Leandro Fortes: Na guerra da Folha contra Lula, malabarismo

Tempo de leitura: 4 min

Lula e a mídia malabarista

Ex-presidente Lula defende regulação da mídia, critica violência da imprensa contra o PT, mas jornais fingem que não ouvem

17/05/2014 – 13h31 / Por Agência PT

As reações da mídia à fala de Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (16), no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, não poderiam ter sido mais emblemáticas. No evento organizado, em São Paulo, pelo Centro de Estudos de Mídias Alternativas Barão de Itararé, o ex-presidente defendeu a aprovação do marco regulatório contra o monopólio dos meios de comunicação no Brasil. Além disso, criticou duramente os ataques da imprensa contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Falou, com um tipo de franqueza pouco comum na política brasileira, sobre sua relação com a blogosfera progressista: “Eu me dou o direito de dar entrevista para quem eu quero, na hora que eu quero”.

A frase foi um recado direto ao moralismo de ocasião do jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, que em abril mobilizou-se para desqualificar uma entrevista de três horas de duração concedida por Lula a blogueiros e ativistas digitais, na sede do Instituto Lula, na capital paulista. Para interditar a comunicação de Lula com a blogosfera, o jornalão carioca partiu, sem sucesso, para a desqualificação rasa dos blogueiros e da disposição do ex-presidente em falar com eles – um misto de inveja e despeito com origens no absoluto descolamento da realidade em que vivem, na área de comunicação em rede, os jornalões brasileiros.

Hoje, um dia depois do discurso de Lula, coube à “Folha de S.Paulo” resumir em uma manchete (“Para Lula, cobrar metrô em estádio é ‘babaquice’”) a impaciência do ex-presidente com as manipulações primárias da imprensa, conforme discursou à audiência de mais de 600 participantes do encontro de blogueiros.

O petista falou de questões estruturais da democracia, entre as quais a questão essencial do marco regulatório da mídia como condição para o avanço civilizatório no Brasil. Disse, ainda, da importância da convocação de uma assembleia nacional constituinte exclusiva para se fazer a reforma política.

Mas a “Folha” preferiu sair com uma fala paralela, colocada dentro de uma circunstância de informalidade muito típica dos discursos de Lula, sem nenhuma relevância até mesmo para o tema que a gerou – a Copa do Mundo de 2014.  O expediente, manjado e jornalisticamente desprezível, serviu tanto para o diário paulistano escapar da discussão central (o monopólio da mídia) como para alimentar o discurso da direita rastaquera nas redes sociais contra Lula e o PT.

Essa solução, usada em graus diferentes pela velha mídia nacional, foi, no fim das contas, um recurso desesperado diante da chuva de argumentos enumerados por Lula para justificar a necessidade de um marco regulatório, tanto para as concessões públicas de rádio e tevê, como para a questão da propriedade cruzada – jabuticaba tupiniquim que permite aos conglomerados de comunicação possuírem, num mesmo estado e região, emissoras de rádio e tevê, além de jornais e revistas.

Assim, ao tratar do tema, Lula teve o cuidado de listar uma série de modelos adotados em diversos países, entre os quais os Estados Unidos e a Inglaterra. Fez questão de esclarecer que não se tratava de censura, e ainda fez graça com o sentimento anti-esquerdista das redações brasileiras, de onde se extrai a doença infantil do antipetismo: “Para não dizerem que sou socialista, citei apenas países que são símbolos da democracia ocidental. Então, que não venham dizer que isso é censura”. E mais: “Não estamos tentando controlar os meios de comunicação. Nós exigimos é que haja neutralidade e seriedade nas informações neste País. As notícias que são produzidas aqui fazem uma guerra tentando mostrar que nesse País está tudo desandado, que nada está dando certo”.

Lula usou o exemplo da perseguição implacável da mídia paulistana contra o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, presente ao encontro de blogueiros. “Haddad, se fosse responsabilidade sua, seria porrada todos os dias, mas como é deles, então, não está tudo bem”, disse, ao se referir ao colapso de abastecimento de água em São Paulo por conta da inépcia administrativa do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB.

A mídia, que esconde a crise do Sistema Cantareira atrás de cortinas de eufemismos e malabarismos de retórica, sentiu-se particularmente atingida pelo discurso de Lula, que foi muito mais claro do que as dezenas de “especialistas” usados pelos jornais para transformar racionamento em rodízio.

Diante também do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo paulista, Lula atentou para o fato de que, simplesmente, os investimentos no setor hídrico não acompanharam o crescimento da maior e mais importante cidade do País. “Será que ninguém pensou em fazer mais um poço? Cadê o choque de gestão?”, questionou.

Lula aproveitou o tema para fazer piada com o termo “blogueiro sujo”, criado pelo tucano José Serra, na campanha eleitoral de 2010, para atacar a blogosfera progressista e de esquerda. Foi um tiro pela culatra: os blogueiros não só adotaram o termo para si, como passaram a usá-lo como peça de marketing.

“Aqui em São Paulo, ser chamado de ‘blogueiro sujo’ é culpa do Alckmin, porque o Cantareira secou”, brincou Lula, para alegria da audiência.
Essa, aliás, talvez seja uma diferença fundamental da comunicação de rede montada pelos progressistas e a tropa de cavalaria mantida pela mídia nas redações e em suas redes digitais ultra hierarquizadas: o bom humor.

No encontro de São Paulo, o que fez os blogueiros rir gerou, de imediato, reações casmurras na velha mídia nacional. Menos pela distinção dos interesses defendidos, mais por aquilo em que a imprensa se transformou nos últimos 12 anos de governos do PT: um depositório de ódios criado para subjugar, primeiro, o bom jornalismo, e que caminha num voo cego com o objetivo de, no fim das contas, subjugar a política em si.

E a mensagem crucial que Lula deixou aos blogueiros e ao País foi justamente esta: se depender dele, eles não conseguirão.

Por Leandro Fortes, da Agência PT de Notícias

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Comentários

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wendel

Bom, querer que os coronéis midiáticos falem bem do Lula ou da Dilma, é ser infantil ou ingenuo!
Desde o primeiro governo do PT, sempre fizeram seus papéis de partidos de oposição, face a fragilidade da oposição oficial, e só não conseguiram dar o “golpe suave”, porque os industriais, banqueiros, multinacionais e várias das Corporações que realmente mandam nos governos, assim não o quiseram!
Até o “império do norte”, que antes talvez tenha dado seu aval, ultimamente tem se mostrado hostil, e os mercenários a soldo, estão agora atuando ferozmente, e possivelmente com a intenção de solapar o governo comn a sempre bem vinda ajuda dos quinta-colunas.
É ver para crer, pois exemplos não faltam.
Em tempo: acompanhem com atenção os desdobramentos na Venezuela, o que pode ser, nós amanhã!

Julio Silveira

Espero que a folha, tradicional inimiga do PT (vejam bem não é e nunca foi somente adversária) não receba nunca mais a deferência que recebeu da detentora do cargo mais importante do país, e representante do partido.

Sidnei Brito

Há dois aspectos na “babaquice” da mídia referente a Lula.
Primeiro, é uma tentativa desesperada de censurá-lo pela intimidação. É como se dissessem: não fale muito, Lula, que sempre vamos escolher justamente o ponto que mais for possível te comprometer.
Neste ano de eleições, eles temem o apoio de Lula para postes indesejáveis (atenção, mesmo Dilma não deixa de ser poste para eles.).
Desnecessário dizer que é uma bobagem, afinal, embora com sucessos emblemáticos, inúmeros candidatos apoiados por Lula em 2010 e 2012 não tiveram êxito.
O segundo ponto é um devaneio. Esse caso da “babaquice do metrô” é revelador. Os patrões e os editores piores do que os patrões parecem ver nos improvisos de Lula, em suas falas desabridas e em sua sinceridade bonachona, oportunidade de sair alguma espécie de “comam brioches” ou coisa do gênero.
Acreditam muito no que poderíamos chamar de “síndrome de Maria Antonieta”. Na cabeça de bagre dos que escolhem pautas certamente veio a ideia de que a fala de Lula poderia, com algum esforço, representar um desdém com transporte público e com o conforto do torcedor.
Quem sabe – sonhar não custa – no outro dia ver-se-iam multidões às ruas, prontas para derrubar o “regime” insufladas pela fala de Lula.
Imaginem as ruas lotadas como junho do ano passado, com um ou outro portando cartazes do tipo “não somos babacas, Lula”. Seriam dois ou trÊs, mas a imprensa nos faria acreditar que eram milhares.
Lula certamente não vai se intimidar e continuará falando.
E ele fala bastante, não tem papas na língua e quebra protocolos na boa.
Preparemo-nos, portanto, pra muita distorção, forçadas de barra, ultravalorização de acessórios etc.

Millena Borges

É inteligente da parte dos políticos tentarem se entrosar com a nova geração de mídias, mas não é o suficiente para adiquirir a confiança de um voto. Lembrem-se disso.

Fabio Passos

Lula está golpeando duramente o PiG.
E acertando em cheio. O PiG está completamente grogue.

O jornaleco do frias não tenta nem disfarçar… a fsp, sem mamar nas tetas do Estado, quebra em pouco tempo. E como a perspectiva é o PiG-psdb ser varrido do mapa nas eleições… os oligarcas midiáticos estão desesperados.

O exemplo do Lula precisa ser seguido: Virar as costas ao PiG e falar diretamente na rede.
O PiG é inimigo do povo… e assim deve ser tratado.

    Cético

    Mas por que ele não foi tão incisivo guando ainda era presidente?

lukas

Quero ver Lula falar de regulação da mídia na frente dos grandes empresários da imprensa. Na frente de blogueiro de esquerda é fácil. Lula tem um discurso para cada ocasião., ao gosto da audiência.

Camaleão e desonesto.

    Carlos Henrique Pinheiro

    Já que foi em segredo de justiça que ele falou aos blogueiros, por que você não conta para a grande mídia bilionária patrocinada por bilionários o que o Lula disse sobre a regulação da mídia no Brasil? E diga que tem informação privilegiada (ninguém sabe).

    Julio Silveira

    Não é a primeira vez que ele diz isso. Dei uma resposta parecida num outro post, mas ele não quer ouvir ou não entende. Deve ser em função do percentual de orelha e boca que ele têm 99% em relação ao neurônio 0,01 e o cérebro 0,09% (boa parte desse percentual de cérebro é constituído de massa encefálica, imerso numa parte maior de liquido hidrocefálico)

    Lukas

    Ok, quando estiver cara a cara com os barões da mídia o discurso do Lula será sobre a importância da liberdade total de imprensa.

    O cara não muda, tem um discurso para cada ocasião e audiência.

    Zelig!!!!!!

    AlvaroTadeu

    Achtung, Lukas!

FrancoAtirador

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BABAQUICES DO OTAVINHO

NA FOLHA BABACA…

E VICE-VERSA.

Manchetes de G.A.F.E.*:

Grana dos estádios daria para pagar saúde, educação, habitação, transporte, reajuste dos aposentados e pensionistas, aumento da remuneração dos funcionários públicos municipais, estaduais e federais e do soldo dos militares de todas as patentes, auxílio-reclusão para as famílias dos 500 mil presidiários no Brasil,
além de possibilitar a construção de 1 milhão de creches, só em São Paulo e Minas Gerais, bem como a inclusão de 200 milhões de habitantes no bolsa-família,
e ainda sobraria dinheiro para dobrar as verbas de publicidade oficial que sustentam o Consórcio de Mídia Empresarial Tucana G.A.F.E*
e custear todas as viagens dos médicos, advogados e juízes braZilêrros para Máiâmi, Berlim e Paris.

*Globo, Abril, Folha e Estadão.
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    fatima

    Resumo perfeito!

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