Psiquiatra alerta: Proposta do governo Temer para Saúde Mental irá gerar filas, desassistência e piora de usuários estáveis

Tempo de leitura: 2 min

por Conceição Lemes

O médico psiquiatra Marcelo Kimati é outro crítico severo da proposta do Ministério da Saúde de alterar a política nacional de Saúde Mental.

Ele é ex- diretor de política sobre drogas em Curitiba e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).

Nesta entrevista ao Viomundo, Kimati alerta: ao contrário do que diz o Ministério da Saúde, o modelo proposto é que vai causar desassistência. Confira.

Viomundo — O coordenador-geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde diz que atual política causa desassistidos. É verdade?

Marcelo Kimati — Não, o modelo em si não causa desassistência. Existe consenso na literatura de que serviços territorializados permitem maior acesso do que quando o sistema é fragmentado e privilegia o atendimento por médico especialista.

Em contraste, a rede de saúde mental que se encontrava em rápida expansão antes do Governo Temer, funciona no princípio “porta aberta”, com acesso livre, desde que o usuário seja da área de cobertura.

Por outro lado, todo município que privilegia o atendimento médico psiquiátrico ambulatorial, como é a proposta do ministério, termina por gerar filas de vários meses, abandono de tratamento e uma necessidade maior de internação.

Viomundo — Ao contrário do que diz o Ministério da Saúde a mudança é que vai causar desasssistência?

Marcelo Kimati — Sim, a mudança proposta irá gerar filas, desassistência e a piora clínica de usuários que hoje estão estáveis.

Viomundo — O modelo proposto vai então piorar para os usuários? 

Marcelo Kimati — Piorar de várias maneiras. Na impossibilidade de ampliação de custos, os municípios tendem a migrar de modelo, abandonando uma proposta de rede comunitária e territorializada para um sistema fragmentado, com diversas barreiras de acesso e com baixa capacidade de vínculo entre usuário e aqueles que cuidam.

Da mesma forma, o modelo proposto não permite estratégias particularidzadas para cada usuário, uma vez que o referencial exclusivo será o diagnóstico médico.

O sistema proposto tende a aumentar os custos dos SUS com medicamentos, ampliar o número de prescrições e criar uma grande multidão de dependentes de psicotrópicos. Irá aumentar o número de internações, inclusive daquelas prolongadas e com isso, pessoas perderão autonomia e inserção social.

Viomundo –E avaliação que o Ministério da Saúde fez e apresentou da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial)?

Marcelo Kimati — Ela foi baseada em dados gerados de forma burocrática, irregular, com informantes mal treinados e sem nenhum rigor científico. O levantamento não tem valor técnico, e o próprio ministério sabe disso.

Para que uma crítica possa implicar numa mudança da política nacional de SM, deve ser feito de forma sistematizada, com rigor , ouvindo trabalhadores, usuários e gestores.

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Comentários

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Telmo

O governo Temer mais o PSDB estão destruindo o Brasil, não vai sobrar pedra sobre pedra.
O tratamento em saúde mental já não é bom, imagine a pessoa sendo internada em manicômio, hospital psiquiatrico. Nesses lugares, privado da liberdade, médicos e funcionários inescrupulosos fazem o que querem com os pacientes, abusam mesmo.
É isso que dá por um zé mané para ser ministro da saúde e o cara não entende nada de medicina já que ele não é médico. É um mero curioso.

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