Internet das coisas: Até o mau humor terá valor de mercado

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Até os sensores capazes de monitorar a saúde podem servir ao Big Brother

A arrepiante nova onda da internet

Sue Halpern, no New York Review of Books

[Reprodução de trechos da resenha de quatro novos livros sobre o assunto]

O escritor e pensador Jeremy Rifkin, cuja empresa de consultoria trabalha com empresas e governos para acelerar esta nova onda, escreve:

A Internet das Coisas vai conectar tudo com todos numa rede integrada global. Pessoas, máquinas, recursos naturais, linhas de produção, redes de logística, hábitos de consumo, fluxos de reciclagem e virtualmente qualquer aspecto da vida social e econômica serão conectados à plataforma da rede através de sensores e software, alimentando continuadamente todos os terminais — empresas, domicílios, veículos — momento a momento, em tempo real. Os dados, por sua vez, serão processados através de análise avançada, transformados em algoritmos previsíveis e programados em sistemas automatizados para melhorar a eficiência termodinâmica, aumentar dramaticamente a produtividade e reduzir para perto de zero o custo marginal de produzir e entregar uma ampla gama de produtos e serviços em toda a economia.

Pela estimativa de Rifkin, toda esta conectividade trará a Terceira Revolução Industrial, que vai não apenas redefinir nossa relação com e entre as máquinas, mas superar e derrubar o capitalismo, já que a eficiência da Internet das Coisas solapará o sistema de mercado, ao derrubar o custo de produção para, basicamente, zero.

[…]

Rifkin nota que em 2007 existiam dez milhões de sensores de todos os tipos conectados à internet, um número que ele diz vai aumentar para 100 trilhões até 2030. Uma boa parte destes são pequenos identificadores de rádio frequência (RFID), microchips ligados a bens que viajam o mundo, mas também há sensores em máquinas de venda, caminhões de entrega, gado e outros animais de corte, telefones celulares, automóveis, equipamento de monitoramento do clima, capacetes de futebol americano, turbinas de jatos e tênis de corrida, que geram dados de transmissão com o objetivo de informar e aumentar a produtividade, muitas vezes sem exigir intervenção humana. Além disso, o número de aparelhos autônomos conectados à internet, como telefones celulares — que se comunicam diretamente entre si — dobra a cada cinco anos, crescendo de 12,5 bilhões em 2010 para estimados 25 bilhões em 2015 e 50 bilhões em 2020.

[…]

Entre os “objetos encantados” está o Google Latitude Doobell que “permite a você saber onde estão as pessoas de sua família e quando estão chegando em casa”, uma sombrinha que fica azul quando vai chover para que você não esqueça de levá-la e uma jaqueta que te dá um abraço sempre que alguém dá um like num post seu do Facebook.

Rose [David, da empresa Ambient Devices] antevê “uma parede encantada na cozinha de sua casa onde será possível ver, através de linhas coloridas, o estado de espírito e o humor das pessoas queridas, o que poderá oferecer “melhor entendimento dos pensamentos subjacentes e das emoções que são relevantes para nós”.

[…]

Não é preciso muita imaginação para antever como informação obtida através do Google Latitude Doorbell poderia ser usada num tribunal de justiça. Os automóveis de hoje já carregam muitos sensores, inclusive nos assentos para determinar quantas pessoas estão a bordo, assim como um gravador de eventos (EDR), o equivalente da caixa preta dos aviões. Como Scoble [Robert] e Israel [Shel] escrevem em Idade do Contexto, “o consenso legal é de que a polícia eventualmente vai solicitar a quebra de sigilo dos dados do automóvel como faz hoje com os do telefone”.

[…]

Revelações recentes do jornalista Glenn Greenwald colocam o número de norte-americanos sob vigilância do governo em 1,2 milhão. Quando a Internet das Coisas estiver implantada este número pode ser expandido para incluir a todos, já que um sistema montado para te lembrar de passar no supermercado é um sistema que sabe quem você é, onde você está, o que você está fazendo e com quem está fazendo. E isso com informação dada por nós livremente, ou sem saber, quase sempre sem levantar perguntas ou reclamações, numa troca por conveniência ou o que parece ser conveniência.

Em outras palavras, com o comportamento humano rastreado e mercantilizado em escala massiva, a Internet das Coisas cria condições perfeitas para fortalecer e expandir o estado de vigilância. No mundo da Internet das Coisas, seu automóvel, seu sistema de aquecimento, seu refrigerador, seus aplicativos de exercício físico, seu cartão de crédito, sua televisão, sua persiana, sua balança, suas medicações, sua câmera, seu monitor cardíaco, sua escova de dentes elétrica e sua máquina de lavar — para não falar de seu telefone — geram um fluxo contínuo de dados que fica fora do controle do indivíduo mas não daqueles dispostos a pagar pelos dados ou requisitá-los.

[…]

E aí vem a Terceira Onda da Internet. Com ela empregos vão desaparecer, o trabalho vai se transformar e muito dinheiro será ganho pelas empresas, consultores e bancos de investimento que se anteciparem. A privacidade vai desaparecer, nossos espaços íntimos vão se transformar em plataformas de publicidade — em dezembro passado o Google mandou uma carta à Securities Exchange Comission explicando como poderá exibir anúncios em eletrodomésticos — e talvez estejamos muito ocupados tentando fazer a torradeira “conversar” com a balança do banheiro para prestar atenção.

Leia também:

Indústria farmacêutica: Capitalismo mafioso fora de controle


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Comentários

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Cláudio

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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Edvard

Admirável mundo novo!
O grande irmão começa a se definir!

Mauro Assis

Se a revolução industrial (a verdadeira), quando o miserê da escumalha era total e a única coisa que o trabalhador tinha sobrando era ignorância não acabou com a turma do andar de baixo, não vai ser em pleno século XXI que um dia vamos acordar e a pobraiada vai estar toda estirada na calçada com uma meia dúzia de banqueiros fumando charuto pisando em cima.

Aliás, quem costuma largar as calçadas cheia de gente estirada é a alternativa que essa turma eventualmente prega…

Caracol

Ih, cara! Ainda bem que – segundo meus cálculos – eu vou morrer antes dessas coisas acontecerem.

FrancoAtirador

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O Novo Sistema de Poder

Emily Bell comenta que o Facebook usa um conjunto de complicadas fórmulas
para decidir como as notícias vão para o alto das páginas pessoais dos usuários;
esses mecanismos não apenas determinam o que o indivíduo vai ver,
mas também definem, pela constância do uso, o modelo de negócio das plataformas sociais.

Esses algoritmos são secretos, não são alcançados
pelas regulações que asseguram as liberdades básicas inerentes
ao direito à livre informação e à privacidade
e, pior, podem ser alterados sem aviso prévio.

O Facebook não tem obrigação de revelar como manipula o Sistema de Notícias
e tem se tornado um Novo Sistema de Poder Sem Controle Social.

Íntegra em:

(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/O-novo-sistema-de-poder/12/32348)
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FrancoAtirador

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Excerto

O Natal e o Capital

Por Pedro Estevam Serrano, em CartaCapital, pelo Viomundo

Desde o século XIX até os dias de hoje, pudemos observar a Transformação
do Capitalismo de Forma Europeia em Modo Global de Produção.

Na Contemporaneidade, contudo, outro Fator de Expansão
vem a provocar Mudanças que me parecem Substanciais no Sistema.

A Produção de Mercadorias é Secundarizada pela Produção de seu Fetiche.

Mais do que um Sistema Produtor de Mercadorias, o Capitalismo
se transforma num Sistema Produtor de Subjetividade.

Expande-se para a Significação Humana.
Ocupa todos os Espaços da Vida e do Imaginário.

A Regra Econômica do Condicionamento da Oferta pela Demanda é Invertida.

Oferta produz Demanda, como bem enxergou Steve Jobs.

Em verdade, Modos de Domínio e Construção da Subjetividade
fazem parte do próprio Conceito de Civilização.

Religião, Educação e mesmo Razão e Ciência
são Formas de Trabalho e Domínio da Subjetividade.

Mas creio que nunca tivemos na História Humana
um Sistema Sócio-Político e Econômico que tivesse
na Produção de Subjetividade o Vértice de seu Funcionamento.

E não me refiro apenas ao Âmbito Limitado da Publicidade
e suas Técnicas de Marketing e nem apenas ao Espetáculo
que tende a dominar a Linguagem Midiática.

Falo de toda uma Máquina de Comunicação e Sentidos
que ocupam todo nosso Espaço Imaginário, Racional e Afetivo.

Impossível imaginarmos hoje uma História Pessoal de Romance
sem os Signos de Hollywood por exemplo.

Como consequência evidente deste Processo, o Papel do Consumidor
vai substituindo o do Cidadão e os Exércitos de Reserva de Mão de Obra
vão saindo da Reserva para a Cruel Exclusão da Vida.

O Sistema passa a ter, pelo Poder da Exclusão,
o Exercício Máximo do que Schimitt entendia como Soberania.

A Capacidade de transformar o Direito em Exceção,
dando ao Poder o Condão de Disposição da Vida do Destinatário.

Vivemos hoje um Mundo Recheado de Estados Democráticos,
mas submetidos a uma Governança Global Imperial que se realiza em Rede,
sem contar, portanto, com o Lugar que a Disciplina outorga ao Poder,
o que possibilitaria identificá-lo e limitá-lo.

E assim vamos às Compras, sem esquecer de Comprar Brinquedos e Roupas
para nossos Entes Queridos e mesmo para Crianças Desamparadas e Pessoas Desfavorecidas.

Não nos perguntamos a que Custo Vital se produzem estes Bens
tão Baratos em Alguma Parte do Globo,
seja pela quase Escravidão dos Trabalhadores que os produzem,
seja pela Exclusão Necessária da Vida de Amplos Contingentes Humanos
que o Sistema hoje exige para operar.

Mais que Autonomia de Vontade, ser Livre no Mundo Contemporâneo é ser Espontâneo,
e no Exercício desta Espontaneidade entender que estamos todos inseridos
num Contexto Sistêmico em que o Custo de nossa Inclusão e Sobrevivência
é Compartilhar e Fazer Parte de um Processo Produtivo essencialmente Antiético,
em que nem sequer o Lugar Nobre da Inocência nos é possível ocupar.

(http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pedro-estevam-serrano-o-natal-e-o-capital.html)
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    Mauro Assis

    Claro, meu caro Franco!

    E a razão para essa “fetichização” é muito simples: o capitalismo já provê, pelo menos para a parte mais civilizada e democrática do mundo, os requisitos básicos de sobrevivência e ainda algum conforto.

    Me lembro de meu pai, comunista, olhando vitrines e dizendo: “quantas coisas das quais não preciso”. O capital agora tem que nos convencer a precisar desesperadamente do que não precisávamos… até ontem.

    Mauro Assis

    Quanto à Inocência… essa já era, bicho, não há mais lugar prá ela no mundo. E como é prima-irmã da ignorância, já vai é tarde.

Bacellar

Crendeuspai!

Fernando Lopes

Sinceramente não consigo ver como avanço e melhoria toda essa parafernália de controle individual que se propõe. Acho que os benefícios, se é que existem, são tão ínfimos para as pessoas comuns que não justificaria a enorme porta para espionagem, controle pessoal e manipulação pelas grandes corporações da vida do cidadão! Será que é mesmo desejável obter pela internet uma vigilância constante sobre membros da sua família? Não seria melhor uma educação e relacionamento sincero e aberto entre a família em que se desenvolvesse a confiança mútua e o respeito? E todo este controle externo sobre os objetos? Me faz lembrar 2001 odisseia no espaço em que um avançado robô toma o controle da nave para destruir seus “algozes humanos”. É para mim muito triste além disso que a ciência perca seu tempo e capacidade inventando parafernálias inúteis de controle social ao invés de se dedicar a resolver os grandes problemas da humanidade que continuam os mesmos de séculos atrás: a fome, a desigualdade social, a falta de educação de qualidade e a liberdade responsável dos cidadãos. Esses cientistas podem parecer grandes inovadores dentro de seus círculos ricos em países desenvolvidos mas para a grande maioria dos humanos comuns parecem simples inventores de brinquedinhos ridículos e inúteis!

    Fernando Lopes

    E sem falar que no fim das contas isso tudo se resume em uma só coisa: grandes lucros para os mesmos que promovem a fome, as guerras, e a alienação total dos seres humanos. Para quê devemos dar mais dinheiro a esses que só prejudicam a natureza e a humanidade ???

    Mauro Assis

    Fernando,

    Mas será assim mesmo?
    Vejamos: no Brasil, há 200 anos a expectativa de vida era de menos de 35 anos. A mulher vivia menos, uns 28, e chegava-se a essa idade sem um dente na boca, com todas as doenças de pele que vc possa imaginar.

    Se ela vivesse no Rio de Janeiro, por exemplo, podia ser atingida por um balde de m… lançado pelo vizinho de cima ao sair de casa. Esse era o sistema de esgoto.

    Quando ela fosse parir, seria colocado um pano preto em sua porta na hora do parto, indicando uma espécie de luto antecipado, porque o que acontecia mais vezes era a morte da mãe, do filho ou de ambos.

    E estou falando de gente livre. Os escravos então…

    E isso no mundo civilizado todo, bicho. A coisa vem melhorando e assim vai ser. Ainda que de vez em quando a gente dê um ou dois passos atrás…

    Fala verdade, melhorou ou não?

    Se vc acha que fui muito longe, pense a 30 anos atrás se o Nordeste estivesse vivendo 3 anos de seca como agora, metade da população de lá tava comendo calango e a outra metade estaria se mudando prá SP.

    Agora, de fome ninguém morre.

    Philipe

    Brilhante seu comentário! Lembra-me um texto que li no site papodehomem.com.br que fala sobre isso e o autor usa um termo interessante, crescementismo.

J. Alberto

Ao meu ver a maioria das pessoas já se sente disposta a trocar privacidade por comodidade, produtividade, praticidade etc. O que é um erro, pois teremos em breve um terreno fértil para a opressão das massas através da tecnologia. A NSA é um embrião disso.

Mas tudo isso vai demorar bastante pra se popularizar. Um exemplo prático: a Lei de Moore identificou a velocidade com que o poder de processamento dos computadores aumentaria ao longo das décadas, de forma constante. Esta lei está chegando ao fim segundo empresas do ramo, e se percebermos bem, o quão mais potente é um PC de 2014 comparado com um PC de 2009? Muito pouco se compararmos 2004 com 1999 ou 1994 com 1989. Vá a uma loja e compare. As principais diferenças estão nos acessórios extras.

Eletrodomésticos conectados à internet ainda vão demorar muito, mas muito tempo mesmo pra serem maioria nas casas. (se dependerem das nossas conexões brasileiras então, xi…)

Até lá a sociedade vai experimentar melhor esta queda gradual da privacidade e responder com suas demandas, minimizando o processo.

Mauro Assis

Se “empregos vão desaparecer”, como “muito dinheiro será ganho pelas empresas”?

    João-PR

    A margem de lucro aumenta, simples assim.
    Mas, há uma contradição nisso tudo: se empregos desaparecerem em escala muito grande não haverá consumidores para esses produtos, pois os desempregados não tem dinheiro.

    Mauro Assis

    Pois é, João, os donos do capital não tem interesse nenhum no desemprego (empobrecimento) da população. Sob qualquer ponto de vista, a vida melhorou muito em escala planetária depois da Revolução Industrial.

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