Luís Carlos Bolzan: Sequência de fatos digna de roteiro de Agatha Christie

Tempo de leitura: 4 min

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Para quem acredita em acidentes

por Luís Carlos Bolzan, especial para o Viomundo

Os últimos dias, destes primeiros de 2017, tem sequência de fatos dignos de roteiros de Agatha Christie.

Nesta quinta-feira, 19 de janeiro, caiu o avião em que viajava o Ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Lava Jato, tirando a vida do magistrado, além de outras três pessoas que estavam no avião que ia de São Paulo para Paraty/RJ.

Teori era o responsável, na condição de relator, por homologar delações de 77 executivos da Odebrecht que denunciam cerca de 200 políticos. O Ministro também iria, segundo relatos da imprensa, retirar sigilo das delações nos próximos dias.

Além desta, outra delação de proporções gigantescas estava sendo preparada, a da Camargo Corrêa, com conteúdo explosivo, podendo atingir integrantes do Judiciário e os até aqui intocáveis tucanos de fina plumagem.

Zavascki foi ainda o Ministro que repreendeu o juiz Sérgio Moro pelo vazamento ilegal de conversa telefônica da Presidente Dilma Rousseff com o ex-Presidente Lula em 2016.

A morte de Teori foi precedida, na semana anterior, por insólita viagem do presidente da República Michel Temer (PMDB) para Portugal, acompanhado do Ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Ambos compartilharam o avião presidencial em viagem para acompanhar enterro do líder português Mário Soares.

Nenhum senão, não fosse pelo fato de Temer ser réu em processo que será julgado no TSE presidido por Gilmar Mendes.

Muitas horas na viagem entre Brasil e Portugal para que julgador e réu pudessem conversar.

Aliás, que lugar seria mais seguro para conversa entre ambos, que em voo no avião presidencial?

Gilmar Mendes sequer compareceu aos atos fúnebres de Soares, alegando labirintite. O teor da conversa entre Temer e Mendes não foi divulgado.

Não bastasse isso, outro fato insólito ocorre esta semana.

O Procurador Geral da República Rodrigo Janot, vai a Davos na Suíça para participar do Fórum Mundial realizado naquela cidade, que reúne a nata do capitalismo planetário.

Durante a quermesse rentista especulativa, Janot sentencia que “a lava jato é pró mercado”.

Estranhamente, a Lava Jato que vinha sendo difundida desde seu início como “contra a corrupção”, passa a ser apresentada pelo Procurador Geral da República como “pró mercado”.

Difícil entender como ser “contra a corrupção” pode ser “pró mercado”, justo a corrupção que se apresenta como interesse de forças privadas em desvirtuar o estabelecido legalmente para garantir interesse coletivo a fim de se apropriar indevidamente do que é público, tirando vantagem para indivíduo ou grupo específico em detrimento de interesse coletivo.

A corrupção abundante no caso da Lava Jato é exatamente isto.

Interesses privados, de grupos do mercado, usando de ardis e recursos econômicos para corromper e garantir mais recursos públicos e influência política.

A Lava Jato deveria ser pelos interesses público e coletivo, respeitando a Constituição Federal.

Ao escolher ser pró mercado, escolhe priorizar interesses de mercado em detrimento do interesse coletivo.

Ninguém serve a dois deuses.

A Lava Jato escolheu o deus mercado, relegando o deus popular da democracia e sua criação, a Constituição Federal, a mero fetiche subalterno.

Teori Zavascki morreu, e assim, deixa de comandar relatoria no STF.

Aliás, vale lembrar trecho de conversa entre o delator Sérgio Machado e senador Romero Jucá (PMDB) interceptada pela Polícia Federal e fartamente divulgada em 2016.

Na célebre conversa em que afirmam ser necessário estancar a lava jato, Machado diz que deveriam agir sobre Teori, ao que Jucá retruca dizendo que não dá, por ser o ministro do STF muito reservado, “um burocrata indicado por ela (Dilma)”.

Ainda em no ano passado, em maio, filho de Teori, Francisco Prehn Zavascki, posta no facebook referência a ameaças que família vinha sofrendo em função da Lava Jato, e que se algo acontecesse a um dos membros da família, todos já saberiam em que direção procurar os responsáveis.

Aliás, o acaso ou a coincidência parece incapaz de explicar o ocorrido.

São muitas variáveis implausíveis ocorrendo simultaneamente, criando enorme constrangimento de ser explicada racionalmente pela ciência da estatística.

Variável 1: acidente de avião. Variável 2: ministro do STF. Variável 3: relator da Lava Jato. Variável 4: anúncio dois dias antes que derrubaria sigilo das delações da Odebrecht. Variável 5: Presidente da República delatado na lava jato. Variável 6: Presidente da República ser quem indica substituto do ministro falecido. Variável 7: Senado com vários delatados ser instância que sabatina ministro indicado. Variável 8: filho ter feito postagem e denunciado publicamente ameaças que família vinha recebendo.

Considerando apenas estas variáveis, seguramente se torna improvável explicação pela estatística.

A combinação das mesmas parece sucumbir à lógica matemática, sendo mais razoável recorrer à dialética.

Em um país em que várias autoridades faleceram em situações semelhantes fica difícil desconsiderar outras possibilidades, como faz parecer o discurso definido tipo linha editorial de um grande jornal, da simples fatalidade.

Vale lembrar a morte por acidente aéreo do presidente ditador Castelo Branco em 1967, a morte de Ulisses Guimarães em acidente de helicóptero, ou ainda a morte de Eduardo Campos durante campanha presidencial em 2014, para ficar em acidentes aéreos apenas.

Poderíamos lembrar da morte de JK em acidente de carro, da morte de Tancredo Neves às vésperas de assumir presidência quando da reabertura e fim da ditadura, ou até mesmo do ditador Costa e Silva em 1969, quando queria assinar o fim do AI-5.

Com esta lista macabra como deveríamos perceber mais esta morte? Como mais um “acidente pavoroso” ao estilo Temer? Ou diríamos como ministra Carmen Lúcia que “o escárnio venceu o cinismo”? Seria apenas mais “um tropeço da democracia” ministro Lewandowski? Ou, de fato, Dr. Janot tem razão e “a Lava Jato é pró mercado”, deixando explícita esta inclinação?

Na linha do “escárnio venceu o cinismo” que pouco se importa com tantos citados, delatados, investigados e réus no governo, já surgem os oportunistas para pressionarem que o réu na ONU, juiz Moro seja indicado para a cadeira ainda quente do falecido Teori Zavascki, no STF.

Diferentemente dos roteiros de Agatha Christie em que Mr. Poirot ou Miss Marple sempre desvendavam os fatos e descobriam os culpados, creio que esta trama não terá esta sorte.

Talvez mais importante que responder quem é culpado, devamos nos perguntar a quem beneficia a morte, por acidente ou não, do ministro indicado pela Presidente Dilma Rousseff, relator da Lava Jato, Teori Zavascki?

Seja quem for que você responda, certamente é (são) sujeito(s) de muita sorte.

Ou será que não? O fato é que a besta do sistema corrupto respira, esperneia, desesperada e despudoradamente sem limites, para manter tudo em seus diletos lugares político e social, a impunidade e a desigualdade.

Afinal, a democracia brasileira é um acidente de curta duração entre golpes meticulosamente planejados, até este momento. A superação dialética ainda está por vir.

Leia também:

Morte de Teori interessa aos que querem prolongar o golpe e temem delações da Odebrecht


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Comentários

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Luiz Carlos P. Oliveira

Todas as mortes citadas na matéria foram estranhas, sempre à véspera de algum fato. Por exemplo, para ficar no caso mais recente: Eduardo Campos iria para o segundo turno com a Dilma. A PF levou mais de um ano para descobrir quem era o dono da aeronave. Quem se beneficiou da morte do Eduardo? Eu sei, todos sabem. Sem falar de policiais que morrem depois de delatar políticos, em casos recentes. E tem ainda um certo helicóptero…

Bacellar

“Um golpe na cabeça, de quem não é dos nossos, assim a nossa festa mais bela ficará…”

https://estudiotm.files.wordpress.com/2016/08/ripteori.jpg

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