Breno Altman: Temer cassa o direito ao contraditório

Tempo de leitura: 3 min

censura

GOLPE CONTRA LIBERDADE DE IMPRENSA

13/06/2016

por Breno Altman, em seu blog

A Secretaria de Comunicação Social do governo interino de Michel Temer resolveu, no final de maio, cancelar verbas publicitárias para sites e blogs considerados simpáticos ao Partido dos Trabalhadores.

Não foram os únicos procedimentos destinados à degola dos setores de imprensa confrontados com o novo bloco de poder. A demissão ilegal do presidente da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), suspensa liminarmente pelo STF, também integra o portfólio de providências para minar veículos de informação críticos ao impeachment.

São igualmente sintomáticas, desta escalada antidemocrática, sentenças judiciais promulgadas por magistrados paranaenses, a pedido de agentes da Polícia Federal, censurando artigos do jornalista Marcelo Auler que denunciavam irregularidades na Operação Lava Jato.

Não estão a salvo nem sequer repórteres do diário Gazeta do Povo, de orientação antipetista, do mesmo Paraná: vários profissionais, em dezenas de cidades, estão sendo processados por denunciarem supersalários de juízes e promotores.

Poucas são as vozes, contudo, a se erguerem contra tais arbitrariedades, com o vigor necessário, para barrar tamanho retrocesso em nossa esfarrapada democracia.

A administração provisória se refastela com a possibilidade de esmagar qualquer dissidência jornalística que conteste sua legalidade ou defenda o retorno da presidente afastada, sob intensos aplausos das facções mais sórdidas do reacionarismo.

As correntes conservadoras, aliás, sempre trataram de estigmatizar os partidos de esquerda como inimigos da liberdade de imprensa. Salta aos olhos, no entanto, a ironia dos governos petistas terem continuado a encher as arcas dos grupos corporativos de mídia, mesmo quando vários desses já estavam envolvidos na ofensiva golpista.

As velhas elites, porém, ao recuperarem a direção do Estado, varrem o pouco de pluralidade que, a duras penas, havia sido conquistado.

Os fatos são escandalosos: o segmento de veículos progressistas recebeu, em 2015, menos de 1% do orçamento publicitário da União e das estatais, faturando menos de 15 milhões sobre um total de 1,87 bi. Não alcançou 8% do valor de anúncios na internet, ao redor de 235 milhões.

Falar em favoritismo ou abuso, portanto, não passa de escárnio.

As principais democracias do mundo, além de regras antimonopolistas, adotam políticas capazes de expandir o direito de expressão para todas as correntes de opinião, através de garantias legais, compras governamentais, cotas de anúncios e créditos estatais.

Um dos maiores entulhos herdados da ditadura é o regime de oligopólio da comunicação, com algumas famílias controlando quase 80% dos meios impressos, eletrônicos e audiovisuais, apesar de determinação constitucional em contrário.

Seus laços com grandes anunciantes privados e agências de publicidade, obedecendo tanto interesses comerciais quanto alinhamentos ideológicos, tornam praticamente inviável, apenas por mecanismos de mercado, o desenvolvimento de uma imprensa independente.

A diversidade editorial e informativa, assim, sem a salvaguarda de mecanismos públicos, fica a mercê da orientação corporativa de controladores privados.

As decisões excludentes e vingativas do presidente em exercício, neste sentido, mais que reiteração de antiga chaga autoritária, representam agressão à liberdade de imprensa e à própria democracia.

Ao tentar amordaçar financeiramente a comunicação divergente, o senhor Michel Temer acaba por expor as entranhas mais pútridas do processo que até agora comanda.

Breno Altman, 54, é jornalista e fundador do site Opera Mundi.

(*) Este texto foi publicado originalmente na página 3 da Folha de S.Paulo, no dia 13 de junho de 2016

Leia também:

Moniz Bandeira: EUA apoiaram o golpe de Temer para recompor a hegemonia sobre a América do Sul 


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Comentários

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lulipe

Acabou a mamatinha!!!

FrancoAtirador

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Falar em Favoritismo aos Blog Sujos chega a ser um Escárnio à Democracia
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A Mídia Alternativa recebeu, no ano de 2015, menos de 1% (Um Por Cento)

do Total do Orçamento Publicitário (R$ 1,87 Bilhão) da União e das Estatais.

E não alcançou 8% do valor pago por anúncios governamentais na Internet.
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“As principais democracias do mundo, além de regras antimonopolistas,
adotam políticas capazes de expandir o direito de expressão
para todas as correntes de opinião, através de garantias legais,
compras governamentais, cotas de anúncios e créditos estatais.
.
Um dos maiores entulhos herdados da ditadura

é o regime de oligopólio da comunicação,

com algumas famílias controlando quase 80%

dos meios impressos, eletrônicos e audiovisuais,

apesar de determinação constitucional em contrário.
.
Seus laços com grandes anunciantes privados e agências de publicidade,
obedecendo tanto interesses comerciais quanto alinhamentos ideológicos,
tornam praticamente inviável, apenas por mecanismos de mercado,
o desenvolvimento de uma imprensa independente.
.
A diversidade editorial e informativa, assim,
sem a salvaguarda de mecanismos públicos,
fica a mercê da orientação corporativa
de controladores privados.”
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Jornalista Breno Altman
Fundador do site Opera Mundi
http://operamundi.uol.com.br
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RONALD

“DO LADO DO CONSPIRADOR NÃO EXISTE SENÃO MEDO, CIÚME, SUSPEITA DE CASTIGO QUE O ATORDOA”. MAQUIAVEL

Luiz Carlos

Esperar o quê deste interino e seus auxiliares, que vivem toda vida unicamente para servir aos mais abastados, mesmo quendo estavam no gov. do PT só queriam cargos que tivesse importância econômica?
No entanto, no governo anterior, eram os primeiros a gritar por liberdade se imprensa, junto com os aliados do PSDB e DEM.

Aldo S Principe

Hola!!!!
Estoy de acuerdo, pero no solo de Brasil sino también de mi País y toda Sudamerica, TIENEN QUE IR TODOS EN CANA!!!!

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