Gilberto Maringoni: Os ataques da Folha ao Ipea na Venezuela

Tempo de leitura: 3 min

FOLHA AGORA ATACA IPEA NA VENEZUELA

por Gilberto Maringoni

A Folha de S. Paulo desta quinta (10) faz novo ataque ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O torpedo se volta o relevante trabalho desempenhado desde 2010 pela Misão Ipea na Venezuela, que deveria ser a primeira de uma série de iniciativas de integração regional. Outros escritórios seriam abertos em países do Mercosul.

Não serão mais, pela mudança de rumos ocorrida no Instituto.

Aproveitando o embalo dos problemas na consolidação da pesquisa sobre violência contra as mulheres, o jornal busca desqualificar o trabalho inovador realizado por Marcio Pochmann à testa do Instituto (2007-2012).

O correto seria buscar entrevistar o atual presidente do Ipea. Mas não. E isso tem razões claras.

Marcio provocou uma verdadeira revolução nos trabalhos do órgão. O número de pesquisas e publicações aumentou sensivelmente, bem como os campos de análise. O Ipea abriu-se para áreas que iam além da economia, abrangendo sociedade, antropologia, cultura, história e relações internacionais.

Seus estudos tornaram-se referência não apenas para órgãos governamentais, mas também para entidades associativas e movimentos sociais. A pauta dominante convergia para temas ligados ao desenvolvimento.

Como se sabe, Dilma Rousseff retirou o desenvolvimento da agenda nacional e realiza um governo de perfil ortodoxo e medíocre na seara econômica. Com isso, a gestão de Pochmann passou a ser um incômodo.

Por pressão de Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), nomeado ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos na partilha de cargos para compor a base aliada, a presidenta decidiu nomear o economista Marcelo Neri para a presidência da instituição. Neri desposa teses abertamente neoliberais e focou os trabalhos na incerta “nova classe média”.

Um de seus objetivos é acabar com as missões no exterior.

Para isso, a Folha dá sua desinteressada ajuda.

Os termos da matéria são levianos, a exemplo deste: “Única representação internacional do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a filial do órgão na Venezuela prioriza análises favoráveis ao chavismo e projetos de integração com o Brasil ao estudo dos graves problemas macroeconômicos do país”.

O chefe da missão na Venezuela é o economista Pedro da Silva Barros, doutor pela FEA-USP. Em menos de quatro anos, ele produziu e coordenou dez relatórios específicos no âmbito da cooperação bilateral, com temas ligados à urbanização, indústria petroquímica, desenvolvimento na região da fronteira, integração produtiva entre os dois países etc.), oito cursos sobre negociações internacionais e políticas públicas, dois livros, seis artigos e relatórios de pesquisa, participação em 21 seminários, conferências, palestras e debates, três congressos acadêmicos e várias publicações em jornais, revistas e sites. Os dados constam de memorando enviado pelo economista ao jornal paulistano.

A Folha reclama que o tom dos trabalhos ”varia entre o neutro e o elogioso ao chavismo”.

Não é verdade. O problema é que a mídia brasileira – useira e vezeira em distorcer fatos sobre o país – só acha relevantes e com credibilidade matérias que ataquem de frente os governos Chávez e Maduro. Por omitirem conquistas reais – como elevação da qualidade de vida, fim do analfabetismo, melhoria da distribuição de renda etc. –, tudo o que não faça coro com uma cobertura, no mais das vezes enviesada, significa “politizar” as coisas, como malandramente insinua a matéria.

O texto do jornal critica ainda o fato de Pedro Barros escrever e opinar sobre a política venezuelana em sites e blogs.

Ou seja, um jornal que alega defender com unhas e dentes a liberdade de expressão quer impedir justamente a liberdade de expressão.

Em tempo: fui bolsista do Ipea entre 2008 e 2011 e editor da revista ‘Desafios do desenvolvimento’ entre 2011 e 2012.

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Comentários

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Conrado

O IPEA deu um tiro no próprio pé com a lambança da pesquisa sobre violência contra a mulher. Quem se quer “inovador”, quem se arroga revolucionário e pretende romper paradigmas deveria ser mais cuidadoso. Se não for, acaba dando munição ao ‘inimigo’.

FrancoAtirador

Mardones

Fossa de São Paulo?!

Até hoje tenta esconder a sujeira dos carros que emprestavam aos torturadores.

Luís Carlos

A Folha ser “elogiosa” aos EUA e a Israel não tem problema algum para o Frias? O jagunço dos interesses corporativos dos EUA se dói com trabalhos que mostrem bons indicadores de países que não se subemetem a ser capacho dos EUA e de Israel, como é Folha.

    Mário SF Alves

    “A Folha ser “elogiosa” aos EUA e a Israel não tem problema algum para o Frias? O jagunço dos interesses corporativos dos EUA se dói com trabalhos que mostrem bons indicadores de países que não se submetem a ser capacho dos EUA e de Israel, como é Folha.”
    ________________________
    E o que ainda pior: nenhum desses elogios são ingênuos.

    Pergunte aos Frias se eles querem a superação do capitalismo subdesenvolvimentista aqui?

    Não querem. Isso atrapalharia os negócios, e sobretudo, os compromisso de manter, custe o que custar, o Brasil como eterna reserva de valor pros gringos.

    ___________________________________
    Toda a comparação que fazem é no sentido de nos humilhar. Nenhuma delas é devidamente contextualizada. Nenhuma delas faz menção ao papel da mídia no atraso de vida dos brasileiros.

Nelson

Mais um dado a comprovar a desandada de Dilma para a direita. Desandada que eu previa ainda antes de ela ser eleita. Com sinceridade, eu torci contra minha própria previsão. Infelizmente, perdi.

clemente

Creio que um meio de comunicação, que questiona a situação atual da imprensa e se propõe a ser uma nova comunicação no futuro não pode executar tal tipo de leviandade “Como se sabe, Dilma Rousseff retirou o desenvolvimento da agenda nacional e realiza um governo de perfil ortodoxo e medíocre na seara econômica” Soltar tal afirmação no meio de um texto que discute outro assunto, sem argumentos, dados, sem uma linha auxiliar é um péssimo exemplo de leviandade, todo um processo de mudanças de avanços e retrocessos típicos de disputa em correlação de força, não deve ser reduzido de forma tão política, irresponsável e dogmática determinista, alto lá se o gestor foi subistituido, apesar do seu trabalho bom, mostra que ele não tinha respaldo político, que é o que mais se acusa Dilma de ser muito técnica, em política governos necessitam de votos no congresso apoio social e o gestor, deve se aprimorar também nesta área.

    dimas

    Quando os petistas assumirem os desvios que o PT vem realizando será tarde demais. Terá se tornado um grande PSDB.

    clemente

    O que diferencia o PT do PSDB não é a moral, já que esta é de cunho pessoal e individual, e sim a política, o PT é social democrata e o PSDB neoliberal. O PT nacionalista e o PSDB representa interesses externos. Mas o PT defende o fim de financiamento das campanhas, por empresas, para diminuir a influência econômica e acabar com o caixa dois nas campanhas, não creio ser a ação de quem quer virar o PSDB. Vale ressaltar que o governo não é do PT é de uma coligação ampla, então o PT não faz o que quer e ataques como este só servem para tentar enfraquece-lo jogando o governo na mão dos capitalistas nacionais.

    Anja

    Fundamental que nos expressemos que a defesa de um processo limpo para Zé Dirceu não é aval para falcs.

Bernardino

Nao é à toa que esse PANFLETO DIREITISTA está sendo CHAMADO:

” FOSSA DE SAO PAULO” .Esperar o que de quem COLABOROU com A DITADURA !!!!!

Fabio Passos

Medir e divulgar avanços sociais na AL causa ira no PiG. rsrs

Estes oligarcas da mídia são a definição de atraso.
A fsp é um lixo. Deixar de ler esta porcaria só faz bem.

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