Dino diz que houve combinação contra Lula no TRF-4, com aumento de pena que evita prescrição — como a que beneficiou José Serra

Tempo de leitura: 7 min

O desembargador Laus enterra a presunção de inocência, ao vivo e em cores

Da Redação

No twitter, o governador do Maranhão, Flávio Dino, ex-juiz federal, havia previsto que seria muito difícil uma decisão unânime do TRF-4 sobre Lula — a não ser que houvesse uma combinação entre os três desembargadores.

Agora, ele está convicto de que isso aconteceu. Por vários motivos. Primeiro, os três juizes decidiram aumentar a pena de Lula de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês.

Se um deles tivesse mantido a condenação original de Sérgio Moro, a defesa de Lula teria direito a entrar com embargos infringentes, ampliando o prazo de apelações.

Agora, poderá apresentar apenas embargos de declaração, que não modificam a decisão em si.

Em outro tuíte, Dino disse acreditar que o aumento de pena também buscou evitar a prescrição — como aconteceu no caso de José Serra. Denunciado por Joesley Batista por receber dinheiro de campanha mascarando a compra de um camarote por R$ 6 milhões com notas frias, o tucano escapará de responder por isso.

A defesa de Lula havia pedido a prescrição da pena original de Moro, em memorial ao TRF-4, escrevendo:

 “Desse modo, caso se mantenha o quantum imposto na sentença, deve ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva retroativa, pois a referida pena prescreve em 06 (seis) anos, lapso temporal já transcorrido entre a suposta consumação do delito (em 08.10.2009) e o recebimento da denúncia. Da mesma forma, a lavagem de dinheiro teria sido consumada em 08.10.2009 (data da assunção do empreendimento imobiliário pela OAS, quando teria ocorrido a ocultação da propriedade do apartamento tríplex), tendo transcorrido o lapso temporal prescricional entre a suposta consumação do delito de lavagem e o recebimento da denúncia”.

No twitter, Dino escreveu a respeito: “O aumento da pena de Lula fica mais esquisito quando se nota que o objetivo nítido é evitar prescrição. Mas este critério não consta do Código Penal como legítimo para sustentar dosimetria de pena”.

Abaixo, entrevista de Dino à CartaCapital:

Flávio Dino: penas iguais indicam “acerto prévio” no TRF4 contra Lula

por Miguel Martins — CartaCapital

Ex-juiz federal, o governador do Maranhão critica o julgamento e diz acreditar que os tribunais superiores não permitirão a prisão do petista

Três desembargadores, uma dosimetria da pena. O julgamento de Lula em segunda instância não apenas confirmou a condenação de Lula pelo juiz Sergio Moro pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas ampliou a pena do petista para 12 anos e 1 mês em regime fechado.

Embora fosse esperada a confirmação da sentença do juiz responsável pela Lava Jato em Curitiba, impressionou a unanimidade dos desembargadores na hora de aplicar uma punição mais dura ao ex-presidente.

Como não houve divergência, Lula fica impedido de apresentar os chamados embargos infringentes, o que levaria o processo a se arrastar por mais tempo na segunda instância e daria fôlego para o ex-presidente disputar a eleição ou até mesmo protelar sua prisão.

Os desembargadores poderiam obter o mesmo resultado somente caso confirmassem a pena imposta por Moro, de 9 anos e meio de prisão.

O fato de eles terem cravado uma mesma punição ainda mais dura para o petista parece indicar que houve acerto prévio em relação à dosimetria com o objetivo de impedir o recurso de Lula.

A análise é do ex-juiz federal Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB, ex-presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais (Ajufe) e ex-secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Na entrevista a seguir, Flávio Dino afirma não acreditar que os tribunais superiores permitirão uma eventual prisão de Lula e critica o corporativismo dos desembargadores durante o julgamento.

“Os três julgadores estavam, aparentemente, mais preocupados em garantir a autoridade, a respeitabilidade e a honra da Justiça do que propriamente julgar o caso.”

CartaCapital: A unanimidade no julgamento de Lula e a coincidência entre as penas impostas pelos desembargadores o surpreendeu?

Flávio Dino: Foram realmente duas surpresas. Primeiro, sempre achei que jamais houve prova de crime algum.

Mas, na pior da hipóteses, eu imaginava que eles iriam retirar a condenação por lavagem de dinheiro, porque é sui generis considerar que a própria OAS, detentora do imóvel, é laranja dela mesma.

É algo que no Direito se chama leading case, é um caso único no direito mundial.

Qualquer pessoa com o mínimo de experiência forense sabe que em um julgamento dessa natureza só há unanimidade da dosimetria caso ela seja previamente combinada.

Acho que houve acerto prévio, pois é atípico esse nível de concordância, a não ser que antes haja um ajuste.

Claramente, houve um ajuste para evitar os embargos infringentes. O que torna ainda mais frágil a punição de quem julgou, da turma do tribunal.

CC: O senhor afirmou em sua rede social que o julgamento foi repleto de “defesas corporativas”. Por quê?

FD: O julgamento foi aberto com um discurso, com o relator dizendo que não haveria julgamento da vida pregressa de Lula.

Quando se soma a postura, a atitude, a entonação, a impostação, vemos que na verdade havia um julgamento acima do próprio caso, que era o julgamento da honra da Justiça Federal.

Os três julgadores estavam, aparentemente, mais preocupados em garantir a autoridade, a respeitabilidade e a honra da Justiça do que propriamente julgar o caso.

O caso em si foi julgado muito precariamente, com base em inferências, em considerações diversas que cabem bem em um discurso político, mas não em um acórdão.

Eles invocaram, por exemplo, o julgamento do “mensalão”. O que o “mensalão” tem a ver com isso?

Falaram do José Dirceu, o que ele tem a ver com os fatos em discussão?

Fizeram considerações sobre como se constrói maioria no Congresso Nacional. E por aí vai.

Ao contrário do que foi dito no início, foi um julgamento abstrato, inquisitorial de um pecador, e não o julgamento de um acusado de acordo com o processo penal contemporâneo com base em determinado crime e suas provas.

É um processo que começou mal, a condução na 1ª instância já foi muito ruim, desde aquela célebre condução coercitiva de Lula, e que, infelizmente, o tribunal resolveu dar continuidade a isso.

Foi muito ruim, tanto na forma quanto no conteúdo. Acho uma peça jurídica muito frágil.

CC: O senhor acha que os tribunais superiores aceitarão esse acórdão?

FD: Acho que será revertido, mas não sei em que momento.

Provavelmente, nos próximos anos eles vão considerar que neste caso não há prova de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro.

O crime de lavagem apontado é esdrúxulo. É o único caso de ocultação e dissimulação em que a propriedade do bem continuou com o próprio detentor (OAS), que seria laranja dele mesmo.

É um negócio surrealista.

No caso da corrupção passiva, eles dizem que não precisa de ato de ofício.

OK, mas é necessário que você demonstre que a suposta vantagem tem correlação com o exercício da função.

No julgamento, o que definiu essa correlação são considerações meramente genéricas, do tipo: ele nomeou os diretores da Petrobras. É típico de quem não tem noção do que é governar uma estrutura complexa.

Imagina se um governador do Estado ou um presidente vai ter ciência cotidiana e exata de todos os atos de gestão praticados em todos os órgãos de governo.

Isso é inexigível até de um juiz em sua vara.

É impossível cobrar de um desembargador que ele conheça todos os atos de seu gabinete, do ponto de vista jurídico.

Imagina se é possível cobrar isso de alguém que gerencia um país de mais de 200 milhões de habitantes. Não se pode presumir, é preciso provar.

Voltamos àquele ponto da má interpretação da Teoria do Domínio do Fato, que novamente surge nessa construção, segundo o qual ela é igual à chamada responsabilidade penal objetiva.

Como se nomear desse a ele obrigação de saber de tudo.

CC: Os desembargadores buscaram negar que estivessem utilizando a Teoria do Domínio do Fato, Leandro Paulsen falou em “crimes específicos”.

FD: Na verdade, eles julgaram com base em uma condenação prévia. Julgaram com base em um desígnio.

Eles tinham de confirmar a sentença do Moro, porque se não confirmassem, a imagem da Justiça Federal ficaria maculada. Esse foi o fundamento. O resto foi mero exercício vazio de retórica.

Você espreme esse julgamento e não encontra nada. Quem estava em julgamento não era nem a Justiça nem o juiz Moro. Era um réu, acusado de um determinado crime.

Aquilo não fica bem. Foi um julgamento realmente surpreendente, bem pior do que eu imaginava.

CC: O senhor acredita que o juiz Moro decrete a prisão do Lula?

FD: A esta altura, diante da continuidade de disparates jurídicos, a prudência recomenda que se considera ser bem plausível que isso aconteça, que haja essa vontade.

Não acredito que o STJ e o Supremo permitam isso. Mas que a vontade de prender está clara, sim, está clara.

É um julgamento que cumpre aquilo que o próprio TRF4 criou. É bom lembrar que o tribunal, ao apreciar aquele vazamento de escutas telefônicas de advogados, criou uma categoria chamada “direito excepcional”.

O que a 8ª turma fez foi aplicar esse tal direito excepcional da Lava Jato. Só que isso se choca com a Constituição, esse é o problema.

CC: Como o campo progressista e o PCdoB devem enxergar as consequências eleitorais dessa decisão?

FD: Partidariamente, temos uma definição pela pré-candidatura de Manuela D’Ávila, e eu sou vinculado a essa orientação. Mas minha opinião de que Lula deve, sim, continuar sua candidatura.

É uma exigência democrática. Estamos diante de uma aplicação casuística do direito, o conjunto da obra mostra isso.

E isso leva à necessidade de uma atitude política coerente e proporcional à dimensão desse casuísmo. A atitude mais recomendável é ele manter mesmo a candidatura.

CC: O senhor acha que o impasse sobre a candidatura de Lula vai ser um tema central nas disputas estaduais?

FD: É, sem dúvida, um elemento poderoso. Não só no Nordeste, mas todo o processo político do País entra em uma era de brutal incerteza.

O candidato líder na pesquisas está na contingência de não poder disputar as eleições.

Ninguém sabe se ele poderá concorrer até o final, pois a definição disto só ocorrerá no fim de agosto.

Logo, o processo político vai ficar suspenso, haverá uma incerteza muito grande.

A sociedade vai ficar muito polarizada, teremos um País muito fraturado. Isso já ocorre desde 2013, quando começou esse processo de fratura, que se aprofundou com o julgamento de Lula. Há uma clivagem muito aguda.

Somente eleições acima de qualquer suspeita podem colar o que está fraturado. A se confirmar o curso das coisas, teremos uma continuidade desse quadro.

É muito ruim para um país viver esse nível de ruptura das regras do processo democrático.

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Comentários

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Hudson

Tô falando que essa corja do judissiário aprendeu a fazer “julgamentos” com Elias Maluco…

Roberto Carlos

Votem 13.
Votem ciro.
Votem Manuela.
Enfim, não votem em ninguém da direita.
Vamos trabalhar com bolas de ferro nos pés se o psdb ganhar.

Marcos – RS

A Maçonaria marcha unida. Moro, desembargadores, todos irmãos maçônicos cumprindo cegamente ordens do Grão-Mestre .
O verdadeiro poder dentro do poder não brinca em serviço !

Alves

Quem se lembra daquela reuniao em 2005 onde Lula disse que foi traído? Pois é! Até hoje estamos esperando o ex-presidente soltar a relaçao dos traidores.

Alves

Apenas desinformados ou religiosos do lulismo acreditam na inocencia do ex-presidente. Qualquer brasileiro mediano e imparcial sabe que Lula é corrupto. Ora, houve conluio no TRF-4 para absolver Vaccari, o que foi ate elogiado pela presidente do PT? Ou só existe conluio quando as decisoes sao contrarias àquela religião.

Chega de Lula! Chega de Temer! Chega de Aécio, FHC, Alckmin, etc. CHEGA!!!!!!!

O gigante está em coma, mas ainda esta vivo!!!!

    Sérgio

    Flavio Dino,

    tome umas lições de retórica com o Alves!

    Esse cabra, sim, sabe argumentar! Demoliu ponto a ponto as colocações desse governadorizinho.

    O Brasil precisa de mais gênios como o Alves!

    leonardo-pe

    esse Alves não passa de um BURRO metido a sabidão! e sua amada imprensa? é isenta? mais 1 Moralista sem moral e fujão. prefere inocentar a imunda imprensa esse Alves.

    RONALD

    Alves, você está sozinho. Fale por você. De preferência na Veja, isto é, época e outros instrumentos da elite podre escravagista.

    RONALD

    Sérgio é um gênio da ironia !!!!!

RONALD

Deixem o Lula em Paz !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RONALD

O homem mais perigoso é aquele que não tem mais nada a perder !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RONALD

O Povo está fazendo as aproximações sucessivas para uma desobediência civil sem precedentes !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Julio Silveira

Me fez lembrar os julgamentos feitos pelos meliantes do comando vermelho no Rio, quando davam blitz nos onibus para identificarem aqueles que fossem policiais, e que nele estivessem viajando, para escoltá-los a fave-la e fazerem a sua “justiça”. Parece que o CV fez escola no sistema judicial. Coisa de Brasil, resta saber quem inspirou quem.
Alias, numa justiça temente a lei, de um pais serio, onde juridicos respeitam teto constitucional, esse tipo de ação teria sido identificada como formação de quadrilha.

Messias Franca de Macedo

Dileto(a) leitor(a), se aquele tribunal [hã tribunal!] é de segunda instância, imagine a Vara de piso do juizeco ‘mor(T)o’!

    Alves

    Quer dizer que as decisoes do TRF-4 que absolveram Vaccari estao eivadas de erros?

JULIO CEZAR DE OLIVEIRA

e so falar lula,em quem quer que a gente vote,nós votaremos

    RONALD

    LULA 2018 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Sérgio

    Eu tô nessa vibe mesmo.

    Não sendo do PMDB, voto em qualquer indicação dele.

    Eu tenho preferência de que ele indique o Ciro. Mas pode ser de Haddad, Manuela Davila, Flávio Dino, Dilma, Eduardo Suplicy, Patrus… voto neles sem pestanejar.

    Sérgio

Eduardo

Impressiona-me o fato de ter lido, ouvido e constatado haver centenas de opiniōes abalizadas que convergem com a do ex-juiz federal Dr. Flavio Dino. Não sou um ignorante erudito, muito menos em temas juridicos. Os fatos mundialmente sabidos , nos mostram com transparëncia o que ocorre neste momento com a
Justiça brasileira. Muitas vezes tenho pensado exatamente o que foi cristalinamente explicado pelo Dr Flávio Dino no que ele se refere à defesa da justiça pelo TRF4. Onde estamos meu Deus? Um tribunal condena sem provas para proteger sua imagem, proteger um seu limitado par ( Moro)que coloca em risco a imagem de toda uma instituição, agride o poder judiciário, um poder da república, com sua ignorância e debilidade! Meu Deus! Estes 3 infelizes ainda pensam que somos patetas, somos ignorantes eruditos como êles! Digo conscientemente : “Não aceito a decisão organizada do TRF4.” Farei o possível como cidadão para que o povo tambêm não aceite!

Messias Franca de Macedo

MUITA ATENÇÃO BRASIL DO BEM!
Durante a transnacional palhaçada pseudojurídica do famigerado dia 24/01/2018, “o relator do golpe vagabundíssimo no TRF-4 puxadinho do Projac” afirmou que, em 2005, ‘a senhora Marisa Letícia Lula da Silva’ já demonstrava interesse em adquirir o triplex do Guarujá’…”
Dileto(a) leitor(a), o projeto do triplex foi elaborado anos depois.
Portanto, como em 2005 a honrada senhora Marisa Letícia poderia “sonhar com o tal triplex”?
Diretor-financeiro da OAS, Fabio Yonamine ‘DESmoroLIZA’ o gebran ‘cumpadi’ do congênere juizeco ‘mor(T)o’!
E MAIS:
“O apartamento estava em estoque, e não sob reserva.”
https://www.youtube.com/watch?v=6if2qZX-dsQ

    Messias Franca de Macedo

    A PERGUNTAR QUE NÃO QUER CALAR

    Se aquela porcaria de triplex é do Lula, por que Diabos o rábula ‘psicoPATO’ ‘mor(T)o’ não penhorou o imóvel junto com o patrimônio que foi sequestrado do eterno e honrado presidente e família?
    E por que Diabos a espelunca TRF-4 puxadinho do Projac também não adotou esta providência?

    RONALD

    Pois é, Messias. bicho, não temos condições de usar raciocínio lógico em um jogo de cartas marcadas, beirando a insanidade !!!!!

    LULA 2018 nos braços do povo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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