Aluna denuncia caso de racismo na USP de Ribeirão Preto

Tempo de leitura: 2 min

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por Ana Luiza Martins, sugerido pela Fernanda Otero, no Face do Coletivo Negro da USP Ribeirão

No sábado passado, eu e minhas amigas recitamos uma música da Yzalúh no Sarau Preto. A gente dividiu as estrofes, e eu fiquei com uma em que a cantora fala sobre a violência “De ler nos banheiros das faculdades hitleristas/ Fora macacos cotistas”

Até então, apesar de já estar há quatro anos na USP — tendo estudado nesse tempo em duas de suas unidades mais elitistas e com as menores porcentagens de negros –, o que passou na minha mente, enquanto lia o verso, é que essa era, afinal, uma das violências ali listadas pelas quais nunca havia passado.

Hoje, um pouco mais de uma semana depois, eu confirmo novamente – o que, às vezes desgastada, tento acreditar: o sistema racista não irá nos poupar de nada.

Já não basta é claro sermos em cerca de dez negros na faculdade. Não basta chegarmos todos os dias nessa faculdade branca, para sentar no meio de 49 colegas brancos, assistir a quatro aulas de professores brancos, que nos contam e nos fazem ler outros tantos brancos acerca de todo um sistema pensado por brancos e para brancos. Não basta cruzarmos todos os dias com a foto dos últimos formandos e só ver rostos brancos.

Não basta que seja apenas cerca de 10% o número de ingressantes pelo sistema de bonificação – QUE NÃO SÃO COTAS – e que dentro desse número ainda seja minotário o número de negros.

Não bastam os quase 18 anos de educação racista e de violência semelhantes a essa que hoje estampa o banheiro da FDRP-USP, que tivemos que suportar sendo os únicos negros da sala de aula em escolas particulares para hoje estarmos na Universidade. Não basta.

São vocês, é claro, que tem de estar revoltados. Deve ser mesmo revoltante e amedrontador pensar que, LOGO LOGO, não importará o quão cara foi a escola e os cursos de língua que o papai pagou, você não vai ganhar seu carro de “aprovado no vestibular”. Não vai poder postar fotinha no facebook pra receber elogio por ter conseguido, simplesmente, o que todo um complexo de instituições te preparou 18 anos para fazer.

Deve ser, é claro, assustador para vocês, que nunca pararam para se perguntar porque são quase que exclusivamente brancos todos os espaços que vocês frequentam, todos os amigos que fazem, todos os que aparecem no seu instagram, pensar que, logo logo, terão que sentar lado a lado com aqueles com quem quando cruzam, escondem a bolsa.

É, racistas, podem espernear, chorar, nos escrever ofensas nos boxes dos banheiros: a USP vai ficar preta.

E cotas é só o começo.

Vocês nos devem até a alma.

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Comentários

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Tiamat

As paredes dos banheiros das faculdades há décadas servem como espaço para a manifestação de pensamentos impronunciáveis no convívio comum, aquele do dia a dia dos corredores, salas de aula, bibliotecas…Canal para o que não pode ser enunciado publicamente. Existem as blasfêmias, piadas, infames ou não, comentários políticos, futebolísticos, partidários, o ranking das + + (em outras palavras, as gostosas do departamento), críticas ou apenas impropérios a certos professores e outros desafetos, caricaturas, obscenidades e, também o assunto aqui tratado. Se bem que no meu tempo de aluno da FFLCH-USP, entre 1995 e 1999, já li coisas bem mais cabeludas do que no FDRP-USP quanto a preconceitos, diferenças e conflitos étnicos, e naquele tempo a questão das cotas ainda engatinhava. Se num espaço dedicado às ciências humanas existe isso, imaginem o que o pessoal “desabafa”, ou melhor, “defeca”, nos banheiros da medicina, direito, engenharia…

Fábio Lima

“Já não basta é claro sermos em cerca de dez negros na faculdade. Não basta chegarmos todos os dias nessa faculdade branca, para sentar no meio de 49 colegas brancos, assistir a quatro aulas de professores brancos, que nos contam e nos fazem ler outros tantos brancos acerca de todo um sistema pensado por brancos e para brancos”. É fácil resolver o problema, basta pedir ao Lula para criar uma universidade só para negros, somente com professores negros , onde só haja literatura e material científico produzido por negros acerca de todo um sistema pensado por negros e para os negros. E que todo o pessoal contratado para limpeza e conservação seja branco !

    Otto

    Comentário sensacional. Só falta os acusarem Shakespeare de emissário do imperialismo…

Maxwell

Tem o vídeo, salvo engano meu. Usaram ele para criticar a moça. No grupo da minha faculdade, aqui na Paraíba, um rapaz além de tratá-la pelo termo de vagabunda, ainda a acusou de querer mamar nas tetas do governo.

Walter

Quem se der ao trabalho de ir a página do tal coletivo no facebook vai ver que o pessoal é tão racista quanto o racismo que combatem.

E a propósito: as cotas SÃO e não as cotas É

Vivemos em tempos bem estranhos…

Combater o racismo com mais racismo não me parece uma boa ideia. Nos comentários do face os coletivistas são espinafrados inclusive por negros.

Comentário com 869 curtidas
“Ricardo Melo :Nossa, isso é uma universitária? Na oitava série eu já sabia flexionar os verbos perfeitamente. Nunca vi tantos erros do idioma, falados e transcritos, ahhahha. Nunca falei um palavrão numa sala de aula, é um templo do saber, não se deve ofender, é como entrar numa igreja ou templo de qualquer religião e dizer um palavrão. Que vitimismo barato. Parece que todo o branco deve pagar os erros dos antepassados. Minha família não escraviza ou escravizou ninguém. Trabalho com negros, brancos, amarelos, gays, lésbicas e sou igual essas pessoas. Essa pessoa falou absurdos do inicio ao fim, e foi racista o tempo todo. Eu sou da mesma raça que você pessoa DESPREZÍVEL, sou da raça humana, MINHA COR não me distingue de você. Quando eu morrer vou virar o mesmo adubo putrefato que você vai virar. Quando faço um raio X no hospital, a minha estrutura INTERNA é idêntica à sua. A sua mente retrógrada está trazendo ódio à tona. Consegue me entender? Palavras de um ser vivo da raça Humana. Sem mais.”

Outro com 290 curtidas, apenas para pinçar dois dos inúmeros comentários reprovando a irmandade coletiva
“Lincoln Jaime Rodrigues de Freitas :Sou filho de negro, tenho sangue negro, minha família por parte de pai tem negro e indígena, tenho moral pra falar que vocês devem estudar e trabalhar seus vagabundos, vocês não representam negro nenhum, só querem ser vítimas, vocês não são negros, são vagabundos. Façam como o povo mais sofrido da Terra, os judeus, sejam uma potência e não vítimas do homem branco, vocês só representam os idiotas e aproveitadores, lutem pela igualdade perante e lei e não privilégios seus canalhas.”

A grande maioria da comunidade da faculdade, negros e brancos , reprovam e repudiam esse tal desse coletivo.
Lamentavelmente o Viomundo, que já foi bem mais seletivo na qualidade de suas matérias, repercute e dá voz a gritaria recalcada de uma minoria. Uma minoria ignorante que consegue macular até mesmo uma causa meritória e indiscutível como a luta contra o racismo em nossa sociedade.

Vai estudar, minha filha, aproveite a oportunidade que muitos na minha época não tiveram, para que possa defender as causas justas pelo menos com equilíbrio e bom português. Ao invés de trabalhar contra a causa, com sua hidrofobia tao preconceituosa quanto a que você supostamente combate.

    Uba

    Jura que você quer justificar o racismo branco, tentando argumentar que o negro é racista com o branco?

    Amigo, sou branco, e sou TOTALMENTE A FAVOR DO QUE ESSA MOÇA ESCREVEU, ela cansou de apanhar e ficar calada, e vem você com esse papinho hipócrita de “ela também é racista”. Evidente que não! Ela está se defendendo e está lembrando do histórico e absurdo rito de humilhações, falta de oportunidades, desrespeito, miséria, violência.

Guilherme

A USP é tucana, e se a pessoa já não entra tucana, eles têm de quatro a seis anos para formarem reaça.

    Otto

    Não fica nervoso não! No próximo ENEM você dá o melhor de si, e aí bem preparado para a FUVEST talvez vossa senhoria consiga entrar na USP.

    Uba

    Incrível que haja tanta gente racista, arrogante e elitista, e que acha que está certa nesse pensamento.
    Os tucanos e seus defensores são um cancro.

    Otto

    Nossa, que homi brabo! O tal Uba (tuba?)

Carlos Salgado

Genial!
Genial!
Genial!

Urbano

Salvaguardando-se as exceções, mas é como eu digo vez por outra, que os novos ricos brasileiros querem alcançar o topo da pirâmide social, se estribando unicamente no biótipo, na mambembe herança socioeconômica e nas vantagens exclusivistas de sempre. É como que se escalassem dois seres humanos, em que um seria tratado a pão de ló, com direito a academia de preparação esportiva, acompanhamento médico e por aí vai; enquanto o outro seria mantido em péssimas condições de vida, com direito a uma dieta esquálida e tudo menos. Após algum tempo os colocaria no centro de um ringue, a fim de disputarem o cinturão mundial. Justo?

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