Fátima Oliveira: A ‘síndrome de Estocolmo’ e o clã dos Sarney

Tempo de leitura: 3 min

A ‘síndrome de Estocolmo’ na política e o clã dos Sarney
Uma prisão emocional, como no conto “A Bela e a Fera”

Fátima Oliveira, em OTEMPO
[email protected] @oliveirafatima_

Por que o clã Sarney ganha eleições? Sabe-se que quem vota no opressor não o vê como tal; ou vê e o prefere! É a “síndrome de Estocolmo” na política – em si, a síndrome é um transtorno psicológico em vítimas de diferentes processos de dominação, decorrente da falta de visão correta da realidade, cujo mecanismo de proteção é a defesa do opressor.

Na prática, uma prisão emocional, como no conto “A Bela e a Fera”, de Gabrielle-Suzanne, dama de Villeneuve (1740), que na política é perpetuada com o apoio de um marketing político embotador de consciências. Vide a campanha publicitária em curso com poder extraordinário de vincar no imaginário as bodas de ouro do “amor” dos Sarney pelo Maranhão!

Diante do que urge ampliar a percepção popular de quão nefasto tem sido para o Maranhão e seu povo o domínio político do clã Sarney desde janeiro de 1966, quando o patriarca da família, José Sarney, sob a moldura eleitoral das Oposições Coligadas, assumiu o governo com um discurso contra a oligarquia de Vitorino Freire (1908-1977) – pernambucano que mandou no Maranhão entre 1946 e 1965, sem nunca ter sido candidato a governador! Quando Sarney se elegeu, os dois outros candidatos foram Renato Archer e Costa Rodrigues. Os três, crias do vitorinismo.

Por paradoxal que possa parecer, a penitenciária de Pedrinhas é o que Sarney e seus prepostos, ao longo dos anos, fizeram dela, pois, embora inaugurada pelo governador Newton Belo, em 12.12.1965, é a obra dos Sarney no poder que exibe as vísceras dos desmandos do clã, além dos indicadores que revelam a extrema vulnerabilidade social do nosso povo, vítima de desamor contínuo por 50 anos!

Paulo César D’Elboux, em “A Trajetória Comunicacional de José Sarney”, afirma que “para se manter por tanto tempo assim no poder, o político deve ter um bom trabalho de marketing político”.

Sarney é tido como o pioneiro do marketing político no Maranhão. Ele disse: “Talvez eu possa dizer que, no Maranhão, pela primeira vez, nós introduzimos uma campanha planificada… Para isso utilizamos também, pela primeira vez no Estado, a comunicação musical, com jingle”.

Trata-se do “Meu voto é minha lei” (letra de Miguel Gustavo, na voz de Zezé Gonzaga). Em suma, de comunicação Sarney entende muito e é dono do maior grupo privado de comunicação do Maranhão, o Sistema Mirante de Comunicação (TVs, rádios e o jornal “O Estado do Maranhão”).

Indagado por D’Elboux sobre marketing político, Sarney declarou:

“É imprescindível. Primeiro, a ação política, 50% ou mais dela é feita pela palavra. A maneira de se massificar as ideias que as palavras têm é através dos instrumentos que se tem. A imprensa é o mais antigo de todos, depois os meios que a gente dispõe hoje. Ninguém pode fazer política, a não ser no anonimato, se não tiver condições dela ser do conhecimento, ser massificada. É uma obrigação do político, é quase que uma extensão da personalidade. Ninguém pode ter sucesso político se não for capaz de expor suas ideias para que os outros possam comungar delas… Todas as campanhas, esses marqueteiros sabem que sou muito palpiteiro e muito rigoroso em matéria de criticar. Tenho coragem de dizer a eles o que está certo e o que está errado”.

O desafio de derrotar Sarney é monumental. Exige travar a luta de ideias num campo em que ele não é apenas experiente e detém os principais meios de comunicação do Estado, mas também considera decisivo, tanto que ruma para o “tudo ou nada” nas próximas eleições.

Leia também:

Fátima Oliveira: A capitania hereditária do Maranhão já deu


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Comentários

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Mário Teixeira

Concordo totalmente:
“Por paradoxal que possa parecer, a penitenciária de Pedrinhas é o que Sarney e seus prepostos, ao longo dos anos, fizeram dela, pois, embora inaugurada pelo governador Newton Belo, em 12.12.1965, é a obra dos Sarney no poder que exibe as vísceras dos desmandos do clã, além dos indicadores que revelam a extrema vulnerabilidade social do nosso povo, vítima de desamor contínuo por 50 anos!”

João Borges

Há um estudo esclarecedor a respeito de inconsciente coletivo e publicidade: O USO DE ARQUÉTIPOS MITOLÓGICOS NA PUBLICIDADE:
Uma análise semiológica da mídia impressa brasileira, de Samuel Sebben Plentz, orientado por André Prytoluk.
Vale ler porque há coisas interessantes e enriquecedoras

SILVIO MIGUEL GOMES

Os criminosos no presídio “Pedrinhas”, segundo informações dos jornais, agiram sob o comando do PCC e outras organizações criminosas. O PCC nasceu em São Paulo, sob a negligência criminosa do PSDB e principalmente o Anestesista Geraldo Alckmim. Aqui em São Paulo também acontecem decapitação de presos em vários presídios. Matança de policiais e pessoas nas ruas é constante.
O Senador Sarney gasta muito com a grande mídia. Até outro dia era colunista da FOLHA.
NO Governo FHC, o Senador Sarney juntamente com o falecido ACM ajudaram e muito a manter o governo de pé, impedindo CPIs e até mesmo tentativas de impedimento do presidente, aprovando leis que prejudicaram o trabalhador.
E é bom lembrar que Roseana SArney perdeu para Jackson Lago, mas houve a intervenção da Justiça….
Portanto, o conluio é antigo.

    Alana Muniz

    Acompanho a minha conterrânea Fátima Oliveira desde quando ela escreveu o artigo abaixo:

    O MARANHÃO EM TEMPO DE FEUDALISMO: A VOLTA DA SUSERANA
    Fátima Oliveira

    PUBLICADO EM 21/04/09 – 00h00

    O que aconteceu no Maranhão? A materialização do infinito mimetismo camaleônico do clã Sarney, responsável pelas mazelas e indigência do Maranhão há 43 anos, que quando não ganha a eleição leva o governo! Indago: no Maranhão vige o feudalismo? Uma amiga disse: menos Fátima, menos! É uma reles capitania hereditária. O patriarca foi governador (1966) e a filha é governadora pela terceira vez – duas no voto (1994 e 1998) e agora no tapetão do Tribunal Superior Eleitoral (2009). Brizola vivo diria, com razão, que o Maranhão é um Estado sem sorte!

    Conheço o clã Sarney e Jackson Lago. Quando este foi eleito, declarei: “Tenho a honra de jamais ter votado num Sarney. A tarefa de Jackson Lago é melhorar os indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M): educação: alfabetização e taxa de matrícula; saúde: esperança de vida ao nascer; e renda: PIB per capita. Não será fácil. Mas precisa ser possível. O IDH-M maranhense é o mais baixo do país: 0,543. Revela a miséria absoluta resultante do poder oligárquico dos Sarney – que por 40 anos elegeu todos os governadores, inclusive o atual” (“A senzala falou e disse”, O TEMPO, 1º.11.2006).

    Fui aluna de Jackson Lago na Faculdade de Medicina da UFMA (1973-1978). Era professor de técnica cirúrgica. Sou mais cerebral que manual e detestava fazer suturas. Porém, o mestre era paciente e observador. Quem tentava se isolar da prática de suturar, ele, como por acaso, chamava pelo nome e ensinava “n” vezes… Era incansável. Sou eleitora mineira, mas divulguei na Internet “Depoimento de uma ex-aluna sobre Jackson Lago”.

    Eis um trecho: “Era um professor diferente, sempre disposto a conversar sobre a vida social e política do nosso tempo. Era encantador naqueles tempos de chumbo (ditadura militar). Mesmo ministrando uma disciplina excessivamente técnica, era de uma sensibilidade social que nos deixava babando. Se arriscava a falar de política! Era um dos raros professores que tratava seus alunos de igual para igual. Professores assim a gente nunca esquece. Ficam em nossos corações e viram lendas”.

    A sessão do TSE que cassou o governador Jackson Lago foi um pesadelo nauseabundo que exibiu como é simples detonar processos democráticos sob o manto das filigranas da lei! Relembro que o patriarca é especialista em convencer a corte do TSE da ilegitimidade de eleições ganhas no voto! Por dias, a imagem de um ministro martelava meu cérebro, dado o ar de enfado e de escárnio quando se referia ao governador e ao ar angelical quando citava a derrotada por Jackson Lago. Senti que eram favas contadas e que estava dado o veredicto. Quando operadores da Justiça desconsideram os contextos e as entrelinhas das alegações – a história de vida e a prática política da vítima e de quem acusa -, não raro se equivocam.
    Bastam dois neurônios normais e desapaixonados para perceber que entregar o governo do Maranhão a quem perdeu a eleição extrapola a injustiça: é ato de crueldade, pois transforma em vassalo um povo que sofre há quase meio século sob a batuta do clã Sarney, cuja imagem mais emblemática é a foto de um cidadão que dedicou sua vida à luta democrática, em cumprimento de mandato outorgado pelo povo, sendo escorraçado do Palácio dos Leões como se fosse um bandido. A lição que fica é: o Poder Judiciário não é apolítico. A luta continua, já que, como diz o nosso hino, “A liberdade é o sol que nos dá vida” (…) “Maranhão, Maranhão, berço de heróis…”

    Jackson Lago é um deles.

    http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/f%C3%A1tima-oliveira/o-maranh%C3%A3o-em-tempo-de-feudalismo-a-volta-da-suserana-1.202581

    Mauro Assis

    Quer dizer, SILVIO, que a miséria maranhense na mão do Sarney é culpa… de São Paulo? Do Alkmin? Faça-me o favor!

João Borges

É de fundamental importância o resgate do documento “A Trajetória Comunicacional de José Sarney”, feito pela Fátima Oliveira, pois depois de lê-lo o vi como da maior importância para entender mais a magia que os Sarney exercem sobre o povo maranhense.
O inconsciente coletivo é manipulado cientificamente e com rigor pelo Sarney, que entende do assunto como poucos.

Wagner Souza

Fernando Henrique Cardoso tambem lambeu as botas do Sarney, o velho e esperto e sabe como as baratas sobreviver!

Alberto

Um exercício de análise muito bom. Gostei muito. Impressionante como realmente Sarney é um cara que sabe no campo da comunicação como ninguém. Ele é craque. A vida já provou. Infelizmente. Expurgar os Sarney do poder no Maranhão não será fácil.

    Wagner Souza

    Nada e eterno, o imperio romano caiu, os Magalhaes baihanos estao caindo das arvores como frutas podres, o velho Sarney se juntara ao satanas muito em breve, sua filha, a velha e enrugada Roseane tambem nao tem muito futuro, so falta o povo maranhense escutar menos reggae music e prestar mais atencao no que acontece ao seu redor. A internet esta ai, ignorem a midia maranhense que todos sabem pertencem ao clan Sarney!

Claudia Dornelles

è vergonhoso e triste a situação do Maranhão.

Bruna Moreira

Dói na alma da gente e pensar que até o PT está do lado dos Sarney. É uma vergonha total. Meio século no poder é demais

    ana

    Bruna, querida, não é o PT que está com Sarney, é Sarney que sempre esteve ao lado de quem seja que esteja no poder. Por isso mesmo, a reforma política é TÃO urgente…

    Leandro

    Não. O Pt defendeu com unhas e dentes o sarney. Essa história de que o sarney que se aproxima do Pt e para boi dormir.

    Alberto

    É o PT sim que está com Sarney no Maranhão. O presidente do PT no Maranhão era o vice de Roseana Sarney, ou a senhora não sabia?E o PT compôs com Sarney por definição pessoal de Lula. E agora, todo mundo sabe que Dilma quer apoiar Flávio Dino, parte do PT de São Luís e do Maranhão também, porém Lula insiste em querer compor com o candidato que Sarney indicar. Ou seja, Lula também sofre de síndrome de Estocolmo na política.
    Dá uma olhadinha nos rolos, já que está defendendo o PT tanto e sem razão.

    Mesmo sem vice, Roseana Sarney continua nomeando assessores para Vice-Governadoria

    O Maranhão não tem vice-governador desde o fim de novembro, quando Washington Oliveira (PT) renunciou. Mesmo assim, Roseana Sarney (PMDB) nomeou mais dois assessores para a Vice-Governadoria.

    Eliene Fernandes da Silva é “assessora especial II” do gabinete do vice desde 18 de dezembro. Ana Maria Silva de Oliveira virou “adjunta de serviços residenciais” em 7 de janeiro.

    A Vice-Governadoria é um feudo do PT maranhense, que continua aliado à família Sarney apesar das queixas de parte dos militantes. O presidente estadual do partido, Raimundo Monteiro, foi designado assessor especial em 2011.

    O governo diz que as nomeações “referem-se a solicitações quando do período em que Washington estava no cargo”. E demoraram porque “é necessário obedecer a um criterioso cadastro de servidor público”, segundo nota oficial.

    http://www.marrapa.com/tag/washington-luiz/

    Alexandre Bitencourt

    O apoio do PT ao PMDB e ao Sarney, se é que se pode chamar de apoio, se deve principalmente a força política que o Sarney tinha (e continua tendo) para barrar um possível golpe em 2005.

    Naquele período, onde as denúncias de RJ estouravam por todos os jornais escritos e televisivos, Sarney foi quem segurou a onda. Talvez isso explique o respeito que Lula deve à ele. Todos sabemos os custos de ter o apoio do PMDB e de partidos de direita. Mas há aqueles que acham que o Brasil estaria melhor com a direita no poder e a esquerda na oposição. Compraram o discurso da velha mídia! São dois exemplos os comentaristas seguintes.

    http://blog.jornalpequeno.com.br/ligiateixeira/2013/11/22/sarney-e-o-mensalao/

    Nesse perído já vi até o Sarney defender o MST, mas tem coisa que alguns não veêm. Pensam que é melhor uma Grécia sem o apoio do PMDB do que um Brasil com o apoio do PDMB. Dormiram no barulho da velha mídia.

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2009/09/628264-sarney-defende-mst-e-diz-que-nao-pode-haver-demonizacao-dos-sem-terra.shtml

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