Izaías Almada: Coxinhas deviam ir logo para Miami e não escolher Portugal

Tempo de leitura: 4 min

Retrato do escritor português Fernando Pessoa pintado por Almada Negreiros

COXINHAS À PORTUGUESA

por Izaías Almada, especial para o Viomundo

Não conheço o escritor português José João Louro, muito provavelmente por um problema de diferença de idade, de geração, pois vivi em Portugal em dois momentos da minha vida: todo o ano de 1984 e depois durante os anos de 1991 a 1996. Anos em que, por suposto, Louro começava a sua vida profissional. Na altura, ainda mais ligado às artes plásticas.

Mas foi bem antes, em 1973, participando de uma turnê teatral produzida pela atriz Ruth Escobar com a peça “Cemitério de Automóveis”, de Fernando Arrabal, que conheci Portugal e me apaixonei pelo país, razão pela qual fiz essas duas temporadas de lá viver. “E gostei imenso” como costumam dizer os portugueses.

Nesse ano, vivi ali seis meses inesquecíveis da minha vida, procurando novos ares e novas culturas após 25 meses preso pela ditadura civil/militar que dominou o Brasil durante 21 anos. Conheço um pouco da história do meu país, sobretudo da sua história política, e um poucochinho da historia contemporânea de Portugal.

Em Lisboa fiz inúmeras amizades, graças à primeira delas, do então advogado e aprendiz de cinema Luís Filipe Rocha, hoje um dos nomes sonantes do cinema português, já com extensa carreira de bons filmes.

Rocha, como alguns de nós o chamávamos, apresentou-me a José Fonseca e Costa, cineasta, a Carlos Manuel Borges, o Camané, que entre outras atividades foi a de se tornar assessor do primeiro presidente da república portuguesa eleito pelo voto popular após a Revolução dos Cravos, o Sr. Antonio Ramalho Eanes.

Conheci também o escritor e jornalista João Alface da Silva, o Alfacinha; o deputado e líder comunista Álvaro Cunhal, célebre por sua vigorosa oposição e heroica resistência ao salazarismo.

E em especial, fui apresentado por Luís Filipe Rocha ao grande poeta e compositor Zeca Afonso, cuja música “Grândola, Vila Morena” foi usada como senha para o levante militar do dia 25 de abril de 1974 que pôs fim ao fascismo português.

Por tudo isso e um pouco mais me sinto ligeiramente português, sem deixar de mencionar o sobrenome, Almada.

Peço desculpas ao leitor para essa pequena divagação curricular, mas é que não me contive em ler nos últimos dias sobre o que escreveu José João Louro sobre muitos dos chamados “coxinhas” brasileiros que, depois de ajudarem por sua ignorância política – e outras ignorâncias mais – a derrubar a Presidente Dilma Rousseff e criminalizar o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores, vai para Portugal procurar melhores oportunidades de vida. Quá, quá, quá…

Novos ricos ou pobres novos ricos, como queiram, e que procuram a Europa como substituição à mediocridade do país atual que ajudaram a construir, muitos ainda com medo do comunismo, esse fantasma que assombra almas pequenas e ignorantes, como se o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores fossem comunistas. E outros apor perceberem que entregaram o país a uma quadrilha de sem vergonhas e entreguistas do patrimônio nacional.

Ignorantes de sua própria história têm esses “grandes brasileiros” a nostalgia do Brasil colonial e da Casa Grande e não suportam dividir espaços e condições sociais com pobres, negros e nordestinos.

O ódio injetado na veia brasileira, sobretudo nos últimos cinco anos, tornou o país intolerante com aqueles que não comungam com uma visão subserviente à supremacia econômica de outros povos, condicionando-nos de um modo geral a considerar que o monopólio do saber científico, cultural, de políticas sociais minimamente organizadas, está fora de nossas fronteiras, sobretudo em alguns países do hemisfério norte.

Que queiram deixar o país, isso é até um favor que fazem, mas escolher Portugal é quase um castigo para nossos irmãos ibéricos. Deviam fazer como seus pares que vão logo para Miami, paraíso da idiotia novoriquenha e da filosofia vira lata.

Por qual razão, pergunta o escritor João Louro, escolheram viver num país que tem um governo socialista e de identificação com o Partido dos Trabalhadores aqui no Brasil?

Como papagaios repetem o que vêm nos telejornais ou leem em jornais e revistas semanais e assim passam recibo da sua ignorância histórica e política.

Vejam o que disse José João Louro:

Aqui em Lisboa chegam todos os dias brasileiros da dita “classe média” que decidiram emigrar. São antigos apoiantes de Temer ou de Aécio Neves, mas agora já não querem viver no Brasil.

Procuram um posto de trabalho na Europa. Converso muito com eles no café perto da Loja do Cidadão, onde tratam os papéis burocráticos. Vivem uma crise de consciência pequeno-burguesa. Ainda se colocam em bicos de pés orgulhosos de serem jovens da “classe média” com um curso superior.

Mas já não querem viver no Brasil atual.

Incapazes de observarem como positivas as medidas sociais do tempo de Lula, vêm viver para um país governado pelo Partido Socialista, um partido irmão do PT na Internacional Socialista.

Em Portugal, o governo do PS é apoiado no Parlamento pelo Partido Comunista, Verdes e Bloco de Esquerda. Ficam chocados e não entendem. Para mim é interessante notar a profunda crise de consciência da pequena burguesia brasileira, muito nacionalista, muito brasileira, mas que depois foge para Portugal ou Europa em busca de mais comodidade.

Na mosca, caro colega… O prazer que sentem em falar mal do Brasil e deixá-lo só é comparável ao tamanho de sua própria mediocridade como seres humanos que não reconhecem aos seus semelhantes os mesmos direitos que querem ter ou, se preciso for, impor através de uma “democracia” de mão única.

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Comentários

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Marcio

Por favor nao use a web para proteger aqueles que destruiram o Pais

Nelson

A direita transformou o PT no demônio. E este demônio estaria a nos empurrar para o comunismo. Mesmo que os governos do PT estivessem, na verdade, procurando desenvolver o capitalismo brasileiro.

Não bastasse isso, o demônio estaria também induzindo nossos jovens e até crianças ao homossexualismo e garantindo liberdades indevidas aos presidiários.

Isso tudo e mais um grande conjunto de baboseiras passaram a ser repetidas ad nauseam na mídia hegemônica, nas redes sociais e o escambau.

O nível das baboseiras era tão rasteiro que chegaram a inventar que a Dilma iria inaugurar uma estátua em homenagem ao brasileiro que, por tráfico de drogas, foi fuzilado na Indonésia.

Tudo isso não é exatamente novo. Quem conhece a história do nosso país sabe que Getúlio e Jango já tinham sido tratados de modo muito parecido.

Quem conhece um pouco da história de outros países que tiveram governos que implementaram projetos nacionais, sabe que os povos desses países passaram por campanhas de alienação muito semelhantes.

Mas, a coxinhada/trouxaiada/pataiada e manifestoche resolveu acreditar em tudo. Então, como Temer apareceu e os livrou do demônio, sentiram-se finalmente aliviados e deram carta branca ao Vampirão para que este passasse a fazer o que quisesse com o país.

E, até agora, passados quase dois anos da ignomínia, da infâmia, do disparate de 17 de abril de 2016, essa patota ainda não acordou. Ainda não se deu conta da roubada em que se meteu, não quer reconhecer que passaram-lhe a perna.

Envenenada contra o PT, essa patota, que achou que fazia parte da elite, não consegue enxergar que não está incluída no projeto de Temer para o país.

Afinal, numa avaliação à risca, o “Ponte para o Futuro” é um projeto tão somente para as mega corporações privadas, para satisfazer sua sede insaciável de lucros.

É um projeto, portanto, para 1% ou 2%, dos brasileiros, para o topo da pirâmide, que viverão ainda mais como nababos. O restante terá que brigar pelas sobras. E, para grande parte desse restante nem sobras haverá.

Mas, a patota dos coxinhas/trouxinhas/patinhos e manifestoches não se dispõe a estudar e a debater política com a seriedade e a serenidade exigidas, para entender realmente o que se passa. Daí que sai a pedir guarida em um país que trilha um caminho em muito semelhante com aquele que rejeitou em seu país de origem.

“Y asi pasan los dias”, como diz o imortal bolero de Osvaldo Carrés.

Em tempo. Não posso deixar de parabenizar o Almada pela bela abordagem do assunto.

saulo

Tudo certo, o único porém é atribuir a esses cidadãos qualquer avaliação cognitiva da realidade.
Não importa se o partido for socialista, comunista, nazista, ou qualquer outro, em Portugal.
Essa gente não conseguiria identificar uma foice, uma suástica ou um martelo se visse algum.
Não é à toa que o Brasil figura, sempre, nas 3 últimas posições nos testes de desempenho escolar do PISA.
A única oportunidade oferecida a todos nesse cafundó – e seguida à risca – é a de se tornar um ignorante.
Nessa, ricos, pobres e classe-média não diferem em absolutamente nada.

Jose carlos

A maioria dos coxinhas não tem grana para morar em MiamI, só tem pose só. São um bando assalariado que pensam que são ricos, mas não são, pois dependem de sálario. Rico não depende de sálario.
Aliadas o inglês dos coxinhas é igual ou pior que o inglês do Joel Santana. Só bobo para acreditar que essa turma tem o inglês intermediário ou fluente.

    leonardo-pe

    pois é José. o povo da cidade de São Paulo(que IDOLATRA OS ESTADOS UNIDOS. SOBRETUDO A IMPRENSA),se acha”americanizado”dos Estados Unidos. e tem orgulho desse”ingrêis”. coitados midiotizados.

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