Urariano Mota: A noiva de Beirute só deseja ser feliz, nem que seja por instantes, em um mundo em guerra

Tempo de leitura: 2 min

A noiva de Beirute e a explosão

por Urariano Mota, no Vermelho

As notícias quiseram mostrar o absurdo da desgraça e da felicidade juntas:

“A grande explosão em Beirute, no Líbano, interrompeu o ensaio fotográfico de uma noiva em uma praça no centro da cidade. A tragédia já deixou ao menos 135 mortos e mais de 5.000 feridos.

Em um vídeo [abaixo], a noiva Israa Seblani aparece sorrindo e com as mãos na cintura. A câmera se movimenta e mostra a cauda do vestido branco longo e um buquê de flores que está no chão sobre o véu”.

As imagens falam. Em Beirute, a noiva está linda, linda além do raro vestido.

A beleza vem do seu rosto, do seu sorriso, da delícia do desfrute do seu sonhado instante.

Dela vem um encanto pra gente, tanto por saber o que virá, quanto por vê-la só, alienada do sofrimento próximo.

Mas é um encanto por onde passa uma nuvem no coração, sombra que parece cobrir a sua beleza.

Então vem uma pergunta, quando refletimos sobre as suas imagens: em  que pensava a linda noiva nos momentos antes de tudo?

Nela, parecia haver uma comunhão de êxtase que só a poesia e os transportes místicos conseguem.

Um gozo, um prazer mais alto, um doce orgasmo antecipado. Mas como seria lícito e razoável esperar que a jovem sentisse o gosto doce e abrasante do amor, o chamado gosto alienante do amor, e como uma pessoa adivinhatória, ou um ser antecipado, gozasse as possibilidades apaixonantes, enquanto assim se encontra envolta na fortuna do seu lindo vestido?

A noiva não se pergunta se tem direito à felicidade quando tantas pessoas se despedaçam em torno e o seu país afunda.

Longe dela no coração. Para que se perguntar um desconforto?

Ela não é filósofa, da dura e ética filosofia,  e portanto não sabe, nem quer saber que mais importante que a felicidade é ser digna da felicidade. Não. Enquanto venta uma alegria em Beirute, tudo, todo o futuro menos a filosofia.

Nas imagens, a sua felicidade até parece um modo retrato, daqueles no porta-retratos, em que só aparecem definidas as linhas do rosto até o pescoço. Tão contente de si.

Mas a felicidade seria um produto, o seu vestido de noiva?

Seria a satisfação de ser dona dessa coisa démodé, tão fora de época e dos  costumes das mulheres que amam sem tais pétalas da alta-costura?

Para ela,  o vestido de noiva expressa apenas um marido, um lar e a felicidade. Apenas. E tudo em um casamento, ali, enquanto dá voltas ao rosto suave em Beirute.

Nessa vista do que ela poderia ser, estranhamos que o seu companheiro não se mostre aos olhos.

Ela é como uma felicidade no seu próprio objeto, a mulher feliz com o marido que não se vê.

Nós, silenciosos, acompanhamos como espectadores e a compreensão de que a felicidade é possível,  mas como uma necessidade que faz do barro a forma do que manda o desejo. Branco, esvoaçante ao vento de Beirute.

Ela não sabe, nem imagina que a felicidade dura menos que o esperado. Mas para que prever o golpe que virá? As previsões devem ser feitas para a realização do amor no futuro.

Prever, adivinhar, não estava no seu encanto.

Em um mundo de guerra ela só deseja ser feliz. Nem que seja por instantes de felicidade. De repente, a explosão.


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Zé Maria

Comunidade árabe é 6% da população brasileira,
diz pesquisa IBOPE

Levantamento inédito encomendado pela Câmara Árabe concluiu que 11,61 milhões de árabes e descendentes vivem no Brasil.

Dentre os 22 países árabes, os entrevistados se identificaram como sendo de 12 nacionalidades diferentes.
Os libaneses somaram 27% dos entrevistados, os sírios 13%, marroquinos 6%, sauditas 6%, egípcios 5%, palestinos 5%, argelinos 3%, jordanianos 3%, líbios 3%, somalis 3%, barenitas 1%, e cataris 1%.
Outros 25% não identificaram uma nacionalidade árabe específica.

No quesito religião, o censo apurou que 43% dos descendentes e árabes se declaram como católicos, 18% deles são evangélicos ou protestantes, outros 16% são muçulmanos e 23% se identificou como sendo de outra religião ou, ainda, sem religião.

Essa população se distribui ao longo de todas as regiões do território brasileiro.
Segundo a pesquisa, 39% dos árabes residem na região Sudeste, 32% na região Nordeste, na região Sul estão 17% deles, outros 6% moram na região Norte e 5% deles na região Centro-Oeste.

Reportagem: Thais Sousa,
da Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA)

https://anba.com.br/comunidade-arabe-e-6-da-populacao-brasileira-diz-pesquisa/

Zé Maria

Israel e o Uso da Tragédia em Beirute

A cínica máquina de propaganda israelense, que conta milhões
de investimentos, como já fez em outras tragédias mundo afora,
tem como única preocupação transmitir internacionalmente
falsa imagem positiva e civilizatória.

Assim, busca desviar a atenção do apartheid, colonização e
ocupação contínuas a que estão submetidos os palestinos
há mais de 72 anos – e que seguem a ceifar vidas.

Propaganda a serviço de encobrir crimes contra a humanidade
e, quiçá, avançar na normalização de relações com governos da região.

Por Soraya Misleh, no Monitor do Oriente

Íntegra em: https://www.monitordooriente.com/20200806-israel-e-o-uso-da-tragedia-em-beirute/

Zé Maria

Estava Previsto que na Atual Guerra Híbrida (Total)
USA/Sionistas/OTAN x Árabes/Persas/Russos/Chineses,
os Governos Fascistas de Israel e dos Países Ocidentais
atribuiriam a culpa pela Explosão no Porto do Líbano ao
Movimento Islâmico Libanês Hezbollah – de orientação
Xiita, contrário aos Sunitas, tal como o Irã que é Persa.

Observe-se como se formam Fake News a partir de
Notícias Verídicas que vem do Oriente Médio:

Segundo a Al Jazeera, TV do Catar, o Presidente do Líbano afirmou à Imprensa
Libanesa que a investigação da explosão em um armazém do Porto de Beirute, que abrigava material explosivo, estava sendo conduzida em três níveis:

“Primeiro, como o material explosivo entrou e foi armazenado …
segundo, se a explosão foi resultado de negligência ou acidente …
e terceiro, a possibilidade de haver interferência externa”, disse.

Depois que Donald Trump afirmou, e Mossad e Cia espalharam,
a Mídia Ocidental Pró-EUA/Sionismo deu a seguinte manchete,
que foi inclusive repetida por blogs que se dizem ‘progressistas’:
‘Presidente do Líbano diz que explosão no porto pode ter sido
ataque’ [SIC].
Isso, dois dias depois que o ‘Chanceler de Israel exortou os países
da América Latina a banirem o Hezbollah’, vinculando o Movimento
ao Tráfico de drogas na Tríplice Fronteira Sul-Americana que abriga
uma das maiores comunidades libanesas xiitas na América Latina,
conforme espalhou por aqui a Mídia Venal Israelense e dos EUA.

https://www.monitordooriente.com/20200807-chanceler-de-israel-exorta-paises-da-america-latina-a-banirem-o-hezbollah/

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