Indonésia executa brasileiro condenado por tráfico de drogas

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Marco Archer - arquivo pessoal

Marco Archer dentro da cadeia na Indonésia. Foto: Rogério Paez / Arquivo pessoal

Condenado por tráfico na Indonésia, brasileiro Marco Archer é executado

Instrutor de voo livre foi morto por pelotão de fuzilamento em prisão. No país asiático, tráfico de drogas tem pena capital.

Do G1, em São Paulo

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi executado na madrugada deste domingo (18) na Indonésia – 15h31 deste sábado (17), pelo horário de Brasília. O método de execução de condenados à pena de morte no país é o fuzilamento.

O instrutor de voo livre havia sido preso em 2004, ao tentar entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. A droga foi descoberta pelo raio-x, no Aeroporto Internacional de Jacarta. Archer conseguiu fugir do aeroporto, mas duas semanas depois acabou preso novamente. A Indonésia pune o tráfico de drogas com pena de morte.

Além do brasileiro, foram executados na ilha de Nusakambangan, Ang Kiem Soe, um cidadão holandês; Namaona Denis, um residente do Malawi; Daniel Enemuo, nigeriano, e uma cidadã indonésia, Rani Andriani. Outra vietnamita, Tran Thi Bich Hanh, foi executada em Boyolali, na Ilha de Java.

A presidente Dilma Rousseff divulgou nota em que disse estar “consternada e indignada” com a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira na Indonésia. O embaixador do Brasil em Jacarta, segundo a nota, será chamado para consultas.

Na linguagem diplomática, chamar um embaixador para consultas representa uma espécie de agravo ao país no qual está o embaixador. Na sexta-feira, a presidente Dilma fez um apelo por telefone ao governante da Indonésia, Joko Widodo, para poupar a vida de Archer, mas não foi atendida. Widodo respondeu que não poderia reverter a sentença de morte imposta a Archer, “pois todos os trâmites jurídicos foram seguidos conforme a lei indonésia e aos brasileiros foi garantido o devido processo legal”, segundo nota da Presidência.

Antes da execução, em entrevista à GloboNews, o ex-cônsul do Brasil em Bali Renato Vianna explicou que Archer e os demais condenados à morte seriam transferidos para um lugar próximo à penitenciária e depois fuzilados por 12 atiradores .

Questionado sobre outros brasileiros anteriormente condenados pelo mesmo motivo na Indonésia e que conseguiram se livrar da pena de morte, Vianna destacou que, no período, as penas não eram tão rígidas com relação às drogas. Explicou ainda que a legislação foi mudada há uns 15 anos.

“A Indonésia é um país tranquilo, bem aberto, mas eles são muito restritos com relação às drogas. Se a pessoa for pega com um cigarro de maconha, ela vai ser presa e está arriscada a passar até oito anos na cadeia”, afirmou. Ele acrescentou que há 138 pessoas para serem executadas – metade são estrangeiras.

As leis da Indonésia contra crimes relacionados a drogas estão entre as mais rígidas do mundo e contam com o apoio da população. “Com isso [as execuções], mandamos uma mensagem clara para os membros dos cartéis do narcotráfico. Não há clemência para os traficantes”, relatou à imprensa local Muhammad Prasetyo, procurador-geral da Indonésia.

Além de Marco Archer, outro brasileiro aguarda no corredor da morte da Indonésia, o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, também por tráfico de cocaína.

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Comentários

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José Xavier de assis

Indonésia não é um exemplo para ninguém. Dizimou a população do Timor Leste.
Milhares de crianças mortas. Mais de 150.000 pessoas. Um país que tem um índice enorme de corrupção!!!!!!!!!!!! Viva a Indonésia!!!!!!!!!!

bira

parabéns à Indonésia.

Esse bandido não é necessário na sociedade. A sociedade fica melhor sem ele.

Duvido que algum traficante se anime a pisar lá.

País sério é assim, não é essa porcaria de Brasil, onde assassino mata uma pessoa que teria mais 40 ou 50 anos de vida e passa 4 ou 5 na cadeia pagando um crime que jamais se paga.

Bira.

Romanelli

Aos meus valores, a primariedade de uma sentença é que me incomoda no caso.

O cara não era boa bisca, sabia do risco de idos tempos ..era veterano ..com certeza sua ética não o fazia refletir sobre as vidas por ele destruídas.

Se pequeno ou grande, pouco importa (alguém apertou o gatilho) ..era agente do crime ..claro, melhor se fosse com frequência e dada a gigantes dos cartéis, pelo estrago que faria no negócio.

A indonésia tem lá de suas regras, há que respeitarmos ..um preso custa muito caro.

Hipocrisia é o BRASIL fingir que assiste e sequer ajuda a família a trazer o corpo de volta.

Bobagem pensar em pena que reintegre e regenere ..num mundo de 7 bi, isso é poesia ..nos EUA 1 em cada 100 estão presos, e daí ??!!

Como explicar que no mundo mais rígido, e SUBDESENVOLVIDO (não da pra comparar com europeus), os índices de violência relativa são menores entre os que batem mais pesado ? erro estatístico ? (veja o mundo árabe, a CHINA) ..medo é medo, certeza de punição tb, aqui ou alhures

..PENA é pena, é punição, vingança ou, no melhor, EXEMPLO pros que pensam em transgredir ..aqui que acho que vale a pena.

Não se apiedem do cara colocando-se no lugar dele (uma tendência natural), a menos que seus valores e forma d pensar coincidam sobre o tema.

..e aí, vc ofereceria, facilitaria, incentivaria, viabilizaria pra que o vício e a dependência, a desgraça precoce pra MILHÕES de vidas, famílias e pra sociedades inteiras, viessem a ocorrer ? vc traficaria ?

Acha correto lucrar com a desgraça e sofrimento dos outros ? então.

DUVIDO dos que dizem que pena de morte não diminui a criminalidade (pois impossível saber como seria sem ela), mas sei que executá-la toma tempo, e é muito cara, fora o risco do erro incorrigível ..mais triste ainda é vermos 60 mil mortes no país todo ano e sequer nos preocuparmos como fazemos agora com este moço.

No BRASIL, pela fragilidade do sistema judicial, pena de morte é uma temeridade, mas a impunidade, uma vergonha.

Quanto a se aproveitar do episódio pra difundir a liberalidade com as drogas, convenhamos, nem dos males e estragos do cigarro e álcool conseguimos conter, pra que outras ?

Liberar tiraria estes MARGINAIS das ruas, por acaso eles se regenerariam ? então é pra já !! ..só que não ..não se iluda, nem iluda

Drogas alienantes, incapacitantes, que colocam em risco a vida de 3os inocentes (não nos chega o álcool ?) ..a maconha já tem Canadenses com uma industria faturando oficialmente US% 7 bi//ano, daí o empenho na indústria do entretenimento (money) ..mas tudo se resume a grana, e prazer fugaz ? ..educar e informar, fazer o certo é o que deveria nos inspirar, não?

Se liberar geral resolve, façamos assim, libera geral, até assassinato por arma de fogo (e não só por siringa ou paranóia como com a “nova” maconha) ..aí sim muito talvez entendam o que seria a verdadeira barbárie

Gerson Carneiro

É constrangedor querer cobrar alguma coisa da Indonésia tendo um judiciário que manda guarda de trânsito indenizar juiz infrator por tê-lo multado.

    Irani Carlos

    Perfeito.

Gerson Carneiro

É constrangedor querer cobrar alguma coisa da Indonésia tendo um judiciário que impõe multa a guarda de trânsito por ter multado juiz infrator.

Elias

Marco Archer é o primeiro americano (do Sul) a ser executado na Indonésia.

Pedro Velho

Pelo jeito, jamais um traficante de drogas poderia se candidatar à Presidência da Indonésia.

Amaro Doce

Perfil dos brasileiros condenados à morte na Indonésia feito em 2005
DOM, 18/01/2015 – 10:21

No Blog do Nassif: http://jornalggn.com.br/noticia/perfil-dos-brasileiros-condenados-a-morte-na-indonesia-feito-em-2005

Jornal GGN – O jornalista Renan Antunes de Oliveira foi para Jacarta em 2005 e, por quatro dias, conversou com os brasileiros condenados à morte na Indonésia. Em matéria especial feita para o jornal gaúcho Já ele coloca em evidência a vida que levavam antes de serem pegos tentando entrar com drogas na Indonésia, país que avisa aos interessados em Visto de Entrada que a pena de morte é aplicável em caso de comprovação de tráfico de drogas. Leia a íntegra da matéria publicada em 2005.

do Jornal Já

Na balada da morte

por Renan Antunes de Oliveira, enviado expecial do Jornal Já a Jacarta

Entrevistas exclusivas na cadeia com os brasileiros condenados à morte na Indonésia

Ainda não caiu a ficha do paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, 32 anos, nem a do carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 43, os dois brasileiros condenados à morte na Indonésia por tráfico de cocaína. Na quinta-feira 17, Marco perdeu o último apelo à Suprema Corte, dependendo agora de um improvável perdão presidencial para ser beneficiado com prisão perpétua. Na segunda 21 o presidente Lula pediu ao seu colega indonésio clemência em favor do condenado.

Durante quatro dias de entrevistas na cadeia de Tangerang, entre a quarta-feira 9 e o sábado 12, eles deram muitas gargalhadas relembrando suas aventuras. Os dois não estavam nem aí para a possibilidade de enfrentar o Criador, via pelotão de fuzilamento, ou passar o resto de suas vidas presos nos cafundós da Ásia. Se sentem como se tudo fosse apenas uma bad trip.

Eles confessaram ser traficantes tarimbados. E demonstraram, sim, algum arrependimento, mas só por ter embalado mal a droga que levavam em seus equipamentos esportivos, permitindo a descoberta pela polícia. Ela pegou Rodrigo com seis quilos escondidos em suas pranchas de surf, em 2004. E Marco com 15 na sua asa delta, em 2003.

Os dois homens que hoje dividem a mesma cadeia chegaram lá por trajetórias diferentes no mundo das drogas. Rodrigo foi mais usuário do que traficante, começou cheirando solvente aos 13 anos. Marco entrou no tráfico aos 17, já no topo da pirâmide, diretamente com os cartéis colombianos. Ambos fizeram várias viagens bem-sucedidas para muitos países, antes de se danarem no aeroporto da capital Jacarta, portão de entrada para se chegar na ilha de Bali, o paraíso dos pirados.

Os dois faziam parte de gangues diferentes. Na cadeia, formaram um laço instantâneo. Ficaram amigos ao ponto de dividir prato e colher. Suas afinidades: não terminaram os estudos, jamais trabalharam, sempre foram sustentados por outros, exploraram as famílias, viveram só pras baladas.

PROTEÇÃO MATERNA

As mães deles – mulheres sofridas, esperançosas e guerreiras – estão em campanha pela liberdade dos “garotos”, como elas e parte da imprensa tratam os dois barbados. Depois de gastarem os tubos com eles, estão raspando os cofres para resgatá-los. Na falta de uma boa causa além do incondicional amor de mãe, usam a bandeira do repúdio à pena de morte, de forte apelo na fatia esclarecida da humanidade.

Dona Clarisse, de Rodrigo, mobiliza o Itamaraty para proteger o seu. Dona Carolina, de Marco, obteve da Câmara de Deputados o envio de um apelo de clemência ao parlamento indonésio. A proposta, do deputado Fernando Gabeira, foi aprovada em plenário com apenas um voto contra, do deputado Jair Bolsonaro, um ex-militar linha-dura que há décadas luta pela adoção da pena de morte no Brasil.

Os diplomatas brasileiros em Jacarta trabalham nos bastidores para reverter as sentenças. Estão confiantes que vai dar certo. Notam a moleza do sistema porque só um traficante foi executado até hoje, dos 30 condenados sob as duras leis antidrogas indonésias de 2000. Era um indiano pobretão.

Pela expectativa otimista deles será possível reduzir a pena de Rodrigo para prisão perpétua, em segunda instância, negociando em dinheiro uma redução maior ainda na terceira, para 20 anos, com soltura em sete, talvez 10 – é sabido que o Judiciário indonésio adota uma regra não-escrita de trocar tempo de encarceramento por uma pena pecunária.

Eles admitem que no caso de Marco, já sentenciado em última instância, vai ser mais difícil. Será preciso om perdão presidencial apenas para reduzir de pena de morte para prisão perpétua, e depois negociar a saída. É que ele se tornou uma causa célebre porque fugiu do aeroporto quando foi descoberto com a droga, protagonizando uma caçada policial acompanhada em rede nacional de tevê.

Os custos para dar jeitinho nas sentenças e as despesas para manter os dois em celas cinco estrelas podem chegar a quase 200 mil dólares por cabeça. Dona Clarisse tem até mais para salvar Rodrigo; dona Carolina anda passando o chapéu. O desenrosco deve ser demorado: na melhor das hipóteses seus garotos voltariam pra casa entrados em anos, um quarentão, outro cinqüentão.

Agora o quadro sinistro: o fuzilamento do indiano pobretão, ocorrido em fevereiro, sinaliza uma mudança perigosa para os sonhos de liberdade dos brasileiros – a de que só dinheiro já não adianta mais.

É que a execução saiu por insistência do general durão Togar Sianipar, chefe da agência antidrogas deles. O homem está ‘‘hukuman berta bagi pembana narkotik’’. É isso mesmo: punindo severamente o narcotráfico.

Togar prometeu livrar a Indonésia das drogas até 2015, combatendo também a corrupção do sistema judicial – fechando o balcão de negócios a diplomatas e criminosos. Togar foi quem mandou pintar aquele aviso do hukuman em letras garrafais no aeroporto de Jacarta. Seu plano é simples e brutal: fuzilar os traficantes que pisarem no país.

“MORTE AOS CRISTÃOS”

O povão muçulmano o apóia. No tribunal, durante o primeiro julgamento de Rodrigo, em fevereiro, a platéia pedia ‘‘morte aos traficantes ocidentais cristãos’’, descrição na qual se encaixam os dois brasucas. O pedido da massa deixa o governo firme para rejeitar as campanhas internacionais por direitos humanos, livre de dúvidas existenciais sobre a pena de morte.

O modelo prende e mata já deu certo na política, em 1965, quando o país se dividia entre esquerda e direita. Em quatro meses, o presidente-general Suharto implantou o capitalismo fuzilando quase um milhão de comunistas.

Esta tradição não parece assustar os brasileiros sentenciados ao fuzilamento. Nos momentos de maior delírio eles já se enxergam, Marco em Ipanema e Rodrigo nas praias de Floripa, contando aos amigos como se livraram da fria.

Rodrigo sonha que políticos influentes amigos da mãe vão pressionar Lula para que ele interceda oficialmente a seu favor, pedindo clemência ao presidente indonésio. Marco anda tão avoado que até já encomendou de Casemiro, um amigo no Rio, o último modelo de asa-delta.

Paradoxalmente, a prisão é o momento de glória de suas vidas: “Somos os únicos entre 180 milhões de brasileiros”, diz Rodrigo, deslumbrado com a notoriedade obtida com o narcotráfico – cujo pico de audiência é entre jovens ricos praticantes de esportes radicais.

Eles acreditam nas chances de transformar o limão numa limonada. Estão com tudo pronto para botar um diário na internet. Planejam contratar videomakers para acompanhar seus dias. Negociam exclusividade na cobertura jornalística, começaram a escrever livros com a experiência.

Uma benção para os planos de libertação foi o tsunami que arrasou uma zona pobre da Indonésia: familiares e diplomatas contabilizam cada avião brasileiro de ajuda humanitária como um ponto para a futura negociação. O Itamaraty espera que os indonésios considerem isso na hora de analisar o pedido de clemência feito por Lula.

MORDOMIA NA PRISÃO

Enquanto esperam, os dois compram privilégios para viver como marajás na cadeia – ambos estão com o cordão umbilical ligado nas contas bancárias das mães: “Aqui é como numa pousada, muito legal, só que jogaram a chave fora”, diz Rodrigo, satisfeito, mesmo sendo acostumado ao conforto de sua suíte com sauna, na casa da família, em Curitiba. Marco também não resmunga, mas sente saudades dos apês na Holanda, EUA e Bali.

Enquanto os 1300 presos muçulmanos estão amontoados em 10 por jaula, cada um dos brasileiros tem sua cela. E elas estão equipadas com TV, ventilador, geladeira, forno elétrico, som pauleira. No jardim privativo criam pássaros, podam bonsais, alimentam os peixes do laguinho, cuidam da gata Tigrinha.

O serviço é excelente: presos pobres fazem a faxina, lavam as roupas deles, são garçons nas festas, cabeleireiros, pedicures. Os dois podem receber gente sem formalidades, todos os dias. Rodrigo já foi visitado pela família, pela namorada, a empresária carioca Adriana Andrade, e pelo parceirão Dimitri “Dimi” Papageorgiou.

Dimi é outro garotão com mais de 30, carioca de pais gregos, acusado de ser líder da quadrilha contratante do malfadado transporte das pranchas recheadas de coca. Apareceu na cadeia para ver seu mula Rodrigo, deu 2 milhões de rúpias para ele se virar, dinheirama que vale só 500 pilas. Mas agora Dimi não vai mais poder ajudar: ele foi preso, em fevereiro, pela Polícia Federal, no Brasil – aquelas rúpias dadas a Rodrigo poderão lhe fazer falta.

Marco recebeu a visita de amigos de Bali e de uma senhorita conhecida apenas como ‘Dragão de Komodo’, sua namorada indonésia. A moça também é sentenciada, está na área feminina da prisão. Dona Carolina já esteve com ele duas vezes, a última no niver, em outubro, quando deu uma festinha com brigadeiros e refris – depois, tirou uma soneca na cela do filho.

Dona ‘Carola’ é funcionária pública aposentada, superdescolada. Conquistou a simpatia dos carcereiros de Marco com seu ‘show do milhão’. Foi assim: cansada do assédio deles por dinheiro para cigarros, ela trocou 1 milhão de rúpias em notas de 10 mil (quase R$2,50) e saiu pelo pátio jogando as cédulas para o alto. Guardas e presos lutaram para recolher a mixaria.

Mais showtime na cadeia: os dois recebem suas visitas íntimas no sofá da sala do comandante. De vez em quando pinta um ecstasy. E nas noites quentes rola até um chopinho gelado, cortesia de um chefão local, preso no mesmo pavilhão. Lá, a balada não pára nunca.

A comida é tudo de bom. Marco tem curso de chef na Suíça, dá show na cozinha. Na semana passada seu cardápio incluía salmão, arroz à piemontesa, leite achocolatado com castanhas para sobremesa. O fornecedor dos alimentos é Dênis, um ex-preso tornado amigão. Ele pega a lista por celular e traz tudo fresco do Hypermart.

Quando o amigão está ocupado e a geladeira vazia, Marco chama a cobrar a mãe no Rio, que liga pra mãe de Rodrigo em Curitiba, que aciona a Embaixada, que despacha um chofer pra garantir o fome zero da dupla.

Como Tangerang é uma prisão provisória, nos arredores de Jacarta, Rodrigo e Marco estão como naquela piada da hora do recreio no inferno. O secretário do diabo pode anunciar o fim dos privilégios a qualquer momento. Pior do que o fogo será a transferência deles para o Carandiruzão de uma remota ilha no Sul, onde serão misturados com 10 mil presos muçulmanos: aí será bom começarem a rezar para Alá.

Sempre otimistas, já têm planos para tentar se refazer lá embaixo. Rodrigo bola um jeito de demonstrar sua habilidade em pesca submarina, para presentear peixes ao comandante da nova cadeia e conquistar sua amizade.

Difícil saber como é que lhe ocorreu uma idéia destas. Mas é fazendo planos absurdos como esse que eles passam os dias. As baladas da cadeia, o papo encorajador das famílias, o apoio dos diplomatas e a expectativa de que suas ações possam ficar impunes dão um tom surrealista pra todas conversas deles.

Num papo, Rodrigo revela sua crescente admiração pelo companheiro, já o acha até injustiçado. “Marco teve uma vida que merece ser filmada”, exalta, contando ter oferecido um roteiro sobre o amigo à cineasta curitibana Laurinha Dalcanale. “Ele fez coisas extraordinárias, incríveis.”

O repórter pede um exemplo de tal obra. “Ué, viajou pelo mundo todo, teve um monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos melhores restaurantes, tudo só no glamour, nunca usou uma arma, o cara é demais.”

Menos, Rodrigo. Menos.

Ele pára alguns segundos, reflete um pouco. Sai devagar do deslumbramento com as vantagens do narcotráfico sobre um emprego comum. Muda o tom e pede ajuda: “Por favor, brother, quando você for escrever, dê uma força, passe uma imagem positiva nossa, pra ajudar na campanha”.

Então diga lá o que você vai fazer quando for solto: “Bota aí que eu quero trabalhar 10 anos pro governo dando palestras pra crianças sobre a roubada que é o tráfico”.

Ele diz e saboreia o efeito das palavras. Traga seu Marlboro, acaricia Tigrinha. Parece sério, joga a fumaça pra cima. Quando solta tudo, o corpo já está se chacoalhando. É que ele não conseguiu conter o riso.

“Vou sair dessa”

SEU ÚLTIMO DESEJO: VOAR MAIS UMA VEZ EM SÃO CONRADO

Marco Archer já esperava ter a pena de morte confirmada no Supremo Tribunal indonésio, como ocorreu na quinta 17. Sua única esperança agora é um apelo do Itamaraty ao presidente indonésio por clemência. Isto lhe pouparia a vida, mas o deixaria para sempre na cadeia. A execução ainda pode demorar cinco anos.

Quem é Marco? Um carioca, com o apelido chinfrim de Curumim. Ele cresceu classe média na Ipanema dos ricos. Queria ser um deles. Em 80, aos 17 anos, foi à Colômbia disputar um campeonato de asa delta. Voltou campeão, mas mordido pela mosca azul do narcotráfico: sacou como ganhar dinheiro fácil.

“Alguém no hotel me deu uma caixa de fósforos com cocaína. Depois da primeira viagem, nunca fiz outra coisa na vida, tenho mais de mil gols”, exagera.

Ele conta que serviu de mula no Hawai, Nova York, Europa toda. “Fazia viagens rentáveis, ficava meses sem trabalhar.”

Na cadeia, Marco passa horas olhando fotos amassadas que guarda numa imunda pasta preta. São recuerdos de suas viagens, de belas mulheres, de carrões e barcos: “Não posso me queixar da vida que levei”.

Orgulha-se: “Nunca declarei imposto de renda, nem tive talão de cheque, não servi ao Exército. Só votei uma vez na vida. Foi no Collor, amigo da família”.

Com o dinheiro do tráfico, Curumim manteve apartamentos em três continentes, abertos pra patota da asa delta, do surf, da vida boa: “Nunca perguntaram de onde vinha meu dinheiro”.

Marco conta que saiu do Brasil para morar em Bali há 15 anos, “cansado de ver meu irmão (Sérgio) bater na minha mãe para obter dela dinheiro pras drogas”. O irmão morreu de overdose em 2000, mas a estas todas ele tinha tido seu infortúnio: em 1997 caiu da asa, sofreu várias fraturas.

Dali pra frente sua atividade de mula de drogas diminuiu, as contas de hospitais cresceram. Ficou quase dois anos sem andar, até conseguir se recuperar. Hoje anda com dificuldades, com as pernas cheias de pinos de metal.

Pra decolar outra vez na vida boa ele preparou aquele que seria seu último golpe, faturar 3 milhões e 500 mil dólares inundando Bali com cocaína.

Foi ao Peru, pegou 15 quilos com um fornecedor, por uma bagatela, cerca de 8 mil dólares o quilos (dinheiro que ele obteve com um chefão americano, com quem dividiria os lucros da operação).

Marco meteu a droga nos tubos de sua asa delta. Saiu de Iquitos, no Peru, para Manaus, pelos rios da Amazônia. “Eu me misturei com turistas americanos e nunca fui revistado”, gaba-se. De lá embarcou para Jacarta: “Tava tudo pronto pra ser a viagem da minha vida”.

No desembarque, mete o equipamento no raio x. A asa de Marco tinha cinco tubos, três de alumínio e dois de carbono. Este é mais rijo e impermeável aos raios: “Meu mundo caiu por causa de um guardinha desgraçado”.

Como foi: “O cara perguntou porque a foto do tubo saía preta. Eu respondi que era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete, bateu no alumínio, fez tim tim, bateu no carbono, fez tom tom”.

O som revelou que o tubo estava carregado. Foi o fim de uma bem-sucedida carreira de 25 anos no narcotráfico.

Marco ainda conseguiu dar um desdobre nos guardas. Enquanto buscavam as ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto, pegou um prosaico táxi e sumiu – ajudado pelo fato de falar fluentemente a língua bahasa.

Estava com tudo pronto para escapar no iate de um amigo milionário, mas aí azar pouco é bobagem. Um passaporte frio que ele tinha foi queimado por um cúmplice que também fugia da polícia.

Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago indonésio – estava tentando chegar ao Timor do Leste –, passou sua última noite em liberdade num barraco de pescador, em Lombok.

Acordou cercado por um esquadrão policial, armas apontadas. Suplicou em bahasa, tiveram misericórdia dele.

Na cadeia esperando a execução, procura levar seus dias na malandragem carioca, na maior paz com os carcereiros, sempre fazendo piadas, cozinhando-lhes pratos especiais.

Acabou pro Curumim? “Vou fazer tudo para continuar vivo e sair dessa”.

NAS DROGAS DESDE OS TREZE

Rodrigo nasceu em Foz do Iguaçu. É neto de latifundiário produtor de soja, filho de mãe milionária, dona Clarisse. O pai é um médico gaúcho de Santana do Livramento, Rubens Borges Gularte.

Aos 13, já em Curitiba, Rodrigo começa nas drogas, cheirando solventes. “Era um garoto maravilhoso, a alegria da família, nunca levantou a voz”, isso é tudo o que a mãe lembra dele naquela época.

Com 18 é preso fumando baseado no parque Barigüi. O pai queria deixar que ele fosse processado. A mãe não concorda, suborna um delegado com mil dólares pra soltar o garoto: “Se fossem prender todos que fumam”, justificou dona Clarisse.

O garoto ganha seu primeiro carro. Bota amigos dentro e sai pela América Latina como um Che Guevara mauricinho, bebendo e se drogando. “Fiz cada loucura”, lembra.

Aos 20 Rodrigo era um rapaz de 1,84m, magrão, modos educados, cheio de namoradas. Teve um breve romance com a professora catarinense Maria do Rocio, 13 anos mais velha, fazendo Jimmy, hoje com 12, autista. Raramente via o filho: “Eu não estava preparado para a paternidade”, admite.

Rodrigo passa a viajar muito e pira total: “Em Marrocos, fumei o melhor haxixe”. No Peru: “Coca da pura”. Na Holanda: “Ecstasy de primeira”.

Aos 24, sai bêbado e drogado de uma festa. Bate o carro num táxi, tenta fugir, bate noutro, abandona tudo e corre pra casa da mãe. Ela dá uma volta na polícia, chama um médico, interna o garoto.

Na ficha de internação, o médico João Carlos anota: “Mostrou onipotência, estava depressivo”.

Nos anos seguintes a mãe fez de tudo para ele dar certo. Abre para Rodrigo uma creperia, em Curitiba. Não deu. Uma casa de massas, em Floripa. Não deu. Mandou pra fazenda. Não deu. Rodrigo vai estudar no Paraguai. Não deu. Ele se matricula na UFSC. Não deu.

Rodrigo começa no tráfico: “Fiz várias viagens à Europa só para trazer skunk”, confessa.

“Se ele fazia isso, não sei onde metia o dinheiro, porque nunca tinha um tostão”, rebate a mãe.

A prisão: “Os carinhas me deram as pranchas com cocaína dentro. Embarquei em Curitiba, onde o raio x é ruim, pra desembarcar em Jacarta”.

O NARCO TAMBÉM NÃO DEU CERTO

Agora ele se lamenta: “Só depois soube que os japoneses doaram um raio x potente pros indonésios, eles pegaram a droga”.

Rodrigo filosofa: “Meu erro foi a coca. O skunk é energia positiva, o ecstasy dá um barato legal, mas a cocaína é do mal”.

Um desabafo: “Se a parada tivesse dado certo eu estaria surfando em Bali, cercado de mulheres”.

Seu futuro: esperar as negociações do Itamaraty e tentar reduzir a pena em segunda instância.

Uma novidade: ele está namorando firme. Com uma menina indonésia, caixa de um supermercado, prima de um condenado. Ela entrou para visitar o parente, os dois se pegaram no olhar. Ele foi no primo, soltou um plá, consegui atrair a menina.

Ela vem uma vez por semana, Rodrigo dá uns amassos nela, na sala do comandante.

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Nigro

Dura lex sed lex.

Ótimo exemplo para os marginais que quiserem levar cocaína para lá….

Venham para o Brasil. Aqui somos humanitários, libertamos os imbecis e damos abrigo a terroristas internacionais.

lulipe

A indonésia é benevolente com criminosos, não cobra nem a munição!!!

fernanco

Enquanto isso em Minas helicoptero carrega toneladas de cocaina e fica por isso mesmo

    Zanchetta

    Então ia fuzilar o piloto do helicópero? Porque lá, na Indonésia, só matam quem carrega as drogas…

Ralph Panzutti

Hipocrisia. Prendem e matam, assassinam, os mulas não os traficantes.

Amaro Doce

Essa Dilma é uma “incompetente”!

Frases que ouvi ou li sobre o fuzilamento do Brasileiro na Indonésia

“Dilma não se esforçou o suficiente para salvar o brasileiro”.

“A diplomacia brasileira foi incompetente”

“O Brasil saiu desmoralizado perante a comunidade internacional”

“Essa Dilma é uma incompetente”

E eu me lembrei da música Canto Chorado, de Billy Blanco, cujo refrão diz:

O que dá pra rir, dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora
E lugar
Mas tudo são coisas da vida

E eu conversei com alguns dos fraseologistas

Ao primeiro eu perguntei:

-Você é contra ou a favor da pena de morte?

-Sou a favor – ele me respondeu.

– Então – disse eu – você vai ter uma noite de sono reparadora. E a única crítica que você pode fazer a Dilma é chamá-la de “defensora de traficantes de drogas”(uma generalização de vez em quando até que faz bem, não é?)

E me disse o segundo:

– Eu sou contra a pena de morte e por isso acho que a Dilma se esforçou muito pouco para salvar o brasileiro condenado pela justiça indonésia. A Dilma deveria ter sido mais agressiva. Deveria ter pressionado e ameaçado aquele país com sanções econômicas, assim como faz o Obama com a Rússia.

E um terceiro ainda me disse:

– Eu sou a favor da pena de morte no Brasil, mas sou contra a execução de brasileiros no exterior.

Um tremendo samba de criolo doido, não? E o terceiro eu provoquei com a seguinte pergunta:

– Você seria contra até mesmo se a execução tivesse ocorrido nos Estados Unidos?

– Bem – disse ele – aí eu seria a favor porque o Brasil não tem cacife para desafiar os Estados Unidos.

– E tem para desafiar a Indonésia? – provoquei outra vez.

– Tem. A Indonésia é um país de segunda categoria.

Pois é, a Dilma precisa arranjar um jeito de agradar a todos e a todas. Agradar até mesmo o Criador que, poderoso como ele é, deveria ter interferido diretamente no processo e salvo o brasileiro. Mas aí o Criador teria sido acusado de defender bandidos, pelo fraseologista defensor da pena de morte.

O que dá pra rir, dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora
E lugar
Mas tudo são coisas da vida

Gerson Carneiro

Não tenho opinião formada se contra ou a favor da pena de morte.

A civilidade como justificativa a ser contra, a mim não basta, pois a civilidade que a mim a humanidade apresenta, a mim não é satisfatória.

Gerson Carneiro

Na França está ocorrendo algo semelhante. Se a pessoa não é Charlie imediatamente recebe a sentença de que está defendendo terroristas. No Brasil se a pessoa não é Marco recebe a sentença de que defende pena de morte.

Lukas

Cuba também tem a pena de morte para trafico de drogas. Segundo alguns por aqui, isto impediria o trafico no pais.

Olegário

Todo mundo de esquerda com pena do playboy executado.

Gerson Carneiro

De repente pipocam opiniões sobre pena de morte.

Nem pena de morte, nem alguma das sanções do código penal brasileiro, diminui a criminalidade.

A pena de morte é apenas mais uma sanção à infração de uma norma aonde ela, pena de morte, existe. Então esse argumento de que “pena de morte não diminui a criminalidade” embora seja verdadeiro é inócuo ao debate em relação à execução do homem brasileiro condenado na Indonésia.

Considero mais eficaz procurar saber que em determinado lugar determinada conduta leva à pena de morte e então ficar longe da encrenca.

Pouco importou aos detentores do ordenamento jurídico da Indonésia se somos contra ou a favor da sanção adotada por eles. Aliás, foi um tapa na cara do nosso ordenamento jurídico que permite que traficante vire deputado, a depender da “linhagem” do meliante. Ou que playboy vindo da balada arranque e jogue no esgoto o braço de quem está indo trabalhar, e vai na delegacia, paga a fiança e vai pra casa dormir, programar a próxima balada; Não tem nada de civilizado nisso.

Precisamos decidir se lamentamos a impunidade ou a punidade.

Edgar Rocha

O que dizer? Talvez o mesmo que foi dito no caso Charlie Hebdo. Um fato hediondo, um exagero ilimitado, uma truculência absurda da parte de quem condena à morte uma pessoa. Mas, (tem um mas) a atitude do brasileiro configura uma afronta às leis locais, uma distorção dos princípios de liberdade, um vício arraigado do jeitinho e da impunidade e, sem sombra de dúvida, arrogância diante de um povo pobre, receptivo e que sabe o que quer para si.
Mais uma vez, mesmo consternado, me vejo obrigado a afirmar que “Eu não sou Marco Archer”. Não podemos ser. Basta considerar a forma como reagiríamos, caso o brasileiro executado tivesse conseguido reverter a situação. Talvez estivéssemos aqui criticando o fato de que exportamos nossas mazelas a países que escolheram não reproduzi-las, alertaríamos sobre a possibilidade de o fato corroborar a força do tráfico internacional de drogas, seus tentáculos e sua capacidade de relativizar lei até em nações radicalmente contrárias a ele. Ficaríamos preocupados com a repercussão negativa sobre a questão da impunidade, etc…
Por mais humanos que sejamos, devemos separar o drama pessoal de um condenado à morte de forma desproporcional a seu crime da sua condição de culpado. Assim como o CH, a consequência terrível está em sua conta e risco.

Daniel

Quem dera o Brasil tivesse a mesma seriedade em punir crimes graves como tráfico de drogas. Somos lenientes demais com os criminosos e como consequência não podemos sair na rua com garantias que voltemos vivos para casa. O “direito dos manos” ultrapassa os direitos dos cidadãos.

FrancoAtirador

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Os Indonésios foram treinados pela Polícia Militar do braZil?
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