Vinicius Wu: Nas mídias digitais, um “novo” centro político emerge devido ao coronavírus

Tempo de leitura: 2 min

Coronavírus nas mídias digitais e a emergência de um “novo” centro político

por Vinicius Wu*, especial para o Viomundo

No debate público sobre o coronavírus realizado nas mídias digitais, o bolsonarismo segue isolado.

A base de apoio ao atual presidente mantém a radicalização, rejeitando os argumentos da comunidade científica e de líderes mundiais.

Por outro lado, a esquerda também encontra certa dificuldade em ampliar sua audiência e um “centro”, formado por perfis não alinhados e bastante críticos a Bolsonaro, vai se consolidando.

A mídia tradicional e seus influenciadores ganham espaço, assim como instituições da sociedade civil.

De qualquer forma, o desempenho da esquerda, isoladamente, permanece bem superior ao do núcleo do bolsonarismo, somando, em média, 16% das interações contra 8,7% do bolsonarismo mais orgânico durante a pandemia.

Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas, DAPP-FGV.

Outro aspecto importantíssimo a ser ressaltado nas discussões sobre a pandemia do coronavírus é a disputa pela liderança do campo conservador.

Bolsonaro, com sua postura negacionista, tem sido alvo de severas críticas de ex-aliados e soma baixas bastante significativas.

Com isto, corre o risco de perder a capacidade de liderar o bloco conservador que lhe deu a vitória nas eleições de 2018.

Doria e Witzel estão bastante atentos e sonham em ocupar o vácuo deixado por Bolsonaro.

Nas últimas eleições, diante da fragilidade das demais candidaturas de direita ou centro-direita, Bolsonaro foi o grande depositário do voto conservador, embalado pelo antipetismo ávido por uma solução que evitasse o retorno da esquerda ao Palácio do Planalto.

E desde que se viabilizou eleitoralmente, ele passa a liderar um amplo leque conservador que reunia desde hordas proto-fascistas até “democratas-liberais” envergonhados que se viram “obrigados” a aceitar sua liderança. O que se vê desde o último mês é uma implosão, ainda que circunstancial, deste arranjo.

O desfecho da crise ainda é incerto.

As próximas semanas nos darão uma ideia mais exata a respeito do impacto do coronavírus sobre a política nacional.

Talvez ainda seja cedo para se falar em uma “nova oposição” ao governo Bolsonaro mas, de fato, há algo novo ocorrendo no debate público nacional.

Um “centro” emerge, relativizando a polarização entre o bolsonarismo e a esquerda.

Percebe-se uma suspensão, ainda que temporária, de um padrão que marca a política brasileira desde 2014. Ao menos, é isto o que se pode concluir ao analisarmos os dados referentes aos debates sobre a pandemia do coronavírus no ambiente digital.

*Vinicius Wu é pesquisador da PUC-Rio e da DAPP-FGV (Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas). Vencedor de prêmios da ONU e do Banco Mundial por projetos de Democracia Digital

 


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Comentários

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Ricardo A.

Eu vejo em todas essas análises sobre “rearranjos” políticos a incidência de pontos cegos sobre os quais ninguém se pergunta, principalmente aqueles que se dizem de “esquerda” (quando, na verdade, são apenas lulopetistas).

Com a normalização e até a calcificação da certa discursividade dogmática, esses pontos cegos começam a se tornar visíveis na própria superfície enunciativa dos textos.

Aqui, por exemplo, fala-se de um “voto conservador, embalado pelo antipetismo ávido por uma solução que evitasse o retorno da esquerda ao Palácio do Planalto”.

Será que alguém no campo lulopetista está realmente preocupado em se perguntar: “o que é o antipetismo?”; “o que ele realmente entenderia por ‘retorno da esquerda?'”; “o que está por trás desses automatismos fáceis?”…

Parece que o lulopetismo continua se movendo às cegas.

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