Maria Izabel Noronha: A violência nas escolas tem de acabar

Tempo de leitura: 3 min

por Maria Izabel Azevedo Noronha

A notícia de que 62% das escolas estaduais de São Paulo tiveram episódios de violência em 2010, veiculada recentemente pela imprensa, mostra o grave quadro da rede estadual de ensino no que se refere à violência nas escolas.

Nós, professores e professoras das escolas estaduais, vivemos essa situação no nosso cotidiano e temos a percepção de sua extensão e gravidade. Por isso, consideramos que o número de escolas atingidas pode ser ainda maior, pois nem todas as ocorrências são registradas. Assim, as medidas que o governo estadual pretende tomar, segundo a reportagem, são positivas, porém insuficientes.

Esse não é um tema novo para nós e acreditamos que o Estado tem demorado muito para agir. Pesquisa realizada em 2006 pela APEOESP, em conjunto com o DIEESE, junto aos participantes de seu XXI Congresso Estadual indicou que 87% dos professores e professoras da rede estadual haviam tomado ciência de casos de violência na escola. A agressão física foi citada por 82% dos entrevistados como rotineira, só perdendo para agressão verbal (96%) e atos de vandalismo (88,5%). Além disso, 70% dos entrevistados afirmam saber de casos de tráfico de drogas no ambiente escolar e 67% de consumo pelos alunos. Acreditamos que essa situação tenha se agravado desde então. A superlotação das salas de aula é um dos fatores que mais contribuem para a violência nas escolas, para 77,3% dos entrevistados.

Em 1999, quando começaram a se generalizar casos de agressões e vandalismo nas escolas, a APEOESP realizou uma manifestação com mais de 10 mil pessoas no centro da capital, na qual a questão da violência ganhou destaque. Também lançamos a campanha “Paz nas Escolas”, com o objetivo de discutir com a sociedade civil as causas do problema e possíveis soluções. Uma das atividades da Campanha foi uma teleconferência, transmitida às escolas, que contou com a participação de professores de todo o Estado.

Diante da omissão das autoridades, a campanha foi intensificada em 2002. Naquele ano, a Secretaria da Educação divulgou índices parciais sobre a violência nas escolas, baseados apenas em relatórios de diretores e registros policiais. Em contraposição, a APEOESP realizou uma aula pública para demonstrar que os dados do governo não refletiam a realidade e, também, para denunciar a política de “aprovação automática” dos estudantes do ensino fundamental, o que, no nosso entendimento, contribui para reduzir a autoridade do professor e para o aumento da indisciplina e da violência.

Também quando o governo joga a culpa pelos problemas da educação sobre o professor e institui uma série de provinhas para “avaliar” nossa capacidade profissional, contribui diretamente para aumentar a indisciplina e o desrespeito para com o professor. Não são provinhas desse tipo que podem avaliar nossa experiência e nossa capacidade; elas servem apenas para punir e excluir docentes.

Em 2009, criamos o espaço “Observatório da Violência” no site da APEOESP, no qual os professores podem registrar casos de violência na escola e, se necessário, receber assistência jurídica do sindicato. Registre-se que o departamento jurídico da APEOESP tem atuado em diversos casos dessa natureza.

Mais recentemente, outra questão vem se somar ao já complicado quadro da violência escolar: o chamado assédio escolar (bullying). O trágico massacre de de Realengo, ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, despertou a atenção da sociedade para esse problema, que contribui sem dúvida para adensar o clima de insegurança vivenciado por professores, estudantes e suas famílias e demais segmentos da comunidade escolar.

Por isso, a APEOESP lançou no último mês de abril a Campanha “Cuidado: o Assédio Escolar (Bullying) Mata!”, destinada a promover nas escolas e demais ambientes sociais um debate sobre causas, consequências e formas de prevenir o assédio escolar. Também por iniciativa da APEOESP está tramitando na Assembleia Legislativa projeto de lei que cria, na primeira semana de abril, o Dia Estadual de Combate e Prevenção ao Assédio Escolar (bullying).

A violência no interior das escolas não se resume a um problema de segurança, embora seja necessária a presença efetiva da ronda escolar no entorno das unidades escolares para prevenir a presença do tráfico de drogas, vândalos, gangues e outros criminosos. Entretanto, a grande saída é o investimento, não apenas material, mas na valorização dos profissionais da Educação e a instituição de mecanismos de gestão democrática que aproximem os alunos e suas famílias da escola.

Se a escola não se tornar um lugar prazeroso para seus alunos, respondendo a seus anseios e se a autoridade do professor não for reconstituída, por meio de políticas de valorização, a violência escolar vai persistir. Por isso, cabe ao governo desenvolver políticas coletivas, nas quais a questão da violência não seja vista de forma isolada, mas como parte de uma política educacional que assegure ensino de qualidade para todos.

Maria Izabel Azevedo Noronha é presidenta da APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – e membro do Conselho Nacional de Educação e do Fórum Nacional de Educação

Aqui, Emílio Lopes, formado em História pela USP,  analisa a raiz da violência na escola pública paulista

No Chile, a briga por uma educação pública, gratuita e de qualidade continua


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Comentários

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Mauro A. Silva

[youtube ziJ2yO9Zt_s http://www.youtube.com/watch?v=ziJ2yO9Zt_s youtube]
Vereador Dario BURRO (DEM) falou no horário dos Temas Livres, na sessão ordinária de 09 de agosto de 2011 sobre a polêmica dos professores na rede social Facebook.

Mauro A. Silva

Gostaria de saber onde é que os alunos podem denunciar as violências praticadas por professores, funcionários e diretores…

@GersonCarneiro: Vereador Burro diz que professor só pensa em salário | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Presidente da Apeoesp denuncia violência nas escolas paulistas   […]

Mauro A. Silva

Gostaria de saber onde é que os alunos podem denunciar as violências praticadas por professores, funcionários e diretores…
O 3° Plano nacional de direitos Humanos fala em um sistema de acomanhamento da violência escolar, mas isto ainda não saiu do papel… http://movimentocoep.ning.com/

Mauro A. Silva

[youtube awyT3o876Gg http://www.youtube.com/watch?v=awyT3o876Gg youtube]
Essa pesquisa fajuta foi feita pelos diretores…
Se os diretores não espitam nem mesmo uma lei básica (proibição da esig~encia de uniformes), como é que se pode dizer que a viol~encia escolar parte do aluno?
Vejam o que disse o presidente do sindicato dos diretores de SP: " não interessa o que diz a lei…"
http://movimentocoep.ning.com/

João PR

Tem um agravante: o discurso governamental (não apenas o de São Paulo) "joga nas costas" do Professor toda a responsabilidade pela educação de qualidade.

A escola, tenhamos isto claro, não é uma ilha isolada da sociedade na qual está inserida. A escola sofre dos mesmos problemas da sociedade. Com o agravante de que os Professores são responsabilizados pelo fracasso da sociedade (que não tem valores, como respeito, tolerância, alteridade).

Anotem aí: vai faltar Professores em breve. Quem, em sã consciência, quer para seus filhos uma profissão que paga pouco, que exige muito, e que provoca transtornos (como depressão, síndrome do pânico, entre outros) em quem trabalha? Entrem em uma sala do ensino médio e perguntem ali quem quer ser Professor. Verão que são poucos, muito poucos que querem aderir a esta profissão, pois os alunos vêem o "inferno" (sobretrabalho, desrespeito) que é a vida docente.

FrancoAtirador

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Já faz tempo que a escola, para os alunos,
e o trabalho, para os trabalhadores,
são locais de sacrifício e mortificação.

Tanto que os únicos dias considerados úteis
são o sábado e o domingo. O resto é inútil.

Imagina, então, o caso dos professores
cujo local de trabalho é a escola.

Há algo de muito errado nesse sistema.
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Silvio I

Tem-se deixado de respeitar o professor, não sô porque o estado tem deixado de valorizar o, si não porque os pais, e a sociedade são o grande culpados de que isto aconteça. Os governos por deixar aos professores, como si fossem uns empregados qualquer do governo, quando em eles descansa o futuro do Brasil. A sociedade, por ter permitido que uma TV, que não agrega nada, passe filmes estrangeiros, que dentro de eles, vem um comunicado subliminal, que interessa a eles, para desestabilizar nações, para eles poder apoderarse de elas. Parece-nos normal que a policia coloque a bota em uma porta, durante a noite, e invada um domicilio.Esses pequenos detalhes vão corrompendo pessoas, que já não tem muita estrutura moral.E os pais por não ter transmitido aos filhos, que os professores, são um segundo pai, que vai a completar sua educação, e o ajudar a madurecer para chegar amanha, ser uma pessoa de bem,e preparado para a luta pela vida.

GilTeixeira

Deu no Globo: (via Blog Amigos do Brasil)
Vereador do DEM diz que professores ‘são inúteis’

Quarta-feira 10, agosto 2011

O vereador Dario Burro (DEM), de Jacareí, cidade a 82 quilômetros de São Paulo, entrou numa polêmica ao postar ofensas contra professores nas redes sociais da internet, segundo o site VNews . Entre as críticas, Dario Burro disse que “os professores são inúteis” e que “adoram palestras nas escolas! Assim eles não precisam dar aulas.” O parlamentar poderá ter que responder pelas declarações.

Na sessão da Câmara, o vereador comentou a polêmica. Ele afirmou não se arrepender dos comentários que fez e diz ser livre para expor suas opiniões.

– Eu estou sendo sincero e ninguém espera sinceridade das pessoas, quanto menos os políticos – disse o vereador.

O diretor do Sindicato dos Professores, Roberto Mendes, pediu a palavra na Câmara Municipal e expôs no Plenário durante 15 minutos a indignação da categoria.

– Isso, no nosso entendimento é calúnia, é difamação. Então, ele deve responder pelo que falou. É um homem público – disse Roberto Mendes.

Na Câmara, até o momento, não há nenhuma representação contra o vereador. Se isso for feito, o pedido será analisado pela Comissão de Ética e ele pode sofrer punições.

– São quatro situações: primeiro a denúncia oral; segundo, um requerimento verbal; terceiro uma suspensão temporária do mandato; e por último, a cassação ou a perda do mandato – explicou o presidente da Comissão de Ética da Câmara, professor Marino.

Mas a polêmica também pode virar caso de polícia. Se for denunciado o vereador deve responder criminalmente pelas declarações.

– Em tese, poderá ser configurado crime de injúria pela forma como ele fez as declarações ofensivas, genéricas a uma categoria profissional – explicou o delegado Roberto Martins.

Nesse tipo de crime de injúria, a pena pode chegar a até seis meses de detenção. O sindicato dos professores informou que ainda não fez uma representação na câmara porque antes vai se reunir e decidir que medidas tomar nesse caso.

O vereador se defende, novamente atacando os professores.

– Isso também demonstra o perfil autoritário do professor. Toda vez que ele é contrariado, ele quer punir quem o contraria de alguma maneira. Dentro da sala de aula, levando para a diretoria ou reprovando e fora da sala de aula levando para a delegacia ou Judiciário.Deu no Globo

Augusto

Realmente, o PSBD conseguiu desunir os professores (uma das primeiras estratégias para conseguir vencer o inimigo é fazer que se separem) com esse monte de categorias… agora, cada um defende o seu. O ensino está péssimo. Todos desmotivados. Alunos que ameaçam vidas e destroem carros de professores e funcionários. Nossa, triste demais tudo isso. Sem dúvida, o PSDB está conseguindo destruir a escola pública. Quando eles conseguirem, com a ajuda do PIG, convencer que não vale a pena, será tudo entregue às empresas privadas. É a terceirização do ensino público. Ah, só pra desabafar: não confio na APEOESP. Em vários momentos, quase que conseguimos dobrar o governo, mas o sindicato 'deu pra trás'… sindicato pelego!

beattrice

Os governos bicudos de SP consideram o ítem EDUCAÇÃO um estorvo para ser administrado e uma despesa intolerável no orçamento do Estado, simples assim.
Basta observar o perfil dos "secretários" na área ao longo da dinastia tucana.
Vale a pena lembrar que, a par do assédio escolar, as escolas de SP carregam índices gravíssimos de assédio moral, devido à estrutura mal administrada de cima abaixo.

Fabricio Alves

A escola é um lugar hostil.

    João PR

    Hostil para quem? Há que se considerar que estudar causa "sofrimento" intelectual.
    É mais "gostoso" para um adolescente ficar na internet e jogar viodegame.
    Enquanto os pais forem omissos, não passarem valores básicos, enquanto a sociedade não se preocupar, a escola será um ambiente hostil sim, para os Professores.

Marcelo de Matos

Os chamados "especialistas" em educação acabaram com o ensino. Aluno que vai armado à escola, que promove baderna, tem de ser expulso. É preciso restaurar a autoridade . Do jeito que o ECA regula o trato com a meninada, a vaca só pode ir para o brejo. No momento em que passamos a chamar o crime de ato infracional, já não havia mais solução.

    João PR

    Marcelo:

    Entenda que não é somente a escola que educa. Ou seja, punir resolve pouco a situação (se assim fosse, não haveria criminosos).

    Enquanto a família, e a sociedade (que tem valores, hoje, "capengas") não se preocuparem, não adiantará de nada o "retorno da palmatória" (figura de linguagem, óbvio).

    O aluno tem que entender o que é a escola para ele. E isto, meu caro, é passado desde os mais tenros anos da infância.

Lucio

Só valorizar os professores nao resolve nada. Isso é mais uma das medidas.

De que adianta isso se o aluno vem de casa com uma educação terrível, sem limites, sem noção de autoridade, sem respeito pelos pais, sem respeito por ninguém?

    @renan2112

    Exatamente. Eu gostaria de ver o aluno bagunceiro sendo punido, ou os pais desse aluno sendo responsabilizados criminalmente.

    Falta empoderar o professor para que ele possa retirar alunos da sala, para que ele possa reprovar na lata aquele aluno obviamente incompetente etc…

    Lucio

    Hoje parece ser um ABSURDO um aluno ser punido dentro de uma sala de aula. Geralmente quando isso acontece, os pais ficam sempre ao lado dos filhos (não interessa o que eles tenham feito), e contra os professores, que também já não são mais os mesmos.

    Quando eu era criança (e eu nao sou tao velho assim, tenho 33 anos) tínhamos o maior respeito pelos professores, pais, avós, tios, qualquer pessoa mais velha. Jamais meu pai ou mãe foi na minha escola reclamar das advertências que eu levava, pelo contrário, o culpado, com toda razão, sempre era eu.

    Hoje em dia todos as referências que eu citei que eu citei são motivo de deboche pelos mais novos.

    Não há autoridade, nao há respeito, é todo mundo "igual".

    As relações com os mais jovens (putz, eu falo isso com 33 anos!) se "bestializaram" a um nível grotesco.

    O resultado são professores apanhando dentro da sala de aula, pais sem um pingo de controle sobre os filhos e a sociedade em convulsão.

    E a tendência é piorar, pois é que que temos visto ano após ano.

    @renan2112

    Eu pergunto que profissionais serão esses "alunos" de hoje.

    Jr.

    São três as letrinhas responsáveis por esse estado de coisas: ECA.

    Lucio

    Concordo. Esse ECA, salvo um ou outro avanço, veio como uma luva para tirar a autoridade dos pais e colocar seus filhos contra eles mesmo.

    Mauro A. Silva

    esses "alunos de hoje" serão os futuros professores!

Luci

Se não houver valorização do professor e reinvenção da escola para que o aluno sinta-se parte da instituição, é uma questão que põe em xeque o mérito e competência tão decantado por muitas autoridades.
O hoje chamado bullyng muitas crianças pobres sempre foram vítimas "caçoadas" e naqueles momentos não foram tomadas providências o problema se agigantou.

    elisangela

    Não há milagre que recupere criancas e adolescentes criados sem NENHUM LIMITE por pais incompetentes em todos os sentidos, se tivessem um minimo de educacao em casa nao teriam comportamento de marginais em sala de aula, professor nao tem super poderes.

    @renan2112

    Não há solução para o aluno que não quer aprender, e não é a escola que deve ensinar o que deveria vir de casa: respeito à autoridade (o que é diferente de submissão cega e de puxa-saquismo), tolerância, honestidade etc…

Italo

Sem novidades e sem providencias

Adriano

Violência é um sintoma de que nosso sistema educacional está falido. Não podia ser diferente, com tanto descaso com a educação pública e com quem a faz, os professores, só poderia resultar nisso. Infelizmente. Veja a violência do estado com a educação: péssimos salários, golpes contra as carreiras do magistério, desrespeito ao professor, falta de políticas de valorização e de CUIDADO com os profissionais do magistério.
Não há que se falar em nenhuma melhoria da educação sem se falar na melhoria de vida dos profissionais que com ela estão envolvidos.

josaphat

A gente sai dali, às vezes, com a alma em frangalhos. É um lugar triste, feio e sem perspectiva, onde vitórias não há.

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