasileiras um mutirão para "construção" de roteiros, produção de filmes, documentário etc etc etc baseados no livro O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro. Não um filme só. Pelo menos meia dúzia cobrindo a chegada dos Portugueses, do Africanos, a existencia dos dos Indígenase trajetoria de cada um, enfim, ta tudo no livro, só precisamos que façam roteiros e filmes para mostrar quem somos, de onde viemos e acabar com qualquer movimento de preconceito e xenofobia. E mandar copias do filmes para todas as escolas publicas. E rogar aos diretores que adoram mostrar sexo nas telas para esquecerem suas taras por um instante e mostrar os horrores da colonização, do assassinato de negros, índios etc.

Marcelo

Nesse caso fica evidente que o preconceito é contra Monteiro Lobato. Infelizmente nosaas escolas publicas tem problemas bem maiores que esse. Na minha opinião isso é uma tentativa de separar o povo brasileiro , bancada por instituições internacionais como a fundanção Ford. Não me orgulho de ser negro , nem me envergonho. Me orgulho em ser homo sapiens e brasileiro .

    Paulo Afonso

    Marcelo, se manca! Inventa outra! O apartheid racial brasileiro existe desde que africanos aportaram no Brasil como escravos. A Fundação Ford ainda nem existia. Não viaja. Vai ler, ler, ler até aprender. Ou você desconehce a história? Até hoje "saber qual é o seu lugar" é dirigido só para negros. Por que será, hein chefe?

Silvana

Acho que antes que se justificasse o momento em que Lobato escreveu tais expressões como motivo para que o livro chegue as escolas, devia-se pensar na dívida histórica que temos com as crianças negras e no efeito que tais expressões, hoje, podem causar e fomentar. De antemão, não pretendo incentivar quaisquer trabalho em sala com o livro em questão. Muito menos aconselharei a leitura.

Silvana

Tivemos aqui, em Recife, a cerca de dois anos, com a coordenação do Grupo Temático Erê (GT-Erê), uma ótima movimentação que contribuiu para que déssemos um passo na construção de uma convivência em que nossas crianças puderam compreender a importância da sua descendência africana. Assim foi com todas as crianças estudantes da Rede Municipal. Como professora e negra, tive o sentimento de que o que era urgente começava a ser feito. Atualmente, para minha tristeza, vejo que as ações, no sentido de cumprimento da Lei 10.639 não mais ocupam o mesmo espaço. Além disso, não vejo quaisquer ação pedagógica de coordenação que observe e avalie o protagonismo dos conhecimentos afro-brasileiros e africanos nas nossas escolas. Com bastante pesar, reconheço que recebi um balde de água fria no meu entusiasmo. Não que tenha deixado as minhas ações de lado, porém, trata-se de um trabalho que, em não realizado coletivamente, tem sua eficácia comprometida.

Depaula

A professora Elaine Cavalleiro é uma pessoa a quem admiro muito, pelo pioneirismod e suas pesquisas, pelo engajamento na luta contra o racismo e por não ter medo de usar a voz que adquiriu em nossa caminhada. A carta é forte, mas é sincera e sobretudo clama por JUSTÇA RACIAL E ÉTNICA!!!
Quanto à senhora, Iza depois que li o segundo comentário dela, receio que ela não soube se expressar devidamente. Companheira, vamos em frente que atrás vem gente, nossos filhos, nossos netos e bisnetos e precisamos legar para eles um mundo, pelo menos, menos racista e quem deve construí-lo somos nós.

Wanderson Aguilar

A despeito do debate sobre o racismo e a formação psicossocial infantil, e por consequência dos futuros adultos, tem um estudo de caso no Livro Psicologia Social do Racismo – Estudos sobre a Branquitude e Branquamento no Brasil – que trata de uma menina negra e de como ele havia assimiliado a sua aparencia fisica, cabelo, formato do nariz, cor de pele, à aspectos negativos, chegando à criar para si a alcunha de "Fedora" uma alusão a cor do giz de cera – Marrom – que utiliva para simuntaneamente pintar os desenhos qua fazia de si e das outras pessoas negras, ao passo que se dizia "Loura".

Bem esse é um caso que pode parecer um pouco extremando mas não é, pois ilustra como o racismo atua destruindo a auto-estima das pessoas minando as aspirações sociais destas. No caso das meninas a violência na infância tende ser mais simbolica do que fisica, coação moral, apilidinhos maldosos – o que hoje se chama buling – e no meu tempo de criaça já existia – eu tenho 25 anos – e no caso dos meninos além da violência simbolica há a violência e fato que acompanha os homens negros a até o final da fase adulta, violência esta diga-se de passagen instrumantalizada pelos instituições o Estado.

Há! Quanto a Monteiro Lobato discutiu se muito sobre isso, inclusive aqui – nenhum debate é imperativamente conclusivo – mas a quetão é que se chegou a um ponto de saturação, onde os argumentos não modificavam-se apenas se repetiam – sem se apontar um caminho – que dizer até se apontou mas poucos viram – de modo que eu considero que qualquer seja a obra literaria a sua leitura em espaço de formação escolar deve ser feita atendo-se ao contexto em que ela foi produzida problematizando os seus aspectos "polemicos". Se fizer isso dentro do espaço escolar a onde se fará?

Creio eu que a falta dessas medidas pelo estado e pelas instituições de ensino, sem falar das Igrejas e Familias, e que causam de um lado pessoas sendo agredidas e segregadas diarimente por causa da cor, do tipo de cabelo, do formato do nariz, pela religião, pela origem regional e por ai vai, e de outro pessoas capazes de atos como o da estudante lá do Twiter, dos meninos, eles são meninos mesmo, que agridem homosessuais, emos e qualquer um que não sejam "iguais" a eles com
lampadas e socos, a uma policia que desdo Brasil Colonial tem função de caçar gente negra. Precisamos de formação para nossos jovens e adultos também que os preparem para diversidade de forma digna e verdadeira e não para jogar o raismo para debaixo do tapete com se tem feito…

Iza

Sou negra e professora. Acredito que quanto mais se tente lutar coletivamente para a aceitação do negro como uma raça, (acredito que existe apenas a raça humana) mais as pessoas de pele escura estarão sendo segregacionadas e segregacionando os demais.

É preciso educar os jovens, desde cedo para o aspecto que a tonalidade da pele não nos faz nem melhor nem pior do que outros. É cada um construíndo sua história, individualmente, sem precisar entrar em movimentos que dividem as pessoas pela cor.

Deixei meu protesto no twitter. http://twitter.com/iza_rs

O que foi escrito no passado fazia parte da moral da época. O que devemos passar aos nossos alunos, hoje, é a capacidade de poder reivindicar seus direitos como cidadãos. Não podemos deixar ou alimentar neles a ilusão de que a cor da pele define o caráter ou que dá acesso a vantagens como; usar camisetas 100% negro ou cotas em universidades.

Como exemplo posso citar o fato de que minha filha faz um curso muito concorrido aqui no RS e nunca precisou de cursinho para isso. Sempre estudou em escola pública e não teve problemas de relacionamento por causa de sua cor de pele. Eduquei-a no sentido de que apenas se afastasse de pessoas que a excluísse devido a cor de sua pele, como se afastaria de qualquer outra pessoa que não tivesse um bom caráter.

    Pedro Antero Lobato

    E daí Sra. Iza? Então a senhora encontrou a pedra universal do combate ao racismo? Pois pode patenteá-la que ficará podre de rica. E eu fico muito feliz quando encontro alguma pessoa negra rica, porque sei que não é fácil para um negro enriquecer. Pelo menos no Brasil é difcílimo.
    Se manca senhora, não se dê ao luxo de ser tão simplória. Sua atitude é uma das muitas faces do racismo. Leia, leia e leia para descobrir que caiu num roubada. Os racistas ficam exultantes quando uma pessoa negra adota o mesmo discurso que o seu. É muito fácil para quem não quer vê e se submete dizer que resolveu o problema. Não posso lamentar por você que acredita no inacreditável.

    ana

    Iza conscientize-se que o sucesso de cada um de nós individualmente não é parãmetro para analisarmos a comunidade negra. Leia masi sobre sua pro´pria história, leia Clóvis Moura, Kabengele Munanga, Carlos Moore, leia o que escreveu Joaquim Barbosa sobre ações afirmativas. Busque o site Afropress, o acirramento que voce meniona é que o racismo que estáva acamuflado hoje não mais está.Contribua apara a transformação da realidade pense no coletivo. Onde estiver um irmão negros sendo torturado é lá que nós estaremos, não importa o dinheiro que temos, é questão de sentir na pele a dor do outro, quantos médicos negros voce conhece? Quantos engenheiros, juizes, promotores, desembargadores, cientistas, escritores, apresentadores de TV, Quimicos, secretarias, reitores?Quanto senadores?Quantos deputados? Governadores?Secretarios de Estado?Quantos Ministros de Presidente? Quantas empregadas domésticas? Quantos porteiros? Seguranças?Quantos negros estão nas filas do serviço público sem atendimento eficiente?

    Marcia Costa

    É, Iza, é com pesar que tenho que concordar com a Ana. Meu marido é um mulato, daquela cor de canela linda que faz sua incrível beleza. Em muitos restaurantes chiques, exposições de arte, shows, teatro na nossa capital (Brasília) ele é o único muitas vezes. A exclusão não se faz com atos e palavras, mas também pela renda e pela escolaridade. Olho à minha volta e fico triste de não ver outros iguais a ele porque é quase uma sentença de nossa sociedade racista e excludente das minorias negras. Dizem que sou branca. Não me acho dessa qualidade. Prefiro ser negra como ele. Negra como na música do Gil e do Chico Buarque: negra é a mão de imaculada nobreza.

    Iza

    Não, senhor Pedro! Não encontrei fórmula de combate ao racismo. Também não compactuo com racistas. Apenas quis demonstrar que não podemos em nenhuma hipótese sentirmo-nos menosprezados por causa do tonalidade de nossa pele. Não resolvi problema algum e acredito que minha geração não verá este problema resolvido. E como no Brasil o que existe de mais forte é o preconceito, (muitos negros também têm preconceitos contra negros) somente pela educação poderemos resolver este problema.

    E é muito bom que este site oportuniza o debate de forma sadia. Nunca afirmei estar com a verdade mas, escrevo sobre minha experiência de vida e estou sempre pronta a ouvir relatos de outras experiências.

    O problema não acaba aqui, o debate continua mas, somente através da educação se muda a visão de uma sociedade.

Luiz Moreira

Não sei, realmente, se os livros do LOBATO podem ter tanta importância assi, na discriminação ou não, ocorrida obviamente, na sociedade da elite racista brasileira. Não só racista, pois 2 dias atrás o YAHOO chamava o TIRIRICA de ABESTADO. A punição pelas atitudes de discriminação, como o uso de ações policiais e do Exército, de declarações de jornalistas (e seus empregadores), e ações de comentários em obras que descrevam ações que contenham textos discriminatórios, talvez sejam mais efetivos que empurrar para baixo do tapete. E, ter bons professores de HISTÓRIA.
Não se pode esquecer o mal que fazem, os textos que escondem as GUERRAS DO ÓPIO, o uso do GARROTE VIL na ESPANHA CATÓLICA, etc. Deixem a cargo de especialistas em educação falarem qual o melhor procedimento.

    Marduk

    O que tem a ver chamar alguém de abestado com racismo? Abestado significa pessoa boba, idiota e burra. Portanto, definição perfeitamente adequada para um indivíduo que não vai acrescentar em nada a um Congresso Nacional já bastante apodrecido… Também não se podem esquecer o mal que fazem, os textos (e possoas) que escondem a prática da MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA EM VÁRIAS REGIÕES DA ÁFRICA, a EXECUÇÃO DE HOMOSSEXUAIS NOS PAÍSES ISLÂMICOS e os CRIMES DO STALINISMO…

Mateus Ferreira

Só falou a verdade. Dói, mas é verdade

Baixada Carioca

Eu acabo de ler o tal parecer reclamado pela doutora e considero pertinente a preocupação. Penso que não se trata de excluir o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, do rol de literaturas a serem enviadas para a escola, mas de ser anexada à literatura explicação ou uma orientação de como proceder neste caso, trazendo-o à luz dos dias contemporâneos, tais como as explicações de adaptação da linguagem em concordância com a nova regra ortográfica e da questão do meio ambiente. É possível utilizar a tal literatura para mostrar ao alunado que naquele período os brancos se achavam superiores aos homens e mulheres negras e os exploravam e os maltratavam.

Marcelo Solidade

É válido e valoroso o protesto da professora Eliane, porém eu como negro que sou devo ressaltar que em nenhum outro momento histórico brasileiro hoveram tantos programas de inclusão social e racial como há no atual governo.
O sistema de cotas raciais nas universidades federais tão contestado pelas elites brasileira é, mesmo que falho, o primeiro esforço no sentido de dar a nós condições de igualdade na luta por um lugar ao sol.
De fato não é interessante que vejamos e achemos naturais, mesmo em obras tidas como clássicas, o negro esteriotipado de forma satirica e desrespeitosa, mas me surpreende o fato de tal discurssão vir a tona somente agora, mesmo a obra tendo sido adaptada e exibida anos a fio pela TV Globo, justamente no primeiro governo brasileiro ocupado por alguem que não tem origens nas elites brancas.
Devemos sempre manter-nos em luta contra a discriminassão, seja ela qual for, mas não podemos deixar que essa luta seja contaminada por outras motivações.

    Luís Cardoso

    Caro Marcelo, não é protesto, é um chamado na "chincha". E merecido. Lula não fez, na questão racial, nem o que era possível. E a tristeza é ter de admitir realmente que foi o presidente da República que mais se preocupou e fez na área.
    Contra fatos não há argumentos. Mas esperamos que Dilma avance um pouco mais. Aliás, não esperamos. Exigimos.

    joni

    Concordo com você, Marcelo.

Nizinha

Professora, a senhora escreve bem, o racismo é criminoso, e não apenas injusto. Mas privar as crianças, brancas ou negras da leitura de Monteiro Lobato chega a ser maldade. Nenhuma criança negra se sentirá diminuída com a sua leitura. Muito pelo contrário. Assim, argumentar com causas justas mas propor meios injustificados para alcançá-las é imperdoavel para alguem com a sua competência.

    Alice Matos

    Ser espelhada numa leitura como se fosse animal não diminui as crinças brancas, se acrescentar visões racistas em sua concepção é uma coisa boa; mas as crianças negras são ali retratadas como animais e de certeza isso lhes diminui, pois lhes retira a humanidade. Ou a Sra. Nizinha não alcança isso, pois está embotada da superioridade da branquitude, que é também um jeito de ver o mundo, mesmo que a pessoa seja negra?
    O que me choca não é você pensar assim, o que me choca é você querer dizer como um negro deve se sentir quando aviltado. É um direito que você não tem.

    Jairo_Beraldo

    Alice, releia seu comentário, e verá que fora mais "racista" que a Nilzinha.

    Alice Matos

    Nizinha, empregue um pouco do seu tempo e leia:
    "Desrespeito é não se colocar no lugar das crianças negras matriculadas no ensino público", de Ana Maria Gonçalves http://mariafro.com.br/wordpress/?p=21793

Claudio Ribeiro

O saldo histórico de Lula:

mais de 15 milhões de carteiras assinadas, reconhecimento internacional e Herança bendita para Dilma:
http://palavras-diversas.blogspot.com/2010/11/o-s

Luci

Há de chegar o dia em que a mentalidade escrvocrata e o racismo institucional, será episódio conhecido no Memorial da Escravidão e no Museu do racismo brasileiro. As crianças negras tem o direito de serem tratadas com respeito.E este sentimento vem de livros que não contenham o menor sinal de preconceito, discrimnações e racismo. O povo negro está no limite da suportabilidade de tantas humilhações.

O_Brasileiro

O assunto nos remete a pergunta: o que e normal?
Quem determina o que e ou nao e normal e a maioria ou apenas os que estao no poder?

    Orlando

    O_Brasileiro

    Normal seria que as crianças negras, no Brasil, não tivessem, na escola, de serem expostas ao racismo dos livros do sr Lobato.

Luís Alberto Furtado

Professora Eliane, tiro meu chapéu pra você!.

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