Venício Lima: Obama recua, concentração das comunicações nos EUA aumenta

Tempo de leitura: 3 min

Data: 27/01/2011

por Venício Lima, no  Observatório da Imprensa

Há pouco mais de dois anos (18/11/2008) publiquei neste Observatório artigo motivado por mensagem recebida de Josh Silver, diretor da organização não-governamental Free Press, que chamava a atenção para as grandes transformações que deveriam ocorrer na mídia estadunidense se o presidente eleito Barack Obama cumprisse as promessas de campanha (ver Comunicações nos EUA: O que muda com Barack Obama?).

Volto ao assunto agora, motivado pelo mesmo Josh Silver.

Após a fusão da Comcast – a maior operadora de TV a cabo e maior provedora de internet dos EUA – com a NBC-Universal (NBCU), autorizada pela Federal Communications Commission (FCC), no último dia 18 de janeiro, ele admite ter perdido as esperanças e mostra como, uma a uma, as promessas de Obama estão sendo descumpridas com prejuízos óbvios para a pluralidade e a diversidade na mídia dos EUA (ver Comcastrophe: Obama’s FCC Approves Enormous Corporate Media Merger for Comcast/NBC”).

De que se trata
As informações disponíveis dão conta de que o negócio de 30 bilhões de dólares, isto é, a compra de 51% da NBCU pela Comcast, faz surgir o maior grupo de comunicação dos Estados Unidos. A Comcast passa a controlar também um enorme leque de programas de televisão e um arquivo com mais de quatro mil filmes. A nova empresa terá 16,7 milhões de assinantes de banda larga, 23 milhões de usuários de TV por assinatura, estações de transmissão e dezenas de canais que incluem a rede de televisão NBC, USA Network, Bravo e MSNBC, além da participação de 32% no serviço de vídeos online Hulu.

O que isso representa para o mercado de comunicações nos EUA?

Para Josh Silver, a fusão autorizada pela FCC possibilita à Comcast “fundir” a internet com a TV a cabo, vale dizer, desfrutar de enorme vantagem sobre competidores e liberdade plena para determinar os preços a serem cobrados por seus programas e serviços. Pior de tudo, a fusão diminui ainda mais o que sobra de vozes independentes e da diversidade na televisão americana.

Promessas quebradas

Para refrescar a memória, reproduzo abaixo duas promessas de campanha do então candidato Barack Obama (ver aqui):

** Sobre concentração da mídia

“Eu me comprometo a reavaliar as atuais políticas da FCC [Federal Communications Commission, agência reguladora das comunicações nos EUA] em termos de diversificação da mídia. E algo que quero fazer é expandir a diversidade de vozes na mídia, ou adotar políticas que o incentivem, levando em conta que a própria natureza da nossa mídia vem mudando tão rapidamente que talvez a coisa mais importante que possamos fazer seja preservar a diversidade que vem emergindo com a internet. A internet ainda não é a principal fonte de notícias para o povo, mas vem se tornando, cada vez mais, a principal fonte de notícias… Ainda há uma multiplicidade de vozes na internet e, portanto, trata-se de saber como preservá-la, na medida em que as grandes empresas começam a tentar ocupar esse espaço.”

** Sobre a neutralidade na internet

“Não recuarei em meu compromisso com a neutralidade. A internet é a rede mais aberta que existiu até hoje. Assim a teremos que manter. Evitarei que provedores utilizem, de alguma maneira, uma discriminação que limite a liberdade de expressão na internet. Como a maioria dos norte-americanos tem como única opção um ou dois provedores de banda larga, as operadoras não resistem à tentação de impor um custo ao conteúdo e serviços, discriminando sites que não se disponham a pagar por um tratamento igual. Isso poderia criar uma internet em dois níveis, na qual os sites que melhor se relacionassem com os provedores teriam mais rápido acesso aos consumidores, enquanto seus concorrentes permaneceriam num nível mais lento. Esse tipo de conseqüência representaria uma ameaça à inovação, à tradição aberta e à arquitetura da internet, e incentivaria a concorrência entre conteúdo e os principais provedores. Representaria também uma ameaça à igualdade de oratória com que a internet começou a transformar o discurso político e cultural norte-americano.

Conseqüentemente, os provedores de internet não deveriam ser autorizados a cobrar pelo privilégio de conteúdo e diligência a alguns sites da internet em detrimento de outros.”

E o Brasil?

O artigo de 2008 terminava evocando a famosa frase do ex-embaixador brasileiro em Washington (1964-1965) e ex-ministro das Relações Exteriores (1966-1967), general-de-divisão Juraci Magalhães (1905-2001): “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

A esperança era de que, com Obama na presidência, pelo menos no que se refere às políticas públicas de comunicações, a frase do general Juraci se tornaria verdadeira.

Junto com muitos milhões de americanos e brasileiros, tudo indica que era um equívoco.


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Comentários

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edv

Começo a pensar, com pesar, que Obama é um "implante" dos republicanos, para demonstrar a todos que o medo vence a esperança…

    edv

    Não que ache ser, mas parece…

Benedito

Essa é uma campanha de ”Brand Awareness” de combate ao PiG.
Companheiros de todo o Brasil…
Ajude a lancar em seu município:
– O bloco de Carnaval de Rua “Abaixo o PiG”.
– O dia de paralisação do usuário do PiG.
– O teatrinho do PiG nas escolas e pracinhas. Opção para as crianças levarem os pais.
– O PiG no dia de Judas.
– O PiG atrapalhando a festa Junina, e sendo servido depois…
– Corrida de Rua “Fora o PiG”.
– A gincana do PiG para os jovens. e incluiria:
– O bloco PiG na Parada Gay , ou seja, O PiGay…
– Rodada do PiG, a base de leitäo, nas festas de Peão de Boiadeiro, Exposicões Agropecuárias e festas “Country”.
– E por fim: Comida de Boteco com o tema PiG. Aí vai… torresminho, poruruca, escondidinho, linguica na cebola… ou seja…infiniatas opcões para os donos de bar e profissionais da área.
As coisas gostosas da nossa cultura… com humor, astral, alegria e ordem.
Temos que popularizar e esclarecer o conceito PiG…

Giovani Blumenau SC

Azenha
Bem interessante este documentário, e trata diretamente com um "operário" da base de dados de informática de uma das duas construtuoras (fannie mae) que faliram e depois vc já sabe.
Este documentário mostra o espaço-tempo em que poderia ter sido feito algo para evitar o estrago, no estilo Moore, mas carregado de sentimento.
O filho do cara descobre o motivo da "amnésia" do pai.

"Esquecido Papai"

Após sofrer um acidente de carro, homem de 45 anos sofre amnésia total e resolve, a partir daí, construir uma nova vida, com uma nova família. Dezesseis anos depois, o filho do primeiro casamento resolve investigar por que a memória do pai nunca voltou. (Documentário)
Nome original: Forgetting Dad
País: Alemanha/2008
Direção: Rick Minnich e Matt Sweetwood
Duração: 84 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

Eduardo Guimarães

Klaus, você só vai entender como a concentração da propriedade de meios de comunicação é danosa no dia em que seu grupo político e os impérios midiáticos forem colocados em lados opostos.

    Klaus

    Meu único grupo é o dos sofredores do Atlético Mineiro, nada mais.

    edv

    Ô Klaus, eu também não "pertenço" à nenhum grupo, se é o que vc quer insinuar…
    Nem de torcidas, já que até posso comemorar, sem "sofrer"…
    Mas identifico-me com diversos deles, em variados graus.
    Como vc.

Bonifa

Está de vento em popa o andamento da operação montada pelos Países Ricos para dar credibilidade a seu novo homem no Egito, o tal El Baradei. Nada melhor do que prendê-lo provisoriamente, para tentar vendê-lo à população egípcia como um autêntico líder da oposição:
http://noticias.r7.com/internacional/noticias/aut

Filipe Rodrigues

Pô, más esse Obama é muito frouxo, Lula em seu governo também teve alguns momentos de frouxidão, mesmo assim nunca abriu mão de suas convicções, Já o Obama é demais.

Klaus

Parece estar havendo um recuo também no Brasil, pois não?

    edv

    Pois sim, qual?

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