Sob investigação por envolvimento no escândalo da Petrobras, Eduardo Cunha continuará o queridinho da mídia?

Tempo de leitura: 3 min

cunha

por Luiz Carlos Azenha

A mídia vibrou com a vitória de Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara. Menos pela figura, mais por representar uma derrota do governo Dilma e a fratura do governo de coalizão.

Nos últimos meses, antes e depois de se eleger, Cunha tratou de garantir cobertura positiva com declarações como esta, dada nas páginas amarelas da Veja, aquela mesma que anteriormente elegeu Demóstenes Torres como um dos mosqueteiros da ética:

Sou absolutamente contrário à regulação da mídia, seja de conteúdo, seja de natureza econômica. O PMDB se originou de uma frente para combater a ditadura. A liberdade de expressão e a democracia são princípios fundamentais para o partido. Você pode me xingar e me atacar à vontade. Se eu me sinto ofendido, tenho o direito de recorrer à Justiça. Como diz aquele velho ditado: para má imprensa, mais imprensa.

A propósito, a regulação da mídia cogitada no Brasil não afeta a imprensa (jornais, revistas, etc.).

Trata-se de regulamentar os artigos da Constituição de 1988. Eles expressam com clareza o objetivo dos constituintes: evitar monopólios no setor e promover a produção regional de conteúdo na mídia eletrônica, ou seja, emissoras de rádio e TV.

Confundir a Constituição de 1988 com a ditadura militar, como fez Eduardo Cunha, é ignorância ou má fé. Provavelmente, no caso dele, uma combinação dos dois.

Ao Estadão, Cunha afirmou: “Regulação econômica de mídia já existe. Você não pode ter mais de cinco geradoras de televisão”.

Outra balela, obviamente. Sempre é possível controlar uma sexta geradora através de laranjas. Ou de aliados políticos.

E mais: o fato de um empresário ter apenas cinco geradoras não o impede de exercer virtual monopólio em um único mercado. Vejam o caso do Rio de Janeiro, onde as Organizações Globo controlam apenas uma emissora de TV, mas também os maiores jornais e várias emissoras de rádio e de TV a cabo. Chama-se “propriedade cruzada” e é regulamentada na grande maioria dos países que a turma da Veja chama de “civilizados”.

Não foi por acaso, acreditem, que os entrevistadores de Veja e do Estadão não perguntaram a Eduardo Cunha: você é contra senadores e deputados serem sócios de empresas de comunicação, através dos quais turbinam suas perspectivas de reeleição?

Será que ele acha isso “democrático” ou “ditatorial”?

Aliás, como demonstramos aqui, naquela “ditadura” chamada Reino Unido, mesmo quando se trata de imprensa escrita os leitores têm o direito de recorrer imediatamente contra conteúdos que considerem ofensivos, ainda que seja uma notícia “distorcida” ou um programa de debates “desequilibrado”.

Já imaginaram o Marco Antonio Villa e a Sheherazade como âncoras de um mesmo programa no Reino Unido? Os eleitores do Labor extinguiriam o programa em dois tempos.

No Brasil, nem mesmo o direito de resposta é regulamentado.

Pois Eduardo Cunha, às custas das declarações acima, “ganhou” o aquário das grandes redações. Um capataz dos Civita chegou a elogiá-lo explicitamente:

Como? Você não gosta de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara? É um direito seu. Acha que ele recorre a esse ou àquele métodos que não são muito bacanas? Que sejam expostos, então. Agora, rejeitá-lo porque ele sabe fazer política, aí não dá! Há muito eu não via alguém no seu posto falar com tanta clareza e demonstrar altivez.

Reconheça-se que a Folha de S. Paulo foi o único jornal que chegou a publicar uma acusação contra o presidente da Câmara, mas ainda assim comportou-se atipicamente: deu ao Cunha o direito de se defender amplamente!

Mais recentemente, Cunha fez um movimento maroto para tentar restringir as investigações da CPI da Petrobras ao período Lula-Dilma, simplesmente descartando as declarações de um ex-diretor da estatal segundo as quais o pagamento de propina, no caso dele, começou em 1997.

Por que?

Agora que, segundo o site 247, um inquérito contra Eduardo Cunha será aberto por conta da Operação Lava Jato, fica mais claro.

Primeiro, o presidente da Câmara “comprou” a mídia. Em seguida, “comprou” o PSDB e a oposição.

Assim, pode manter a faca no pescoço da presidenta Dilma mesmo acusado de ser beneficiário da corrupção na Petrobras.

Se não for satisfeito em suas pretensões, basta a Eduardo Cunha acenar com a possibilidade de impeachment. Terá, ao seu lado, a mídia e o PSDB para a manobra costumeira no Brasil, desde 2002: colocar todo o lixo no colo única e exclusivamente do PT.

Será muito interessante observar a partir de agora as relações entre a mídia corporativa e seu “queridinho” de última hora.

PS do Viomundo: A Folha tomou um furo do 247 e tentou consertar. Ah, o provincianismo da Barão de Limeira!

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Comentários

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carlos

Esse achacador é mais um que deveria apodrecer na cadeia mas como tem dinheiro tem um monte de advogados para defende-lo que deveria ver o sol nascer quadrado eu não tenho duvidas. aliás aproveitar e pedir ao Gilmar cachoeira que devolva o processo ao Supremo

Léo

Por que o Jornal Nacional de Hoje(03/03/15) não disse que Renan e Cunha estão envolvido ate o pescoço no lava ajato?

Por que são seus queridinhos….

Carlos

Ele encontrou alguém que o defenda, porque ao que tudo indica, ele está envolvidão com a lava jato. Aliás ele e o Renan provavelmente serão investigados pelo STF, então, reuniram- se pra pressionar o governo federal, na verdade, “pressionar” é um mero eufemismo pra “chantagear”….no intuito de obter blindagem ou proteção do planalto.

roberto

Será que o Moro vai prender o Cunha e colocá-lo na masmorra da PF paranaense?
Ou vai dizer: Oops…estão me chamando ali na esquina !!

renato

Não, ele já comprou a Midia!!
A Midia não tem queridinho, tem interesses.

FrancoAtirador

.
.
A Demokrátyka, Yzenta e Ynparssyal
.
FamíGlia Frias de Oliveira Adverte:

“A aceitação do inquérito não significa culpa.
Somente após as investigações e o processo no STF,
os acusados serão inocentados ou condenados
por eventuais crimes”
.
.
(http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1597548-renan-e-cunha-sao-avisados-de-que-estao-na-lista-de-politicos-da-lava-jato.shtml)
.
.

    abolicionista

    Traduzindo: “Relaxa Cunha, você é amigo e a gente vai livrar sua barra, tá tudo em casa”.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Curiosidade
    .
    Por que será que Globo, Folha, Veja e Estadão
    .
    nunca afirmaram isso, com todas as letras,
    .
    quando o ex-Ministro Petista Luiz Gushiken
    .
    foi objeto de Inquérito da PGR no STF?
    .
    .
    Assim como Gushiken, outros 11 réus
    .
    foram Absolvidos na AP 470 (Mensalão):
    .
    – Três ex-deputados Petistas:
    Paulo Rocha (PT-PA),
    Professor Luizinho (PT-SP)
    e João Magno (PT-MG); e
    – o ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto;
    – o ex-chefe de gabinete do Ministério dos Transportes José Luiz Alves.
    – a ex-funcionária de Marcos Valério Geiza Dias;
    – a ex-assessora parlamentar Anita Leocádia;
    – o ex-assessor do PL Antônio Lamas;
    – a ex-vice-presidente do Banco Rural Ayanna Tenório;
    – o publicitário Duda Mendonça
    – a sócia de Duda, Zilmar Fernandes;
    .
    .
    Todos esses Inocentes foram pré-julgados e condenados pela Mídia-EmpreZa,
    .
    antes mesmo de haverem sido formalmente processados pelo Poder Judiciário.
    .
    E junto com eles executad@s Cônjuges, Filh@s. Net@s, Pais, Mães, Ti@s e Avós.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Merval Pereira e Rena Lo Prete explicaram na Globo News:
    .
    – É que no Caso do Mensalão foi diferente…
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Aliás, na crônica no Jornal O GLOBO de hoje (04/3), o Merdal Pereira

    MENTIU de novo ao dizer que no caso do chamado Mensalão do PT

    o MPF-PGR entrou direto com Denúncia no STF, sem Inquérito anterior,
    .
    apenas com base em investigações realizadas em CPIs no Congresso.
    .
    Conseguiu agredir, ao mesmo tempo, à verdade, à inteligência e à memória:
    .
    ‘…é um engano imaginar que o fato de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir investigações sobre os políticos envolvidos na Operação Lava-Jato, em vez de já fazer denúncias, como no mensalão, significa um retrocesso ou é sinal de que se arma uma grande pizza no STF.
    .
    Acontece que no mensalão as investigações foram feitas durante as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), e o então procurador-geral Antonio Fernando de Souza apresentou denúncias ao Supremo com base nelas.’
    .
    [Ver Inquérito STF 2245: (http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2312906)]
    .
    No petrolão, apesar da série de delações premiadas, as investigações se aprofundarão agora, quando o relator do processo, ministro Teori Zavascki, autorizá-las, provavelmente a partir desta sexta-feira, ao mesmo tempo em que liberará o sigilo para que a lista seja revelada.’
    .
    [Agora, olha a prova da safadeza da Mídia-EmpreZa “Bitch”:]
    .
    ‘Ao contrário do que a maioria imaginava, inclusive eu,
    o fato de a delação premiada ser homologada pelo STF
    não significa que o delator forneceu provas
    de que está dizendo a verdade.
    .
    A homologação apenas atesta que os ritos legais foram atendidos no processo de delação premiada, mas será durante as investigações que as informações dadas serão checadas, cruzadas com outros fatos, eventuais planilhas ou documentos fornecidos pelos delatores — que serão analisados —, para que se forme um quadro conclusivo.
    .
    A delação, por si só, não pode servir de prova contra ninguém, mas deve indicar o caminho das investigações. E nesse caso do petrolão, graças às diversas delações premiadas, pode ser possível seguir o rastro do dinheiro, como preconiza o juiz Sérgio Moro na investigação sobre políticos corruptos.
    .
    A preocupação do Ministério Público será, a partir da próxima semana, arranjar as provas que permitam denunciar os investigados e condená-los no decorrer do processo. No mensalão, havia até mesmo recibos assinados do dinheiro a que cada um teve direito, o que facilitou muito a formação de provas.
    .
    No caso atual, o difícil será conseguir provar que o dinheiro doado por empreiteiras por meio de mecanismos legais e registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem origem ilegal, desviado das obras da Petrobras. Mesmo que se prove esse desvio com o cruzamento de planilhas, descobrindo-se o caminho do dinheiro, será preciso provar que o político que recebeu aquela doação sabia que era dinheiro ilegal. ‘
    .
    (http://naofo.de/35fr)
    .
    .
    Leia Também:
    .
    Inquérito da Polícia Federal no Mensalão do PSDB de Minas Gerais:
    .
    .(http://pt.scribd.com/doc/207013820/Mensalao-tucano-Relatorio-do-delegado-Luis-Flavio-Zampronha-da-Policia-Federal)
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Bandidos de Mídia esquecem rapidinho
    dos próprios Contos das Mil e Uma Trevas.
    Sempre têm um novo que supera o antigo.
    Ali Babá e os 40 Ladrões já ficou pra trás.
    Agora, é outra estória de Sheherazade:
    .
    (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2015/03/04/cunha-contrata-o-do-ali-baba-e-40-ladroes)
    .
    .

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