Onde anda a Shakira, para protestar contra massacre no México?

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Onde anda a Shakira?

México deveria ser o exemplo

por Jair de Souza, especial para o Viomundo

Nos primeiros meses deste ano, pudemos constatar através dos grandes meios de comunicação de todo o mundo uma forte campanha de denúncias contra o governo da Venezuela. Este movimento recebeu o significativo nome de “SOS Venezuela”. E a campanha não se limitava aos meios de comunicação.

Em eventos artísticos, como na entrega dos prêmios Oscar, Grammy, artistas da farândula mundial, que sequer sabiam onde se localizava a Venezuela, apareciam dando entrevistas, ou através de suas contas twitter, expressando sua preocupação com a perseguição política posta em prática pelo governo de Nicolás Maduro.

Semelhante preocupação também vinha das chamadas organizações “defensoras dos direitos humanos”, entidades como Human Rigth’s Watch, Anistia International e tantas outras financiadas pelas fundações mantidas por George Soros pelo mundo afora.

O que estava ocorrendo na Venezuela para justificar uma campanha de denúncias de tal magnitude? Bem, é que nas eleições presidenciais recém concluídas, o representante chavista Nicolás Maduro tinha derrotado o candidato da direita unificada Capriles Randonski.

E, em sua inconformidade com a permanência do chavismo no comando do governo, a ala terrorista da oposição direitista decidiu que era hora de “sair” do chavismo fosse como fosse.

A partir desta decisão, puseram em andamento seu plano de “guarimbas”. Ações de terrorismo urbano visando criar pânico e soçobra no país para gerar condições de uma intervenção internacional — leia-se, capitaneada pelos EUA — que, finalmente, depusesse do governo o chavismo e o entregasse aos cidadãos de “bens” — ou seja, aos aliados locais do grande capital multinacional.

Nesse processo guarimbero, foram assassinadas mais de 40 pessoas (em sua amplíssima maioria, gente que simpatizava com o Governo).

Com seu poder de articulação mundial baseado nos interesses de classe, as corporações midiáticas da Venezuela inundaram o planeta com “informações” que atribuíam ao governo as mortes que os grupos terroristas de oposição causavam.

Foi assim que, no mundo inteiro, o que se via, escutava ou lia através dos meios de comunicação eram as “agressões” que as forças de segurança pública venezuelanas desfechavam contra os “pacíficos” manifestantes da oposição. Vocês se lembram disso?

Porém, o centro de meu interesse no momento não é a Venezuela.

Hoje eu quero tratar de um país que, segundo a Veja, a rede Globo, a Band, a CNN, o grupo Clarín da Argentina, assim como a quase totalidade das corporações midiáticas de nossa planeta, deveria ser visto como o modelo a ser seguido por todos os demais países da América Latina: o México.

E por que o México deveria ser um exemplo a seguir? É fácil entender.

Do conjunto dos países latinoamericanos, nenhum aceitou assimilar de modo tão amplo as diretrizes traçadas pelos formuladores geopolíticos dos Estados Unidos, por meio de instituições como o FMI, o Banco Mundial, entre outras.

Assim sendo, o México passou a fazer parte do chamado Tratado Norte-Americano de Livre Comércio  — NAFTA, por sua sigla em inglês –, com o que eliminou-se toda e qualquer barreira para a participação do capital estadunidense na economia mexicana.

Que beleza, não é mesmo? Por fim, gente de inteligência avançada entendeu o que deve ser feito para tirar a América Latina da penúria, bradavam (e bradam) os defensores do neoliberalismo e nossa mídia corporativa.

Se ainda não chegaram a uma situação paradisíaca, devem estar próximos a atingí-la. Com tudo a favor, como não melhorar?

Mas, o que de fato está acontecendo com o México?

Não sei por quê, mas, nos últimos anos, em lugar de trazer o México à tona das notícias para reforçar junto àqueles que seguem defendendo os “arcaicos” pensamentos antineoliberais, nossa mídia corporativa parece ter optado por ignorá-lo. Que pena, não é mesmo?

No entanto, aqueles que decidem encontrar informações sobre o que anda ocorrendo por lá acabam por encontrá-las. E isto não é nada bom para os que apregoam as benesses do neoliberalismo.

A partir de sua adesão ao NAFTA, a economia mexicana entrou num processo de forte deterioro, a miséria e os problemas sociais se multiplicaram de maneira geométrica.

A estatal do petróleo, PEMEX (a PETROBRAS deles) se abriu para o capital multinacional e, depois de quase um século de controle nacional, agora quem dá as cartas na questão do petróleo são as multinacionais do ramo.

A dificuldade de as empresas mexicanas concorrerem com as empresas dos EUA e Canadá levou à quebra um grande número das primeiras, com a consequente elevação do desemprego.

Com a falta de oportunidades de trabalho, aumentou enormemente o número de pessoas que procuram cruzar a fronteira  — apesar da perseguição que sofrem nesta tentativa — em busca de trabalho do outro lado.

Com os problemas do desemprego, da miséria, da falta de autonomia para decidir seu próprio destino, o México se tornou um país inteiramente vulnerável às arremetidas dos carteis do tráfico de drogas.

Podemos dizer, sem medo de cometer um erro, que na atualidade os carteis do tráfico de drogas do México nada têm a invejar de seus congêneres colombianos.

A presença do poder do tráfico de drogas pode ser sentida em quase todas as instituições estatais do México.

A influência exercida por eles se estende aos níveis federal, estadual e municipal. E aqueles que ousam denunciá-los são vítimas de violentas e mortíferas represálias por parte das bandas armadas dos traficantes.

Chegando ao ponto principal de meu atual interesse, temos o recentíssimo episódio de Iguala, no estado de Guerrero  — onde se encontra a conhecida Acapulco. Por aqui  — e por nenhum outro país da América Latina –, a gente não tem recebido muitas notícias pelos grandes meios sobre os acontecimentos de Iguala. O que houve por lá que deveríamos saber?

Em 26 de setembro deste ano, 43 estudantes da Escuela Rural Normal de Ayoztinapa que protestavam contra a vinculação das autoridades municipais com o tráfico de drogas foram sequestrados e desaparecidos até o dia de hoje. Há uma lamentável sensação de que todos eles tenham sido exterminados de modo vil e desumano.

No processo de sua busca, foram descobertas fossas comuns com restos humanos calcinados, o que dificulta sua identificação, referentes a 28 pessoas. Seriam eles dos estudantes sequestrados, ou seriam de outras infelizes vítimas? De todas as maneiras, o panorama é monstruoso e aterrorizante.

Com o pouco interesse do governo do estado de Guerrero e da Presidência da República em dar solução a este crime abominável, os familiares dos estudantes desaparecidos tiveram que ir à luta por sua própria conta para fazer com que o mundo tivesse conhecimento de um crime tão monstruoso como este.

E o que estão dizendo os artistas da farândula mundial que andavam tão preocupados com as ações do governo da Venezuela? O que andam dizendo Shakira, Rihanna, Juanes, Alendro Sanz e tantos outros? Claro que nada, absolutamente nada. É que eles, como artistas, não se metem nessas coisas!

A menos, claro, que se trate de um país que não faz parte do grupo de amigos dos Estados Unidos.

Se um caso como o de Iguala tivesse acontecido na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua, na Argentina, eles já estariam pedindo a entrada de tropas internacionais (entendamos, dos Estados Unidos) para garantir a “defesa dos direitos humanos”.

E por falar em direitos humanos, vocês têm sentido o peso das campanhas de repúdio a este horripilante crime por parte de HRW, Anistia International ou das outras organizações mantidas por George Soros?

E as corporações midiáticas, vocês notam uma forte campanha de denúncia presente na Veja, na Folha, na Globo, na Band, etc., para chamar a atenção do público para tanta monstruosidade cometida por traficantes em conluio com forças políticas no exemplar Estado do México  — o nome oficial é República de los Estados Unidos Mexicanos?

Assim é, o caminho escolhido pelos políticos que dirigem o México é o que nossas corporações midiáticas e seus apoiadores neoliberais gostariam que nós também trilhássemos.

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Comentários

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Cláudio

♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ Dilma, Vamos Para Cima. Vamos Fazer Política: Reformas Constituinte Exclusiva e do Judiciário, Urgentes; Lei da Mídia e “Paper Track” na Urna Eletrônica Já! Seja Legal; seja Livre. Use Linux.

Com Dilma, a verdade VENCEU a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D

Euler

E por falar em artistas, novamente vários cantores sertanejos escolheram a direita para apoiar. Primeiro foi com Collor. Fizeram fila para apoiá-lo. Desta vez foi com Aécio. Êta turma alienadíssima! O mesmo aconteceu com jogadores como Ronaldo e Neymar. Impressionante como uma parcela destas figuras que ganharam fama e dinheiro, alguns de origem pobre, não tem qualquer compromisso com os de baixo. Desconhecem completamente a realidade social e política do país onde fizeram suas carreiras e fortunas. Felizmente, a maioria do bravo povo brasileiro não caiu nesse canto de sereia de figuras midiáticas que vendem sua opinião, como vendem sua própria imagem.

    Julio Silveira

    O povo já reconhece o mercenarismo dos aliados da direita.

Morvan

Boa noite.
“Pobre de México tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos” D. a. Porfírio Diaz; Nada mais atual.
Seria o nosso cruel destino, se nossos feitores fossem tucademos. Felizmente não.

Léo

Nas eleições que elegeram Obama, todos os presidenciáveis americanos condenaram os latinos americanos. Vendo eles, que milhões desses “invasores latino-americanos” estavam legalmente no Estado americano, voltaram atrás e reconheceram a força do trabalho desse povo marginalizado.

Artistas talvez tenha o mesmo problema. Nada fazem, a não ser que estes deem visibilidade e lucros. Afinal Shakira afrontar o “Tio SAM” e os donos da sua gravadora traria grande prejuízo a sua carreira.

Urbano

A grande dificuldade do México é se encontrar ao alcance das mãos dos gorilas ianques. Quantas terão sido as oportunidades em que entraram na tora para decidir a seu favor qualquer situação, mesmo que furtivamente?

zequinha

O México tem um alto preço a pagar: a proximidade com os EUA sendo um povo latino-americano.

Marcilio

Pessoal,

Ano passado estive no México precisamente em Cancún e constatei tudo in loco. Um povo belíssimo e amigo, minha família foi muito bem tratada mas fiquei com a impressão de uma certa tristeza e melancolia.

Peguei um táxi e conversando com o motorista ele falou abertamente do envolvimento do atual presidente com o Narcotráfico aliás quase toda família presidencial.

Por muito pouco não assistimos este filme em nosso país mas a guerra ainda não acabou.

Marat

Existem muitos subprodutos da pseudocultura estadunidense… Aqui na América Latina sempre há os que rastejam uma vaguinha no estrelato do país desaculturado!

Roberto de Souza

Nossa elite, a parte podre de nossa imprensa (Globo, Veja, Folha de São Paulo), elogiam o México e o apontam como exemplo a ser seguido, por ter aceito a NAFTA, área de livre comércio entre as Américas e esquecem de mencionar que desde então a pobreza no México triplicou, as empresas nacionais faliram, a PEMEX (Estatal mexicana de petróleo, a Petrobrás do México), foi privatizada e o tráfico de drogas domina as esferas governamentais, cito municipais, estaduais e federal. É isto que queriam fazer com o Brasil. Obrigado Jesus, por livrar o Brasil desta desgraça que é unir se de forma subserviente aos Estados Unidos.

Gerson Carneiro

É fácil imaginar como estaria a imprensa brasileira se o massacre dos 43 estudantes mexicanos fosse na Bolívia, Venezuela ou Cuba.

    Lukas

    Mais fácil imaginar como estaria a blogosfera progressista.

    São dois lados da mesma moeda.

    Luiz (o outro)

    Desentendido…

    Julio Silveira

    Muito desentendido, chegando as raias da hipocrisia.

    FrancoAtirador

    .
    .
    São 2 lados, mas não da mesma Moeda.

    Os Blogs Sujos têm em caixa 100 Reais.

    A Mídia Bandida 100 Bilhões de Dólares.
    .
    .

    Viviane

    Eu não consigo ter a mesma educação do Luiz e já uso outro termo: CÍNICO!
    P. S.: Sumido, hein, colega?! Por que será, né?

Edgar Rocha

Só uma opinião diferente: o fortalecimento do tráfico de drogas não é efeito colateral da conjuntura econômica e do projeto político equivocado no México. Ele é parte integrante e crucial para a manutenção deste projeto político, com seu fortalecimento previsto e deliberado. Isto porque ele oferece ao Império absolutista do Mercado um poder bélico impensável dentro das esferas institucionais e democráticas atuais. Perseguir inimigos, exterminar opositores, implantar o terror de Estado nos dias atuais é o mesmo que implantar uma nova onda de ditadura militar, com métodos e desdobramentos já conhecidos e passíveis de denúncia e resistência. Vale lembrar, contudo, que o mote para a intervenção no processo político e no poder instituído dos países não alinhados é justamente a luta pela democracia e libertação do “povo oprimido” de seus governantes crápulas. A submissão da população atingida pelas políticas públicas neoliberais passa pelo terror implantado pelo poder paralelo. Poder este a serviço do jogo norte americano de desestabilização governamental e caos social. Somado ao medo, a oferta de “inclusão econômica” pelo ingresso nestas forças paralelas e termos um povo dividido com a parcela sensivelmente mais jovem entregando-se aos impulsos de ódio e heroísmo apregoado por Hollywood, em detrimento de seu próprio futuro e da paz de seu próprio povo. É o plano perfeito.
enquanto acharmos que as dificuldades econômicas são o principal fator para tamanha degradação humana e social, não teremos condições de contemplar a enorme sofisticação deste projeto pernicioso. É preciso reconhecer no tráfico de drogas e no crime organizado um inimigo a ser combatido sem pudor algum. E entender seu papel no projeto neoliberal para a confirmação deste e destruição de tudo que possa oferecer resistência é o primeiro passo. Aqui no Brasil, ainda continuam tentando limpar a piscina de merda se enfiando dentro. Isto porque há o medo justificável de que, ao combater o esquema de manutenção do crime e cooptação da juventude para a criminalidade, pode-se despertar a fúria dos que controlam este sistema e acelerar o processo de tomada à força das instituições. Mas, não se iludam. O objetivo é este. Com ou sem enfrentamento, ainda veremos a reabilitação de gente como Marcola no seio da sociedade (eu disse reabilitação, não recuperação). Que tal:Comendador Marcola, Deputado Marcola, General Marcola…? É uma questão de tempo. Pouco tempo.

Denio caeiro

O méxico é modelo sim ! De perversão, assassinatos, exterminio, corrupção execuções sumárias. Basta pesquisarem por ciudad de Juarez, mais conhecida como ” cidade que odeia mulheres” e verão o que é o mexico, isso se tiverem estomago. Milhares de video na internet mostram que o estado islamico é playground perto das cidades mexicanas dominadas pelo trafico. A pouco tempo, juarez ganhou o titulo de cidade mais perigosa do planeta. Pesquisem e se conseguirem terminar de ver um video sequer, mudarão de opinião.

Marat

O mundo atual é liderado por cabeças vazias… Também, com os EEUU no poder, o que poderíamos esperar?

Márcio Gaspar

Faltou dizer que o salário mínimo mexicano é o pior da America Latina. O valor está entorno de 64,00 pesos diários, o que dá algo por volta de 4,75 dolares diários na cotação de hoje, se multiplicarmos por 30 dias trabalhados teremos a quantia de US$ 142,50 por mês ou algo por volta de 350,00 reais. Dito isso, eu fico lembrando daquela frase do Armínio Fraga, o “Ministro” do Aécio, de que o salário mínimo no Brasil está muito alto, talvez o salário ideal para o Armínio seria o mexicano.

Salário Mínimo mexicano: http://www.conasami.gob.mx/nvos_sal_2014.html

César Bento

Sejamos justos. a anistia internacional manifestou-se sobre os assassinatos em Guerrero. Quanto a artistas,a única que eu vi se manifestar foi a mexicana Lila Downs.

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