Acidente nuclear no Japão, acreditar em quê?

Tempo de leitura: 4 min

04/04/2011

A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz a Tóquio Eletricidade (Tepco) nem no que diz o governo japonês. Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado, pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. O artigo é de Tomi Mori.

por Tomi Mori*, do Esquerda.net, via Carta Maior

Entrando na quarta semana após o início da tragédia, já que ela ainda está longe de terminar, temos alguns dados já relativamente estabilizados. As mortes oficiais somam 11.620, os desaparecidos 16.444 (não há muita possibilidade de que sejam encontrados vivos depois de tantos dias), 2.877 feridos e 191.625 construções destruídas ou danificadas. Esses números podem ser considerados como a primeira parte da tragédia. A outra parte diz respeito às casas, plantações e vidas desorganizadas pela tragédia nuclear, que continua sem que possamos dizer em que estágio da crise nos encontramos. Estima-se que serão necessários 300 bilhões de dólares para reparar os estragos causados. Estamos no início, no meio ou próximos do final da crise?

Falta de credibilidade

A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Essa crise fenomenal de confiança, no mais amplo sentido da palavra, deriva da atitude das autoridades envolvidas na crise nuclear, ou seja, a Tóquio Eletricidade (Tepco) e o governo do primeiro-ministro Naoto Kan.

A Tóquio Electricidade, operadora da central nuclear Fukushima 1, desde que começou a tragédia, tem agido de tal maneira que já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz. O próprio primeiro-ministro japonês, no início da crise, foi ao escritório da empresa, em Tóquio, para reclamar da maneira como havia sido comunicado. Foi o último a saber, já que a empresa havia se manifestado na imprensa primeiro.

Os primeiros vazamentos, que a operadora alegou serem “inofensivos”, acarretaram entre outras coisas uma situação na qual os moradores próximos à unidade não mais poderão voltar às suas casas. Vários trabalhadores foram contaminados pela radioatividade, ocasionada pela falta de segurança no trabalho, fruto de informações erradas ou, quem sabe, literalmente mentirosas.

Desde que se iniciou a tragédia nuclear, a operadora fornece dados das medições de radioatividade, mas ninguém é capaz de dizer quais são os critérios utilizados. Se esses critérios são adequados, se os equipamentos utilizados são apropriados, ninguém está em condições de julgar. Mesmo com toda a artimanha utilizada para não agravar o que já era grave, as ações da empresa despencaram. E só não viraram pó, como se diz no jargão financeiro, porque continuam a jogar às escondidas, sem dizer claramente o que deveria ser dito numa situação tão grave como é a atual.

Não restam dúvidas que, em primeiro lugar, vêm as motivações económicas e só depois as sociais, como a segurança e a vida das pessoas. As semanas estão a passar, mas não há nenhuma informação concreta de como tudo isso irá terminar.

Durante a semana, foi anunciada a desativação de quatro reactores. Em qualquer situação, é um trabalho que vai levar algumas décadas. Era o óbvio, depois que deitaram água salgada, na tentativa desesperada de refrigerar os reatores. Mas ao invés de diminuir as dúvidas, o que temos à nossa frente é uma quantidade ainda maior de questões não respondidas. Quanto tempo irá levar para que a situação esteja sob controle? A operadora tem como impedir uma fuga que coloque em risco a vida das pessoas? Agora que entramos na Primavera e a temperatura aumenta, como substituir a água do mar? O exército vai deitar sorvete em cima dos reatores com helicópteros?

Neste momento, nas proximidades de Fukushima 1, a temperatura ainda é baixa, provavelmente oscilando até aos 5 graus. Mas, o que será feito quando a temperatura ambiente atingir mais de 30 graus? O governo aventa a possibilidade de jogar resina, mas o que isso significa?

Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. Quanto maior o perímetro, maior a indenização a ser paga e o governo, claramente, faz essas contas, mesmo que isso signifique o risco de milhares de pessoas. O governo, como qualquer governo, tem de falar alguma coisa, mas é incapaz de encontrar uma solução rápida que possa evitar um tragédia de grandes proporções. Na inexistência de explicações confiáveis, sou forçado a especular e tudo indica que a situação hoje é pior e mais dramática do que no dia 11 de março, quando houve o terremoto.

Falta de confiança afeta economia

A visita do presidente Sarkozy ao Japão corresponde ao temor existente, em todo o mundo, de que a crise japonesa possa causar problemas ainda maiores num mundo que já está bastante complicado. Os otimistas diziam que o mundo estava saindo da crise de 2008. Outros mais críticos diziam que estávamos a caminho, não da recessão mas, sim, da depressão. Independente de estar a favor desta ou daquela opinião, a atual crise japonesa, sem sombra de dúvidas, só faz piorar a situação mundial. A dependência da energia nuclear de alguns países é gritante, basta ver a França de Sarkozy. A França, que sonhava vender centrais nucleares até para os marcianos, se fosse possível, viu o seu projecto despedaçar-se. E, mais do que isso, pode ocorrer um indesejável e poderoso movimento anti-nuclear, coisa que o presidente francês pretende evitar, antecipando-se aos acontecimentos e tentando se transformar no paladino da segurança nuclear, como se isso fosse possível…

A falta de um posicionamento claro por parte do governo tem acarretado uma paralisia em todas as áreas da atividade social. Ainda é cedo para se fornecer números, mas além de várias empresas já terem sido afetadas, com falta de peças e componentes, ainda estamos apenas no início de problemas maiores na economia japonesa. No próximo verão, já está claro que a falta de energia irá causar graves problemas. O maior deles será a falta de energia em Tóquio, coração da economia japonesa. Como resolver essa questão?

Este ano os japoneses poderão exercer amplamente a sua criatividade, mas é pouco provável que isso impeça que marchemos para uma situação recessiva. Setores da burguesia imperialista japonesa acreditam que na tragédia surge a oportunidade de auferir grandes lucros. Tem algum sentido, já que as pessoas terão de comprar frigoríficos, televisões,camas, construir casas, etc… Mas não se pode dizer que isso vá revitalizar a economia japonesa. Em função da crise nuclear, do seu prolongamento e desdobramentos, a palavra que sintetiza a atual situação japonesa é “volátil”. Qualquer que seja a próxima tragédia, ela já não será uma surpresa.

Tomi Mori é correspondente em Tóquio do Esquerda.net

Leia aqui a entrevista com a professora Emico Okuno, do Instituto de Física da USP, que denuncia: Dizer que os reatores nucleares duram em média 40, 60 anos, é blefe.


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Comentários

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Marat

Ainda bem que o capitalismo e os países capitalistas são extremamente eficientes, não mentem, sempre encontram soluções para tudo, e beiram a perfeição… Ah, Francis Fukuyama, o capitalimo é mesmo a panacéia da humanidade…

Douglas O. Tôrres

Money,Money,Money,Dinheiro é caro,muito caro,já a vida humana,esta é barata e muito barata,a historia humana está ai a nos mostrar esta realidade.Se morrerem 2,30,200,1000,200,000,ou se a sude de tantos mais ou mesmo gerações futuras forem comprometidas,isto é barato.Mas S30.000.000,00,isto é mais importante.O que sei,é que o Egito virou sinonimo da nova revolução humana .O Egito chegou na América(quem diria),e na Europa,ele precisa ,melhor o Japão precisa do "Egito".

ratusnatus

Oito horas depois do tremor, a Tepco, sem comunicar ao governo japones, decidiu inundar 4 dos 6 reatores com água do mar. Essa foi uma decisão de US30BI.

Vou repetir para aqueles que ainda tem desconfiança ou que não entenderam o que eu disse:
Depois de 8 horas do terremoto, decidiram, por segurança, jogar no lixo um investimento de US$30.000.000.000,00.

Vocês queriam o que que eles se concentrassem na opinião pública ou NOS REATORES?
Os reatores ainda estão para serem controlados. Deixem os caras trabalhar em paz!!!!
Depois parte pra jugular mas dá um tempo.

JOSE DANTAS

Na verdade não há nada 100% seguro nesse mundo, nem no Japão, aquele exemplo de qualidade total e extremo rigor em se perseguir a perfeição.
Agora, se isso acontecesse aqui no Brasil sob o comando de Lula, imaginem a felicidade dos seus adversários políticos que sobrassem do epsódio.

Tiago Lira Vieira

O impacto desse vazamento nuclear é o que mais me preocupa. Já que não há como inverter o processo de contaminação uma vez iniciado, claro há medidas paliativas de contenção, mas penso nas consequências dessa contaminação tanto no mar como na terra e como isso se refletirá nas gerações futuras?

Mar.

Alguém pode me explicar como isso foi acontecer com a usina? Ela não estava preparada para resistir aos terremotos, o Japão não foi sempre uma região com terremotos? Alguém sabe informar que rumo tomou o projeto dos EUA chamado Haarp?

    ratusnatus

    Ela resistiu ao terremoto mas não ao maremoto. O maremoto varreu os geradores que eram responsáveis pela geração de força para o resfriamento dos reatores.
    Apesar dos reatores 1,2 e 3 terem se desligado automaticamente com o tremor, eles continuam a gerar calor residual por um bom tempo.

    Além disto, não podem ir lá para ver porque houve vazamento mas eles não sabem onde ao certo. Uma coisa é certa, houve fusão parcial do combustível.
    Eles já foram lá fazer inspeção, tanto é que acharam 2 empregados mortos, mas essas inspeções ocorreram depois de mais de 2 semanas depois do tremor, ou seja, até lá eles estavam tomando decisões sem saber ao certo o que estava acontecendo.

    jbmartins

    Sobre o Projeto acredito que os americanos não abandonam e ate a utilizam.

ANA

Quando o primeiro ministro japonês demorou para se comunicar com a nação sobre o acidente nuclear, estava lá, o início da desconfiança
Quando o primeiro ministro japonês mente em público, estava lá o início da comprovação que o acidente era bem mais grave.
Quando o governo japonês restaura em 6 dias uma rodovia, e não atua de maneira igual nos 'campos de refugiados da radiação, estava lá um indício claro da opção econômica diante da ajuda humanitária.
Quando o primeiro ministro visita 12 dias depois os locais da catastrofe, estava lá presente o império tardio.
Assim, dias piores virão.

Glauco

Entrem no site do prof. James McCanney, baixem o programa de rádio da semana passada e aprendam exatamente quais serão as consequências a curto prazo dessa contaminação nuclear para o Hemisfério Norte.

Garanto q no mínimo fome vai haver. Chance de guerra.

Marcelo de Matos

Há momentos em que os países se vêem diante de uma encruzilhada. Albert Camus (A Peste) conta que Oran, na Argélia, em 194…, fora fechada em razão da peste: ninguém podia sair ou entrar. Ou descobriam a cura ou todos morreriam. Em 1961 Kennedy lançou um ultimato à Nasa: tinham de empatar o jogo com a URRS na corrida espacial. Do contrário, a situação dos States como potência internacional ficaria comprometida. O homem pousou na lua e Kennedy, se vivo fosse, teria ficado satisfeito. Hoje os japoneses estão em uma dessas encruzilhadas. Já sabem que as usinas nucleares não servem a seus propósitos de obter energia com segurança. Algo novo deverá ser tentado. Na conquista da lua os americanos gastaram $20 bilhões; 20 mil companhias fabricaram componentes e 300 mil trabalhadores suaram a camiseta. “Foi um grande passo para a humanidade”, disse um dos astronautas, mas, descobrir uma energia limpa seria bem mais importante, em minha modesta opinião.

    Jaime Dutra

    Já foi descoberta. Chama-se Low Energy Nuclear Reaction (LENR), chamada por alguns de "cold fusion" (fusão à frio), e já existe um reator em fase de implementação comercial, desenvolvido pelo engenheiro italiano Andra Rossi, atualmente em fase de testes na Universidade de Bolonha. O reator recebeu o apelido de "Energy Catalyzer" (E-Cat). Em outubro deste ano a primeira usina totalmente baseada nesta tecnologia, com 1 megawatt de potência, entrará em operação em Atenas, na Grécia, de propriedade da empresa grega Deflakion. A tecnologia é absolutamente limpa e segura, e não utiliza urânio nem nenhum outro "combustível" radioativo, apenas níquel e hidrogênio.

    Certamente você não verá nenhuma notícia sobre isso no PIG, pois o PIG, assim como a mídia norte-americana, irá ignorar qualquer tecnologia que coloque em risco a indústria do petróleo. Mas não vão poder ignorar para sempre. Com o sucesso da usina da Deflakion, essa tecnologia rapidamente irá se espalhar, com ou sem destaque na mídia, eles queiram ou não queiram. É algo imparável.

    ratusnatus

    Essa informação não é verdadeira.
    Ainda não desenvolveram um reator de fusão que gere mais energia do que gaste.

    ratusnatus

    Quer dizer, não desenvolveram um reator de fusão a quente. Na frança esta em contrução um reator novo de fusão a quente. Custará cerca de 10bi de euros e isso sem qualquer garantia que vá funcionar.

    Fusão a frio ainda é conto de fadas literalmente, até que alguém prove o contrário. Mais ou menos a história dos alquimistas que tentaram por séculos transformar chumbo em ouro.
    Fusão a frio é a mesma coisa, só que ao invés de alquimistas, são Físicos.

    Agora a notícia ainda diz que esta em fase de implementação comercial, rsrsrs. Aí é florida.

    Vamos combinar o seguinte, qualquer notícia sobre fusão a frio que leia-mos em qualquer lugar que não seja a primeira página de TODOS os jornais do mundo, é mentira.

    Silvio Monteiro

    Abra a sua mente, amigo: alguém já "provou o contrário". A Universidade de Bologna é a mais antiga instituição universitária do mundo. O Departamento de Física da Universidade de Bologna testou o reator criado por Andrea Rossi durante 18 horas seguidas em fevereiro, e concluiu que o reator realmente produz muito mais energia do que consome. A razão pela qual a mídia mundial simplesmente ignorou tal fato é um mistério (ou nem tanto, considerando os interesses das "sete irmãs" petroleiras).

    ratusnatus

    Os resultados deles não foram analisados pela comunidade científica. Tudo o publicado é de acordo com o que eles dizem. Exatamente como fizeram Pons e Fleischmann em 1986.

    Eu sinceramente espero estar errado nisso mas continuo não acreditando.

    Júlio Almeida

    Desenvolveram sim, e já foi demonstrado na Universidade de Bolonha, e estará em operação comercial em outubro de 2011.

    Fontes:

    http://noticias-alternativas.blogspot.com/2011/01

    http://www.ndig.com.br/item/2011/01/fuso-a-frio–

    http://peswiki.com/index.php/Directory:Andrea_A._

Juarez Alves

O que estamos assistindo no Japão é o CÚMULO DO NEOLIBERALISMO: a privatização da resposta a uma emergência nuclear.

Acreditem se quiser: uma emergência gravíssima em uma usina nuclear está sendo "combatida" apenas pelos funcionários da empresa PRIVADA dona da usina!

A maioria das pessoas pode não ter percebido ainda, mas quem está tentando controlar a usina nuclear de Fukushima não é o governo japonês, não é o Corpo de Bombeiros, não é o Exército, é simplesmente uma empresa privada!

A TEPCO, dona da usina de Fukushima, é uma empresa privada, e ela que está encarregada de controlar a situação na usina. O governo japonês simplesmente fica olhando!

Absurdo dos absurdos! O mínimo que se poderia esperar é que toda a estrutura do Estado japonês, das Forças Armadas, das forças policiais, bombeiros, agências públicas especializadas, estaria trabalhando para tentar controlar a situação na usina, assumindo o comando das operações. Mas não é isso que está acontecendo! Quem manda na operação é a empresa privada TEPCO! Ela faz o que quiser, como quiser!

Estamos assistindo um "experimento" neoliberal nuclear!

P A U L O P.

Engenheiro nuclear: Incêndio de hastes de urânio no reator de Fukushima seria como Tchernóbil com estimulantes
http://my.firedoglake.com/kirkmurphy/2011/03/14/n

Fukushima: Modelo de Reator Nuclear Série 01 Levou à Demissão de Cientista da GE em Protesto
ABC News, Março 15
Há 35 anos, Dale G. Bridenbaugh e dois de seus colegas na General Eletric renunciaram a seus contratos de trabalho após terem se tornado cada vez mais convencidos de que o modelo de reator que eles estavam revisando – Série 01 – era tão cheio de falhas que poderia levar a um acidente devastador.

    ratusnatus

    Um simples derretimento(fusão) das barras de combustivel nos reatores não seria pior que Chernobyl.
    Lá houve derretimento seguido de explosão com o reator em pleno funcionamento.
    Existem 3 contenções diferentes para radiação nos reatores. No acidente dos EUa houve fusão e o resultado da fusão foi que ela derreteu 5/8 de uma polegada das 5 polegadas da base do reator, ou seja, não vazou.

    Na verdade vc leu errado.
    Eles diz que o derretimento seguido de incêndio das barras de combustível usado seria pior que Chernobyl.
    Há desconfiança de que esta seria a principal fonte de vazamento. Uma rachadura na piscina de combustível usado.
    Isso sim é problema!

    Sabe que as barras de combustível usado estão lá por causa dos echo-chatos. Assim uma quantidade grande destas barras são mantidas nas usinas, ao invés de outros locais.

FrancoAtirador

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CRIME AMBIENTAL

Japão vai despejar 11.500 toneladas de água radioativa no Oceano Pacífico

Água radioativa pode atingir cadeia alimentar, diz especialista

Com o anúncio do lançamento no Oceano Pacífico de cerca de 11.500 toneladas de água radioativa acumuladas da usina atômica de Fukushima, no Japão, as preocupações do mundo com as consequências de tal atitude se elevam.

Para o oceanógrafo David Zee, coordenador do Mestrado em Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida (em entrevista concedida nesta segunda-feira ao SRZD), o risco de contaminação da cadeia alimentar sempre existe (o que pode alcançar o ser humano), mesmo com a redução do nível de contaminação presente na água. Por isso, será necessário um sistema de monitoramento muito severo a fim de verificar se despejo vai provocar danos à fauna marinha e para a saúde humana.

"Não apenas no Japão, mas naqueles países próximos, China, Coreia", explica Zee. "Não existe outra opção, devido a quantidade e o tipo do material. O material sólido é possível de confinamento em tambores, guardá-los, mas a água não tem como confinar". Ele lembrou que o nível de contaminação é reduzido com o passar dos dias, mas que o risco da radiação atingir a camada de plânctons (um dos primeiros pontos do ciclo alimentar, que pode perfeitamente alcançar o ser humano).

Na avaliação do especialista, tudo vai depender de onde e como o lançamento será feito. Neste momento, as autoridades afirmam que o índice está em 100 vezes acima do aceitável, algo que pode cair para seis vezes acima do aceitável no período de um mês.

"Eles mesmos deram informação errada sem querer", destacou Zee. "O tipo de coisa que não tem mais como esconder. Tudo o que aconteceu mostra os riscos, mesmo para um país preparado para terremotos e tsunami", completou.

O oceanógrafo frisou que, se antes não tinha uma opinião formada a respeito da necessidade de usinas atômicas, agora está revendo seu conceito depois de Fukushima, ao perceber as dificuldades no aspecto segurança: "Se antes eu estava na coluna do meio, agora estou pendendo para a coluna dos que são contra", reforça.
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. http://www.sidneyrezende.com/noticia/126926+japao

Marcelo de Matos

(parte 2) Eu acho que os japoneses, principalmente o príncipe Akihito, foram transparentes em suas avaliações da tragédia. O príncipe disse, simplesmente: a situação é imprevisível. E o é, efetivamente. Só os especialistas conseguem dourar a pílula, defendendo os interesses dos investidores em centrais nucleares e seus próprios empregos. Vêm com a ladainha que o desastre de Tchernobil foi pior, que lá não houve transparência por parte do governo da Ucrânia soviética, que morreram mais de mil empregados que sepultaram a usina. Em parte é verdade: não houve mesmo transparência. Mas, anotem, por favor: o desastre de Fukushima foi pior em prejuízos humanos e materiais. A região atingida é densamente povoada e o lançamento de 11.500 toneladas de água contaminada no mar terá consequências imprevisíveis.

Marcelo de Matos

(parte 1) A maior pedra no caminho dos projetos nucleares, em todo mundo, é a economicidade. Todo grande investimento em insumos de qualquer natureza pressupõe o uso intensivo e prolongado desses bens, do contrário não será economicamente viável. A gente vê por aí colégios, hotéis e hospitais que, há muito tempo, requerem uma reforma. São assoalhos de madeira que rangem, carpetes com mofo secular, instalações inadequadas para atendimento de pacientes. Mas, enquanto for possível extrair lucro dessas instalações, elas vão ficando do jeito que estão. Na escola o aluno pode sentir desconforto; no hotel o hóspede pode respirar ácaros dos carpetes; no hospital o paciente pode ser atendido em um corredor com divisórias de pano. Tudo bem (ou mais ou menos). E que dizer de uma central nuclear obsoleta? Será que em algum lugar vão substituí-las com frequência? A Alemanha já programava uma dilatação do prazo de validade das suas quando ocorreu a tragédia de Fukushima

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