Dramaturgo César Vieira: “Minha peça de teatro foi plagiada”

Tempo de leitura: 4 min
 ATUALIZAÇÃO em 29 de abril de 2010 às 23h14

Capa da primeira edição da obra de César Vieira. Lendo o manifesto, o próprio João Cândido

por Conceição Lemes

Idibal Pivetta. Toda vez que, no Brasil, se fala em advogados de presos políticos durante a ditadura militar, defensor dos direitos humanos e infatigável combatente de  injustiças, seu nome é um dos mais lembrados. Sua outra paixão é o teatro. É o consagrado dramaturgo César Vieira, há 43 anos à frente do Teatro Popular e União Olho Vivo, em São Paulo.

João Cândido. Liderou a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro. Embora os castigos corporais tivessem sido abolidos em 1889 nos navios de guerra, na prática, continuaram sendo aplicados. Em 22 de novembro de 1910, mais de 2 mil homens marinheiros embarcados no encouraçado Minas Gerais se rebelaram, reivindicando o fim das chibabatas na Marinha de Guerra Brasileira. No comando, o marujo timoneiro, João Cândido, que a partir de então passou a ser chamado pela imprensa da época de Almirante Negro.

Há dez anos, esses dois ilustres brasileiros “se encontraram”. O resultado foi a peça de teatro “João Cândido do Brasil – A Revolta da Chibata”, que estreou em novembro de 2001, no Teatro Municipal de Santo André, no ABC paulista. O espetáculo percorreu toda a cidade de São Paulo, o interior do estado e se apresentou em inúmeros festivais internacionais de teatro.

Em 2003, sob a forma de livro, a peça teatral foi publicada pela Editora Casa Amarela e pela  Secretaria Municipal de Cultura de Guarulhos. Depois, em 2005, uma nova edição foi patrocinada pelo Movimento Negro. 

“Levei três anos para chegar ao texto final”, conta o dramaturgo. “Foram pesquisas, estudos de jornais da época, visitas à Ilha das Cobras, onde João Cândido ficou preso durante dois anos, aos arquivos da Marinha, entrevistas com o Cândido Alberto, o Candinho, filho de João Cândido, e o historiador Marco Morel, neto de Edmar Morel, o autor da mais importante obra sobre o tema – o clássico ‘A revolta da Chibata’.”

“Em 2008, lendo reportagens em jornais de São Paulo, descobri que a Conrad Editora havia lançado uma história em quadrinhos [HQ]sobre o tema”, prossegue. “Achei ótima a ideia.Como sou fã de histórias em quadrinho – leio gibis há 31 anos! –, comprei.”

Título: “Chibata João Cândido e a Revolta que abalou o Brasil”, de autoria de Olinto Gadelha e Hemetério Netto.

Capa da segunda edição da HQ Chibata

“Só que à medida que fui lendo, descobri que o álbum Chibata é, na verdade, plágio da minha peça de teatro”, rela César Vieira. “O plágio está amplamente caracterizado. Há mais de 50 ‘coincidências’. É apropriação indébita, sem nem sequer citar a fontes. ”

“O meu livro mistura realidade com ficção”, explica César Vieira. “Eu criei personagens e locais que não existiram de fato. Características, aliás, observadas pelo  importante crítico literário Antonio Candido e pelo historiador Clóvis Moura, respectivamente, autores do prefácio e da introdução do meu livro.”

“A história em quadrinhos se apropria dessas minhas criações imaginárias e as usa como personagens e fatos históricos. Essa apropriação pode levar leitores incautos da HQ a conclusões indevidas”, exemplifica o dramaturgo. “Como amante do teatro e fã de HQ, considero antiética a conduta dos autores e da editora. O que me causa mais indignação é que o nosso grupo de teatro nada ganha, os atores são voluntários e nos nos apresentamos nas periferias pobres, para um público que não tem acesso à cultura. ”

César Vieira: Como amante do teatro e fã de HQ, considero antiética a conduta dos autores e da editora"

 Em junho de 2009, o autor César Vieira (Idibal Pivetta) entrou com um processo contra ambos na Justiça. Os advogados Paulo Gerab e Airton  Soares são os patronos. A ação tramita na 2ª Vara Civel do Foro Regional de Pinheiros, na capital paulista.

“Não tem cabimento essa acusação de plágio”, afirma Rogério Campos, editor da Conrad; “Um livro é peça de teatro, outro é história em quadrinhos, que foi baseada no livro do Morel.”

“No nosso entender não houve plágio”, afirma Roberto Romano, advogado da empresa. “Essa é uma tática muito comum no meio editorial… Tanto acreditamos que não houve plágio, que o advogado que se apresentou como do Idibal propôs acordo, nós não aceitamos.”

“O advogado que se apresentou como do Idibal” chama-se Paulo Gerab, que forneceu ao Viomundo outra explicação:

Eu enviei uma carta  à Conrad convidando  para  uma  reunião a fim de tratar de solução amigável ao plágio. Tivemos algumas marcações e cancelamentos por parte da editora,  alegando seu procurador  que a empresa estava em mudança de adminstração e encontrava dificuldades para agendar o encontro. Depois de alguns telefonemas veio a resposta por  e-mail [abaixo]. Não chegamos  a apresentar  proposta para eventual acordo porque não se realizou reunião alguma.  Como seguiam os adiamentos pela Conrad e não agendavam o encontro, passado bom tempo, por ética antes me descompromissei com seu procurador  e depois demos entrada à ação.

Nota do Viomundo: Sugerimos a todos que vejam o vídeo sobre o Almirante Negro que o Rodrigo Vianna postou no seu blog,  Escrevinhador. A trilha sonora, de  João Bosco e Aldir Blanc, é o belíssimo samba “O Mestre-salas dos Mares”.


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Comentários

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Jefferson

Se a hq plagiou o teatro, então terá o teatro, plagiado a vida real? Parabenizo os dois por divulgarem as ações do herói Cândido, independente dessa briga "artística"; poucos fizeram isso… no meu ponto de vista, esse processo é só um meio de morder dinheiro!

Daniela Neres Vieira

Que absurdo!…

arnaldo Vuolo

Vejo agora que o grande advogado Idibal Piveta- há pouco merecidamente homenageado pela OAB – que conheci nos idos de 68, quando já defendia presos políticos há certo tempo, na persona de Cesar Vieira, grande autor que também é, discute hoje plágio sobre sua obra sobre a Revolta da Chibata, em processo que tramita no Forum de Pinheiros. A contundência das afirmações do Idibal estão a indicar que houve mesmo apropriação ilícita da obra, de tal forma que passarei também a acompanhar o processo, por interesse profissional e também para acompanhar o trabalho dos dois valorosos advogados que o representam no processo, Airton Soares e Paulo Gerab, o primeiro com quem tive a honra de trabalhar, e o segundo que foi meu orientador no Depto Jurídico do XI de Agosto.

@fergiannasi

Como dramaturgo e produtor teatral, tive a oportunidade de trazer sua peça sobre a obra de Adoniran Barbosa para ser vista pelos trabalhadores e trabalhadoras da cadeia produtiva dos químicos, plásticos e farmacêuticos de São Paulo na sede do sindicato representativo da categoria e foi o maior sucesso. Por isto, não poderia deixar de testemunhar aqui a admiração profunda por este homem íntegro e sensível que é Idibal + César (ele é tão grande que não poderia ter apenas uma identidade!) e deixar registrado em VIOMUNDO minha indignação pelo plágio que sua obra sofreu e minha total solidariedade a este grande brasileiro, com quem pude conviver em momentos aflitivos de minha vida e de quem guardo sempre uma imagem carinhosa e paternal e de quem recebi a mais total solidária colaboração, mostrando-se um grande e ético companheiro.

@fergiannasi

Em total solidariedade ao IdibalPivetta/César Vieira que conheci enquanto advogado e posso dizer que é um dos mais competentes que conheci na área criminal. Em duas situações, Idibal Pivetta me tirou das garras das máfias da exploração do trabalho infantil, que tinha a benesse de famoso deputado estadual e um dos baluartes do golpe de 64,
envolvido em suposta deduragem que levou à prisão e morte do jornalista Vladmir Herzog. O tal deputado me processou pela lei de imprensa por tê-lo chamado de dedo-duro e canalha num jornal de grande circulação à época. Da outra vez, foi o presidente do maior conglomerado produtor de amianto do país que me denunciou criminalmente porque divulguei que a empresa dele fazia parte de uma máfia que chantageava seus ex-empregados para aceitarem valores vis de
indenização pelos males causados por sua produção perigosa e nociva à saúde humana, já que o amianto é um reconhecido cancerígeno para os seres humanos. Idibal foi brilhante em ambas situações e lhe sou
eternamente grata.

Leri Faria Jr.

Quero manifestar o meu total apoio à iniciativa do Cesar: o autor em busca do respeito pela sua obra! Hoje em tempo de campanhas pela liberação dos direitos autorais com cara de creative commons e pirataria na internet faz falta gente que se posiciona com firmeza, não pela propriedade de sua obra propriamente dita, mas pela apropriação imprópria dela.
SE os defensores dessa liberação quase total dos direitos patrimoniais das obras literárias, teatrais e musicais advogam em nome de uma liberação do conhecimento e da cultura para todos, acusando os editores de exploração, não apresentam nenhuma solução para a situação dos auitores e criadores afanados literalmente por essa onda de vi, baixei, copiei e me apropriei se nada pagar a quem de direito. Uma editora fazer isso nesse nível de desfaçatez é mesmo muita cara de pau e safadeza.

Leri Faria Jr.

Espero que a ação prossiga sua caminhada e atinja seus objetivos, comprovando de maneira irrefutável o plágio, desmascarando os safados da editora e os autores que se prestaram a essa fala de dignidade.
Assim manifesto meu total apoio, como músico, compositor e artista de teatro e como grande admirador da obra de Cesar Vieira, à iniciativa de procesasr a editora e esses autores fajutos!!!

Maria Cláudia

Pivetta sentiu na pele o que foi o arrepio da lei, sendo preso e mantido incomunicável por meses, enquanto seu advogado Dr. José Carlos Dias tentava de todas as formas vê-lo, sendo invariavelmente impedido pelo coronel encarregado do Inquérito. As peça Rei Mômo e O Evangelho segundo Zebedeu consagraram César Vieira internacionalmente, quando ainda tendo que responder à processo na Auditoria Militar, tinha que justificar ao governo militar, suas ausências do território nacional, nas inúmeras vezes em que foi convidado ao Festival Internacional do Teatro na França e em outros países da Europa. Em homenagem ao dramaturgo e à originalidade do TUOV, deixo aqui um pequeno trecho de sua obra como sinal de solidariedade a ele:
"Sou que nem soca de cana. Me cortem que eu nasço sempre".

Maria Cláudia

É lamentável que a peça de César Vieira tenha sido sofrido plágio. Admiro a tenacidade de Idibal Pivetta, tanto como artista (levando suas peças em 1971 às vilas operárias de São Paulo e Santo André, distribuindo medicamentos em bairros pobres, conscientizando pessoas), como advogado, num período em que poucos profissionais estavam dispostos a defender os presos políticos.

Eliete Ferrer

Minha solidariedade ao César Vieira/Idibal Pivetta!
Lute, companheiro! Lute até que seja reconhecido seu trabalho! Que o plágio seja denunciado!
Quando, por exemplo, o Joaquim Pedro de Andrade filmou Macunaíma, o cineasta deu os créditos da obra literária Macunaíma, a Mário de Andrade. Ele sempre declarou e deu os créditos ao autor do livro em que se baseou seu filme. Se a editora quis fazer a História em Quadrinhos, tinha que pedir autorização ao Idibal, além de citar a autoria do texto em que se inspirou.
Minha solidariedade ao César Vieira/Idibal Pivetta!

Luiz Alberto Sanz

Conheço bem a peça "João Cândido do Brasil: A Revolta da Chibata" e melhor ainda César Vieira/Idibal Pivetta e o Teatro União e Olho Vivo, aos quais me liguei ainda em 1967, quando César foi premiado com menção honrosa no histórico Seminário de Dramaturgia Carioca, organizado por Luiza Barreto Leite. Fui membro do júri final (os finalistas foram escolhidos pelo voto dos espectadores) e acabei estabelecendo uma relação de amizade com o único autor premiado não residente no Rio de Janeiro. A partir daí, passei a acompanhar sua trajetória. Mesmo na clandestinidade, na prisão e no exílio (ele foi advogado meu, de minha companheira e de meu filho mais novo, ainda infante) trocamos idéias e discutimos particularidades de sua dramaturgia e do TUOV. A característica principal de César/Idibal é a integridade. Até os inimigos sabem disso. A Operação Bandeirantes tentou, por todos os meios, incriminá-lo para provocar a cassação de seu registro de advogado. Não conseguiu.

Luiz Alberto Sanz

Conheço bem a peça "João Cândido do Brasil: A Revolta da Chibata" e melhor ainda César Vieira/Idibal Pivetta e o Teatro União e Olho Vivo, aos quais me liguei ainda em 1967, quando César foi premiado com menção honrosa no histórico Seminário de Dramaturgia Carioca, organizado por Luiza Barreto Leite. Fui membro do júri final (os finalistas foram escolhidos pelo voto dos espectadores) e acabei estabelecendo uma relação de amizade com o único autor premiado não residente no Rio de Janeiro. A partir daí, passei a acompanhar sua trajetória. Mesmo na clandestinidade, na prisão e no exílio (ele foi advogado meu, de minha companheira e de meu filho mais novo, ainda infante) trocamos idéias e discutimos particularidades de sua dramaturgia e do TUOV. A característica principal de César/Idibal é a integridade. Até os inimigos sabem disso. A Operação Bandeirantes tentou, por todos os meios, incriminá-lo para provocar a cassação de seu registro de advogado. Não conseguiu.
Um dos pontos que pude debater com Cesar (antes da descoberta do plágio) foi exatamente suas "invenções) dramatúrgicas em "João…". Uma das mais notáveis é a da prostituta-namorada do Almirante Negro. E a invenção é melhor ainda porque é plausível. Tão plausível que foi plagiada como autêntica.
É bom lembrar que este não é o primeiro plágio de uma obra sua. Da outra vez, foi a editora Abril que copiou quase integralmente o livro "Corinthians Meu Amor" e publicou em uma das suas revistas como reportagem assinada por um rapaz que, se bem me lembro, desapareceu no lixo da História, depois de perderem, ele e a revista, o processo que Idibal lhes moveu.
A Idibal/César, todo o meu apoio. À editora Conrad e aos plagiadores, meu repúdio.

Luiz Alberto Sanz (coordenador editorial da revista libertária Letra Livre)

Negro Brasileiro

Olá comunidade,
Eu como cidadão brasileiro, me sinto indignado, tive a hora de assistir a peça João Cândido do Brasil " A revolta da chibata" por diversas vezes e percebi o trabalho histórico e heróico que este grupo faz. Não é possível que esta situação de plagio fique impune! Vamos começar a valorizar nossos autores como se é de direito e por um fim as pessoas que se aproveitadoras e mercenarias!

Walter Quaglia

Se o dramaturgo César Vieira, que dirige o Teatro Popular e União Olho Vivo, de São Paulo, diz que a sua peça de teatro “João Cândido do Brasil – A Revolta da Chibata”, que estreou em novembro de 2001, foi plagiada em uma edição de HQ, não autorizada e que tem os elementos ficcionais criados por ele para o teatro, isso só pode ser verdade, posto que Cesar Vieira é pessoa da maior respeitabilidade, de ética impecável e jamais faria uma acusação leviana de plagio se de fato ela não existisse. Sabemos que sob o nome artístico de César Vieira, que faz teatro popular sem o objetivo do lucro, mas pelas idéias , está o advogado Idibal Pivetta, também um lutador emerito pelas causas justas.

Alexandre

Minha solidariedade ao César Vieira, que esse episódio não se repita.

Geo Britto

O Centro de Teatro do Oprimido vem por meio deste se solidarizar com o valente, criativo e importante diretor Teatral Cesar Vieira em relacao ao plagio de sua peça Joao Candido do Brasil.

Bacco

O plágio é evidente diante do fato de que foram publicados, como históricos, episódios e personagens irreais concebidos pela imaginação do artista e só constante de sua obra.

O personagem é como um filho do autor. Apropriar-se dele sem o consentimento paterno equivale a um seqüestro moral. Justa a indignação de César Vieira diante da reprovável conduta dos responsáveis pela publicação.

Os pesquisadores idôneos jamais deixam de referenciar suas fontes.

Bacco

O plágio é evidente diante do fato de que foram publicados, como históricos, episódios e personagens irreais concebidos pela imaginação do artista e só constante de sua obra.

O personagem é como um filho do autor. Apropriar-se dele sem o consentimento paterno equivale a um seqüestro moral. Justa a indignação de César Vieira diante da reprovável conduta dos responsáveis pela publicação.

Os pesquisadores idôneos jamais deixam de referenciar suas fontes. A falta disso é plágio.

O Brasileiro

Que não reste só a impunidade… como no caso da anistia aos torturadores fardados!

Luciana

Cesar Vieira minha solidariedade. João Cândido o Almirante Negro é um, herói brasileiro que a história oficial "esconde".
Cândio foi exemplo de coragem, resistência, bravura, organização política e liderança.
Morreu pobre.Este espetáculo é parte da continuação da resistência de João Cândido.

francisco.latorre

martin claret a editora.

assassina clássicos em edições péssimamente desenhadas.

..

Juarez Marques

E a música é do João Bosco.

Conceição Lemes

Poucos, Hans. É uma pena. Aliás, dupla. Por desconhecer a história da Revolta da Chibata. Por não ter tido o prazer de ouvir e cantarolas essa música. A letra é uma preociosidade. Juntas, melodia e letra, uma obra-prima. Que delicadeza!. Abs

Conceição Lemes

Azenha e Leandro, este comentário é apenas um teste. bjs

Leider_Lincoln

É verdade. eu tenho este mesmo livro e notei isto…

Carlos

Mas a letra não é do Aldir Blanc?

Conceição Lemes

Daniel, obrigadíssima. Corrigido. Abs

daniel

O Texto tem dois erros:
"sido abolidos em 1989", não seria 1889?

Este parágrafo se repete:
“Só que à medida que fui lendo…"

Conceição Lemes

Azenha e Leandro, este comentário é aopenas um teste. bjs

Christian Schulz

Ironicamente, o parágrafo que caracteriza o plágio está repetido no texto! ;D

Brincadeiras a parte, a Caros Amigos, que organiza a Casa Amarela, denunciou em reportagem as cópias descaradas de traduções de clássicos por certas editoras nacionais.

Acho um tema pertinente, visto que até um leigo como eu consegue perceber algo de estranho. No livro "A Vida dos Doze Césares", de Suetônio, por uma editora de nome afrancesado, há um parágrafo enorme duplicado no ensaio sobre Vespasiano, se não estou enganado. O que me leva a crer que o editor simplesmente deu um ctrl+c numa antiga tradução e apertou duas vezes o ctrl+v para fazer a sua…

Hans Bintje

Conceição Lemes, por favor, me responda uma coisa: quantos brasileiros conhecem "O Mestre-Sala Dos Mares"?

"Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo"

E "faz muito tempo" mesmo. Há cada vez menos pessoas para recontar essa história – e que ainda se dão ao trabalho de ficar brigando entre elas – a memória se apaga…

Eu sigo o pensamento de Hermeto Pascoal (1): "Se eu fosse cientista e descobrisse a cura do câncer, eu sairia gritando na rua para os meus colegas médicos para curarmos o mundo logo. Mas as pessoas gostam de guardar os segredos e carregá-los para tirar proveito daquilo."

O músico arremata: "Quem quiser piratear os meus discos, pode ficar à vontade. Pirateiem os meus discos… Sabe o que Deus falou? 'Crescei e multiplicai-vos'. Muita gente pensa que isso é só para transar. Devemos crescer na maneira de ser e multiplicar o que tem de bom. Sem barreiras."

É sobretudo uma questão de talento. Cito um exemplo (2):

"Copa Fest: Hermeto Pascoal transforma até microfonia em improviso

Sob aplausos, Hermeto Pascoal subiu e, sob aplausos, ele desceu do palco onde apresentou mais um de seus shows de improviso. Roteiro? Nem pensar em seguir um. O velho albino entrou em cena tocando um teclado Roland e, durante o longo show que apresentou no Copa Fest, tocou de flauta e a escaleta, passando pela chaleira. E também teve o patinho de plástico… Por causa das entrevistas que deu antes do show, não teve tempo de passar o som. O resultado foi estouros e microfonias, que, legitimamente, Hermeto adicionou à sua música, como mais elementos de improvisação. Sua banda mostrou virtuosismo do início ao fim."

Notas:

(1)http://pt.wikiquote.org/wiki/Hermeto_Pascoal

(2)http://garotafm.com.br/2010/04/17/copa-fest-herme

    Luiz Alberti Sanz

    Teu discurso é bem articulado, com uma aparência libertária, mas falha no essencial: Ao escamotear a informação sobre pelo menos um das fontes utilizadas e apossar-se da criação de outro, cobrando por isso, os responsáveis pelo plágio estão, pura e simplesmente, roubando para benefício próprio. Não podem ser considerados como o lendário saxão Robin Hood, mas sim como o mítico semita Ali Babá. Hermeto se referiu à "pirataria" de seus discos e músicas e não ao plágio. Ninguém vende cópias de discos ou músicas de Hermeto dizendo que são do Fulano de Tal. Porque não vende. Além do mais, roubar os direitos de "João Cândido…" é roubar o mais antigo grupo de teatro de periferia do Brasil, que subsiste cobrando de quem pode para apresentar-se onde o teatro que vive do apoio das grandes empresas nunca vai. E sempre apresenta o outro lado da nossa história: peças sobre canudos, a paixão pelo futebol e o samba, a guerra dos sete povos das Missões, a disputa por terras, a greve dos operários de Perus, o Carnaval belo e cheio de mazelas, a luta do povo da Nicarágua….
    Toda propriedade é roubo, disse Proudhon, e eu concordo. Mas roubar do roubado, do ferrado, é falta de caráter.

    Murilo Dias César

    Orgulho-me em dizer que conheço a peça "João Cândido Brasil"ainda "na barriga da mãe", isto é, desde a sua gestação, quando Idibal me falava com tremendo entusiasmo sobre ela. Texto pronto, assisti a diversos ensaios do Grupo União e Olho Vivo; peça pronta, tive o prazer de assistir à sua estréia; depois sei lá quantas vezes voltei a assisti-la durante a sua temporada, que, aliás, continua… Uma obra-prima da dramaturgia, sem dúvida, digna de seu autor Idibal Pivetta, grande dramaturgo e defensor dos direitos humanos.
    Nesta briga pelo respeito ao seu direito de autor, caro amigo Idibal, pode contar com a minha absolutamente solidáriedade.
    Murilo Dias César

@dolphindiluna

Oi Conceição!

Maravilha de post! Repliquei lá no blog She-NSN com os devidos créditos!
http://she.nerdssomosnozes.com/2010/04/clipagem-n

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