Camila Marins: Chateaubriand já pedia a Vargas para “desistir da Petrobras”

Tempo de leitura: 5 min

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Chatô, lambe-botas do império

Petrobras: mais de 60 anos de tentativas de desmonte

Por Camila Marins, enviado pela Fisenge*

“Vargas precisa desistir da Petrobras”. Esta frase foi proferida, em 1954, por Assis Chateaubriand, dono do maior conglomerado da mídia brasileira na época, o “Diários Associados”. Um ano antes, em 1953, surgia a maior empresa petrolífera brasileira: a Petrobras.

Em uma breve pesquisa no acervo digital do então jornal “Folha da Manhã”, hoje “Folha de S. Paulo”, é possível detectar inúmeras manchetes e declarações contra o caráter estatal da empresa.

Desde então, os veículos de comunicação consignaram ampla campanha de destruição do patrimônio brasileiro, em defesa da abertura do setor petrolífero à iniciativa privada. O que mudou? 61 anos após a criação da Petrobras, os ataques à empresa não cessam e se configuram com a repercussão da Operação Lava-Jato.

Hoje, os jornais, rádios, TV e internet estampam, diariamente, as denúncias contra a Petrobras e utilizam casos de corrupção como subterfúgio para a privatização, como sinaliza uma série de editoriais, especificamente um do jornal “O Globo”, de dezembro de 2014, que preconiza uma espécie de “refundação da estatal”. Enquanto isso, notícias como “Petrobras recebe o mais importante prêmio da indústria de petróleo” são escamoteadas da sociedade.

De acordo com o conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Paulo Metri, existem dois objetivos centrais nessas campanhas.

“O primeiro é transmitir a ideia de que a Petrobras receber áreas para pesquisar e produzir petróleo é algo prejudicial para a sociedade, porque os ladrões existentes nela vão roubar o que é público. Os roubos nas empresas privadas só são mais bem escondidos, pois o dono não quer mostrar a fragilidade da sua empresa. Outro objetivo é preparar a população para uma futura privatização da Petrobras”, afirmou.

Isso significa que, se a Petrobras é incapaz de assumir áreas de exploração e está com sua capacidade financeira comprometida por conta dos casos de corrupção, a solução seria chamar as empresas estrangeiras. Errado. Segundo Metri, o argumento de falta de capacidade financeira é mentira.

“A Petrobras tem capacidade financeira, bastando que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) retire a pressa desmesurada de implantação dos diversos projetos da empresa. Pressa esta que significa que o petróleo a ser produzido estará sendo exportado na pior época do preço do barril. Na verdade, este órgão busca estrangular a capacidade financeira da Petrobras para ela não participar de muitos leilões e, assim, sobrar mais áreas para as empresas estrangeiras”, alertou.

Por trás dessas manobras está na agenda do setor financeiro privado a mudança no marco regulatório e contratos de partilha. “Certamente, uma das estratégias é revogar a nova Lei do Petróleo, o sistema de partilha e a soberania brasileira sobre as imensas jazidas do pré-sal.

Estas são conquistas do povo brasileiro que, em hipótese alguma, podem ser derrubadas e é nosso dever defender o patrimônio nacional”, disse o engenheiro eletricista e diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Victor Marchesini, que trabalha na Petrobras.

Destruição das empresas de engenharia

Concomitante aos ataques à Petrobras, também estão as tentativas de destruição das empresas nacionais e da própria engenharia nacional. Isso porque, com as denúncias, é frequente o cancelamento de projetos e da construção de plataformas no Brasil, numa clara política de privilégio às contratações no exterior; umas das consequências da Operação Lava-Jato. “Além de prejudicar o desenvolvimento da tecnologia nacional e ameaçar os empregos, é flagrante a tentativa de destruição da engenharia nacional, responsável pela construção de projetos fundamentais para o desenvolvimento do país”, preveniu Marchesini.

A petroleira Cibele Vieira, que é coordenadora geral do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo e trabalha na Petrobras há 12 anos, é enfática: “Atacar a Petrobras é atacar a força de trabalho. Omitem a informação de que a Petrobras é uma das maiores e melhores empresas petrolíferas, cujos resultados operacionais e de novas tecnologias geraram o pré-sal e o pós-sal”, declarou.

Além da defesa dos empregos e do desenvolvimento da tecnologia nacional, é essencial alertar também para a importância das empresas de engenharia civil brasileiras, que, além de formar quadros, fomentam setores como o de serviços e o da indústria.

Casos de corrupção

Ainda numa reconstrução histórica, enquanto Getúlio Vargas marcava a autossuficiência brasileira na exploração de petróleo com as mãos cobertas por óleo, Carlos Lacerda afirmava que havia um “mar de lama no Palácio do Catete”. Exatamente o que os meios de comunicação estão fazendo atualmente. A corrupção é colocada acima dos interesses nacionais e da soberania. “A mídia está passando a imagem, como sempre, de que tudo que é estatal não gera resultado e não serve para o povo brasileiro. É importante destacar que a corrupção não é algo exclusivo ao meio estatal, e também acontece no privado, ainda mais abafado”, detalhou Cibele Vieira.

Nesse sentido, os movimentos social e sindical são enfáticos na defesa da apuração, investigação e responsabilização de casos de corrupção na Petrobras. “A corrupção é um problema estrutural da sociedade, que precisa ser enfrentado em sua raiz, com transparência, participação popular e controle social. Jamais com o desmantelamento de patrimônios nacionais”, ressaltou o engenheiro Victor Marchesini.

Enfrentar as raízes da corrupção exige a reflexão do modelo de Petrobras que queremos. Isso significa a defesa de uma empresa 100% pública e estatal; o fortalecimento de um Fundo Social Soberano; respeito às populações afetadas e a defesa de uma produção solidária, colaborativa e integradora. “Com uma Petrobras 100% pública, que inclui transparência nas suas operações, com mínima ingerência de partidos políticos, sendo auditada pelos órgãos da administração pública e com controle social, que é um tema importante e pouco debatido, a empresa ficará mais imune à corrupção”, propôs Paulo Metri.

Para além destas questões, é importante a defesa do financiamento público das campanhas políticas. “A arrecadação de doações por políticos junto às empresas privadas para suas campanhas pode ser considerada como o início do processo de corrupção em órgãos públicos”, completou Metri. No entanto, já tramita em ritmo acelerado, na Câmara dos Deputados um projeto de contrarreforma política em defesa do financiamento privado de campanha, amplamente defendido pelo deputado e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“A nossa defesa é por uma reforma política popular, por meio de uma Constituinte Exclusiva, que deverá mudar principalmente o caráter do financiamento, que, na nossa opinião, tem de ser público”, disse Marchesini.

Cibele Vieira lembra que, junto com a reforma política, é preciso a urgente democratização dos meios de comunicação. “O resultado das eleições demonstrou que nem sempre a guerra da mídia vence, uma vez que, mesmo com desmoralizações, a presidenta Dilma foi reeleita. A FUP e a CUT irão lançar uma campanha nos veículos de comunicação em defesa da Petrobras. Precisamos disputar a opinião pública”, ela defendeu.

Petrobras a serviço da sociedade brasileira

Ao contrário do que está sendo veiculado sobre a incapacidade financeira da Petrobras, confira os dados*:
— A produção de petróleo e gás alcançou a marca histórica de 2,670 milhões de barris equivalentes/dia (no Brasil e no exterior);
— O Pré-Sal produziu em média 666 mil barris de petróleo/dia;
— A produção de gás natural alcançou 84,5 milhões de metros cúbicos/dia;
— A capacidade de processamento de óleo aumentou em 500 mil barris/dia, com a operação de quatro novas unidades;
— A produção de etanol pela Petrobrás Biocombustíveis cresceu 17%, para 1,3 bilhão de litros.

Informações da Federação Única dos Petroleiros (FUP)

*Fisenge é a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros

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Comentários

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Romanelli

tem comentário meu no limbo ..se der pra liberar, agradeço

Romanelli

Mas que coisa ..o artigo reclama que O GLOBO cobra uma refundação da CIA, e fala em empresa 100% estatal ?!
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Desculpe, mas hoje a empresa é em muito boa parte privada ..o que propõe, a compra do resto, e pagar pela bacia das almas aos fundos, brasileiros e investidores que confiaram e ajudaram a CIA chegar aonde chegou ? isso é confisco, golpe, a lá COLLOR, pombas
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Convenhamos, o modelo ideal para um monopólio é coisa difícil de se desenhar ..por outro lado, queiramos ou não, a CIA opera num setor concorrencial, concorrencial e, pelo tocar da carruagem, já já NÃO tão essencial
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Assim, querer impor-lhe agilidade e tempo de resposta num mercado competitivo sendo totalmente do Estado, é uma falácia, ou querer tirar com a nossa cara ..e facilitar por lados dos sindicatos, evidente.
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Mais, fosse ser “estatal” um certificado de qualidade, e não teríamos por exemplo os CORREIOS atrapalhando meia duzia de brasileiros ..sim, e eu provo ..como pode a CHINA me mandar mercadoria POSTADA da ASIA cujo montante é MENOR do que só a postagem de mesmo bem se eu fizesse de SP a Campinas ?
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Olha, se pra petroleira já cobrássemos de METAS de resultados e desempenho, de transparência e eficiência, de LUCRO, lucro sim pra prover o Estado não só com imposto, mas tb com dividendos vindos futuramente das vendas para o estrangeiro ..olha, SEM INVENTAR nem polemizar desnecessariamente, já estaria de bom tamanho
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e nunca se esqueça, a MELHOR forma de PEÃO virar PATRÃO é investindo em AÇÃO ..um mercado acionário ético e transparente é o melhor instrumento pra se democratizar a riqueza

…mas enquanto isso não é levado a conhecimento da plebe, viver sob a égide de um governo DEFICITÁRIO e eternamente endividado, populista e assistencialista, parece que não deixa outra alternativa para o proletariado que não o dele investir somente em poupança e fazer suas compras recheadas de juros escorchantes em prestações a perder de vista
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ahh sim, em tempo, essencial também seria PUNIRMOS os membros do conselho quem fora os salários milionárias insistem em dizer que nunca viram ou se responsabilizam pelos desmandos havidos ..tipo com DILMA.

    abolicionista

    Essa dicotomia que coloca as estatais como ineficientes e as empresas privadas como eficientes é completamente falsa. Afinal os modelos de empresas privadas prestando serviços públicos é asqueroso. Vide o caso das telefônicas. As empresas de ônibus em SP, pedágios (os de SP são os mais caros do país), planos de saúde então, nem se fala, nossa, é melhor nem começar a fazer a lista… E os bancos então, que show de incompetência.

    Quanto ao caso da Petrobrás, o que está em jogo, não sejamos ingênuos, é a grana do pré-sal. Tanto que José Serra utilizou seu jornaleco chamado Folha de São Paulo, onde manda e desmanda, para escrever um artigo pedindo a privatização da Petrobrás. De resto, acho que se trata de uma empresa extrativista e que o Brasil deveria investir em tecnologia para não depender tanto dessa porcaria. Contudo, o que está em pauta é a grana, mon ami, l’argent. Por isso a mídia está, mais uma vez, fazendo o servicinho sujo das maiores fortunas do Brasil, que não suportam nem o cheiro do país e são totalmente submissos aos capitalistas internacionais, que montam de cavalinho na elite “brazileira”, tal como o Blair fez com o FHC…

    Ah, e quando descrobrir um “mercado acionário ético e transparente”, me avise, porque até hoje eu não vi nenhum…

    Romanelli

    Seu raciocínio não desabona o meu ..complementamo-nos ..verdade, não é pq se é ou não privada que se é ou não eficiente, e vice versa ..aliás, se passei esta impressão, não foi isso que quis dizer ..problema é que aqui as Estatais, longe da teoria, são sim pesadas e lentas, travadas pela burocracia, como os correios que lembrei ..e penso que não caberia se ESTATIZAR ainda mais a Petrobrás
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    ..mas tem mais uma diferença, a privada ineficiente perde dinheiro do empreendedor (desde que nenhum partido venha a socorre-la com o BNDES), já a Estatal rateia com todos, o que não necessariamente é justo ..e todos sabemos aqui que o ESTADO, até no básico, não funciona ..fora que eventualmente sua atividade não esta nas preocupações e prioridades do seu povo (vide ex Embraer) ..mas claro, aqui tb depende do mercado e da conjuntura, há casos e casos
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    Quanto aos mercados que citou, plano de saúde, ônibus e telefonia (faltou elétricas que tb seriam um bom exemplo) todos dependem de uma boa regulação, e por incrível que pareça, estas atividades tendem a ser menos concorrências que a atividade da petroleira que tem que se preocupar hoje, não só com a sustentabilidade do planeta, mas tb com as energias alternativas e a PORTABILIDADE do seu próprio produto (vc pode importá-lo a qq hora se quiser) e a refinaria de gasolina e diesel, esta ninguém quer ouvir falar ..agora, balacobaco mesmo pra mim, são os pedágios de estradas prontas privatizados.
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    Quanto aos bancos, desculpe, acho que vc confundiu abuso deles, a usura, com eficiência, usura facilitada em boa parte por fomentarmos um Estado perdulário, PESADO, que insiste em ser fazer fragilizado e dependente, inclusive pelo assistencialismo fora de proporção dado pela esquerda atualmente.
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    Sobre a elite, convenhamos, qq empresário acredita muito mais nesta terra do que um operário, ele arrisca sim a sua própria sobrevivência, o seu pescoço, numa terra em que vc mesmo vive dizendo que não é pra amadores (mas pra MALANDROS, eu diria) ..essa de entreguimos é papo furado, carece de argumentos e de provas ..interesses pode até ser, mas entreguimos é muito simplismo pro meu caminhãozinho ..ou v vai me dizer que um Ermirio de Moares e um Setubal, o próprio Chateau, eram menos patriotas que um LULA ?
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    e sobre a bolsa, pois é, não é bem assim não – a bovespa é que é do cacete com os Eikes da vida – e a teoria continua valendo, é sim a forma mais sensata de se distribuir riqueza de forma robusta, sem se ter que fazer uma revolução sangrenta que, ao final, a história já nos demonstrou, que sempre vai servir a bem poucos.
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    de qq forma, pra muitos casos existem as tais parcerias ..aonde o Estado poderia entrar com parte da grana em setores que julga por bem atuar, e deixar a livre iniciativa, junto com o mercado acionário, provida de metas e regulação, administrar e dividir o “butim” (mas aqui haveria a necessidade de se abrir o capital das empreiteiras por exemplo, coisa por enquanto impensável por eles)
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    ao final, só não me fale da VALE, ali não foi entreguimos, aquilo foi ROUBO, pois uma empresa pioneira, administradora de recursos finitos, importante para o desenvolvimento e fomento do país (tal qual a Petrobrás), uma que chegou a ser fiadora dos empréstimos do país junto ao FMI ..nossa maior exportadora e coletora de divisas já na época que era do Estado ..ser vendida em 29% por US$ 3 bi ..aquilo foi ROUBO, negociata ..uma mamata que se pagou ao CORSÁRIO em 3 anos apenas.
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    e a pré sal é o que se fala, já esta descoberta ..deus já fez a sua parte ..resta saber quanto gastaremos pra chupar o que esta lá ..por enquanto parece que os custos explodiram e os preços descarrilharam ..a empresa já esta endividada no talo, merecidamente desacreditada, torrou toda a capitalização com FARRA (vida Pasadena, Okinawa, Comperj, gasoduto, bolívia, Abreu e Lima e diversas outras refinarias e projetos como a SETE e associação com empresas frias).
    .
    ..portanto, melhor aguardar e NÃO ficar distribuindo a tal “riqueza” em saúde e educação , sem se te-la de forma concreta na mão, e PIOR, sem se ter um PROJETO sério com metas claras pra se realizar. (MACAÉ hoje mesmo, já diz que NÃO sabe o que fazer com o dinheiro que JÁ recebe pela exploração ..pq esta tudo amarrado com a educação ..e aí ?)

    Romanelli

    respondi pra vc ..espero que o sistema libere ..acho que foi pra spam

sergio m pinto

É bom que a população não fique esperando as ações dos partidos governistas e do próprio governo. Vamos começar, por exemplo, a boicotar quem está associado ao movimento de desconstrução da Petrobrás, como por exemplo essa mídia porca, as distribuidoras concorrentes e por aí afora.

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