Fátima Oliveira: Melhor um varredor de rua feliz do que um premiê neurótico

Tempo de leitura: 3 min

Acima, Sutherland Neil, o lendário criador de Summerhill

por Fátima Oliveira, em , OTEMPO
[email protected] @oliveirafatima_

Criar filhos em uma sociedade cada vez mais individualista e consumista é um desafio de fritar neurônios. Penso que o antídoto está nas escolas humanistas, solidárias, que educam para a liberdade e a felicidade. Sei que sou o que sou, e gosto do que sou, graças a uma escola pautada por uma visão humanista, o Colégio Colinense.

Sou uma professora normalista que se formou em medicina.

Amei estudar filosofia e conhecer os grandes pensadores da educação. Já escrevi sobre uma educadora admirável: “Maria Montessori: médica italiana fascinada pela educação” (O TEMPO, 6.11.2012). Minha neta Clarinha, de quase 4 anos, vai para uma escola montessoriana, a Upaon-Açu, em São Luís (MA), que ela amou ao primeiro olhar; e quando perguntei se gostou da escola nova, ela tascou: “Hum hum… Eu não estudei lá ainda não, vovó! Fui só passear”. E se encantou com a biblioteca…

Reverencio o educador escocês Alexander Sutherland Neill (A. S. Neill, 1883-1973), o lendário criador de Summerhill, desde que li “Liberdade sem Medo (Summerhill)”. A origem da pedagogia libertária e antiautoritária de Summerhill é a International School, em Hellerau, Dresden, Alemanha, em 1921, que migrou para o topo de uma montanha na Áustria; em 1923, foi para uma casa chamada Summerhill (Outeiro de Verão), em Lyme Regis, Inglaterra; e em 1927 se instalou, definitivamente, numa chácara, em Leiston, condado de Suffolk, a 160 km de Londres.

O que é Summerhill? É uma escola democrática pioneira, para crianças a partir de 5 anos e jovens até 18 anos (ensino fundamental e médio), em regime de internato, que se autorregula – as decisões são tomadas em assembleias, nas quais os votos de professores, alunos e funcionários possuem peso igual – e nenhum adulto possui mais direitos que uma criança; assistir a aulas não é obrigatório, embora ofereça a grade curricular oficial. Para Neill, o objetivo da escola é fornecer equilíbrio emocional, a principal via para a felicidade.

A dentista Nadia Hartmann, ex-aluna de Summerhill, ficou anos sem ir à aula, até que resolveu ser dentista e “decidiu se focar e estudar para as provas”. Seus dois filhos estudam lá. Ela é a prova do que Neill pensava: “Constranger uma criança a estudar alguma coisa tem a mesma força de um governo que obriga a adotar uma religião”.

A inspiração filosófica de Summerhill foi a compreensão de Neill de que “A humanidade está doente e essa doença decorre do tratamento repressivo que as crianças recebem numa sociedade patriarcal. Inclusive nas questões ligadas à repressão sexual, em especial quando associadas a normas religiosas malcompreendidas”.

Summerhill é dirigida pela filha de Neill, que nasceu, estudou e vive lá: Zoë Readhead, instrutora de equitação. A média do número de alunos é entre 80 e 90, de vários países.

Em 92 anos, nenhum caso de gravidez adolescente nem de drogadização. Zoë declarou que Summerhill ignora os diagnósticos de Transtornos de Déficit de Atenção com Hiperatividade, pois “Nós não categorizamos os alunos”.

Indagada “O que será de seus alunos quando eles deixarem Summerhill?”, disse Zoë: “Nossos formandos são muito bons em concretizar a imaginação. Eles fazem acontecer! Temos empresários de sucesso, escritores, cientistas, médicos e muitos formandos se decidem por profissões criativas” – gente que guarda Summerhill como a experiência mais marcante de suas vidas, concretizando o sonho de Neill: “Preferiria que Summerhill produzisse um varredor de rua feliz do que um primeiro-ministro neurótico”.

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Comentários

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Sara Bentes

Não sou muito chegada a essas coisas da pedagogia, mas fiquei bem interessada em Summerhil, por ser uma visão muito diferenciada do processo educativo, centrado no aluno-sujeito.

FrancoAtirador

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Pressão de religiosos prejudicou a campanha de prevenção a aids, diz especialista

Thais Araujo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Brasil precisa adotar uma postura mais incisiva na área da prevenção e da infecção por HIV para recuperar o protagonismo mundial no enfrentamento à doença.
A opinião é do médico sanitarista e epidemiologista Pedro Chequer. Considerado um dos principais especialistas no tema no país, ele acredita que o Brasil sofreu um “grande retrocesso” nos últimos anos por, entre outras razões, ceder à pressão de grupos religiosos na condução das ações de resposta à epidemia.

Entre as medidas que simbolizam esse recuo, segundo ele, estão a suspensão pelo governo federal, em março deste ano, da distribuição de material educativo para prevenção da aids dirigido a adolescentes.
O kit, formado por revistas de histórias em quadrinhos, abordava temas como gravidez na adolescência, uso de camisinha e homossexualidade.

“O Brasil pautou seu programa de aids na fundamentação científica e sempre foi exemplo para o mundo, promovendo campanhas de prevenção abertas, diretas e objetivas, voltadas principalmente às populações mais vulneráveis. De repente, vemos esse grande retrocesso e o Brasil sofre um revés político, deixando de ser vanguardista na área da prevenção e de campanhas”, disse Chequer, que coordenou a política de aids do Ministério da Saúde e dirigiu o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids) no Brasil.

Ele ressaltou que ainda não é possível calcular o impacto dessas medidas, já que, diferentemente de outras doenças como o sarampo ou o cólera, os sintomas da infecção por HIV podem levar um longo período para se manifestar.
O especialista destacou, também, que o Brasil vem promovendo avanços para ampliar a oferta de tratamento gratuito contra a aids para todos os adultos que sejam diagnosticados soropositivos, independentemente do estágio da doença.
Há cerca de dois meses, o Ministério da Saúde submeteu à consulta pública um protocolo de atendimento prevendo que o tratamento seja fornecido ao paciente com aids, que tiver CD4 (células de defesa do organismo) acima de 500 para cada milímetro cúbico de sangue e que não apresentam os sintomas da doença.
Pela regra atual, a rede pública de saúde fornece tratamento ao paciente com aids que tiver CD4 abaixo de 500 para cada milímetro cúbico de sangue.

Desde o início de 2013, também podem receber o tratamento casais sorodiscordantes – aqueles em que um dos parceiros tem o vírus e o outro não – com CD4 acima de 500 células para cada milímetro cúbico de sangue, pacientes que convivem com outras doenças, como tuberculose e hepatite, e pacientes assintomáticos com CD4 menor de 500.

A validação das proposições recebidas e a elaboração da versão final consolidada do protocolo será coordenada pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, que deve finalizar o documento ainda este ano.
Segundo o ministério, estudos internacionais mostram que o uso precoce de antirretrovirais reduz em 96% a taxa de transmissão do HIV.

“Ampliar a cobertura de tratamento é fundamental porque na medida em que as pessoas são tratadas, elas praticamente não transmitem o vírus. Quando não há transmissão, não há novas infecções. Mas isso [só vai ocorrer] se forem implantados serviços [de saúde] nas regiões mais distantes e criados processos de mobilização com campanhas na mídia, nas redes sociais, nos serviços comunitários e de saúde para promover a testagem”, disse.

O Ministério da Saúde estima que atualmente cerca de 700 mil pessoas vivam com HIV e aids no país, mas 150 mil não sabem que têm o vírus ou a doença.
Ao todo, 313 mil recebem tratamento com medicamentos antirretrovirais gratuitos.
O Brasil registra, em média, cerca de 38 mil casos de aids por ano.
Desde os anos 80, quando teve início a epidemia, foram contabilizados 656 mil casos.

Procurada pela reportagem, a assessoria do Ministério da Saúde não comentou as críticas feitas pelo especialista.

Edição: Marcos Chagas

(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-12-01/pressao-de-religiosos-prejudicou-campanha-de-prevencao-aids-diz-especialista)
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    Joice

    Eehehhehehehe entendi. Que falta fez Padilha não ter estudado em Summerhil, não é mesmo? UFA!

Joice

Os neuróticos de hoje são gente assim tipo o Lukas, que só vê o trabalho como um fardo, não como uma forma de realização. Meu trabalho é meu ganha pão e sou feluz em tê-lo, é dali que sobrevivo. O sentido do trabalho é a compreensão da sua importância na sociedade em que vivo, seja pessoal ou coletivo. Sou professora de Escola Infantil, há anos, e estou me preparando para ser professora universitária e serei.

Samira

Complementando a dica da Maria teresa Bertolini:
http://www.gvive.org.br
GVive
Associação dos Ex-Alunos e Amigos do Vocacional – por um ensino público, gratuito e de qualidade

Este site destina-se à preservação da memória do Ensino Vocacional, assim como à defesa de seus princípios para poder acrescentar ao ensino do nosso país, mais de 4 décadas depois, metodologias ainda revolucionárias, simples e viáveis.
Aqui você vai encontrar um acervo de documentos para pesquisa sobre o SEV.
Vai poder ler os Depoimentos e Entrevistas de quem viveu esta experiência.
Ver fotos e lembranças guardadas há mais de 50 anos.
Saber dos Eventos promovidos pela GVive
Você que é ex-aluno, pai, professor ou funcionário, poderá encontrar no nosso Banco de Dados, as informações sobre sua classe e seus ex-colegas, ver as fotos dos encontros mensais e acompanhar os trabalhos da nossa associação.
A GVive é uma associação sem fins lucrativos, e que mantém suas demonstrações de contas abertas para consulta neste site.

http://www.gvive.org.br/bem-vindos/

Bacellar

O maior problema de experiencias como Summerhill e a Escola da Ponte é o fato de serem exceção e não regra!

    Samira

    Eu tenho a mesma opinião Bacellar. Como pode uma experiência educativa de quase um século, como Summerhill, inegavelmente de sucesso no que se propôs a fazer, até hoje ser considerada experimenteal?

Urbante

Além do mais, como os íntegros não tomam nenhuma providência, os bandidos da oposição ao Brasil tomam gosto mesmo pela coisa. E nessa corredeira cheia de titânicos calhaus, o Brasil vai embostonar, de novo… E o que é pior, mais uma vez pelos braços que deveriam cuidar e guarnecer.

Fátima Oliveira

———- Mensagem encaminhada ———-
De: Adilson Data: 26 de novembro de 2013 21:04
Assunto: Sua última Coluna
Para: [email protected]

Prezada Dra Fátima,

Continuo cada dia mais feliz com suas sábias colocações.
Sua abordagem da escola Summerhill, me fez lembrar de muitas coisas boas que aprendi lá e carrego, com alegria, na minha existência.

Apenas tomo a liberdade e ousadia em plagiar a frase “Melhor um varredor de rua feliz do que um premiê neurótico” para:

MELHOR UM VARREDOR DE RUA FELIZ DO QUE UM JUIZ, SEJA QUEM FOR, DESEQUILIBRADO.

Um grande abraço e nesta oportunidade desejamos para a Senhora e toda sua família um FELIZ NATAL e um 2014 cheio de realizações, com muita saúde e felicidades.

    Thelma Oliveira

    Mais pura verdade. Quanta gente doente e desequilibrada, com sede de poder e dispostos a passar por cima de tudo pra atingir seus objetivos poderiam ser pessoas melhores se tivessem passado por uma educação humanista e solidária.

Alberto

Vale a leitura:
Summerhill – O Sonho de Liberdade de A S. NEILL
Karla Hansen

… Afinal, hão de se perguntar os mais céticos, como é que as crianças vão aprender alguma coisa, serem “alguém na vida”, se nem chegam a entrar em uma sala de aula? Para esses, tal modelo de escola é uma ideia maluca, de algum rebelde romântico que, na prática, não prepara as crianças para a vida como ela é, para o mundo real em que vivemos, competitivo, agressivo, desigual.

Mas, para outros, essa escola não é um sonho a mais, ela é real e existe há mais de oitenta anos! Seu nome é Summerhill e foi criada em 1921, pelo professor e escritor Alexander Sutherland Neill. A. S. Neill e sua escola se tornaram mundialmente famosos no final dos anos sessenta, com a publicação de “Summerhill (A Liberdade sem Medo), Transformação na Teoria e na Prática”, livro sobre a experiência revolucionária de uma escola-comunidade formada por crianças, jovens e adultos (diretor, professores e funcionários), que ganhou o apelido (irônico) na Inglaterra, de “escola faça-como-quiser” (“do as you like school”).
LUMIAR

Summerhill e A S. Neill não foram esquecidos, não só porque a escola está mais viva que nunca, mas porque seus ideais de liberdade continuam a inspirar pais e educadores em todo mundo, como o empresário brasileiro Ricardo Semler (Fundação Semco) que, no início deste ano, criou a Lumiar, “uma escola para a vida”, em São Paulo, cuja proposta pedagógica segue o exemplo da escola inglesa, com a vantagem de oferecer para crianças de diferentes classes sociais o mesmo espaço de aprendizado.
MITOS E REALIDADE EM SUMMERHILL

É bem verdade que hoje a escola é quase uma lenda e, como tal, alimenta alguns mitos. Mas a realidade tem se encarregado de desmistificá-los. Nesses mais de oitenta anos de vida, por exemplo, não houve sequer um caso de gravidez, nem tampouco problemas com drogas ou bebida (o consumo é proibido na escola), também não foram registrados casos graves de doença ou de segurança – Summerhill é periodicamente inspecionada por órgãos governamentais. Também é fato contra mito (de que, sem uma disciplina rigorosa, os alunos se transformam em criaturas antissociais, quase selvagens), que a maioria dos visitantes se impressiona com a maturidade e com a polidez dos alunos. E, finalmente, contra o maior de todos os “contras” – a tese de que as crianças não poderiam sobreviver no “mundo real” – há uma realidade irrefutável. É só seguir os passos dos ex-alunos. Eles são felizes e bem sucedidos atores, artistas, arquitetos, homens e mulheres de negócios, médicos, fazendeiros, bailarinos, cineastas, ilustradores, jornalistas, carpinteiros, advogados, músicos, cientistas, fotógrafos, técnicos de som, cirurgiões, professores, escritores…, que guardam lembranças profundas e inesquecíveis de sua passagem por Summerhill.

São eles que garantem a sobrevivência da escola e, acima de tudo, a sobrevivência do “sonho” de liberdade proposto por A S. Neill. Para os que ainda não conhecem ou precisam de mais provas para acreditar, vale a pena assistir ao documentário “As Crianças de Summerhill”, que a TV Escola vai apresentar no próximo dia 30 de junho, no programa “Ensino Fundamental”. Pelos depoimentos, nos sorrisos e pelo brilho nos olhos de alguns entrevistados, pode-se concluir que a liberdade saiu vencedora!

Saiba Mais

Summerhill é uma escola para crianças e jovens, em regime de internato, em que os alunos não são obrigados a frequentar as aulas. Apesar de haver classes das principais disciplinas, não existem exames ou provas e todas as regras são determinadas em conjunto, por acordo, pelos alunos e pelo staff, em reuniões periódicas. O voto tem peso igual, tanto para crianças quanto para adultos. A escola abriga crianças entre 5 e 18 anos, as crianças menores dividem o quarto com outras crianças da mesma idade e as mais velhas têm quartos individuais. Summerhill é uma escola internacional, privada, pois até hoje nenhum governo se interessou em sustentá-la, pelo contrário, no ano de 2000, Summerhill enfrentou uma dura batalha com o órgão governamental ligado à educação na Inglaterra, que queria fechar a escola, acreditando que a liberdade demasiada, formava alunos despreparados para sobreviverem no mundo adulto. Summerhill venceu a campanha e continua em atividade. Hoje, a escola é dirigida pela filha de A. S. Neill, Zoë Readhead.

Summerhill pela internet (em inglês): http://www.s-hill.demon.co.uk
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0103_07.html

lukas

Para que estas pessoas de sucesso da Summerhill possam se realizar e serem felizes, outros terão que fazer o trabalho sujo, rotineiro e maçante.
Pra você ser feliz sendo um artista, um pintor, sempre será necessário um infeliz que trabalhe na fábrica de tintas, que certamente não saiu da Summerhill.

    Juliana Mateus

    Cara você não apreendeu nada! É um pessimista. Aprendeu a ser pessimista. Alguma escola te estragou. Teu caso é exemplar.

    lukas

    Ju, quem fabricará minhas tintas? Quem ficará, bem feliz é claro, no forno da siderúrgica?

Alice Matos

As Lições de Summerhill
Kilder Catapano

No primeiro post do ano vou falar sobre o livro que acabei de ler, Liberdade sem medo de A. S. Neill. Um livro que indico a todos os pais e mesmo para aqueles que não são e nem querem ser. Explicarei porque.

Esse livro quebrou vários paradigmas que eu tinha em relação a educação de crianças. O mais impressionante é que ele foi escrito há mais de 50 anos e até hoje as pessoas ainda não assimilaram suas idéias.

Pra quem não conhece, Neill fundou a escola Summerhill em 1921 na Inglaterra. Quando escreveu esse livro a escola já existia há 40 anos, ou seja, tudo que ele descreve foi resultado do seu trabalho e sua experiência, não apenas teoria. As crianças descritas já haviam se formado e já eram adultos, então Neill pode demostrar que seu método funcionou e fez, dos que tiveram o privilégio de estudar lá, pessoas mais felizes quando adultas. Logo no início Neill fala: “Parece necessário, porquanto, que eu escreva a história de Summerhill tão honestamente quanto me seja possível. Que eu o faça com certo partidarismo, é natural: ainda assim, tentarei mostrar os deméritos de Summerhill, tanto quanto seus méritos […]“.

O método de Neill parece simples, e na verdade é. Como o nome do livro sugere, as criancas em Summerhill são livres pra fazer o que quiserem, contanto que não atrapalhem a liberdade dos outros. A criança não pode, por exemplo, ficar bagunçando na sala de aula pois isso atrapalharia os outros, mas ela pode ficar vadiando no pátio, ou qualquer outro lugar sem que isso lhe traga alguma punição, porque cabe a ela decidir se quer ou não assitir a aula. Ou seja, sua crença é que a criança, de maneira inata, é sensata e realista. Se for entregue a si própria, sem sugestão adulta alguma, ela se desenvolverá tanto quanto for capaz de se desenvolver.

Dificil para nós aceitarmos isso porque, na verdade, só conhecemos e fomos educados de outra forma. Mas Neill cita exemplos concretos, com resultados muito bons, e ao ler, imaginei como seria se tivesse estudado numa escola assim. Com certeza teria uma criatividade muito maior e estaria fazendo algo que me daria muito mais prazer. Foi isso que aconteceu com a maioria dos que estudaram, e ainda estudam, em Summerhill.

A descrição da escola acontece no primeiro capítulo. nos capítulos seguintes Neill discorre sobre tudo que aprendeu com crianças durante esses 40 anos, e é nessa parte que está o maior aprendizado para nós, os pais. No inicio do capítulo 2 ele diz: “A criança modelada, condicionada, disciplinada, reprimida, a criança sem liberdade […], vive em todos os recantos do mundo. Vive em nossa cidade, mesmo ali do outro lado da rua. Senta-se a uma carteira monótona de monótona escola, e mais tarde senta-se a uma escrivaninha ainda mais monótona de um escritório, ou no banco de uma fábrica. É dócil, disposta a obedecer à autoridade, medrosa da crítica, e quase fanática em seu desejo de ser normal, convencional e correta. Aceita o que lhe ensinaram sem indagações, e transmite a seus filhos todos os seus complexos, medos e frustações.”

Disse no inicio que esse é um livro pra os pais, mas também para aqueles que nunca serão pais. Acho que todos que lerem esse livro verão de alguma forma o garotinho ou a garotinha, que foram na infância, nos exemplos de Neill. Alguns, como eu, já se viu no pequeno trecho acima.

Ainda vou escrever mais sobre Liberdade Sem Medo, e colocar mais citações, em outros posts.
http://blogdacecilia.wordpress.com/2011/01/18/as-licoes-de-summerhill/

    lukas

    Todos poderão trabalhar no que dá prazer? É possível ter prazer numa mina de carvão ou num forno de siderúrgica?

    Se todos estudassem em Summerhill, como escolheríamos aqueles que trabalhariam sem prazer?

    Juarez

    Cara, vai te catar! Sim, o mundo do trabalho seria idealmente um mundo de prazer, em todas as profissões. Reflita. Neil estava com a razão: “Preferiria que Summerhill produzisse um varredor de rua feliz do que um primeiro-ministro neurótico”.

    lukas

    Juarez, fico feliz em saber que pode haver prazer na fábrica de botões, das 8 às 5, com uma hora de almoço.

    Olha, eu passo…

    Rodrigo Toschi

    Mas é aí que está… minas de carvão? Será que se ninguém topasse trabalhar nisso, e não tivessem como retirar o carvão da terra já não teriam inventado outras formas de energia, ou ainda outras formas de extração do carvão? Sei não em, a gente tá muito acostumado com o atual sistema, sistema como um todo, da produção ao consumo, do governante ao governado que não consegue nem pensar em outra uma coisa diferente, que pode ser até melhor…

Alice Matos

Já ouvi falar em Summerhill, mas nunca havia prestado muita atenção. Agora compreendi mais. Também li um artigo, ou é parte do livro Liberdade sem medo, no qual o fundador de Summerhill diz que lamentavelmente escolas como a que ele criou não chega para o povo, para os filhos dos pobres que precisam porque os governos não se interessam por experiência inovadoras em educação, mesmo quando elas são um sucesso. Que nenhum governo jamais quis patrocinar escolas como a dele, que só os ricos podem pagar seus custos.
E Summerhill e seu método democrático foi feita para lidar com crianças-problemas, complicadas, aquelas que as escolas tradicionais recusam, afugentam das escolas.

Luiz Fernando

Nós não precisamos de nenhum controle mental imposto por normas rígidas escolares. Esqueçam o velho paradigma !!

Roberta Ragi

Tb reverencio Alexander Sutherland Neill. Ler “Liberdade sem medo” foi, pra mim, uma experiência maravilhosa. Neill tinha crença no homem, no poder emancipatório e libertário da educação, coisa bem difícil de sustentar em meio à barbárie que anima o cotidiano das nossas grandes cidades.

A experiência de Summerhill é um exemplo de resistência, sem dúvida.
Um passo possível no sentido da utopia.

Saci

O que preocupa é que não estamos formando pessoas, apenas mão de obra.

    rodrigo

    E tudo isso graças (ainda) à reforma Passarinho…

    Parece que muita gente insiste em NÃO QUERER ENXERGAR que a ditadura foi muito mais profunda do que um golpe de estado.

    Mardones

    E, infelizmente, seguiremos assim por muito tempo. Salvo raríssimas exceções.

    Malvina Cruela

    “Concordo, faço Direito”
    ainda está tempo de escolher um modo honesto de ganhar vida…sai dessa sô

    Leandro_O

    Exatamente, para que criar seres pensantes se são os seres de produção que dão o retorno financeiro? Em um curso de Direito, por exemplo, discutir Filosofia, Sociologia ou História é encarado como a mais pura perda de tempo, exceto pelo próprio professor e meia dúzia de alunos.

    Luiz Fernando

    Concordo, faço Direito

    lukas

    No mundo de vocês, quem fará o trabalho que ninguém quer fazer? Quem vai limpar fossas, ou trabalhar no almoxarifado?

    Juliana Mateus

    Ô Lucas, num mundo em que as necessidades fisiológicas não existissem não precisaríamos de limpadores de fossas, né? Mas como ainda não é possível viver sem cagar, precisamos. Alguém tem de fazer o serviço sujo, ou não?
    Não estamos falando de quais profissões dão felicidade ou não, mas que todas as profissões podem ser fonte de felicidade quando as pessoas que as exercem são bem resolvidas no plano mental, psicológico.
    Estamos falando é que a escola deveria ser sim um lugar que nos preparrasse para a vida plena, em qualquer profissão. Ninguém precisa ser doutor como condição para a felicidade. Acorda, com esse teu pessimismo, a infelicidade está contigo.

    lukas

    Legal Juliana, mas, se puder escolher, não quero limpar fossas, ok? Gostaria de ser cineasta, acho que seria mais feliz. Com uma escola tão boa, haverá quem queira limpar fossas e ser feliz.

    rodrigo

    Ego, ego puro…

    E viva a confusão de idéias provinda das mutações sociológicas do mercantilismo/capitalismo/liberalismo (e neoliberalismo também) sem ideologia real qualquer a não ser a exploração alheia!

    abrantes

    LUKAS ,por todos os seus comentários, vôce tem o perfil ideal para ser um ministro neurótico no stf

    lukas

    Abrantes, quem limpará fossas?

    Inalda Paz

    Ficam levantando questões estúpidas, como limpar fossas! Quando as pessoas são livres para pensar fora do quadrado, não constroem fossas, que são coisas medievais. Constroem estações de tratamento de esgoto. Na Finlândia, p. ex., as crianças são educadas para serem o que quiserem, respeitando sua vocação. Pasmem, caros bitolados, há gosto para tudo, desde que se valorize o trabalho humano, coisa que neste país não se faz.

    Rodrigo Toschi

    E se eu gostar de limpar fossas ganhando um alto salário, onde seja natural pensar que a minha sociedade precisa de alguém, que por minha escolha serei eu, limpando fossas, e que ganho o suficiente para ser muito feliz e viver com conforto, trabalhando 4 horas por dia… Olha aí, limpar fossas nesse mundo fictício é tão importante quanto salvar vidas, e a este ponto, limpar fossas não é essa “merda” toda que você tá falando… o mesmo vale para quem fabrica roupas, quem fabrica tintas, para um juiz, para um médico.

    O que separa esse mundo virtual do atual é o caminho que a sociedade percorreu na história, e que o seu pensamento e convicções são, em grande parte, adaptados ao atual modelo de sociedade, que poderia ser outro, e que sem dúvidas, será muito diferente daqui 200 anos. Até lá, quem sabe, o trabalho não passe a ser uma realização pessoal, social e funcional, antes de uma posição na sociedade mais alta que a do fulano ou ciclano.

    lukas

    Inalda, quem, tendo estudado numa escola destas, quererá escavar o chão para colocar as manilhas do esgoto? Há prazer nisto?

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