Juremir vs. Dines: A polêmica sobre jornalistas e o golpe

Tempo de leitura: 6 min

Intelectuais e jornalistas golpistas

por Juremir Machado da Silva

do blog do autor no Correio do Povo (Porto Alegre, RS), 5/3/2014

Estou com livro novo. Escrevi “1964 golpe midiático-civil-militar” para me divertir. Trabalhei como um cão, mas senti prazer. De que trata realmente meu livro? De que como jornalistas e escritores hoje cantados em prosa e verso apoiaram escancaradamente o golpe: Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga e outros.

Alguns, como Cony, arrependeram-se ainda na primeira semana de abril. Outros só mudaram depois de 1968 e do AI-5. Alguns permaneceram fiéis ao regime. Os mais espertos, como Alberto Dines, reescreveram-se.

Como sempre em meus livros, apresento as provas. O poeta Drummond, que deveria ser uma antena da aldeia, só captou o senso comum conservador do seu bairro: “No caso do Sr. Goulart a verdade é que ele pediu, reclamou, impôs sua própria deposição”.

A lógica do poeta, bom de verso e péssimo de reflexão social, era a do machista que culpa a minissaia da mulher pelo estupro. Jango provocou os militares com sua obsessão por reformas, como a agrária, que só fariam bem para o Brasil.

O caso mais impressionante de apoio ao golpismo foi o de Alberto Dines, diretor de redação, à época, do Jornal do Brasil. Dines, atualmente, dirige site Observatório de Imprensa, site de crítica de mídia. Jamais fez um bom mea-culpa.

O homem que agora posa de decano do jornalismo comprometido com a democracia era, em 1964, um golpista a serviço do pior do Brasil: “Só podíamos dedicar um único editorial contra cada ato ou falação de Goulart. No dia seguinte, já havia outros para atacar”. Dines não pôde se conter: “Jango permitira que na vida brasileira se insuflassem tais ingredientes que, para extirpá-los, seriam necessários não mais o ‘jeitinho’. Desta vez, teriam de ser empregadas a força e a violência”.

Alberto Dines apoiava a queda de Jango, ansiava pelos militares, tentava ajudá-los assustando cada vez mais a população.

Antonio Callado, que se tornaria um ícone da resistência à ditadura, foi um medíocre preparador da atmosfera para o golpe. Escreveu: “O triste, no episódio tão pífio e latrino-americano da deposição de Jango, é que realmente não se pode desejar que as Forças Armadas não o traíssem”.

Callado praticou o sensacionalismo mais barato. Tentou encontrar razões psicológicas para as atitudes de Jango em sua condição física: “Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que poderia corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de dor física fez com que Jango jamais considerasse a sério o conselho. Talvez por isso tenha cometido o seu suicídio indolor na Páscoa”.

Já Carlos Heitor Cony ajudou a escrever os editorias “Basta!” e “Fora!”, publicados pelo Correio da Manhã, nos quais se clama pelo despeito à Constituição e pela deposição do presidente. Tudo porque Jango mexer nos muitos privilégios dos ricos.

Dou essa palhinha.

Deixo o essencial para quem ler o livro, que poderia se chamar também origens ou consolidação da imprensa golpista.

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1964+50: As tentações da história simplificada

por Alberto Dines, na Adital

O doutor Juremir Machado honrou este observador com um livro ao seu respeito [ver abaixo]. O 28º da sua lavra. Impressionante o seu currículo acadêmico lustrado na Sorbonne, abençoado tanto pela Santa Sé como pela Igreja Universal do Reino de Deus. Mais impressionante o segmento que descobriu para vender livros – história simplificada.

Antes de tudo generoso, colocou um jornalista cujo mérito maior é a longevidade na melhor companhia – Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Heitor Cony, Otto Maria Carpeaux, Otto Lara Resende e Rubem Braga.

No release que produziu para promover a obra na própria coluna confessa que trabalhou “como um cão”. Prodígio de sinceridade: faltou explicitar a raça – pitbull ou pequinês atacado de raiva? Na realidade, o doutor Juremir leu apenas Os Idos de Março e a Queda em Abril (404 pp., José Álvaro Editor, Rio de Janeiro, 1964) – hoje esgotado, mas disponível nos sebos – organizado por este observador e cuja primeira edição saiu cerca de 30 dias depois da quartelada de 1964.

Com o modesto investimento encontrou ração para morder três “golpistas” – Antonio Callado, este observador e o santo Otto Lara Resende, que prefaciou o livro.

Clima carregado

Este observador fica imaginando o que estará ministrando aos futuros doutores em comunicação um mestre que investe em acusações sem ouvir os acusados. E que tipo de historiografia o emérito simplificador deixará aos pósteros.

Na verdade, o doutor Juremir quer punir este observador pelo crime de opinião, como qualquer tiranete: como o livro foi publicado DEPOIS do golpe e já instalada a ditadura, não pode alegar que os oito autores e o prefaciador fizeram parte da conspiração. Por isso aferra-se às partes dos textos que abomina e esquece o resto.

Foi injusto com o esplêndido repórter Araújo Netto, cujo texto, passados 50 anos, até hoje não foi superado em matéria de precisão e concisão. Comentário de Miguel Arraes citado abreviadamente à página 33:

“Volto [ao Recife] certo de que um golpe virá. De lá ou de cá, ainda não sei. O que sei é que, venha de onde vier, serei a primeira vítima…”

O vaticínio sobre os “idos de março” é uma espécie de refrão na tragédia de William Shakespeare, Júlio Cesar. O clima carregado de presságios naquele março de 1964 levou este observador a usá-lo como título de um livro-reportagem. A ironia do célebre discurso de Marco Antonio sobre os “homens honrados” cabe perfeitamente nos simplistas incapazes de perceber que os homens não se reescrevem – os homens se fazem. (segue).

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Alberto Dines, pelego interventor da ditadura

Postado por Juremir em 11 de março de 2014 

Alberto Dines apoiou o golpe por reacionarismo e por incapacidade intelectual de compreender o que estava acontecendo. Adepto da prática contra o teoricismo, nunca conseguiu refletir sobre as bobagens que fez na vida.

Comenta livros sem os ler.

A apuração nunca foi o seu forte.

Jacob Goldberg, por exemplo, já mostrou que o livro de Dines, “Morte no paraíso”, sobre o triste fim de Stefan Zweig no Brasil, é um erro primário de investigação jornalística. Ou de falta de investigação.

Dines afundou-se na lama do golpismo como um carola desmiolado. Temia o caos e os comunistas comedores de criancinha. Depois do golpe, organizou um livro, “Os idos de março e a queda em abril”, publicado ainda em 1964, para puxar o saco dos golpistas. Assinou seu atestado de óbito. O futuro cobraria a conta.

Brigou com Bóris Casoy, que o brindou com estas pérolas: “De conhecido caráter, destituído de qualquer sentido moral ou ético, esse indivíduo tenta justificar com uma história da carochinha o fato de ter sido interventor da ditadura no Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro. Sua “explicação” não passa de um atentado à inteligência alheia. Imagine: em plena época de caça às bruxas, um grupo de jornalistas ligados ao Partido Comunista procura esse ”ínclito” profissional pedindo sua intercessão junto ao gabinete do então presidente Castelo Branco, com o objetivo de destituir a direção do sindicato, legitimamente eleita. O governo aceita a sugestão e o nomeia interventor militar. É essa a versão que Dines tenta nos impingir. É evidente que só eram nomeados interventores aqueles que tinham a total confiança do regime. Dines, de maneira covarde, tentando dividir culpas com os comunistas, assume a sua ditadura particular. Tira um desafeto pessoal da presidência da entidade e , como se não bastasse, faz um sem número de cassações. É claro que zelosamente oculta esses fatos de sua biografia (ou folha corrida?) Se escapou da lei graças a Anistia, será inscrito entre os réus quando a ação da ditadura nos sindicatos tiver sua história levantada. Mais tarde demonstrou toda a sua “consideração ” com comunistas ao pedir – e por duas vezes – que eu os demitisse da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro”.

Em “Idos de março”, Dines louvou os ditadores como um cão lambendo as botas dos militares e dos seus mentores civis:

“Golpe ou contragolpe? Minas marcha contra Goulart. Enfim, apareceu um homem para dar o primeiro passo. Este homem é o mais tranquilo, o mais sereno de todos os que estão na cena política. Magalhães Pinto, sem muitos arroubos, redimiu os brasileiros da pecha de impotentes”.

Quando pedirá desculpas por esse mico?

Em outra passagem, Dines confessa seu trabalho na preparação do golpe: “A velocidade do presidente tirava a capacidade de resistir. Só podíamos dedicar um único editorial contra cada ato ou falação de Goulart. No dia seguinte, já havia outros para atacar. Mesmo assim, o nosso era o único, dos chamados grandes jornais, do Rio, a resistir. Os outros como que perderam a noção das coisas. Estarrecidos ou acomodados. Mas como rebater racionalmente, como enfrentar com argumentação inteligente a política do ‘manda brasa’. Perdíamos. Na batalha das ideias contra os slogans, o grande soldado do jornal foi Luís Alberto Bahia. Quanto mais tacanha era a jogada de Goulart, mais brilhante era o seu raciocínio numa emulação do requintado contra o grosseiro. A cabeleira enorme e mitológica do ex-trotskista contra os cabelos escorridos e poucos do arrivista de esquerda”.

Por fim, mostra sua desinformação, capacidade de manipulação e reacionarismo: “O que importava era que, em São Paulo, meio milhão de pessoas tinha saído à rua, sem archotes nem tanques e canhões, apenas com cantos na boca e rosários na mão, para protestar contra o caos”.

O peleguismo marca a vida de Alberto Dines.

É por isso que, aos coices, ele ataca meu livro 1964 golpe midiático-civil-militar.

Leia também:

Advogados ativistas publicam íntegra de entrevista à Veja


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Comentários

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LETRAW

De todos comentários, o do Franco Atirador foi o mais equilibrado e mais didático.
Parabéns e obrigado.
Quanto a mudança de opinião ou de comportamento todos tem o direito exercê-la ao longo da vida, desde que seja honesta e sincera.

Mário SF Alves

A informação sobre o Plínio, não o Salgado, mas o Arruda, me surpreende. Mesmo porque não me canso de reproduzir respeitosamente uma frase dele proferida quando da primeira vitória eleitoral do Lula como candidato à presidência da República Federativa do Brasil:

“uma coisa é conquistar o governo, outra coisa, muito diferente, é conquistar o poder.” Jamais me esqueci disso. Tal oráculo foi divulgado durante entrevista concedida ao PiG logo após a contagem dos votos. Na época ele ainda estava no PT.

______________________
Mas… assim como me decepcionei com o John F. Kennedy, que tinha obsessão pelo assassinato do Fidel, e que para isso chegou a contratar mafiosos, então… mais um, menos um…

Mário SF Alves

“Assim como, por exemplo, Nelson Rodrigues aqui no Brasil.

Em virtude disso, são nomes dignos de respeito, embora deles discordemos.”
_________________________
Muito bem, Sidnei. É assim que se fala. No que tange ao golpe de 64, ainda estamos diante de uma alcateia de covardes travestidos de pragmáticos, fato que poucos assumem e confessam. São ainda tutelados pelo que resta dos EUA.
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Melhor seria que assumissem sua impotência frente aquilo que consideram inexorável: a certeza absoluta que têm nesse medíocre destino manifesto às avessas. Nessas alturas do campeonato, com tamanha disponibilização de acesso ao passado escrachada na WEB, só lhes resta uma salvação: o apoio à continuidade ao golpe ou seguirem em direção às falácias mais abjetas. Infelizmente.
Infelizmente… pode ser que quando entenderem que o inimigo é outro, já será tarde demais.

anac

Se a Justiça tarda mas não falha. A verdade, também.

    anac

    A VERDADE é DURA Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga e outros apoiaram a DITADURA.

    Poucos são dotados da sabedoria de um Brizola, que sempre esteve do lado certo na Historia.

    Mário SF Alves

    Anac, por favor, leia a crítica aparentemente demolidora do Sergio Castro.

Horridus Bendegó

Revolução? Golpe?

Parece que no Brasil o que houve mesmo foi uma septicemia.

    Mário SF Alves

    Ou delicada operação secreta de extração da coluna vertebral?
    _________________
    Sim, uma operação golpista que obrigou e ainda obriga muitos filhos deste país a andar de rastros. Uma operação que obriga um povo inteiro a desacreditar de sua própria força e de seus direitos. E longe de ser a única, o Chile de 1973, com Allende, que o diga…

Luís Carlos

Juremos, mais uma vez certeiro.

    Mário SF Alves

    Não foi isso o que disse o Sergio Castro.

JURIDICO

Golpe de republiqueta de bananas… Generais traidores da patria em conluio com CIA

Cecilia

O que me incomoda nesses artigos no blog do Juremir é algo que ecoa como sensacionalismo pra vender seus livros.

Menos precipitado ou com maior integridade intelectual simplesmente diria que alguns jornalistas e intelectuais que em princípio apoiaram o golpe militar, mais tarde recuaram ante as evidências de que ele havia inexoravelmente descambado pra censura, tortura, arbítrio e caça aos “comunistas”.

Mas não. O professor prefere o estardalhaço polêmico a uma postura mais equilibrada e digna.

ricardo

Juremir pode ser um cara sincero e com boas intenções, nunca se sabe, embora seja obviamente burro. O cara faz uma lista em que aparece, de um lado, gente como Carlos Heitor Cony, Otto Maria Carpeaux, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Drummond, e por aí vai e começa a xingar essa gente. Do outro lado, o lado do Juremir, tem o mito do estadista Jango. Não o Jango histórico, mas o Jango exumado. É jogar pra perder. Reescrever a história desse jeitinho é dar munição ao inimigo. Não é preciso inventar qualidades que Goulart não tinha para condenar o golpe militar. Também não é preciso falsificar a história ao ponto de ignorar que o clima de golpe era generalizado e que Goulart, como biruta de aeroporto, apenas seguia os ventos.

    Elder

    Caramba, como você é sabido. Já ouviu falar de Wladimir Herzog? Por que será que Dines, Callado, Drumond, Cony, Lara Resende,Carpeaux,Braga e outros não foram incomodados (no caso de Herzog, torturado e assassinado)pela polícia política? Conta essa pra outro Ricardo.

    FrancoAtirador

    .
    .
    A Reinaldéte retorna com outra Villania de Marco Antonio.
    .
    .
    ENTÃO, VAMOS À AULA DE HISTÓRIA:

    Jurandir Bizarria Mamede foi um militar brasileiro.

    No dia 31 de outubro de 1955, no funeral do general Canrobert Pereira da Costa, proferiu um violento discurso, pronunciando-se ampla e favoravelmente a um golpe militar,
    contrariando o resultado das eleições presidenciais ocorrido em 3 de outubro, dos quais saiu vitorioso o candidato Juscelino Kubitschek do PSD para a presidência e João Goulart do PTB para a vice-presidência.

    Julgando a fala de Mamede um ato de indisciplina, o ministro da Guerra, general Henrique Lott, exigiu sua punição, mas não foi atendido pelo presidente Café Filho, que pouco depois se afastou de suas funções por motivo de saúde.

    A presidência foi ocupada interinamente por Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados e sabidamente próximo ao esquema udenista.

    Em audiência ocorrida no dia 10 de novembro, Luz se encontrou com o General Lott, comunicando sua decisão de não punir o coronel Mamede.

    Diante da negativa de punição ao coronel Mamede, Lott então apresentou o seu pedido formal de demissão do Ministério da Guerra.

    Ocorre que, na madrugada do dia 10 para o dia 11, o General Lott foi procurado em sua residência por oficiais de sua confiança, que lhe falaram do golpe que era tramado por partidários da UDN e militares golpistas.

    Mostraram a Lott o teor da conspiração dentro dos círculos militares, e a armadilha na qual Lott tinha caído ao pedir demissão do Ministério da Guerra.

    Tais militares falaram que era necessária uma ação rápida do General para impedir o progresso da conspiração, e somente o General, com sua postura de extrema legalidade e simpatia perante o oficialato, poderia liderar o contragolpe.
    Isso foi feito.

    Na madrugada do dia 11, Lott e militares legalistas, entre eles o General Odílio Denys tomaram o Ministério da Guerra em uma frente.
    Na outra, tropas e tanques invadiram o Rio de Janeiro, então capital federal, para impedir a instauração de uma ditadura no país e a manutenção dos quadros constitucionais vigentes.

    Mamede, Carlos Luz e o seu corpo ministerial, o deputado Carlos Lacerda (UDN), o almirante Sílvio Heck e outros militares ligados ao golpe, ao perceberem o contragolpe liderado por Lott, fugiram a bordo do cruzador Tamandaré.
    A idéia era de fugir para Santos no litoral paulista, para organizar a resistência no estado de São Paulo, que foi frustrada, quando o brigadeiro Eduardo Gomes comunicou que os tripulantes deveriam voltar para não ter o cruzador bombardeado, uma vez que foram interceptados, e seus movimentos rastreados.

    O cruzador Tamandaré aportou de volta ao Rio de Janeiro às 10 horas da manhã do dia 13.

    Enquanto o cruzador Tamandaré fazia o caminho de volta ao Rio, o Congresso Nacional votava o impedimento de Carlos Luz para o exercício da Presidência, bem como o de Café Filho, que, subitamente curado, tentou reassumir a Presidência.

    Assumiu interinamente a Presidência o presidente do Senado Nereu Ramos, que decretou estado de sítio, que vigorou até o final do mandato presidencial, em 31 de janeiro de 1956, data em que Juscelino Kubitschek e João Goulart foram empossados em seus respectivos cargos.

    Na eleição de 1960, João Goulart foi novamente eleito vice-presidente, concorrendo pela chapa de oposição ao candidato Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão (PDC) e apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), que venceu o pleito.

    Em 25 de agosto de 1961, enquanto João Goulart realizava uma missão diplomática na República Popular da China, Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente.

    Os ministros militares Odílio Denys (Exército), Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e Sílvio Heck (Marinha) tentaram impedir a posse de Jango, e o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, foi empossado presidente.

    A renúncia de Jânio criou uma grave situação de instabilidade política. Jango estava na China e a Constituição era clara: o vice-presidente deveria assumir o governo.

    Porém, os ministros militares se opuseram à sua posse, pois viam nele uma ameaça ao país, porque obteve o apoio de políticos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

    Apesar disso, não havia unanimidade nas altas esferas militares sobre o veto a Jango.

    Liderada por Leonel Brizola, cunhado de Jango e governador do Rio Grande do Sul, teve início o que ficou conhecido como campanha da legalidade. Brizola e o general Machado Lopes, comandante do III Exército, baseado no Rio Grande do Sul, mobilizaram o estado em defesa da posse de Jango.

    Usando uma cadeia de mais de cem emissoras de rádio, o governador gaúcho conclamava a população a sair às ruas e defender a legalidade.

    A campanha da legalidade logo recebeu o apoio dos governadores Mauro Borges, de Goiás, e Nei Braga, do Paraná.

    No Congresso Nacional, os parlamentares também se opuseram ao impedimento da posse de Jango.
    Na volta da China, Goulart aguardou em Montevidéu, capital do Uruguai, a solução da crise político-militar desencadeada após da renúncia de Jânio.

    Como os militares não retrocediam, o Congresso fez uma proposta conciliatória: a adoção do parlamentarismo.

    O presidente tomaria posse, preservando a ordem constitucional, mas parte de seu poder seria deslocada para um primeiro-ministro, que chefiaria o governo: Tancredo Neves (PSD).

    Neves demitiu-se do cargo em julho de 1962 para concorrer às eleições de outubro do mesmo ano, que iriam renovar o Congresso e eleger os governadores.

    Após a saída de Tancredo, tornou-se primeiro-ministro o gaúcho Brochado da Rocha, também do PSD, que deixou o cargo em setembro do mesmo ano, sendo sucedido por Hermes Lima (PTB) que permaneceu como primeiro-ministro até 24 de janeiro de 1963, quando um plebiscito determinou o retorno ao regime presidencialista.

    Ao contrário do que o general Lott fizera como ministro da Guerra de Juscelino Kubitschek (1956-1961), no governo de João Goulart (1961-1964), durante o qual as crises se sucederam com maior freqüência, não se formou uma liderança efetiva no meio militar capaz de aglutinar um bloco de apoio no seio da oficialidade.

    O recurso de que lançou mão o Presidente da República foi fixar os oficiais oposicionistas em funções de estado-maior e de comando, ou de instrução nos estabelecimentos de aperfeiçoamento e especialização da oficialidade de hierarquia superior.

    Em 1963, Goulart nomeou Mamede comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).

    A ECEME era subordinada ao Estado Maior do Exército (EME), cujo chefe na época era o general Humberto de Alencar Castelo Branco, de formação político-militar idêntica à de Mamede.

    Figuravam, por essa razão entre as principais matrizes militares que deram impulso e encaminhamento à conspiração que resultou na deposição de Goulart, em 31 de abril de 1964.

    Ao assumir a presidência da República, depois de eleito pelo Congresso por indicação do comando revolucionário, o marechal Castelo Branco passou a deter as atribuições punitivas contidas no Ato Institucional nº 1 (AI-1).

    Mamede foi, logo depois, destacado para o comando da 8ª Região Militar, sediada em Belém.
    Promovido a general-de-divisão em novembro de 1965, passou a comandar a 1ª Divisão de Infantaria na Vila Militar.

    Em maio de 1967 assumiu a chefia do Departamento de Produção e Obras do Exército, continuando a fazer parte do alto comando do Exército, que tinha a incumbência, entre outras atribuições, de encaminhar os problemas relativos à sucessão dos presidentes militares, seguindo determinações do regime vigente.

    Em janeiro de 1970, tomou posse no cargo de ministro do Superior Tribunal Militar (STM) e três meses depois desligou-se do Departamento de Produção e Obras.

    Em agosto de 1973 passou a presidir o STM, completando até março de 1975 o mandato de Adalberto Pereira dos Santos.

    Em dezembro de 1976, por ter atingido a idade-limite de 70 anos, foi aposentado compulsoriamente.

    (http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Movimento11Novembro)
    (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jurandir_Bizarria_Mamede)
    (http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/biografias/jurandir_de_bizarria_mamede)
    .
    .

    Nelson

    Jango foi derrubado pelos seus acertos. Para o Sistema de Poder que domina os EUA e a maior parte do planeta, eram erros. Jango estaria a levar o país para o comunismo.

    Balela!

    A ameaça comunista sempre foi usada para justificar a intervenção nos países e a derrubada de governos que tentavam caminhos alternativos, fugindo, portanto, do roteiro preconizado por esse Sistema de Poder.

    Uma prova disso, atual, é o Iran. Não consta que o regime que lá impera seja comunista. No entanto, o governo daquele país está sob ameaça permanente de um golpe, mesmo que seja por meio de bombardeio, da parte dos governos dos EUA.

    O problema, conforme pontua Noam Chomsky, sempre foi o desejo de independência dos povos. Essa independência implicaria, inevitavelmente, em restrição do acesso das grandes corporações estadunidenses às riquezas desses países e, portanto, da possibilidade de ampliação de seus negócios e lucros.

    Mário SF Alves

    Tá. Ainda que fosse esse extremismo. Onde está escrito que a ordem vigente tem de ser a única ordem vigente? A vida é dinâmica. A natureza é dinâmica. Tudo muda. Por que a nova ordem se assim fosse não poderia mudar de novo? Afinal o comunismo soviético não foi pro s¨%c*? O que impediria de passados algumas décadas a reintrodução do capitalismo. Certamente não seria esse capitalismo desumano, injustificável e subdesenvolvimentista que ainda hoje temos no Brasil.
    ________________________
    Ah, não. O que é isso? O Brasil é grande demais, rico demais pra uma solução radical como seria essa. Entendi.

Renato Mocellin

Gosto muito das obras do professor Juremir. Destaco o ótimo “História Regional da Infâmia” que desnuda mitificações da “sacrossanta” Rio Grande do Sul. Irei correndo comprar o seu novo livro. Nunca gostei dos jornalistas e escritores desmascarados pelo autor. A mídia e boa parte da intelectualidade brasileira sempre foi elitista e reacionária. Vide atualmente o que prolifera em nosso jornalismo e também em nosso mundo acadêmico. Vivemos uma onda conservadora, facistóide, individualista, narcisista e totalmente subserviente ao imperialismo. Nunca Marx foi tão atual. Parabéns Juremir!

José X.

Todos aqueles jornais e jornalistas que apoiaram o golpe depois tentaram reescrever o passado.

Quem conheceu o Estadão quando eram publicando trechos dos Lusíadas (ou eram receitas culinárias ? nem me lembro mais) no lugar de trechos censurados não imaginava que o jornal tinha sido cúmplice do golpe. Idem para quem conheceu a Folha nos anos 80 e 90, quando ela tinha uma leve aura de esquerda.

Bem, esse pessoal todo está indo para o lixo da história.
Resta agora destruirmos a Globo…

Adriano Medeiros Costa

Juremir e sua vocação nata para a polêmica…

Roger Bacon

Alberto Dines não me engana. Ele continua reacionário como sempre. Ainda outro dia ele estava fazendo eco a excrescências do tipo Diogo Mainardi e Danuza Leão, esses que odeiam os kits bauducco da classe econômica.

Matheus

Fiquei chocado com o Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga terem apoiado esse crime de lesa-pátria.
Continuo gostando da literatura deles, no entanto.

wendel

Estou esperando ansioso qua a Comissão da Verdade comece a apurar as relações espúrias da imprensa e de seus “profissionais” com a Ditadura. Aí sim, veremos o quanto os “paladinos da democracia”, que até hoje se escondem sob suas máscaras se defenderão!
Quanto ao citado observador, nada demais em ler o que o professor Juremir cita, pois o perfil do citado, já diz bem de como se comportou naquela época! Ficar posando de “bom mocinho”, como muitos ainda hoje estão, não os redime, pelo contrário, só faz agravar suas biografias,tão manchadas e no ocaso!
Como já disseram aqui,e se ainda restar a eles alguma ética moral, seria bem vinda uma “mea culpa”, ao invés de ficarem tergiversando!
Em tempo: Citar que o professor seria “… pitbull ou pequinês atacado de raiva? ” é simplesmente falta de argumentos, pois, nós leitores, sabemos muito bem identificar os falsários e manipuladores que, àquela época, foram coadjuvantes nas torturas e assassinatos ocorridos!

    Ricardo

    Gostava do Alberto Dines. Decepcionante para dizer o mínimo seu apoio ao golpe! Desfilou pedantismo, falou, falou, falou para no final nada falar ou explicar, desviar o foco e usar o mais chinelão dos argumentos numa discussão: Desqualificar o seu interlocutor – e isso tanto na comparação com as raças de cães citadas, como na ironia com que cita a formação do Juremir! Adoro o kit bauducco da classe econômica, pois é o máximo que este chinelão que vos fala pode pagar! Próxima viagem farei de regata para o horror da elite cheirosa e limpinha (os quais só encontrarei na sala de de embarque, é claro)!

Carla

O que me espanta é que haviam intelectuais e políticos de “esquerda” acreditando num golpe comunista! Com quais forças? Provavelmente foi por este ridículo medo dos “comunistas” que os militares tiveram êxito fácil!

    Mário SF Alves

    Ah, o que é isso? Esqueceu??? E IVª Frota SOVIÉTICA ancorada na costa Leste do Brasil?

zequinha

Mas afinal, quem é o jornalista, o dono da midia ou o repórter, seu empregado? Sabemos que nenhum meio expressa opinião que não seja a do dono, portanto, quem quiser contrariar a voz do patrão será um eterno desempregado.

Julio Silveira

Quer dizer Juremir que o Dines usava e ainda guarda sua roupa camuflada?
Tu não é o primeiro que leio criticando o Dines por esse passado.

Zilda

Nunca entendi direito quando Dines encerra o programa “Observatório da Imprensa” afirmando: quem assiste(ou ouve no rádio)este programa nunca mais lê jornal do mesmo jeito. Já vi muitos programas e não vejo nem sinal de visão crítica da imprensa.
Fiquei estarrecida em saber que Carlos Heitor Cony apoiou o golpe visto que ele recebeu uma pequena fortuna (mais de 1 milhão de reais)como indenização por ter sido demitido a mando dos ditadores.
Quero adquirir esse livro.

    alvaro

    Matou a pau. O Observatório da Imprensa é a maior fraude. Basta assistir a uma sequência desse programa para concluir que não passa de um Defensório Laudatório da Mídia Velha e reacionária pra caramba, no qual o seu apresentador se mostra mais do que à vontade. Sua atuação presente é extremamente coerente com o seu passado.

    Mário SF Alves

    Estranho a posição dele quanto à reinante libertinagem de imprensa. Até onde percebi, quando muito, e na melhor das hipóteses, ele fica mesmo é em cima do muro.

FrancoAtirador

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Se é verdade que não se deve simplificar a História,

também não se deve negá-la ou tentar subvertê-la,

ainda que com pretensa complexidade e rebuscamento,

como fez Alberto Dines, no artigo acima republicado.

O antigetulismo radical de Dines o levou a um erro

de avaliação e de interpretação do Governo Goulart,

aderindo à falácia de um iminente golpe comunista

que seria perpetrado pelo PTB com facções do PCB.

As correntes políticas da UDN e do PSD anti-Getúlio,

nas quais se inseriu grande parte dos intelectuais,

inclusive os jornalistas e escritores mencionados,

jamais aceitaram a assunção de Jango à Presidência,

nos idos de 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros

que foi a origem da frustração de uma idéia moralista

e hipócrita do exercício do Poder Político no Brasil,

e fato que serviu de pretexto para estimular as ações

dos militares que vinham se rearticulando, desde 1945,

e promovendo incisivas intervenções antidemocráticas

como as ocorridas, fundamentalmente, em 1954 e 1955.

Daí o equívoco no entendimento do momento histórico,

muito bem conduzido pelo aparato de propaganda dos USA,

com a colaboração prestimosa da Mídia Golpista Local,

notadamente representada pelos Jornais de Rio e São Paulo:

O Globo, dos Marinho, e Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda;

Folha de S.Paulo, dos Frias, e O Estado de São Paulo, dos Mesquita.

E o Jornal do Brasil, do qual Alberto Dines era diretor de redação.

Diante desses inegáveis fatos, passados no curso de 50 anos ou mais,

a questão essencial nos presentes dias é posta nos seguintes termos:

Dentre os que apoiaram a deposição do presidente eleito João Goulart,

quem verdadeiramente se arrependeu de haver insuflado Golpes Militares

e quem continua cotidianamente a tramar golpes contra a Democracia?

(http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=8006)
(http://50anosde64.blogspot.com.br)




?w=190



[(http://migre.me/in7Bm) e (http://migre.me/in7Ey)]

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Golbery_do_Couto_e_Silva)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Canrobert_Pereira_da_Costa)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jurandir_Bizarria_Mamede)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvio_Heck)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Od%C3%ADlio_Denys)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Gr%C3%BCn_Moss)
.
.

Sérgio

Uma coisa aprendi fácil-fácil, quando trabalhei no antigo Diário do Povo (do Quércia), de Campinas: em regra, os jornalistas formam uma estirpe de luluzinhos!Ora então, em quem confiar para garimpar notícias? Na dúvida cartesiana…

Rossi

Existiam já naquela época os jornalistas “selas”.Escreviam a mando do patrão,como hoje.Sem novidades.

Alemao

Se esqueceram de incluir um dos líderes da blogosfera…

    Paulo Santos

    Seria o Mino Carta, que trabalhou anos na Veja?

    Aliança Nacional Libertadora

    Não amigo o Mino foi mandado embora da Veja quando esta era editada com a capa com a foice e o martelo.

    ê reaça!!!

    Procure saber do que está falando se não vai parecer um imbecil.

Jair Almansur

Vou correndo comprar o livro. E o Ruben Fonseca? Estaria de que lado?
Quero lembrar que o Grande Borges apoiou o golpe e a ditadura argentina.

    tiao

    Mas Jose Luis Borges nunca escondeu que era reacionário.

    Sidnei

    Assim como, por exemplo, Nelson Rodrigues aqui no Brasil.

    Em virtude disso, são nomes dignos de respeito, embora deles discordemos.

    Alexandre

    Se lermos sobre Borges na wikipedia, tanto na versão em castelhano, quanto na versão em inglês, chamá-lo de reacionário ou apoiador do golpe são leituras inexatas. Ele condenou o nazismo antes da guerra, não tolerava a personificação política de Perón e dos peronistas seguintes; acreditou que o golpe de 76 era uma chance de normalização da política (ao evitar a continuidade de figuras carismáticas), percepção por ele logo abandonada. O problema é que aqui e na Argentina os pólos políticos passaram a se desrespeitar de uma tal maneira que na hora em que o ponto crítico é atingido, todos na sociedade estão de tal modo fartos da animosidade infernal, que passam a adotar discursos ou opiniões depois abandonados, na calmaria. Diferente do caso do Dinis, que se aproveitou da mudança para se impor no sindicato.

Marat

Leitura obrigatória!

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