Indústria farmacêutica: Capitalismo mafioso fora de controle

Tempo de leitura: 4 min

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Grandes farmacêuticas: capitalismo mafioso fora de controle

Quem acredita nos valores que a indústria farmacêutica diz gastar desenvolvendo novos medicamentos provavelmente também acredita que a terra é plana.

Ralph Nader, no Counterpunch,via Esquerda.Net

Duas notícias recentes sobre a voraz indústria farmacêutica deveriam despertar o indolente Congresso dos EUA para iniciar investigações sobre os preços de medicamentos imprescindíveis para manter pacientes vivos (“paga-ou-morre”) que são demasiado comuns.

A primeira informação, um artigo na primeira página do New York Times falava da fibrose cística e da Fundação Cystic Fibrosis, que há quinze anos investiu 150 milhões de dólares na companhia de biotecnologia Vertex Pharmaceuticals, para desenvolver um medicamento para esta grave doença pulmonar.

No dia 19 de novembro, a Fundação anunciou um rendimento de 3,3 bilhões de dólares como resultado dessa iniciativa. O Kalydeco, o medicamento desenvolvido com esse investimento, é tomado diariamente por pacientes de fibrose cística (que o podem pagar) e custa 300.000 dólares ao ano por paciente. Quem pode pagar esse preço?

A segunda notícia provem do Tufts Center for the Study of Drug Development, uma instituição financiada pela indústria farmacêutica. Joseph DiMasi, do Tufts Center, afirma que o custo de desenvolver um novo medicamento é de perto 2,558 bilhões, muito superior ao cálculo anterior de 802 milhões de dólares que o mesmo centro mencionou em 2003.

Os promotores da indústria farmacêutica utilizam esse absurdo valor para justificar altíssimos preços de medicamentos aos consumidores. Infelizmente, a crítica a esse valor exagerado não recebeu a atenção adequada na mídia.

Segundo DiMasi, a metade desse valor seria justificada pela oportunidade perdida se a companhia farmacêutica investisse o seu dinheiro noutro lado. Isso reduz o seu cálculo quase à metade, 1,395 bilhão de dólares. Esta manobra dá um novo significado à palavra “inflação”.

Segundo o economista James P. Love, fundador de Knowledge Ecology International, DiMasi também ignora convenientemente subsídios governamentais como os chamados créditos tributários por medicamentos órfãos, subsídios de investigação dos Institutos Nacionais de Saúde e apoio governamental ao custo dos ensaios clínicos de qualificação.

Love acrescenta que as companhias farmacêuticas gastam “bem mais em marketing que em investigação e desenvolvimento”. Rohit Malpani, diretor de Política e Análise dos Médicos sem Fronteiras (que recebeu o Prémio Nobel em 1999), diz que quem acreditar nos números de Tufts, cuja alegada análise de dados é em grande parte secreta “provavelmente também acreditará que a Terra é plana”.

Malpani cita o próprio diretor executivo de GlaxoSmithKline, Andrew Witty, que diz que o valor de um bilhão de dólares para desenvolver um medicamento é um mito.

Malpani acrescenta que “o que sabemos de estudos passados e da experiência de criadores de medicamentos sem fins lucrativos é que se pode desenvolver um novo medicamento por uma fração do custo sugerido pelo relatório de Tufts. O custo de desenvolver produtos é variável, mas a experiência mostra que se podem desenvolver novos medicamentos por apenas 50 milhões de dólares, que podem chegar a 186 milhões se se levarem em conta os fracassos… Não só os contribuintes pagam uma percentagem considerável da investigação e desenvolvimento da indústria, como também na realidade pagam duas vezes, porque ainda têm de pagar os altos preços dos medicamentos em si”.

Malpani referia-se primordialmente aos EUA, onde as companhias farmacêuticas não mostram qualquer gratidão pelos generosos créditos tributários e pelo financiamento com dinheiro público da investigação e desenvolvimento (que na maior parte das vezes obtêm gratuitamente). Junte-se a ausência de controle de preços e verifica-se que o consumidor/paciente paga os preços dos medicamentos mais elevados do mundo.

Outro aspeto geralmente ignorado é qual a percentagem da investigação e desenvolvimento da indústria é que se dirige a produtos que mantêm, em vez de melhorar, as condições de saúde, os medicamentos denominados “eu também”, que são lucrativos mas não beneficiam a saúde dos pacientes.

Além disso, a lucrativa indústria farmacêutica foi sempre incapaz de restringir a sua enganosa promoção de medicamentos e a revelação inadequada dos efeitos secundários.

Cerca de 100 norte-americanos morrem cada ano devido aos efeitos adversos de medicamentos. Dezenas de milhões de dólares dos consumidores são desperdiçados em remédios que têm efeitos adversos em vez de produtos para as mesmos doenças com menos efeitos adversos.

Esta “entidade de desenvolvimento de medicamentos” do Departamento de Defesa foi criada porque as companhias farmacêuticas não quiseram investir em vacinas ou medicamentos terapêuticos para a malária, que então era a segunda causa principal da hospitalização de soldados dos EUA no Vietnam (a primeira eram as feridas no campo de batalha). Portanto a administração militar decidiu preencher este vazio pelos seus próprios meios, com considerável sucesso.

Durante uma visita no ano 2000 com médicos e cientistas militares ao Walter Reed Army Hospital, perguntei quanto gastam para investigar e desenvolver as drogas contra a malária e outros medicamentos. A resposta: de cinco a dez milhões de dólares por medicamento, o que incluía os ensaios clínicos e os salários dos pesquisadores

O problema da mesquinhez da mimada indústria farmacêutica privada com respeito ao desenvolvimento de vacinas continua a existir. A tuberculose, resistente aos medicamentos, e outras doenças infecciosas crescentes em países em desenvolvimento continuam a custar milhões de vidas a cada ano. A epidemia de ebola é uma ilustração letal de semelhante negligência.

A sobrevivência de muitos milhões de pessoas é demasiado importante para deixá-la em mãos das empresas farmacêuticas.

Por uma pequena parcela do que o governo está a esbanjar na extensão e no fracasso de guerras ilegais no exterior, pode ir além do exemplo do Walter Reed Army Hospital e converter-se numa superpotência humanitária que produza vacinas e medicamentos para salvar vidas, porque o sofrimento dos doentes deve importar mais que a chuva de benefícios das grandes companhias farmacêuticas.

O último livro de Ralph Nader é: “Unstoppable: the Emerging Left-Right Alliance to Dismantle the Corporate State”.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

Leia também:

Fátima Oliveira: “O CFM não tem a menor noção do que é Saúde da População Negra. Deu atestado de ignorância em sua nota”


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Comentários

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Cláudio

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Ouvindo A Voz do Brasil e postando:

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Capitalismo mafioso fora de controle é (também) na (‘grande’) mídia brasileira

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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Stinghinho

Progenitorivox

Fernando Lopes

E tem mais… Uma amiga que é gerente de um posto de saúde do SUS aqui em Belo Horizonte me contou que a BAYER estava oferecendo às mães que tiveram bebês recentemente um “kit- Bebê” com fraldas e outras coisinhas, devidamente estampadas com a logomarca Bayer. A condição para se ganhar o “brinde” era que a mãe doasse a Bayer a sua placenta, que perde a utilidade para o corpo humano depois que o bebê nasce, mas que para a empresa seria a matéria prima para um medicamento que depois seria vendido a R$ 500 o comprimido!!!
Ou seja, grande parte destes “custos” alegados pela indústria farmacêutica nem é realizado, pois alguém duvida que a Bayer lança em sua contabilidade as placentas como doadas??? Ou faz uma “contabilidade criativa” inventando custos que nem existiram? Para quem conhece a indústria farmacêutica e sabe que o faturamento dela só perde para as drogas ilícitas e armas sabe bem que como em qualquer máfia ou quadrilha uma mentira é muito pouco dentro da estratégia dessas empresas criminosas!!

sergio ribeiro

Não tenho conhecimento nenhum na área, mas seria bom juntar bons médicos e cientistas e criar ONGs por meio de financiamento virtual para fazer processo semelhante ao da indústria fonográfica: levá-los à falência para que se produzam por meios alternativos produtos acessíveis a toda população.

Mário SF Alves

Não tem de mudar o clima; o que tem de ser mudado é o sistema econômico. O clima, após isso, sensibilizado, docilmente, acompanha e agradece.

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Capitalismo mafioso: essa é a expressão mais apropriada. Seus tentáculos não se contentam apenas em vampirizar pessoas e economias locais. Por isso vão muito além da indústria farmacêutica; a agroquímica e a biotecnológica de transgênicos constituem prova cabal disto.

Sérgio Fernandes

No Brasil, inclua-se a margem de lucro absurda praticada pelos empresários….

Pedro

Um artigo para se conhecer melhor o capitalismo.

Jorge Humberto Dalsasso Camargo

Casualidade, hoje adquiri o livro “”INDÚSTRIA DA DOENÇA”” de Unírio Machado impresso na data de 25 de julho de 1963, onde o autor no prefácio diz que o objetivo do livro é advetir o povo brasileiro sobre a maléfica atuação dos grupos monopolistas da indústria farmacêutica, por tanto o assunto continua bem atual – Vou lê-lo com bastante atenção.

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