Lindbergh Farias: Ajuste de Levy fracassa. É hora de mudar o receituário e retirar as isenções que FHC deu aos ricos

Tempo de leitura: 6 min

Levy e Lindberg

S&P, Levy e os desafios da política econômica

Por Lindbergh Farias*

Na quarta-feira (9), a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil de BBB- para BB+.

Para a S&P, o Brasil deixou de ter o grau de investimento, passando a ter uma nota que corresponde ao nível especulativo. Contudo, é óbvio que o governo não deixará de honrar seus compromissos com os credores. A S&P é a agência que avaliou com Triplo A, grau máximo de segurança, os títulos subprime que provocaram a grande crise financeira americana de 2008. Não podemos nos esquecer ainda que essa mesma agência atribuiu classificação máxima ao Lehman Brothers no mesmo mês em que o banco americano quebrou. Pois bem, qual nota essas agências merecem? Paul Krugman, em 2011, ao comentar a decisão da S&P de rebaixar a nota dos EUA, disse: “essa agência é a pior instituição a qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país”.

O maior paradoxo é, no entanto, que o ministro Joaquim Levy foi nomeado justamente para evitar que o Brasil perdesse seu grau de investimento. O ministro da Fazenda dizia que o Brasil tinha que fazer um ajuste fiscal rigoroso para melhorar a situação das contas públicas, porque, em 2014, havíamos fechado o ano com déficit nominal de 6,7% do PIB.

No Senado, eu votei contra o ajuste com o argumento de que em vários países onde foram adotados planos de austeridade semelhantes o resultado foi o de piorar a situação fiscal e agravar os problemas sociais. Esses ajustes colocam a economia em recessão, diminuem a arrecadação e fazem a dívida pública aumentar. É o que está acontecendo no Brasil. Nós estamos em recessão! A arrecadação caiu 3% e nosso déficit nominal, que tinha sido de 6,7% do PIB em 2014, alcançou 8,8% no acumulado dos últimos 12 meses.

Esse déficit é fruto da desaceleração da economia, mas principalmente de uma política monetária esquizofrênica, que coloca o Brasil como campeão mundial de taxa de juros. Essa política tem um enorme impacto fiscal. Cada 1% de aumento da taxa Selic provoca um custo fiscal de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões a mais. Só com o aumento da taxa de juros e com o custo das operações de swaps cambiais, o governo federal desembolsou R$ 288,6 bilhões de janeiro a julho desse ano. Para efeito de comparação, de janeiro a julho do ano passado, o Brasil tinha pagado R$ 148 bilhões, ou seja, houve um crescimento de 95%. Em 2014, os gastos do governo com juros foram de R$ 311,5 bilhões, o que corresponde a 5,64% do PIB. E agora, no acumulado dos últimos 12 meses, até julho, essa despesa chegou a 7,92% do PIB, o equivalente a R$ 452 bilhões.

Por outro lado, o governo cortou este ano R$ 19 bilhões em investimentos, que caíram de R$ 85 bilhões para R$ 66 bilhões. Aprovou ainda duas medidas provisórias que mexeram no seguro desemprego e no abono salarial para economizar outros R$ 18 bilhões. Isso significa uma economia da ordem de R$ 35 bilhões.

Não tem como dar certo. O governo corta investimentos e direitos, mas gasta muito mais com aumento de juros e swaps cambiais.

Agora entramos em um momento da conjuntura em que o centro do debate politico é sobre como resolver o problema do déficit do orçamento de 2016.

Nós estamos entre aqueles que defendem que o centro da estratégia deve ser a retomada do crescimento econômico, com a diminuição da taxa Selic, para fechar o ralo da perda de recursos. Assim, será possível ampliar os investimentos e gerar emprego e renda, o que aumentará a arrecadação e preservará os direitos sociais e o orçamento, tirando a economia desse círculo vicioso que aprofunda a recessão. Do outro lado estão aqueles que equivocadamente advogam que é necessário aprofundar os cortes, com a retirada de mais direitos trabalhistas e previdenciários, com a redução de recursos do orçamento (o que compromete os investimentos em educação, saúde e programas sociais) e com a diminuição dos investimentos públicos.

Acredito que o aprofundamento da política de austeridade agravará a recessão, ampliará a crise social, com o crescimento do desemprego e queda da renda, e alimentará a crise política. Foi assim em todos os países que aplicaram esse receituário desastroso. É assim no Brasil, com a política econômica do ministro Joaquim Levy.

Aumentar a arrecadação fazendo justiça social

Dados das declarações do imposto de renda divulgados recentemente pela Receita Federal, com base nos números de 2013, apontam que 71 mil brasileiros super-ricos (com renda mensal superior a 160 salários mínimos e que correspondem a 0,3% dos declarantes de Imposto de Renda Pessoa Física) ganharam R$ 196 bilhões sem pagar nenhum centavo de imposto de renda, porque receberam esse valor por meio da distribuição de lucros e dividendos, que são totalmente isentos de tributos no Brasil.

Mais chocante é quando a lupa da Receita se aproxima: dos 71.440 super-ricos, 51.419 receberam bilhões de reais em lucros e dividendos, mas pagaram em impostos menos de 6% da sua renda total. Apesar da renda média declarada ser de R$ 4,5 milhões, R$ 3,1 milhões ficaram integralmente isentos por serem lucros e dividendos.

Vejam que absurdo: o sócio de uma grande empresa que recebe R$ 350 mil por mês via distribuição de dividendos não paga nada de imposto, enquanto um professor universitário ou um servidor público, que recebem R$ 5 mil por mês, são taxados em 27,5%.

Além de retomarmos a tributação sobre lucros e dividendos, será necessário acabar com a figura do juro sobre o capital próprio, outra distorção criada no governo FHC e que estabeleceu que os mesmos recursos nas mãos de um empresário podem ser, simultaneamente, investidos na produção e ficticiamente colocados no mercado financeiro, ou seja, o mesmo capital pode gerar lucros e juros. É quase mágica! A Lei 9.249, de iniciativa do governo de FHC, inventou, portanto, uma fórmula para reduzir contabilmente os lucros das empresas para que elas pagassem menos impostos. Mas o lucro verdadeiro continuaria o mesmo.

O dinheiro do empresário que é colocado na empresa, chamado de capital próprio, é considerado um empréstimo do dono à sua empresa. Então, a empresa tem que pagar juros ao seu dono. Logo, o dono recebe juros da sua empresa sobre o seu próprio capital. Em suma, ele recebe da empresa juros (pelo empréstimo fictício que fez à sua empresa) e lucros (pelos verdadeiros investimentos que realizou com o seu capital). E isso beneficia demasiadamente a pessoa jurídica – a empresa -, porque suas despesas aumentam com o pagamento de juros, o que faz seu lucro cair, e, dessa forma, ter que pagar menos impostos (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro Líquido).

Há varias alternativas tributárias para tornar nosso sistema mais justo e progressivo. É possível criar um imposto sobre grandes fortunas – previsto na Constituição, mas nunca implementado -, aumentar a alíquota do imposto sobre herança ou até mesmo reformular o Imposto Territorial Rural. Em 2011, apresentei uma PEC que altera o artigo 155 da Constituição Federal, para permitir que o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) incida sobre veículos de luxo, como iates, jatinhos e helicópteros.

Como resolver o déficit do orçamento de 2016

Neste momento de crise, temos urgência para aprovar propostas mais eficientes e viáveis para arrecadar mais, mas fazendo justiça social.

Acredito que a resposta para o problema do déficit no orçamento do próximo ano é a retomada da tributação sobre lucros e dividendos, com uma alíquota de 15%, e a eliminação da figura dos juros sobre o capital próprio, que passaram a vigorar em 1995 com o argumento de atrair capitais e estimular os investimentos privados (apesar disso, os investimentos ficaram estagnados e o sistema tributário brasileiro ficou mais regressivo e distorcido, aumentando a concentração de renda e riqueza). O volume de lucros e dividendos distribuídos e declarados subiu de R$ 108 bilhões em 2007 para R$ 287 bilhões em 2013. Com a aprovação desses projetos, podemos arrecadar em 2016 até R$ 60 bilhões.

Sendo assim, nós podemos acabar com o déficit orçamentário sem retirar direitos dos trabalhadores, sem cortar o orçamento da União e sacrificar os investimentos públicos necessários para a retomada do crescimento. Com a elevação da arrecadação e a diminuição da taxa Selic, é possível superar essa política de austeridade, que não resolve os problemas da nossa economia. Além disso, daremos um passo importantíssimo para reformar o nosso sistema tributário, hoje regressivo e injusto.

*Lindbergh Farias é senador da República pelo PT do Rio de Janeiro

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Moniz Bandeira: Agências de risco a serviço de especuladores e interesses políticos e econômicos dos EUA 


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Comentários

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Julio Silveira

Lindbergh, oh! Lindbergh, não seja covarde. Que ajuste do Levy e esse, meu jovem? Ajuste do governo, da Dilma. Ajuste aliás trazido como uma tentativa de amainar o golpismo dos radicais defensores desse tipo de politica de ajustes. Do ajuste feito de mesmice, de receitas que já se provaram fracassadas, e que só produzem dividas, tanto publicas quanto privadas, com uma minoria de rentistas surfando nas ondas beneficas do “capitalismo” exclusivista e excludente a uma maioria que sangra para resgatar suas dividas, coicidentemente entregues as esses rentistas, numa nova forma de escravidão, mais bem elaborada. Com conotação legal.
Fala sério, deixa o Levy fora dessa, ele não é causa é consequência. Consequência de um governo frouxo que não ousou enfrentar como deveria seus adversários de campo ideológico. Preferiram aderir, e o Levy é mais uma prova dessa adesão submissão com essa sua critica ele passa a ser uma vitima dessa adesão. Por que faz ele funcionar bem como um laranja, ficando claro o oportunismo de alguns do governo. Se desse minimamente certo seria o programa do governo, deu errado (aliás como muito previsível para as expectativas da maioria, por que isso de certo e errado que vai ditar é o grupo de interesse), e virou o programa do Levy. A isso eu chamo dupla covardia. E você, meu Jovem, não pode ser ausentar como um profeta distante, você queira ou não faz parte do time que montou o plano que o Levy implantou, a pedido. Nunca se esqueça disso.

OSEIAS

A DILMA É COVARDE , EM VEZ DE MANDAR ESSE LEVY, JOSE EDUARDO CARDOSO E O BERZOINI EMBORA, FICA POR AI BABANDO, PENSANDO QUE ESTÁ TUDO BEM E ESSES CORNOS MANSOS E COVARDES AFUNDANDO O GOVERNO OU DESGOVERNO DELA E O PT RETARDADO E COVARDE TAMBÉM, QUE É ISSO O QUE SIGNIFICA O QUE ESTÁ ACONTECENDO, DEIXANDO JUSTIÇA DO MORO FAZER O QUE LHE CONVÉM E DEIXANDO A COMUNICAÇÃO A DEUS DARÁ E CONTINUANDO A ASSISTIR NOVELAS DA GLOBOSTA. É ISSO QUE A DILMA COVARDE ESTÁ CAUSANDO, VAI DEIXAR O BRASIL PEDRA SOBRE PEDRA, DAQUI A 4 ANOS!!

    Marcos Pinto Basto

    Ainda não consegui descobrir aonde D.Dilma foi descobrir esse ajuste fiscal executado nada menos, nada mais por esse Joaquim Levy que possuidor de brilhantes atributos academicos, não passa de um Chicago’s Boy, classificação que o mostra como o destruidor duma economia que depois tenta levantar seguindo as regras que mais interessam aos agiotas da Wall Street, altos lucros à custa de salários de fome para os trabalhadores. Ajuste fiscal que corta benefícios ao Povo e fecha os olhos aos imorais reajustes do legislativo e judiciário. Ajuste fiscal ou cambalhota recessiva?
    Está na hora de mudar a política economica e, lógicamente de ministro. Difícil de encontrar alguém capaz de colocar o País nos trilhos do desenvolvimento? Muito simples, contratem Adriano Benayon ou alguém que fale a mesma lingua dele.

Carlos Reis

Imposto = Roubo
Sonegação = crime sem vítima

Fabio Meirelles

Dilma optou pelo suicidio politico e pela ruína do Brasil.
Essa senhora é o proprio caos.
Lula 2018!!

Marcos Pinto Basto

Ainda estou por entender aonde D.Dilma foi buscar essa do ajuste fiscal porque até agora só tenho visto medidas de caráter recessivo, pior, medidas que cortaram direitos sociais dos mais pobres e que não pesam tanto no orçamento.
E esse ministro Joaquim Levy é um Chicago’s boy sem tirar nem pôr, para ele é fundamental paralisar a economia para depois acioná-la dentro dos critérios que irá adotar, mas sempre penalizando muito a massa operária. Um País como o Brasil, muito carente de infra-estruturas em práticamente todas as áereas, deve preocupar-se em eliminar esta carência para alavancar seu desenvolvimento, mas disto o Joaquim Levy não entende. Gerar empregos e distribuir renda não constam da cartilha sebosa que segue e vemos D.Dilma perder popularidade.
Mas aonde foi que D.Dilma desencantou este Joquim Levy?

José Carlos Vieira Filho

Outra proposta: vende o Levy pro BCE. Deve dar algum troco.

Cláudio

:

: * * * * 19:13 * * * * : Ouvindo A Voz do Bra♥S♥il e postando:

♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

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Urbano

Os tubarões atuam em diversas frentes, principalmente através da sonegação e da isenção de impostos, que se perpetuam desde tempos imemoriais. A facção bandida e fascista da oposição ao Brasil sempre deu plenas garantias para tais ações.

Mané

O Levy é o Malan da Dilma. De-lhe 1000 caminhos e ele vai rumar para Wall .Street.

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