Wilson Ramos Filho: Patrões da era bolsonara não precisam mais esconder a ganância e exigem: ‘de joelhos, ó vítimas da fome!’

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Patrões obrigam funcionários ajoelhar, contra a quarentena, mesmo que isso lhe custe a vida

por Marcelo Nassif*

Forçadas por seus patrões, jovens ajoelham-se na calçada, para pressionar o governo da Paraíba a suspender a quarentena e reabrir o comércio.

Esse episódio ocorrido em Campina Grande na segunda-feira, 27/04, entrará para a galeria das humilhações e opressão contra o povo brasileiro. Vergonha nacional.

No momento em que vi as fotos das jovens ajoelhadas, viajei no tempo, a imagens antológicas:

*Àquelas de prisioneiros ajoelhados, olhos vendados, com o carrasco atrás, prestes a dar o tiro fatal

*Àquela sinistra foto feita durante desfile na ditadura militar, onde dois índios carregavam um homem torturado no pau de arara. Na época, havia milícias indígenas que eram treinadas pelo exército para torturar índios.

*À histórica foto de Luiz Morier, repórter fotográfico do Jornal do Brasil, que flagrou  trabalhadores negros presos no Rio de Janeiro, amarrados uns aos outros, com uma corda em volta do pescoço como nos tempos da escravidão.

Foi em 1982. Morier voltava para a redação, quando viu  alguns homens sendo conduzidos por policiais policiais.

Não era um simples prisão. Os detidos, todos negros, estavam com a carteira de trabalho na mão.

Foram liberados logo depois pois eram trabalhadores e moravam próximos dali.

A foto – intitulada NEGROS — ganhou a capa do JB e o fotógrafo, o Prêmio Esso 1983. Ela mostrou que o racismo ainda persiste no Brasil.

São imagens chocantes, violentas, como as dessas jovens ajoelhadas em Campina Grande.

Em excelente texto (na íntegra, abaixo)  publicado  em seu perfil de rede social, o advogado trabalhista Wilson Ramos Filho (Xixo) dá importante testemunho sobre o “empresariado brasileiro que, desde o golpe de 2016, já vinha colocando as manguinhas de fora”:

Não me recordo de ter visto, em quarenta e dois anos de estudos sobre as relações de trabalho no Brasil, imagens tão violentas. E tão reais.

*Marcelo Nassif é jornalista.

Genuflexão

por Wilson Ramos Filho (Xixo)*, em sua página em rede social

Não basta explorar os trabalhadores. É necessário humilhá-los, fazer com que se curvem, se ajoelhem para preservar seus empregos.

A dimensão simbólica da submissão ultrapassa em muito a tal subordinação jurídica a que aludem os defensores do Direito Capitalista do Trabalho.

Não me recordo de ter visto, em quarenta e dois anos de estudos sobre as relações de trabalho no Brasil, imagens tão violentas. E tão reais.

O empresariado, desde o golpe de 2016, vinha colocando as manguinhas de fora.

Sem reação à altura, sem reação violenta e proporcional em sentido contrário, sem o exercício da legítima defesa, os empresários se esbaldam. E perdem quaisquer pudores que ainda, pelo menos nas aparências, lhes restavam.

O gnomo da Havan, o orelhudo do Madero, o boçal do Condor, a perua de roupão rosa em seda, entre outros, não teriam se agrandado se tivesse havido reação – violenta como as agressões praticadas pelos empresários, nem mais, nem menos, proporcionais – por parte da sociedade. Prevaleceram os bons-modos, todavia. E pela ausência de reação o fascismo se espraiou.

Os empresários de Campina Grande, Paraíba, tiveram a gentileza de nos proporcionar as imagens que nos faltavam para visualizar a maneira capitalista de existir em sociedade que eles defendem.

Fizeram seus empregados se ajoelhar, uniformizados, em frente às lojas para pedir, mãos postas, a reabertura, assassina, do comércio enquanto o sistema hospitalar paraibano entra em colapso.

Expuseram o capitalismo como ele realmente é, sem mediações, sem ocultação ideológica, tida como desnecessária em nossa realidade bolsonara.

Quem manda é o Guedes, disse o jaguara. A Globo aplaudiu. O empresariado suspirou reconfortado.

Há muitos desempregados. Os que têm emprego e não se ajoelharem estão fora.

Os patrões não necessitam mais esconder sua ganância sob o mítico manto da subordinação jurídica. É submissão, mesmo. Não está satisfeito peça a conta.

A ideologia do Direito do Trabalho se tornou obsoleta, desnecessária, inútil.

Da classe trabalhadora foram retirados direitos que no passado recente tornavam opaca a exploração.

Excluíram os pobres as políticas públicas, com o teto nas despesas.

Acabaram com a expectativa de uma velhice amparada, com a reforma previdenciária.

Uma violência depois de outra, para forçar a genuflexão eterna, para que a exploração fosse mesmo desejada pelos famélicos da terra.

Milhares de trabalhadores estão infectados pelo vírus, dezenas de milhares morrerão afogados, sem ar, sem alento.

Mas não importa. Há um exército de reserva ávido pelos postos de trabalho que vagarem.

Os verdadeiros vagabundos, os que vivem da exploração do trabalho alheio, os patrões, ficarão mais ricos. Terão se livrado dos antigos empregados, aqueles inúteis, sem os custos das verbas rescisórias.

Abomináveis na grandeza, os reis da mina e da fornalha, edificaram a riqueza sobre o suor de quem trabalha e agora não se sentem responsáveis pelas vidas e pelas mortes daqueles a quem exploraram, e exigem: de joelhos, ó vítimas da fome!

Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, integra o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.


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Zé Maria

ES-CRA-VO (A)

Dicionários

Etimologia: Do Grego Bizantino (Séc. VI) ‘Sklábos’, ‘Sklabēnós’,
pelo Latim Medieval ‘Sclavus’ (de ‘Slavus’), mais tarde ‘Escravo’,
Cativo; “Pessoa que é Propriedade de Outra”.

Aberto
1. O que vive em absoluta sujeição a outrem.

Michaelis
1. Que ou aquele que vive privado da liberdade, em absoluta sujeição
a um senhor ao qual pertence como propriedade.

Houaiss
1. Indivíduo que está ou foi privado de sua liberdade, sendo submetido
à vontade de outrem, definido como propriedade.

Priberam
1. Indivíduo que foi destituído da sua liberdade e que vive em absoluta
sujeição a alguém que o trata como um bem explorável e negociável.

Aurélio
S. m. 4. Aquele que está sujeito a um senhor, como propriedade dele:
“O Bom Escravo é o Pior Senhor” (Provérbio Popular)

Sinônimo: Cativo.
Antônimo: Livre.

https://dicionario-aberto.net/search/escravo
https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/escravo/
https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v5-2/html/index.php
https://dicionario.priberam.org/escravo
http://www.uel.br/seer/index.php/signum/article/download/2237-4876.2013v16n309/13192

ES-CRA-VI-ZA-DO (A)

1. Reduzido à Condição de Escravo.
https://dicionario.priberam.org/escravizado

1. Que se conseguiu escravizar; que foi alvo de escravidão.
https://www.dicio.com.br/escravizado/

Sinônimos: Dominado, Submetido, Aprisionado, Subjugado,

Antônimo: Liberto.

Pedrão Paulada

Comportamento escravagista

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