Toni Reis: Deboche, palhaçada e jogo de interesses

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Toni Reis: Discussão sobre o atendimento médico no interior do país deve envolver toda a sociedade e não se restringir a médicos e governo, defende colunista. “A pessoa doente quer médico, seja paulistano, marciano ou cubano”

 Toni Reis: “Com essa eleição, a Câmara dos Deputados rasgou a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Fotos: Agência Brasil

por Toni Reis, via e-mail

Testemunhei pessoalmente o troca-troca na Câmara dos Deputados na semana passada (6 e 7 de março) para eleger o presidente e indicar integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, criada há 18 anos para institucionalizar a luta pela igualdade e contra a discriminação.

Foi escandaloso, vergonhoso e inaceitável. Vi com meus próprios olhos a manipulação e o jogo de interesses. Vi o machismo e autoritarismo desrespeitosos do líder do PSC para com a deputada Antônia Lúcia (PSC/AC). Tive a infelicidade de ouvir Jair Bolsanaro (PP/RJ) falar que foi o melhor presente de aniversário e natal que já teve de todos os tempos.

Oito deputados do mesmo partido numa só Comissão não é coincidência, é trampa, e a maioria é ligada ao fundamentalismo religioso evangélico. Ao total, agora 13 dos 18 titulares da Comissão são pastores. Estuprar a proporcionalidade da representação partidária na Comissão está equivocado e fere o Regimento Interno da Câmara: as Comissões devem ser plurais.

Com essa eleição, a Câmara dos Deputados rasgou a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tornou-se, mais uma vez, uma vergonha para o Brasil e para o mundo. O Parlamento Brasileiro retornou à idade das trevas. É preciso que os (as) parlamentares relembrem e ajam de acordo com o princípio (e a lei) de que o Brasil é um Estado Laico. Com a ascendência do fundamentalismo religioso no Congresso Nacional, assiste-se a um espetáculo que relembra o surgimento da tomada do poder pelos nazistas na Alemanha dos anos 1930.

O episódio foi especialmente vergonhoso pela conivência do PMDB, PSDB, PR, PTB e PP em cederem vagas na Comissão para o PSC, além da incabível indicação de Jair Bolsonaro (PP/RJ) para integrá-la, bem como o PSB, o PSD e o PV indicando pastores em detrimento de pessoas historicamente atuantes no campo dos direitos humanos.

As origens de alguns desses partidos simbolizam a luta pela democracia e o rechaço ao autoritarismo no Brasil da Abertura. Quem diria?! Das 20 Comissões Permanentes da Câmara dos Deputados, a de Direitos Humanos foi a penúltima a ser escolhida, mostrando uma falta de prioridade generalizada.

Não é de se surpreender a estimativa de que uma pessoa é assassinada a cada 10 minutos no Brasil (Instituto Sangari, 2011) e que em 2011, segundo o UNODC, o país estava em primeiro lugar no ranking do mundo neste quesito. O exemplo vem de cima, o Congresso Nacional não está preocupado com os direitos humanos e as consequências que este descaso traz.

Decepcionou também a falta de prioridade dada pelo PT e pelo PCdoB. Uma pergunta que ficou no ar é por que o PT priorizou a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional em detrimento da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?

Repetiu-se mais uma vez a imperdoável negociação dos direitos humanos em troca de interesses políticos e do projeto de manutenção do poder, o que – no caso da população LGBT, negra, mulheres, indígenas – tem se tornado corriqueiro na atual legislatura. Estamos cansados (as) de ser moeda de troca.

É uma aberração eleger para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias uma pessoa que é objeto de inquérito no Supremo Tribunal Federal, acusada de estelionato, racismo e homofobia.

Não faltam exemplos nas redes sociais comprovando algumas dessas alegações contra o Pastor Marco Feliciano (PSC/SP), eleito presidente da Comissão em 07 de março:

* Em 30 de março de 2011, afirmou em sua página no Twitter, que os africanos são descendentes de um “ancestral amaldiçoado por Noé” e que “sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome…”;

No seguinte link consta vídeo no qual afirmou que “a Aids é uma doença gay”; que existe um ativismo gay promovido por satanás que está “infiltrado” no governo brasileiro; que “enquanto crentes não saem para evangelizar… satanás levantou o seu ativismo [das pessoas LGBT] neste país. Ação de satanás contra a família brasileira”; que o problema é o ativismo gay, o problema são pessoas que têm na sua cabeça o engendramento de satanás”; “são homens e mulheres que usam dos mesmos mecanismos que Stanley usou no seu comunismo nazista, usam a mesma linguagem de Hitler… uma mentira contada várias vezes com muita ênfase se torna verdade”.

* Da mesma forma, no caso da censura presidencial ao vídeo da campanha do Ministério da Saúde de combate a DST/AIDS no carnaval de 2012, com personagens gays, o deputado Marco Feliciano não só comemorou a retirada do vídeo da campanha com o casal gay do ar como também creditou à Frente Evangélica o “feito”. Em seu Twitter, o deputado postou o link de uma matéria sobre a censura do material e sentenciou: “Pressão nossa”, numa clara demonstração da interferência religiosa na laicidade do Estado.

* Em outra ocasião afirmou que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição”.

Pastor Marco Feliciano, que diz não ser homofóbico, também é autor das seguintes proposições, entre outras, que visam a negar a igualdade de direitos à população LGBT:

*Projeto de Decreto Legislativo 637/2012 – Ementa: Susta a aplicação da decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, que reconhece como entidade familiar a união entre pessoas do mesmo sexo.

* Projeto de Decreto Legislativo 521 e 495/2011 – Ementa: convoca plebiscito sobre o reconhecimento legal da união homossexual como entidade familiar.

* Também apoia o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011 – Ementa: Susta a aplicação do Parágrafo Único do Artigo 3º e Artigo 4º da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1, de 23 de março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual.

A cruzada anti-LGBT promovida por Feliciano e outros fundamentalistas no Parlamento Brasileiro vai contra a maré internacional, tanto dos países vizinhos como Argentina e Uruguai, quanto a França e a Inglaterra, todos se esforçando para garantir o alcance da plena igualdade de direitos pelas pessoas LGBT.

No nosso continente também o presidente Obama não tem medo de expressar essa convicção publicamente, como fez no discurso da posse em janeiro deste ano:

“Nossa jornada não será completa até que nossos irmãos e irmãs LGBT sejam tratados como qualquer outro perante a lei – pois se somos verdadeiramente criados iguais, então certamente o amor que dedicamos um ao outro deve ser igual também.

” Não queremos privilégios, queremos tão somente direitos iguais, nem menos, nem mais.

Assim com Feliciano, os correligionários eleitos na mesma ocasião na semana passada também atuam na contramão da plenitude e universalidade dos direitos humanos em outras questões também, como as terras indígenas, os direitos sexuais e os direitos reprodutivos das mulheres, as políticas afirmativas de acesso da população negra às universidades, e assim por diante. Com sua nova composição, como bem disse a deputada Luiza Erundina (PSB/SP) “esta Comissão não é mais de direitos humanos”.

Entendemos que o fundamentalismo e a intolerância religiosos manifestados pelo Pastor Marco Feliciano e seus asseclas não são representativos da maioria das pessoas evangélicas e somos defensores intransigentes da liberdade de opinião e crença, desde que não se tornem apologia de preconceitos, discriminação, violência e crimes, como o racismo e a homofobia.

Que a Câmara prime pelo bom senso e que realize uma nova eleição da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, uma vez que a maneira como a eleição foi realizada a portas fechadas no dia 7 de março de 2013 contrariou o artigo 48 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Isto faz lembrar os idos de 1964.

Perdemos uma batalha, mas não perdemos a guerra. Todo apoio à criação da Frente Parlamentar dos Direitos Humanos e nossos agradecimentos pelos esforços expendidos pelos/as seguintes parlamentares, entre outros (as), na tentativa de reverter a desastrosa eleição: Janete Pietá (PT/SP), Domingos Dutra (PT/MA), Jean Wyllys (PSOL/RJ), Érika Kokay (PT/DF), Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), Padre Ton (PT/RO), Nilmário Miranda (PT/MG), Luiza Erundina (PSB/SP), Dr. Rosinha (PT/PR), Janete Capiberibe (PSB/AP), Jandira Feghali (PCdoB/RJ), Luiz Couto (PT/PB), Paulão (PT/AL) e Arnaldo Jordy (PPS/PA).

Que o ministro Marco Aurélio do Supremo Tribunal Federal conclua a análise do inquérito sobre o Pastor Marco Feliciano e que seja realizado o julgamento o mais brevemente possível.

No sábado, 9 de março de 2013, em todo o Brasil milhares pessoas que ficaram revoltadas com a imoralidade da eleição da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados saíram às ruas para protestar e exigir a correção deste erro. Em Curitiba as palavras de ordem incluíam: “Nem podridão, nem maldição, queremos igualdade na nação.” “Pelos direitos humanos, fora Feliciano”.

O paralelo com as manifestações Fora Collor ficou evidente. Agora tem-se o movimento Fora Feliciano. Que continue havendo protestos até que sejam reinstaladas a democracia e a ética na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Que as organizações de classe, sindicatos e todas as pessoas e instituições ligadas à promoção e defesa dos direitos humanos se juntem às manifestações de repúdio ao acontecido e reforcem a mobilização em prol da anulação dessa eleição indigna.

Não aceitamos e não acataremos este estupro coletivo da Comissão de Direitos Humanos. De forma que está, ela está acabada. Não existe mais. Se continuar assim, sugerimos que os partidos aliados dos direitos humanos não indiquem membros para esta Comissão.

A luta tem que continuar:

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.

 

Na segunda noite, já não se escondem;

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

 

Até que um dia,

o mais frágil deles,

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.”

*Toni Reis, doutor em educação e mestre em filosofia. Diretor-executivo do Grupo Dignidade e do Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual. Secretário de educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays

 


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Comentários

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Fátima Oliveira: A teologia da prosperidade não perde balcão de negócios « Viomundo – O que você não vê na mídia

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Retrô

A luta é grande e ao usar a força do ódio o diabo ganha mais poder; ao usar a força do amor o diabo tenta suplantá-lo mas uma coisa que o diabo não suporta é a gozação…
Deboche com deboche se paga e o Jair Bolsonaro é um MONSTRO.
Vamos fazê-lo provar do próprio veneno.

Vamos fazer uma corrente contra o ordinário do Bolsonaro, filhote da ditadura!!!

Arquivo secreto do Bolsonaro no MEGA, abaixo:

Nome do dossiê: queimando-a-rosca.zip (161 KB)

Link para download: https://mega.co.nz/#!aRFmCK4B

senha: f3JWR0WuyjJFVZxwMzDN3n16H9cCxNPTD4JtNAl_yDE

Ronaldo Curitiba

Eu pergunto aos meus botões porque as manifestações contra o deputado não mencionam o seu partido.

Seja lá quem for que coordenou, ou incentivou, as manifestações não entende de comunicação.

Como os incomPTentes também não entendem.

Gerson Carneiro

A parte boa é que a Presidência da CDHM é a corda com a qual o Marco Feliciano vai se enforcar.

    Malu

    Concordo plenamente com você!

    Rodney

    Creio que não…. A corda que esta ameaçando a sociedade e a corda da permissividade, da procrastinação, do risco de implementação da imoralidade, da criação ética da base da sociedade que é a família… Essa é a corda que ameaça de fato, e que Pr Marcos Feliciano, Jair Bolsonaro, Magno Malta e outros de compromisso de fato com a continuidade da vida em sociedade, tentam defender.

O DOUTRINADOR

Tenho um pé atrás, um pé não, uma passeata com pessoas que pregam um moralismo exacerbado. lembram do Demostenes e sua pregação sobre honestidade e ética, todos exarcebados são suspeitos de não terem coragem de assumirem suas opções sexuais.

Edson

A ¨Tomada¨ da CDHM pelos evangélicos pode ter sido planejada?

Algo importante estáa cargo da CDHM: o PNDH-3, que está no congresso nacional.

pontos do PNDH-3 que estão na mira dos religiosos:

1 – Eixo Orientador III – Diretriz 7 – Objetivo Estratégico VI – Letra N: Regulamentação Legal para os profissionais do sexo;

2 – Eixo Orientador IV – Diretriz 9 – Objetivo Estratégico III – Letra G: Transformação do aborto em tema de saúde pública;

3 – Eixo Orientador III – Diretriz 10 – Objetivo Estratégico V – Letra B: Apoio a projeto de lei que disponha sobre a União Civil de pessoas do mesmo sexo;

4 – Eixo Orientador – Diretriz 10 – Objetivo Estratégico VI – Letra D: Promoção do ensino sobre a história e diversidade das religiões em escolas públicas;

5 – Eixo Orientador – Diretriz 10 – Objetivo Estratégico VI – Letra: C: Impedir a ostentação de símbolos religiosos públicos da União;

6 – Resolução 374 PNDH-3, Anexo I: Apoio a programas de assistência e orientação para usuários de drogas, em substituição ao indiciamento em inquérito policial e processo judicial

Estes pontos foram extraídos do artigo de Gilberto Garcia no OI, que defende o Feliciano na CDHM.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed737_cidadania_religiosa_e_o_pndh_3

Julio Silveira

Recomendo ao amigos esquerdistas que não fechem os olhos as falhas do governo nesse processo. Direitos Humanos deixou de ser interessante para o governo, e consequentemente para seu grupo. Só isso explica tanto descaso com o posto tendo chegado ao ponto de permitirem um sujeito retrógrado ocupá-lo. Acho que o choro é mais teatro para ludibriar a torcida, no fim tudo ficará imutavel e podem posar de paladinos. Quem viver verá. E antes que a torcida fique açulada contra, digo que torço para estar errado pelo bem do Brasil.

João-PR

Vi o vídeo indicado na matéria, disponível em http://portugues.christianpost.com/news/marco-feliciano-denuncia-o-ativismo-gay-conexoes-com-hitler-e-a-aids-video-12838/

São mais de doze minutos de vídeo, mas sugiro que vejam, para ver o ovo da serpente sendo gestado.

Não tenho mais palavras, estou boquiaberto com tudo o que vi…temos que tomar cuidados, porque a democracia corre perigo.

FrancoAtirador

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A Secretária-Ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário que se cuide.

Ela anda falando aí que “a internet é alternativa ao monopólio da mídia”.

Qualquer hora dessas, o Jair Bolsonaro a desbanca da titularidade da pasta.
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08/03/2013 – 16:24

Relator da ONU para Liberdade de Expressão critica concentração de mídia no Brasil
Durante seminário sobre infância e comunicação em Brasília, Frank La Rue lamenta concentração e aspecto “excessivamente comercial” das comunicações no Brasil

Por Daniel Santini*, no Repórter Brasil

Brasília – O relator da Organização das Nações Unidas para a Liberdade de Opinião e Expressão, o guatelmateco Frank William La Rue, fez críticas à concentração de imprensa no Brasil e na América Latina, e afirmou que pretende fazer uma visita oficial ao país em breve.

A declaração aconteceu durante o Seminário Internacional Infância e Comunicação, realizado nos dias 6, 7 e 8 de março em Brasília.

O evento reuniu alguns dos principais especialistas em infância, educação e comunicação do país, e contou com a presença do ministro da Justiça José Eduardo Cardoso e da ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos Maria do Rosário.

“A concentração de mídias traz concentração de poder político e isso atenta não só contra o direito à diversidade, mas também contra a democracia”, destacou Frank William La Rue.

“Na América Latina, temos uma visão excessivamente comercial [da comunicação] e isso faz mal para a sociedade. Em outros lugares, a comunicação é prioritariamente pública com diversidade etno-social”, afirmou.

“A mídia comercial é legítima, sem problemas, mas não deve prevalecer de forma absoluta.
O direito à comunicação deve ser de todos”.

Os debates no encontro giraram em torno de responsabilidade social e comunicação. Na abertura o ministro José Eduardo Cardoso falou da importância do equilíbrio entre liberdade de expressão e outros direitos, como os da criança e do adolescente, e levantou a questão que se repetiria em diferentes mesas nos três dias de discussões: até onde o Estado deve ir na regulação das comunicações?

A ministra Maria do Rosário também falou sobre concentração na mídia e criticou a maneira como o sistema esta estruturado no Brasil.

Ela destacou que “comunicação em monopólio não é democracia”
e questionou:

“a quem interessará poder absoluto do mercado?”.

Especialistas em direitos da criança e do adolescente também manifestaram preocupação, criticando desde programas que favorecem a erotização precoce até propagandas voltadas para o público infantil. “Na comunicação, o que prevalece no Brasil é o direito empresarial em detrimento ao direito da criança e do adolescente”, disse Wanderlino Nogueira, do Comitê dos Direitos da Criança da ONU.

Regulação
Citando crimes midiáticos como incitação a genocídios e pedofilia, Frank La Rue, o relator da ONU, defendeu conselhos reguladores compostos por diferentes setores da sociedade.

“Me dói dizer isso, minha função é defender a amplitude [da liberdade de imprensa], mas há casos extremos em que se deve intervir.
São necessários órgãos reguladores independentes”, afirmou.
“A desinformação pode provocar uma epidemia se a liberdade de expressão for mal utilizada.
É claro que são exceções, mas é preciso intervir”.

Ele destacou que tal regulação deve ser prévia e não posterior, e composta de limitações de conteúdo (como a proibição de incitação a crimes de ódio ou de intolerância religiosa, por exemplo) e de restrições diretas (como o impedimento da exibição de conteúdo classificado como inadequado em horários em que crianças assistem à programação).

Ele também se disse surpreso com o fato de a classificação indicativa de programas de TV por parte do governo federal ser contestada por representantes de grandes grupos de mídia e ter virado uma briga jurídica que foi parar no Supremo Tribunal Federal.

“Este é um assunto já resolvido no mundo todo, é algo que já não se questiona no exterior”.

Contexto
Em contraposição ao posicionamento do relator da ONU sobre a necessidade de maior regulação, o secretário nacional de Justiça, Paula Abrão, defendeu o modelo brasileiro, destacando como uma qualidade o fato de que o Estado não intervem em nada no conteúdo exibido e que o sistema de classificação indicativa apenas restringe horários de exibição.
Ele lembrou que o processo de redemocratização é recente e que é preciso considerar este contexto.
“A discussão no âmbito das restrições é difícil em razão do trauma da censura”, disse.

Sobre casos extremos, ele defende que são possíveis intervenções mesmo no modelo atual.
“Modulações podem ser feitas por meio de ações complementares.
O Ministério Público Federal também tem seu papel”, lembrou.

Jornalistas presentes nos debates expressaram diferentes pontos de vista sobre como conciliar liberdade de expressão com os demais direitos humanos.
“Você não pode entrar em um evento pelado.
Na mídia é o mesmo.
Temos que considerar regras sociais e agir com responsabilidade”,
defendeu o jornalista australiano Mike McCluster, que já foi CEO da Rádio Austrália.

Eugenio Bucci, colunista da revista Época [Globo], lembrou que “qualquer regulação para modular e dirigir é inaceitável”.

Já Ricardo Corredor, jornalista colombiano diretor-executivo da Fundação Nuevo Periodismo, lembra que o momento é de “forte transformação da indústria” em que existe forte demanda por mais transparência e por diálogo com a sociedade.

“Meios de comunicação que querem transparência dos poderes públicos devem ser transparentes”, ressaltou.

A concentração e nova configuração da mídia em nível mundial também foi debatida. Divina Frau-Meigs, assessora do Conselho da Europa e da Unesco e professora da Universidade da Sorbonne Nouvelle, da França, apresentou o conceito de Hollyweb, em que seis das maiores companhias de mídia (GE, Disney, Time Warner, News Corp, Viacom e CBS) se aproximam das seis gigantes da internet (Apple, Microsoft, Cisco, Google, Yahoo e Facebook).

No Brasil, além da crescente participação de empresas de telefonia no setor de comunicação, também foram debatidas a ligação de políticos com canais de TV e rádios, muitos deles beneficiados com concessões públicas.

Dados sobre a concentração de mídia, que preocupa o relator da ONU, foram reunidos no relatório “O país dos 30 Berlusconis” (clique para ler versão em PDF: http://es.rsf.org/IMG/pdf/relato_rio_brasil.pdf), lançado recentemente pela organização Repórteres Sem Fronteira.

O estudo foi citado no evento por Luiz Gustavo Pacete, representante da organização.

*O jornalista viajou a convite da organização do evento.


Alexandre Schun, coordenador de Relações Comunitárias da Petrobrás;
Mauro Porto, oficial de Programas para Direitos e Acesso à Mídia da Fundação Ford;
Frank William La Rue, relator das Nações Unidas para Liberdade de Opinião e Expressão;
José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça;
Maria do Rosário, ministra da Justiça.
Aurélio Virgílio Veiga Rios, procurador da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão;
Maria Izabel da Silva, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente;
Gary Stahl, representante do Unicef no Brasil; e
Wanderlino Nogueira, membro do Comitê dos Direitos da Criança da ONU.


Evento reuniu educadores, comunicadores, juristas e militantes de defesa dos direitos da criança e do adolescente do Brasil e do exterior

Celso Carvalho

O governo, alegando governabilidade, está capitulando. Foi cooptado em ações periféricas pelo que há de mais atrasado na sociedade brasileira. Quem sobrará para o embate que se aproxima. O desgaste é muito grande em muitas frentes, a começar pela mídia, passando pelas questões sociais que garantem a liberdade das minorias,pela reforma agrária, pelas ações fiscais em benefício dos tubarões e, sobretudo, pela extrema violência que permeia a vida da nação.
Não há ação do governo e da base aliada que sustente a opção pela Paz.
Não a paz dos cemitérios, mas aquela em que se dicuta o contraditóriao e pelas ações governamentais que exigem sobriedade e lucidez.O parlamento não ajuda,o mesmo acontece com o judicário e o ministério público.
Não gostaria de citar o barão Julio de Mesquita que deve ter escrito aquele editorial a quatro mãos com o “corvo”, e por eles não tenho nenhuma simpatia ou sintonia: mas as instituições que cuidam do povo brasileiro no seu cotidiano estão em frangalhos.

    Berenice

    Para mim, este texto/colaboração esclareceu mais sobre como a presidência da Comissão foi instituída (além de saber sobre a constituição da Comissão inteira). Obrigada por elevar o nível das informações. Esclarece também o papel do governo nesse episódio que tá sendo excelentíssimamente bem explorada pela oposição e o fogo “amigo”. Manipuladores e manipulados unidos…

    “O episódio foi especialmente vergonhoso pela conivência do PMDB, PSDB, PR, PTB e PP em cederem vagas na Comissão para o PSC, além da incabível indicação de Jair Bolsonaro (PP/RJ) para integrá-la, bem como o PSB, o PSD e o PV indicando pastores em detrimento de pessoas historicamente atuantes no campo dos direitos humanos.”

assalariado.

Será que esse deputado é o diabo na casa de Jesus Cristo? Sim, se for levado ao pé da letra ‘direitos humanos’, não tenho dúvidas, Jesus Cristo deve estar se contorcendo de tantas ‘boas’ intenções desse falso profeta, sua desonestidade ‘intelectual’ bíblica e sua hipocrisia religiosa, em contraste com o cristianismo de Cristo. Maria Madalena que o diga. É bom que se diga, para esse fariseu, que o que leva a apodridão dos sentimentos é o falso moralismo da carne e da mente humana, e os valores agregados das religiões, adoradoras do deus dinheiro.

Santi

Se já não bastasse o PIG desimformando, vem agora estes parazitas da bôa fé humana trazer preconceitos, ódio e muita hipocrisia num assunto tão importante como este. O veremos daqui prá frente sera um show de intolerância e ignorância e como eles gostam tanto de dizer o “Capeta” vai estar solto.

A Lesma Lerda

cada vez entendo menos a esquerda…Falar mal de politico não é tabu???
não é jogo da direita pra desqualificar a politica e por tabela a democracia?? não é mais o primeiro passo para o totalitarismo fascista…ahhh..o tal do fascismo…se proibissem tal palavra a esquerda emudecia para sempre…não sabem falar outra coisa, embora geralmente nao tenham a menor ideia do que estão dizendo…

    Moacir Moreira

    Esse movimento é claramente organizado pela classe média e portanto é essencialmente fascista, mesmo porque para ser nazista basta ser ignorante e apolítico.

    A Lesma Lerda

    Nazista é ignorante a politico; como a nata da aristocracia germânica era
    “ignorante a apolitica”…como eu ia dizendo “não sabem falar outra coisa, embora geralmente nao tenham a menor ideia do que estão dizendo”…
    I rest my case…

Urbano

Há vermes que se dão ao direito de duas tribunas para propagar as suas escatologias.

Fabio Passos

Fora feliciano!
O Brasil precisa se livrar da intolerancia e obscurantismo… e este marco feliciano e um mergulho em fossa abissal de ignorancia e atraso.

Deus do ceu.
Como a camara dos deputados aceita passar por um ridiculo tao grande?

    A Lesma Lerda

    Vc pensa que o Brasil profundo é diferente do Marco Feliciano???
    então vc precisa deixar o país onde vive – obviamente mora no exterior – e voltar logo..(enquanto isso dá uma passada dolhos nesse site muito representativo do que estou falando, assim como milhares iguais a estes)depois me conta…http://www.vermelhinhodabahia.com/

    Fabio Passos

    Nao tenho duvida que o atraso, a ignorancia e a intolerancia ganha espaco devido ao silencio e omissao de quem nao reage.

    Rodney

    Se esclareça melhor, caro Fabio.
    O que ele defende esta relacionado com o bem estar de todos. Esta em questão não apenas a banalização dos interesses comuns, mas a liberalidade desacerbada de interesses particulares e de minorias de aprovações até entre as pessoas que se enquadram nesses grupos. Pensemos nos filhos e netos, os que herdarão esses frutos para expô-los num futuro próximo.

renato

Esta demonstrado o real valor que a casa Legislativa dá a esta
Comissão, dá aos direitos humanos.
Esta demonstrado, alguém quer saber algo mais.

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