Julian Rodrigues: Crítica de Flávia Piovesan, coerência ou mais um lance de oportunismo?

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Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira participa do lançamento da candidatura de Flávia Piovesan para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

FLÁVIA PIOVESAN E O OPORTUNISMO

por Julian Rodrigues, especial para o Viomundo

Desde ontem, a grande mídia golpista vem incensando a ex-Secretária Nacional de Direitos Humanos, Flávia Piovesan.

Tentam atribuir sua saída do governo Temer à suposta coerência e posicionamento público contra a tal portaria do trabalho escravo.

Não é nada disso. A simpática ex-professora da PUC-SP, conhecida como uma das principais doutrinadoras no campo dos direitos humanos e direito internacional já tinha vendido sua alma ao diabo.

Ex-orientanda do “jurista” Temer, rasgou sua biografia progressista e concordou em dar verniz ao governo golpista e misógino, assumindo a Secretaria de Direitos Humanos (já que o Ministério foi extinto quando da assunção temerista).

Muita gente não entendeu nada.

Como assim? A professora Flávia legitimando o processo de ruptura democrática?

Piovesan logo disse ao que veio, contudo.

Girou sua agenda para viagens internacionais, não chegou, de fato, a assumir seu cargo e fazer qualquer coisa relacionada à política pública.

Depois, quando o golpista resolveu recriar o Ministério dos Direitos Humanos, em fevereiro, Flávia foi rebaixada, na prática, pois a titularidade da pasta ficou com a desconhecida Luislinda.

Mas Flávia já estava em outra. Se jogou ainda mais intensamente nas articulações internacionais. Estava de olho em uma vaga na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA.

Voando em jatinhos da FAB e com apoio do Itamaraty, a gestora omissa rodou toda América Latina.

Legitimando externamente o golpe, a ex-defensora dos direitos humanos conseguiu seu objetivo.

Foi eleita, em junho, na Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos como uma das sete personalidades que integram a CIDH. Seu mandato começa em 2018 e vai até 2021.

Sempre sorrindo doce e hipocritamente para a sociedade civil e dando tratos à sua reputação, Piovesan nada fez para evitar o corte dos recursos para as políticas de direitos humanos.

Muito menos chegou a assumir, de fato, o leme da sua Secretaria. Na prática, ficou um ano em campanha para esse importante posto na OEA.

A saída da professora do governo já estava programada para 31 de outubro.

Flávia Piovesan não foi exonerada porque se pronunciou contra a portaria governamental que, na prática, liberava o trabalho escravo.

É o contrário: ela só se pronunciou porque sua saída do governo já estava com data marcada.

E, vocês, sabem, é preciso cuidar da imagem, todos os dias, toda hora – tentar parecer o que não mais se é.

Todavia, nada há de novo sob o céu.

Como Fausto, a doutora em direitos humanos fez seu pacto com Mefistófeles, vendeu sua alma em troca de brilho, poder e glória.

Pagou seu tributo a Temer e – ao neoliberalismo autoritário – para viabilizar sua indicação a um órgão internacional. Simples assim.

Mas, talvez evocar o arquétipo de Fausto seja um pouco demais nesse caso.

Tudo indica que se trata algo mais prosaico: oportunismo e carreirismo.

Julian Rodrigues é  professor e jornalista, militante dos movimentos de direitos humanos e LGBT

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