
por Luana Tolentino, especial para o Viomundo
Fiquei alguns anos sem assistir televisão. Perdi o costume completamente. Até os jogos do Galo, meu time do coração, passei a acompanhar através do rádio. Um martírio, admito. Mas ainda acho bem melhor do que passar 90 minutos ouvindo as bobagens de narradores e comentaristas da tv.
Há alguns meses, precisei mudar os meus hábitos. A contragosto, porém, por uma causa nobre. Desde o ano passado, Miriam, minha irmã luta incansavelmente contra um câncer. Além da doença de ter lhe tirado a fala, ela se vê obrigada a passar os dias deitada, devido as fortes dores provocadas pelos tumores e pelas sessões de quimioterapia. Assim, a televisão torna-se uma das poucas formas de distração. Quando estou em casa, sempre procuro estar ao lado dela nesses momentos.
Na sexta-feira passada, assistíamos ao novo humorístico da Globo, O Dentista Mascarado. O programa tem como protagonista Marcelo Adnet, recém-contratado da emissora dos Marinho. Tenho certo apreço pelo rapaz. Já li algumas de suas entrevistas e gostei muito. Nunca soube que ele fosse adepto do humor fascista do CQC ou um reacionário como Rafinha Bastos.
No episódio, o personagem de Adnet namorava uma mulher considerada feia. Até então, nada demais. A questão está na maneira que os redatores encontraram para caracterizar a feiura da personagem: “de tão feia, era uma mistura de Cristina Kirchner e Evo Morales”. A frase que reproduzo aqui foi repetida à exaustão durante todo o programa.
Engraçado? Divertido? Não. Patético!
Não é necessário ser um especialista em Comunicação para afirmar que ao longo de seus quase 50 anos a Globo soube usar com maestria seus humorísticos e toda a sua grade de programação para disseminar entre os telespectadores todo o seu direitismo e atacar de maneira insidiosa aqueles que caminham na contramão de seus interesses.
Elenco alguns exemplos recentes que deixam claras as (más) intenções da emissora carioca. Há poucos dias lá estava Ana Maria Braga no matinal Mais Você tentando nos empurrar goela abaixo o colar de tomates. Em 2011, foi a vez da Nenê, personagem de Marieta Severo na Grande Família usar a vassourinha, numa alusão ao fajuto movimento contra a corrupção. O Casseta e Planeta, saiu do ar de forma melancólica em 2012, mas o seu humor ultraconservador foi essencial às pretensões políticas da emissora, principalmente na época das eleições presidenciais.
Na sexta, os alvos foram Kirchner e Morales.
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Por quê? Terá sido motivado por um ressentimento em relação à aprovação da Ley de Médios, que ao contrário do que acontece no Brasil, democratiza os meios de comunicação? Ou uma birra por causa da luta do presidente boliviano em favor da reforma agrária, movimento que a Globo criminaliza sem a menor ponderação. Tenho mais um palpite: com o apoio maciço da população ao governo Dilma (79%!) e Lula, o mais novo colunista do New York Times fica difícil “bater” nos dois. A alternativa é apelar para os nossos hermanos.
Tudo que eu mais quero nessa vida é a recuperação da saúde da minha irmã. Não pode haver dor maior do que presenciar o sofrimento daqueles que amamos. Além disso, logo que a Miriam estiver bem, estarei livre da incumbência de passar horas na frente da televisão. Definitivamente, não tenho a menor paciência com esse humor PA-TÉ-TI-CO da Globo.
Luana Tolentino: mulher, negra, canhota, gêmea univitelina
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