Afeganistão: Ecos do Vietnã

Tempo de leitura: 3 min

O relatório sobre o Afeganistão que o Pentágono não quer que você leia

Por Michael Hastings*

do site da Rolling Stone

No começo da semana, Scott Shane, do New York Times, publicou uma matéria bombástica sobre o coronel Daniel Davis, um veterano do exército com 17 anos de experiência que voltou há pouco de uma segunda missão no Afeganistão.

De acordo com o Times, Davis, de 48 anos, escreveu um relatório de 84 páginas, que não é secreto, e também um segundo relatório, secreto, onde apresenta sua avaliação a respeito da guerra que já leva uma longa década. A avaliação, essencialmente, é de que a guerra é um desastre e que o alto comando militar não disse ao público norte-americano quão ruim ela tem sido.

“Quantos mais precisarão morrer dando apoio a uma missão que não está tendo sucesso?” Davis pergunta abertamente no artigo em que resumiu suas ideias, publicado no jornal das Forças Armadas.

No mês passado Davis submeteu o relatório – intitulado “Dereliction of Duty II: Senior Military Leader’s Loss of Integrity Wounds Afghan War Effort” – para revisão interna no Exército. Assim, o relatório poderia ser divulgado para o público. Porém, de acordo com oficiais militares que acompanharam de perto a história, o Pentágono se recusa a divulgar o documento.

A Rolling Stone conseguiu uma cópia da versão de 84 páginas, não secreta, que está circulando dentro do governo norte-americano, inclusive na Casa Branca. Decidimos publicar na íntegra; vale a pena ler por conta própria.

Na minha avaliação, é um dos documentos mais significativos já publicados por um oficial da ativa nos últimos dez anos.

Aqui estão as primeiras linhas do relatório: “Os oficiais militares mais graduados dos Estados Unidos, quando se comunicaram com o Congresso ou com o povo norte-americano, distorceram a verdade a respeito das condições no Afeganistão de uma maneira que a verdade se tornou irreconhecível. Essa enganação prejudicou a credibilidade dos Estados Unidos entre nossos aliados e nossos inimigos, limitou severamente nossa habilidade de alcançar uma solução política para a guerra do Afeganistão”.

Davis segue em frente para explicar que tudo no relatório vem de “fontes abertas”, ou seja, informação não secreta. De acordo com Davis, o relatório secreto, que ele submeteu legalmente ao Congresso, é ainda mais devastador.

“Se o público tivesse acesso a esses relatórios secretos ele veria o abismo dramático que existe entre o que os nossos principais líderes dizem em público e o que é realmente verdadeiro por trás dos panos”, escreve Davis.

“Seria ilegal, da minha parte, discutir ou citar material secreto em um meio aberto, por isso não vou adiante; não sou o cara do WikiLeaks Part II.”

De acordo com a reportagem do Times, Davis deu um briefing a quatro congressistas e dezenas de funcionários do Congresso e mandou o relatório secreto para o inspetor geral do Departamento de Defesa e, claro, falou com o repórter do jornal; somente depois de tudo isso ele informou ao comando o que estava fazendo.

Evidentemente, a campanha de Davis pela verdade chacoalhou o Pentágono, levando oficiais anônimos a ameaçarem com a possibilidade de instaurar investigações por “possíveis violações de segurança”, de acordo com a [rede de televisão] NBC.

Apesar dos críticos tentarem desmerecer as afirmações de Davis como apenas opiniões de um “reservista” – como disse Max Boot – o relatório dele tem várias revelações, análises e dados que comprovam cada uma de suas afirmações.

Ele detalha o grande desastre do programa de treinamento do exército afegão, como o exército cruza a fronteira entre relações públicas e “operações de informações” (significa, essencialmente, propaganda), e a manipulação da mídia norte-americana por parte do Pentágono. (Ele contrasta, com conhecimento, as declarações públicas de altos oficiais militares com a realidade aguda no Afeganistão).

Davis conclui: “Minha recomendação é de que o Congresso dos Estados Unidos – as comissões das Forças Armadas da Câmara e do Senado, em particular – deve conduzir uma investigação bipartidária sobre as várias acusações de desonestidade e fraude contidas nesse relatório e audiências públicas também”, ele escreve.

“Essas audiências devem incluir os generais mais graduados e generais reformados aos quais me refiro neste relatório, para que possam ter todas as chances de dar ao público a versão deles.” Em outras palavras, colocar os generais sob juramento e, aí sim, ver que história eles contam.

*Michael Hastings é editor contribuinte da Rolling Stone e autor de “The operators: The Wild and Terrifying Inside Story of America’s War in Afghanistan”.

Aqui, para quem quiser baixar, o relatório completo em inglês:

http://www1.rollingstone.com/extras/RS_REPORT.pdf

Leia também:

Gustavo Ferroni: Erundina, não Kassab


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Comentários

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Nelson

O coronel Davis deveria ler o pequeno livro de Eduardo Galeano "O Teatro do Bem e do Mal" para conhecer uma das verdadeiras razões das guerras – em muitas vezes, a principal. Nele, Galeano escreve, de forma bem sucinta e clara:
"As fábricas de armas precisam de guerras assim como as fábricas de casacos precisam de invernos"

Morvan

Boa noite.

Interessante ler artigo publicado pela Rede Voltaire, Komsomolskaia-Pravda (em espanhol): http://www.voltairenet.org/_Komsomolskaia-Pravda-Federation-de_?lang=es, o qual desnuda o embuste da "Frente Democrática na Síria". Também dá para ver quem ficou do lado de quem (o Brasil, por exemplo, totalmente realinhado com os EUA e as "Forças de Paz"; a Rússia ressurgindo como força de equilíbrio).

Como, com muita felicidade, assinalou a Beattrice, Patriota é piada pronta.

:-)

Morvan, Usuário Linux #433640.

FrancoAtirador

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Irã protestará na FIFA contra comemoração de um jogador da Arábia Saudita

Durante uma partida entre o saudita Al-Ettifaq e o iraniano Esteghlal Teerã, o atacante Yousef Al-Salem marcou um gol e na comemoração levantou a camiseta e mostrou outra com a imagem de um caça F-16 – avião comprado recentemente dos Estados Unidos pela Arábia Saudita.

A partida em questão aconteceu no último sábado (18) no Estádio Azadi, em Teerã, e foi válida pela Liga dos Campeões da Confederação Asiática de Futebol.

OperaMundi

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/19

    Marat

    Se fosse o contrário, se o jogador do Irã mostrasse uma camiseta com um MIG ou om Tupolev, a tal da "comunidade Internacional" ficaria histérica e diria que os iranianos são atrasados e provocativos!

FrancoAtirador

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Navios de guerra iranianos chegam à Síria

Irã faz manobras para reforçar a defesa antiaérea
e proteger as usinas nucleares existentes no país

Agência Brasil

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-02-2
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-02-2

Alexei_Alves

A primeira vítima de qualquer guerra é a verdade……..

Pedro

O coronel americano quer uma verdade que não existe. A verdade capitalista é, por todas as razões, a mentira. Quem achar que os países capitalistas invadiram o Iraque e Afeganistão para ganhar alguma guerra estão por fora do que significa, em geral, qualquer guerra e, em particular, as atuais. É só de destruição que se trata. O capitalismo conseguirá sobreviver ainda por algum tempo dependendo do volume de destruição de que for capaz. Atualmente o vencedor quer destruir até as batatas.

augusto

um exercicio de hipoteses apenas. Veja-se como é instrutivo.
Suponha por un momento que Usa-Nato invadem a siria e fazem a tal '' mudança de regime'' ali. colocando um ditador amigo.
Suponha que em tres meses, bombardeia todo o Irã, e mesmo sofrendo grandes perdas nos paises do golfo, destroem o pais sob bombas, e novas armas. Entao re-contratam todo o petroleo. Pronto, sao donos do Oriente medio, da Eurasia toda e norte da africa.
Na melhor das hipoteses, ocorrem duas coisas:
<>o poder sobe á cabeça do establishment neocon e elite financeira, de wahsington. Buscarao novos lugares onde gastar o orçamento de guerra e tentarão restringir economicamente a china.
<> O resto do Ira (o pais é grande), china, russia, afganistao talibã ,e siria promovem em vingança a maior e mais
brutal guerra de guerrilhas em toda a eurasia e oriente medio contra os amigos do eixo Washingt-Londres-Paris.
Isso é imaginario , porem o minimo do que ocorreria na hipotese.

ZePovinho

http://actualidad.rt.com/actualidad/internacional

¿Comandos israelíes y turcos en las calles sirias?

Publicado: 20 feb 2012 | 17:39 MSK

Grupos de operaciones especiales de Turquía e Israel están actuando en territorio sirio para ayudar a la oposición a derrocar al gobierno de Bashar al Assad.

Así lo declararon varios medios iraníes citando a representantes de las fuerzas de seguridad sirias, quienes dijeron haber capturado el pasado fin de semana a cerca de 50 agentes turcos que presuntamente instruían a grupos de militantes de la oposición.

Según las fuentes, siete de los turcos detenidos confesaron que habían sido entrenados en actividad terrorista por la agencia de inteligencia israelí, el Mossad.

Los arrestados dijeron también que el Mossad había enviado a sus agentes a Jordania para enseñar a un grupo militante, proveniente de Libia y relacionado con la red internacional terrorista Al Qaeda. Está previsto que les envíen a Siria tras el entrenamiento.

Según las fuentes, las autoridades planean canjear a los cautivos por militantes del Ejército Libre de Siria, el principal grupo de oposición armada en el país árabe, así como por la promesa de Turquía de dejar de dotar a los insurgentes de armas ni dejarles cruzar la frontera común.

Mientras tanto, la posibilidad de que se produzca una injerencia extranjera en Siria sigue siendo el asunto más discutido por la comunidad internacional.

A favor de este escenario se pronuncian varios Estados árabes, que proponen también otra variante, consistente en el envío de tropas de paz de la ONU. Tampoco la descartan EE. UU. y sus aliados, que se muestran insistentes a la hora de exigir la dimisión del legítimo presidente sirio, Bashar al Assad, sin prestar atención a las acciones terroristas de los insurgentes.

En contra de cualquier intervención exterior se manifiestan Rusia y China, que llaman al diálogo y apelan a las dos partes enfrentadas a que depongan las armas.

La confrontación en Siria, que dura casi un año ya ha dejado más de 6.000 muertos, según grupos de derechos humanos.

Artículo completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/internacional

Marat

Prezados, acompanho diuturnamente o icasualties (www.icasualties.org), e até sei que eles inserem ali as consideradas baixas dos invasores no Viet… (ooooops) Afeganistão! (Sei que eles não contam as mortes que ocorrem nos hospitais militares de suas satrapias, como a Alemanha, por exemplo), mas vejo com perplexidade e tristeza que as baixas vêm diminuindo, e, das duas uma: ou eles estão revertendo a situação a seu favor, ou a manipulação ali está alta. Espero, de coração que seja mesmo uma manipulação, pois a segunda op��o, pois, se os países terroristas como os EEUU e suas colônias avançadas na Europa vencerem tudo, logo mais vão inventar alguma desculpa (por exemplo, na Tríplice Fronteira) e vão invadir nossas terras… Cabe ressaltar que minha paciência com Dilma está um pouco baixa, e sugiro a ela e seus ministros militares, que invistam pesado em armamentos, especialmente submarinos, mísseis antiaréreos, drones e equipamentos avançados para guerrilha… Caso algum partido de direita vença as eleições para presidente, as coisas ficarão tenebrosas para o Brasil… Dilma: Votamos em você esperando soberania e sabedoria, e não servilismo!!!!!!!!!!!!!!

    Luca K

    Bem Marat, o governo Dilma de modo nojento se alinhou aos interesses dos EUA/OTAN/ISRAHELL e das monarquias árabes medievais na votação contra a Síria. A coisa vai indo nessa direção. Quanto ao Brasil ter sua soberania ameaçada de maneira direta, não ocorrerá em nenhum momento próximo; 1º pq não há motivo, somos parte do sistema. 2º q as próximas etapas do grande jogo, já deixou claro Obomber, será travado na Ásia, do OM à Asia Central e o extremo Oriente. Os alvos; num primeiro momento o Irã. Daí os peixes grandes, Rússia e China.

    Lucas Cardoso

    O governo Dilma se alinhou aos EUA em várias coisas, não apenas nessa votação. Eu achava o Lula amiguinho demais do Bush e do Obama pro meu gosto, mas pelo menos ele tentava manter um mínimo de independência em sua política externa.

    Dom Pedrito

    A Rússia e a China serão os futuros alvos da Otan. O cerco vem aumentando gradualmente desde o desmoronamento da URSS, que deixou a Rússia totalmente desorganizada politicamente e a Otan vem se aproveitando disso. A Rússia é a única potência bélica capaz de parar com as ambições da Otan, mas vive internamente uma luta renhida pelo poder entre diferentes correntes politicas. A China está preocupada por ora apenas em crescer e tornar-se uma potência de verdade. Mas o alerta tocou para ambos (Russia e China) na medida em que a Otan vem chegando ao quintal dos dois paises. O momento propicio para a Otan iniciar um conflito naquela área será agora nas eleições russas quando o pais estará em efervescência politica.

    Luca K

    Ah, outra coisa; as baixas dos EUA/OTAN no Afeganistão estão aumentando gradativamente desde o renascimento do Taleban. É um fato.
    []s

    Luca K

    Apenas para embasar o que disse antes com relação ao fracasso do "Surge" e do aumento das perdas entre as forças dos EUA/OTAN, leiam o q escreveu o bem informado jornalista investigativo Gareth Porter em julho de 2011;
    "Despite Troop Surge, Taliban Attacks and US Casualties Soared
    by GARETH PORTER

    Data on attacks by armed opposition forces and U.S. combat casualties since the U.S. troop surge in Afghanistan was completed last summer provide clear evidence that the surge and the increase in targeted killings by Special Operations Forces have failed to break the momentum of the Taliban.

    The Taliban and allied insurgent organizations launched 54 per cent more attacks and killed or wounded 56 per cent more U.S. troops over the nine months from last October through May than in the comparable period a year earlier, according to data collected by the U.S. Department of Defense and by the highly-respected Afghanistan NGO Safety Office (ANSO).[…]"
    Na íntegra http://www.counterpunch.org/2011/07/04/despite-tr

Julio Silveira

Os States que decidem irão fazer ouvidos moucos, pelo fato de não ser novidade alguma o que esse militar diz.
O Objetivo desta guerra é ter um campo de treinamento real . Lá eles podem desenvolver seu material belico usando material humano por eles comprovadamente considerados de baixo valor. Experimentar suas bombas estoura montanha, desenvolver seus robos mortais. Tudo a titulo da supremacia americana, nos moldes nazistas. Não foi a toa que soldados de elite desse país posaram, em recente foto, em frente a bandeira da SS nazista, não merecendo sequer uma reprimenda. Para esses States da cupula, onde não se encontra a marionete Obama, a vida importante é a branca. A negra e as demais são males necessários, são concessões pragmaticas para se chegar ao objetivo maior. Acreditem se quiserem.

Lucas Cardoso

É um relatório interessante que demonstra que os militares estadunidenses mentem repetidamente sobre a capacidade de vencer a guerra no Afeganistão, mas é bom lembrar que mesmo que eles estivessem falando a verdade, essa guerra já seria criminosa e imoral.

FrancoAtirador

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Os EUA instalarem uma "Comissão da Verdade"

para apurar crimes praticados pelo Pentágono ?

É mais improvável do que o Brasil revogar a Lei da Anistia

para punir os crimes cometidos pela Ditadura Militar.

Coitado do veterano coronel Daniel Davis!

Mais um candidato a hóspede do Hotel de Guantánamo…
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ZePovinho

Se os militares brasileiros,como meu pai,escrevessem também sobre os anos de chumbo no Brasil(como esse capitão fez),prestariam um grande serviço ao país.
Como todo mundo sabe,eles têm um pacto de silêncio com comandantes que já morreram há décadas e não falam nisso nem dentro de casa.

Mateus_Beatle

Só não é estarrecedor de todo, pois já sabemos há tempos que este conto de fadas da "emancipação e disseminação da democracia para o oriente pelos mãos dos 'moçinhos' estadunidenses" não passa disto mesmo, uma historinha muito da mal contada.

Morvan

Bom dia.

Mais um excelente texto trazido por Heloisa Villela.
Já o havia lido, originalmente, no início do fevereiro passante.

Enquanto isso, na "maior democracia do planeta" (ah, ah, ah…):

"… Military district of Washington commander Major General Michael Linnington referred all charges against Manning to a general court martial on Friday, the army said in a statement.

The referral means Manning, 24, will stand trial for allegedly giving more than 700,000 secret US documents and a classified combat video to WikiLeaks for publication. He faces 22 counts, including aiding the enemy, and could be imprisoned for life if convicted of that charge.".

A Defesa de Manning afirma que havia vários indicadores, tanto psicológicos como sexuais (foi isso mesmo que você leu! Parte da estratégia da defesa alega que, em sendo Manning homossexual e as Forças Armadas estadunidenses estarem no redemoinho da discussão sobre o recrutamento ou não de homossexuais, pertubaram-no – ele apresentava comportamento explosivo e incompatível, segundo a Defesa, com alguém apto a manipular documentos classificados, e o Exército sabia disso.).

Interessante é que, no mesmo texto, é afirmado que os Procuradores da República estão investigando se Julian Assange e outros, de algum modo, facilitaram ou incentivaram a publicação dos documentos classificados. Quer dizer, não importa se o que os Estados Unidos fazem de errado mundo afora, e sim se alguém vazou alguma informação confidencial. É o jeito democrático de ser…

Fonte: Guardian, The; http://www.guardian.co.uk/world/2012/feb/04/bradley-manning-court-martial-wikileaks

:-)

Morvan, Usuário Linux #433640.

Zé Francisco

Não é só SP que vive um estado teocrártico, os EUA vivem o seu. Nos EUA, porém, os extremistas religiosos são donos das fábricas bélicas, cujas linhas de produção não podem parar, mesmo que a mentira e o declíneo moral e economico sejam o preço.

Waldemar Yotoshi

Tudo isto ( a verdade ) é escamoteado, e o público nunca fica sabendo dos horrores cometidos com o suor e o dinheiro dos imposto dos gringos.

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