Janio de Freitas: Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais houve no Brasil; encenação visível

Tempo de leitura: 2 min

Hipocrisia

Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais houve no Brasil

por Janio de Freitas,na Folha de S. Paulo, em 04/08/2016

Quem não aceita ver golpe partidário na construção do impeachment de Dilma Rousseff pode ainda admitir, para não se oferecer a qualificações intelectual ou politicamente pejorativas, que o afastamento da presidente se faz em um estado de hipocrisia como jamais houve por aqui.

O golpe de 64 dizia-se “em defesa da democracia”, é verdade. Mas o cinismo da alegação não resistia à evidência dos tanques na rua, às perseguições e prisões nem aos crimes constitucionais (todos os militares do golpe haviam jurado fidelidade à Constituição que acabavam de trair: sem exceção, perjuros impunes).

Todos os golpes tentados ou consumados antes, incluída a Proclamação da República, tiveram na formação aquele mesmo roteiro, com diferença de graus. A força das armas desmoralizava a hipocrisia das palavras.

Os militares, hoje, não são mais que uma lembrança do que foi a maior força política do país ao longo de todo o século 20.

Ao passo em que a política afunda na degeneração progressiva, nos últimos 20 anos os militares evoluíram para a funcionalidade o mais civilizada possível no militarismo ocidental. A aliança de civis e militares no golpismo foi desfeita. A hipocrisia do lado civil não tem mais quem a encubra, ficou visível e indisfarçável.

Há apenas cinco dias, Michel Temer fez uma conceituação do impeachment de Dilma Rousseff.

A iludida elegância das suas mesóclises e outras rosquinhas faltou desta vez (ah, que delícia seria ouvir Temer e Gilmar Mendes no mesoclítico jantar que tiveram), mas valeu a espontaneidade traidora. Disse ele que o impeachment de Dilma Rousseff é uma questão “política, não de avaliação jurídica deles”, senadores.

Assim tem sido, de fato. Desde antes de instaurados na Câmara os procedimentos a respeito: a própria decisão de iniciá-los, devida à figura única de Eduardo Cunha, foi política, ainda que por impulso pessoal.

Todo o processo do impeachment é, portanto, farsante. Como está subentendido no que diz o principal conspirador e maior beneficiado com o afastamento de Dilma.

Porque só seria processo autêntico e legítimo o que se ocupasse de avaliação jurídica, a partir da Constituição, de fatos comprovados. Por isso mesmo refere-se a irregularidades, crimes, responsabilidade. E é conduzido pelo presidente, não de um partido ou de uma Casa do Congresso, mas do Supremo Tribunal Federal.

As 441 folhas do relatório do senador Antonio Anastasia não precisariam de mais de uma, com uma só palavra, para expor a sua conclusão política: culpada. O caráter político é que explica a inutilidade, para o senador aecista e seu calhamaço, das perícias técnicas e pareceres jurídicos (inclusive do Ministério Público) que desmentem as acusações usadas para o impeachment.

Do primeiro ato à conclusão de Anastasia, e até o final, o processo político de impeachment é uma grande encenação. Uma hipocrisia política de dimensões gigantescas, que mantém o Brasil em regressão descomunal, com perdas só recompostas, se o forem, em muito tempo –as econômicas, porque as humanas, jamais.

E ninguém pagará por isso. Muito ao contrário.


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Mariano

UMA GRITANTE DISTORÇÃO

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No impeachment, só 34 eleitos com os próprios votos

Na votação do último domingo, 477 dos 511 deputados votantes só chegaram à Câmara graças aos votos do partido, da coligação ou de colegas mais votados. Saiba quem se elegeu por conta própria

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/so-35-deputados-se-elegeram-com-a-propria-votacao/

POR EDSON SARDINHA | 22/04/2016 07:50
CATEGORIA(S): ELEIÇÕES 2014, NOTÍCIAS

Nilson Batistan/Ag. CâmaraQuem votou em Tiririca ajudou a eleger outros dois deputados pelo PR. Humorista estreou no microfone após cinco anos de mandatoO eleitor que votou em um candidato a deputado federal que não se elegeu em 2014 pode não saber, mas ajudou a eleger parlamentares que votaram o impeachment na Câmara. E é possível que, em alguns casos, ele só tenha tomado conhecimento da existência desse congressista no último domingo (17). Dos 511 deputados que participaram da votação histórica, apenas 34 (veja a lista abaixo) tiveram votos suficientes para se elegerem sozinhos. Destes, 27 votaram a favor da abertura do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff; os outros sete votaram contra. Além desse grupo, outros dois deputados que não estavam na Câmara no domingo também se elegeram com a própria votação Clarissa Garotinho (PR-RJ), que está em licença-maternidade, e Felipe Carreras (PSB-PE), que se licenciou do mandato para comandar uma secretaria estadual.
Os outros 477 votantes não tiveram voto suficiente para conquistar o mandato diretamente. Valeram-se da soma dos votos recebidos pelo partido ou por outros candidatos de suas legendas ou coligações, eleitos ou não. Esses parlamentares não alcançaram por conta própria o chamado quociente eleitoral, que é a quantidade necessária de votos para a eleição de um deputado em seu estado (ao fim da matéria, a lista por unidade federativa). A maioria deles chegou à Câmara de carona na montanha de votos recebidos por colegas de partido ou chapa. No Distrito Federal e em outras 11 unidades federativas, ninguém foi eleito apenas com a própria votação.

O quociente é definido pela divisão do número de votos válidos pela quantidade de vagas que cabe a cada estado. Vejamos o caso de São Paulo: os 20,99 milhões de votos válidos dados a candidatos à Câmara no estado divididos entre as 70 cadeiras da bancada resultou no quociente eleitoral de 299,9 mil votos. Ou seja, quem alcançou dessa marca em diante conseguiu se eleger sozinho. E, quem teve votos de sobra, ainda levou para Brasília outros parlamentares com votação modesta.

Russomanno e Tiririca

Dono da segunda maior votação da história da Câmara, com 1,5 milhão de votos em 2014, Celso Russomanno (PRB-SP) elegeu outros quatro deputados de seu partido: o cantor sertanejo Sérgio Reis, que recebeu 45.330 votos, o hoje primeiro-secretário da Casa, Beto Mansur, com 31.305, Marcelo Squassoni, com 30.315, e Fausto Pinato, com 22.097 votos. Primeiro relator do processo contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética, Pinato trocou recentemente o PRB pelo PP.

Tiririca (PR-SP), o segundo mais votado da atual legislatura, com mais de 1 milhão de votos, garantiu a eleição de mais dois candidatos do PR: Capitão Augusto (PR), com 46.905 votos, e Miguel Lombardi (PR), com 32.080. Capitão Augusto é o único parlamentar que circula pela Câmara fardado e com condecorações militares no peito. No caso de Tiririca e Russomanno, as sobras foram rateadas entre companheiros de partido. Mas nem sempre é assim. Em diversos casos o beneficiado é de outra legenda, que faz parte da mesma coligação. Ou seja, o eleitor pode votar em um candidato de determinada sigla e ajudar a eleger o de outra sigla.

“Os votos computados são os de cada partido ou coligação e, em uma segunda etapa, os de cada candidato. Eis a grande diferença. Em outras palavras, para conhecer os deputados e vereadores que vão compor o Poder Legislativo, deve-se, antes, saber quais foram os partidos políticos vitoriosos para, depois, dentro de cada agremiação partidária que conseguiu um número mínimo de votos, observar quais são os mais votados. Encontram-se, então, os eleitos. Esse, inclusive, é um dos motivos de se atribuir o mandato ao partido e não ao político”, explica o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Partidos e estados

De acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os estados em que mais candidatos conseguiram alcançar o quociente eleitoral em 2014 foram São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com cinco cada. Quatro pernambucanos também obtiveram sucesso apenas com os próprios votos. Na Paraíba e no Ceará, foram três. Em Goiás e em Santa Catarina, dois. Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Sergipe e Roraima tiveram apenas um deputado entre os que atingiram a marca. Nas demais unidades federativas, ninguém alcançou por conta própria o quociente eleitoral.

Na última eleição, ainda segundo o Diap, os partidos que mais tiveram parlamentares eleitos com os próprios votos foram: PSDB (6), PT (5), PMDB e PP (4 cada), DEM (3), PR, PSB e PSD (2), PRB, PSC, Psol, PTB, PTN e SD (1 cada). Em 2010, 36 deputados se elegeram sem a necessidade de contar com os votos da legenda ou coligação; em 2006, foram 32; e em 2002, 33.

Veja quem se elegeu ou reelegeu com os próprios votos (pelo partido em que estava em 2014):

Deputado Partido * UF Votação Impeachment
Arthur Bisneto PSDB AM 250.896 Sim
Lucio Vieira Lima PMDB BA 222.164 Sim
Genecias Noronha SD CE 221.567 Sim
José Guimarães PT CE 209.032 Não
Moroni Torgan DEM CE 277.774 Sim
Daniel Vilela PMDB GO 179.214 Sim
Delegado Waldir PSDB GO 274.625 Sim
Gabriel Guimarães PT MG 200.014 Não
Odair Cunha PT MG 201.782 Não
Misael Varella DEM MG 258.393 Sim
Rodrigo de Castro PSDB MG 292.848 Sim
Reginaldo Lopes PT MG 310.226 Não
Zeca do PT PT MS 160.556 Não
Delegado Eder Mauro PSD PA 265.983 Sim
Pedro Cunha Lima PSDB PB 179.886 Sim
Veneziano PMDB PB 177.680 Sim
Aguinaldo Ribeiro PP PB 161.999 Sim
Eduardo da Fonte PP PE 283.567 Sim
Pastor Eurico PSB PE 233.762 Sim
Jarbas Vasconcelos PMDB PE 227.470 Sim
Christiane Yared PTN PR 200.144 Sim
Jair Bolsonaro PP RJ 464.572 Sim
Eduardo Cunha PMDB RJ 232.708 Sim
Chico Alencar PSol RJ 195.964 Não
Leonardo Picciani PMDB RJ 180.741 Não
Shéridan PSDB RR 35.555 Sim
Esperidião Amim PP SC 229.668 Sim
João Rodrigues PSD SC 221.409 Sim
Adelson Barreto PTB SE 131.236 Sim
Celso Russomano PRB SP 1.524.361 Sim
Tiririca PR SP 1.016.796 Sim
Pastor Marco Feliciano PSC SP 398.087 Sim
Bruno Covas PSDB SP 352.708 Sim
Rodrigo Garcia DEM SP 336.151 Sim
* Clarissa Garotinho (PR-RJ) e Felipe Carreras (PSB-PE) também superaram o quociente eleitoral. Os dois estão licenciados do mandato.

Veja o quociente eleitoral por estado:

UF Votos válidos Vagas Quociente eleitoral
AC 399.201 8 49.900
AL 1.384.584 9 153.843
AM 1.658.136 8 207.267
AP 386.084 8 48.261
BA 6.641.666 39 170.299
CE 4.367.020 22 198.501
DF 1.454.063 8 181.758
ES 1.794.470 10 179.447
GO 3.032.760 17 178.398
MA 3.074.321 18 170.796
MG 10.118.666 53 190.918
MS 1.276.893 8 159.612
MT 1.454.612 8 181.827
PA 3.755.239 17 220.896
PB 1.936.819 12 161.402
PE 4.129.147 25 165.166
PI 1.587.323 10 158.732
PR 5.665.222 30 188.841
RJ 7.615.669 46 165.558
RN 1.580.871 8 197.609
RO 798.475 8 99.809
RR 237.900 8 29.738
RS 5.896.504 31 190.210
SC 3.376.535 16 211.033
SE 981.303 8 122.663
SP 20.996.612 70 299.952
TO 733.225 8 91.653
Reportagem publicada inicialmente em 6 de outubro de 2014 e atualizada em 22 de abril de 2016 para inclusão de novas informações e cruzamento de dados sobre a votação do impeachment na Câmara.

FrancoAtirador

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Tweet Fixado do Jornalismo braZileiro

https://twitter.com/palmeriodoria/status/761253423845142528
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FrancoAtirador

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Antecipação do Calendário do Golpe Final
foi acertada em Churrasco na Casa de Gilmar

https://t.co/V2asPBTaGV
https://twitter.com/MendesOnca/status/761377228852760576

Na noite de segunda- feira (1º), o Interino MiShell
foi a um Churrasco na Residência de Gilmar Mendes,
Ministro do STF e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),

onde se reuniram os Senadores do PMDB Renan Calheiros (AL),
Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE), e os Ministros do Partido
Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretário de Governo).

O Churrasco foi Patrocinado pelo Ministro Interino da Agricultura
Blairo Maggi (PP-MT) e por AgroPecuaristas do Mato Grosso
e do Mato Grosso do Sul, terras dos Capangas de Gilmar Mendes.

https://youtu.be/6vtot33D7zg
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http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2016/08/antecipacao-do-calendario-do-golpe-final-foi-acertada-em-um-churrasco-na-casa-de-mendes-7571.html
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FrancoAtirador

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Ministro do STF Phóde Tudo

https://pbs.twimg.com/media/CpEqGjcWAAE6bcC.jpg
https://twitter.com/nad_pimentel/status/761436143237861380
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O 2º mais honesto

Após Dilma criticar PT, Falcão diz que nenhum senador vai ser enganado com plebiscito
http://jornalggn.com.br/noticia/apos-dilma-criticar-pt-falcao-diz-que-nenhum-senador-vai-ser-enganado-com-plebiscito

Urbano Ribeiro dos Reis

Essa tarefa tem que ser levada adiante pelos partidos e pelos povos esclarecidos deste país. A começar pelas eleições municipais prefeitos e vereadores só de partidos que votarem em favor da carta magna. Ou melhor explicando pela permanência de presidenta DILMA ROUSSEFF.

Julio Silveira

Agora, coxinhas estupidos, vocês verão as consequências do golpe em vocês.
O Brasil retroagirá e levará vcs juntos.

C.Poivre

Vamos ser francos. Ninguém espera que os senadores que votarão a favor ou contra a continuidade da Democracia em nosso país sejam melhores do que os deputados golpistas da Câmara. A única coisa que interessa à grande maioria dos detentores de mandatos conferidos pelo voto popular é a sua sobrevivência política. Por isso acho que o que poderia influenciar o voto dos senadores não é a defesa da Democracia, dos princípios civilizatórios, do respeito à Carta Magna ou ao mandato conferido à Presidenta Dilma por 54,5 milhões de brasileiros, nada disso os sensibiliza, e sim a divulgação nos redutos eleitorais dos senadores de um panfleto com o nome dos deputados que votaram contra a Democracia e instando os eleitores a não reconduzi-los à Câmara nas próximas eleições. Os diretórios nacionais, estaduais e municipais do PT, PCdoB, PSOL e outros partidos que ainda estejam a favor da Democracia em nosso país deveriam providenciar isso com urgência urgentíssima, a começar pelos Estados do Sudeste.

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