Paulo Teixeira: “O que vocês fazem é política na veia!”

Tempo de leitura: 4 min

Foto: Ninja/EBC

Carta aos jovens

por Paulo Teixeira

Os avanços do Brasil foram construídos pelas diversas juventudes que tomaram as ruas em momentos fundamentais da nossa história. Vocês agora estão escrevendo mais um capítulo dessa narrativa.

Quero parabenizá-los pelas vitórias. Vocês conquistaram não apenas a redução das tarifas de transporte público em várias cidades. Vocês reconquistaram as praças, ruas, avenidas e sonhos.

Vocês nos ensinaram muito. A principal lição é a de que nós – os partidos políticos, sobretudo de esquerda – não podemos nos acomodar ao que já foi feito. Avançamos muito nos últimos dez anos, com os governos Lula e Dilma. Vencemos a fome, reduzimos desigualdades sociais e regionais históricas. Distribuímos renda, crescemos com inclusão social. Geramos 20 milhões de empregos com carteira assinada, conquistamos uma das menores taxas de desemprego do mundo. Democratizamos o acesso ao ensino técnico e à universidade.

Hoje, os filhos de trabalhadores humildes, antes condenados ao destino de seus pais e avós, estão chegando à universidade por meio da expansão da rede pública de ensino superior, das bolsas do ProUni, das cotas sociais e raciais.

Muitos jovens como vocês, outrora excluídos da cidadania, conquistaram o direito de estar nas ruas, exigindo mudanças mais profundas. Não tenho dúvidas de que vocês – porque forjados na luta – saberão encarar o mundo de maneira solidária, humanista, com outros valores que não o vale-tudo, esse cada-um-por-si que a unidade do movimento da juventude acaba de derrotar nas ruas.

Mas vocês sabem que o Brasil não está pronto, que ainda está longe de ser o país que sonhamos. Precisamos avançar ainda mais, aprofundar as mudanças, intensificar o combate às desigualdades, implantar a segunda geração dessa verdadeira revolução democrática iniciada em 2003.

É preciso gerar mais e melhores empregos, aumentar os investimentos em educação, melhorar a qualidade da saúde pública, investir em transportes públicos de qualidade, acelerar as reformas agrária e urbana. Criar um imposto sobre as grandes fortunas.  Jamais perder de vista que os movimentos que iniciaram as atuais manifestações nasceram da luta contra a mercantilização dos serviços públicos. A boa notícia é que a Câmara dos Deputados, fruto das mobilizações populares, aprovou a destinação de 25% dos recursos dos royalties de petróleo para a saúde e 75% para a educação.

O Brasil requer um novo ciclo de lutas democráticas. E este ciclo de lutas não pode prescindir das centrais sindicais, das entidades estudantis, dos coletivos políticos e culturais da periferia, dos movimentos dos oprimidos e das minorias, dos que sonham e trabalham por um país cada vez mais justo.

Dilma soube entender e dar à voz das ruas respostas rápidas e precisas. Propôs cinco pactos nacionais: por responsabilidade fiscal, saúde, transporte, educação e um plebiscito pela reforma política. Essa é uma decisão histórica porque tem o poder de devolver ao povo o que é do povo. É um passo decisivo para, como enfatizou a presidenta, construirmos uma sociedade em que o cidadão, e não o poder econômico, esteja em primeiro lugar.

Mais uma vez, será necessário que as vozes das ruas gritem, agora na defesa de um plebiscito que escute o povo e nos ajude a fazer as perguntas necessárias para alcançarmos mais democracia participativa e direta, na construção da reforma política.

A reforma política é uma das muitas lutas que nos unem. É preciso garantir que novos atores sejam incorporados à cena democrática, em substituição ao poder econômico que impede a participação do cidadão comum. A captura das instâncias políticas pelos grandes financiadores de campanhas eleitorais é o que leva à atual composição conservadora do Parlamento.

Os setores conservadores querem que a luta de vocês seja contra os partidos políticos. Eles sonham com uma grande mobilização apolítica, quando o que vocês fazem é exatamente o contrário – é política na veia!

Não precisamos de menos política. O que precisamos é de que cada vez mais jovens façam política: por meio dos partidos – que devem ser oxigenados para estabelecer diálogo permanente com as ruas -, das entidades estudantis, dos movimentos sociais, como o do passe livre, ou de forma independente, ocupando as ruas, como vocês têm feito.

Pessoas novas, com ideias novas, dispostas a mudar as velhas regras do jogo. Que compreendam a democracia como a real expressão da soberania popular, hoje ameaçada pela crescente mercantilização das eleições.

Sabemos que a atuação política se dá cada vez mais por meio das redes sociais. O cidadão está online, exigindo transparência, querendo debater, apresentar propostas e fiscalizar a execução de políticas públicas de seu interesse.

Além da mudança na legislação eleitoral, temos, portanto, que ampliar os mecanismos de democracia participativa, criar as ferramentas digitais que possibilitem o pleno exercício dessa nova cidadania.

É preciso também questionar o papel da mídia tradicional, como as ruas estão fazendo. De anos e anos de manipulação midiática nasceu todo esse caldo cultural de ódio aos partidos e aos movimentos sociais organizados, de criminalização generalizada da política.

Daí nasceu também a tentativa de fazer crer que o Brasil está dominado pela corrupção, quando acontece exatamente o contrário: uma luta sem tréguas, tanto do governo quanto da sociedade, pelo aperfeiçoamento dos mecanismos de combate ao mau uso dos recursos públicos.

Tais atitudes demonstram a urgência tanto da democratização dos meios de comunicação quanto da popularização do acesso à banda larga, para que os mais diversos setores da sociedade possam se expressar livremente, derrotando a tentativa de imposição do pensamento único.

Nas recentes manifestações, a classe média sentiu na pele a repressão que aterroriza diariamente a juventude pobre e negra das periferias. O gás lacrimogêneo, o spray de pimenta e as balas de borracha demonstram o despreparo e a truculência da Polícia Militar de São Paulo, que reviveu os tempos da ditadura, agredindo e ferindo indistintamente manifestantes, jornalistas e quem passasse por perto.

Querem vender a ideia de que a juventude que foi às ruas é nossa inimiga, quando na verdade vocês são nossos aliados, porque apontam nossos erros, corrigem nossos desvios de rota, não nos deixam jamais esquecer as razões pelas quais lutamos.

Em todos esses momentos, batalhamos para implementar os ideais de justiça e igualdade que impulsionam as lutas da esquerda ao longo do tempo. Não poderíamos, portanto, ficar alheios à importância de vocês, que são parte de uma construção histórica comum.

Suas bandeiras são as nossas, nosso palco são as ruas. Nossas armas, a utopia e o desejo de mudança dos que nunca fogem à luta.

Paulo Teixeira é deputado Federal (PT-SP).

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Comentários

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ivone estrela dias

Seja muito bem vindo Paulo.
Parabéns pelo artigo.
Vem pra rua Companheiro.

Larissa Cordeiro

Realmente o que foi dito no teto assim é muito digno de tudo aquilo que esta acontecendo no nosso país,a democracia acima de tudo nas diversas redes sociais crescendo gradativamente e se espalhando muito facilmente as diversas manifestações e os diálogos entre estudantes principalmente.É preciso que o governo atual se protestem em prol das diversas manifestações que estão acontecendo, assim o Brasil crescerá ainda mais, sediando a copa e as olimpíadas.

Leo V

Então que o PT comece por defender a Federação Anarquista Gaúcha, que teve sua sede invadida pela polícia, sem mandado judicial, e teve livros apreendidos como ‘prova de crime’.
No RS o governo é do PT. Então para a carta não soar hipócrita, melhor o PT rever seus métodos nos RS, porque perseguição política descarada não combina em nada com o tom dessa carta.

    Julio Silveira

    Cuidado Leo V, tem alguns boçais militantes que podem te chamar de oportunista por uma critica desse tipo.
    De qualquer forma louvo esses discursos, dentre muitos, muito bem articulados e inteligentes, vindos de mais um nobre deputado petista. E, mais uma vez, reitero, articule com seus correligionários de igual cultura ideológica, formas de sair do discurso para a pratica, articule, se inquiete, não se acostume com os costumes, os hábitos, os maus hábitos, afinal é isso que esperamos de nossa representação, ações. Que se traduzam em revolução de costumes em prol da cidadania, sem esperar pela incitação do povo para fazer seu trabalho. Podemos dizer que o povo que não tem a cultura da politica intui o certo e o errado politicamente. O profissional tem obrigação de saber. Revolucione, afinal a faca e o queijo estão em vossas mãos. Seja povo, sabendo e fazendo o que o povo quer, não acreditando que fazendo o que querem estarão atendendo o povo.

J Souza

O povo brasileiro está sendo MANIPULADO mais uma vez! O problema não é só a corrupção. A origem desta são os CORRUPTORES!

Os serviços públicos estão ruins, ou caros, ou ambos porque foram PRIVATIZADOS!

A origem da inflação é a INDEXAÇÃO dos preços dos serviços públicos PRIVATIZADOS!

Transportes, energia, água, telefonia, internet, escolas e planos de saúde, tudo PRIVATIZADO! E quase tudo com aumento anual sempre acima da inflação, principalmente escolas e planos de saúde!

    Mário SF Alves

    Pois é, Jair. A propósito, estive ontem numa agência da CEF. Comprovei que as garras do abutre privatizante ainda se fazem presentes ali ainda hoje. Tem funcionário e gerente que apenas sorri pra “cliente” despachante imobiliário.
    _____________________________
    Resquícios, certamente, do condicionamento imposto pela maldita, tendenciosa, caolha e alienígena cartilha do radicalismo neoliberal. Ah! Esqueci. Esqueci que tudo se resume ao deus mercado. E que tudo é merca-doria.

    Mário SF Alves

    Corrigindo: … que apenas “sorriem”…

    Tiago

    Tem toda razão, apenas um “coxinha” ou pior ainda, um “de direita”, poderia ser contra a corrupção e a Copa.

    Afinal, a corrupção não existe no Brasil e a Copa só está trazendo maravilhas ao povo e ao país.

    Parabéns!

    Mário SF Alves

    E se é que de fato uma imagem vale por mil palavras, essa aí certamente valeria por umas dez mil. No mínimo.

Pedro Ismael

Muito bem deputado. Precisamos recuperar o tempo perdido que a maioria da direção do PT jogou nos conchavos e alianças com setores retrógrados e conservadores. Não será uma tarefa fácil devolver a amplos setores a desilusão com estas práticas do PT, mas acredito que mantendo a firmeza em defender a participação popular e não vacilando em mostrar que o grande inimigo do povo está no domínio do capital financeiro sobre TODAS as instituições,poderemos resgatar o PT de lutas e transformações, que está refém da política tradicional. Está chegando a hora de uma grande faxina tanto no PT, como no governo Dilma. Paulo Teixeira Presidente PT Nacional, Mensagem ao Partido para o Diretório nacional.

Marcos

Luiz Felipe Viana, quem fumou muita maconha foi você. Quanta besteira.
Não se aproveita nada.

Paulo Roberto Kativa de Carvalho

Valeu, Paulo Teixeira. É muito bom ver esta leitura e posicionamento claro diante do atual momento. Precisamos fortalecer as manifestações. As lideranças, como você, precisam vir à público.

Pedro

Nunca vi tanto equívoco na minha vida.

J Souza

Aprendemos que as urnas não refletem as ruas…
E que só indo às ruas podemos mudar o destino imposto pelas urnas.

roberto gimenes

É isso mesmo Paulo Teixeira ! unir as memórias das lutas de ontem com as de hoje . o novo sempre vem .

marco

Deputado.Quero lhe expressar meus respeitos e dizer-lhe que concordo com o excelente artigo.Contudo quero lhe dizer,que nos,no meu caso já passado dos 60,temos um problema ao lidarmos com as contradições entre o velho e o novo.Nós velhos,temos somente boca e os jovens não tem ouvidos.

    Mário SF Alves

    E olha que para os dois e para o resto da população eternamente excluída desse País, a coisa ainda pode ser bem pior, se, além de tudo isso, lhes faltasse, também, a mãe de todas as educações, a educação política. A Democracia Grega era fundada exatamente nisso. Ou não?

    MRE

    Belo texto, mas como de costume só sabe enaltecer o ego da garotada. E o direito com os que não foram à rua? E aqueles que tiveram seus patrimônios destruídos? E o sinal de trânsito destruído que na hora seguinte pode causar um acidente e ferir/ matar um estudante ou um ser humano pacífico que não concorda com estas manifestações?

    Há que se ter responsabilidades. Dizer, como até a presidenta já disse, que a manifestação deve ser pacífica é falácia, No meio de qualquer família, o que se dirá em grupo, existem os “fora da curva” que vão ser os representantes do lado baderna e maldoso existente no ser humano – portanto, em vez de enaltecer estes “sem responsabilidades”, vocês políticos ( do PT ou outro qualquer) deveriam cobrar os valores da reparações que deverão ser realizadas dos líderes dos movimentos.

    Ao enaltecê-los, vocês estão dando aval para a representação das vontades serem objetos da turba da hora ( do twitter e facebook) e não mais dos partidos políticos. Imagine num dia de votação de presidente da república, as crianças decidirem quebrar duas ou três zonas eleitorais de uma capital importante e a polícia não estar preparada para conter este ato; ou que nas manifestações morra um estudante? Aí, a Globo vai chamar a 5a Frota, como já vimos !

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