por Luiz Carlos Azenha
Ao longo dos últimos meses tive um grande prazer: fiz, ao lado de uma equipe maravilhosa, uma descoberta que talvez tenha sido a “viagem” mais fascinante de minha carreira. A redescoberta da África. Imperfeita, incompleta e atrasada, com certeza. De toda forma, fascinante.
O maior fascínio veio de constatar, pessoalmente, em viagens a Moçambique e Namíbia, Cabo Verde e Guiné-Bissau, o descompasso entre a África real e uma África “inventada” pelo colonizador europeu, como primeiro escreveu o escritor John Reader, autor de A Biography of Africa.
O livro mostra como, para justificar a ocupação física do continente, os europeus “inventaram” uma África sem História, sem civilizações, sem contribuições à Humanidade. Uma África carente, portanto, dos três Cs do colonialismo: Cristo, Comércio e Civilização. Quantos crimes impunes foram cometidos em nome disso! E o mais incrível é descobrir que hoje em dia essa visão paternalista, preconceituosa e falsa sobre a África persiste firme e forte, como é possível constatar agora que se fala tanto da África do Sul como se representasse todo o continente. Permanece a ideia de que se trata de um continente ingovernável, perigoso, de que uma viagem para lá equivale a uma “expedição”, com todos os riscos e perigos subentendidos nesse tipo de aventura.
Ainda assim, como bom otimista, espero que a Copa seja uma oportunidade para que as pessoas comecem a entender que não existe uma, mas que são muitas Áfricas. E que é impossível dissociar o que existe hoje na África do regime colonial europeu, que “testou” no continente, por exemplo, os campos de concentração, muito antes que eles fossem erguidos em território europeu na Segunda Guerra Mundial (os britânicos implantaram campos de concentração durante a guerra contra os bôer de origem holandesa, na África do Sul, experimento repetido depois pelos alemães contra o povo herero, da Namíbia, e em seguida, de novo pelos britânicos, contra os kikuyu, no Quênia, sempre em disputas que tinham como foco o controle de terras férteis).
De nossa parte, no programa Nova África, preparamos para esta quarta-feira um programa especial, sobre a música de Cabo Verde. O arquipélago foi um dos lugares onde europeus e africanos primeiro conviveram, um dos berços da miscigenação que faz dos caboverdianos primos próximos da população brasileira, especialmente dos brasileiros do Nordeste. Foi fascinante descobrir como os gêneros musicais do arquipélago evoluiram em compasso com influências externas e como expressão da relação dos caboverdianos com a terra da qual imigraram por motivos econômicos. Do programa fazem parte entrevistas com dois dos grandes nomes da música do país, o cantor Bana (que vive em Lisboa) e a cantora Césaria Évora, que entrevistamos em Mindelo, na ilha de São Vicente.
As imagens são de Paulo Eduardo Palmério, o roteiro de Márcia Cunha, a montagem de Marco Korodi e a consultoria histórica de Conceição Oliveira, com participação de toda a equipe da Baboon Filmes, de São Paulo.
O programa passa nesta quarta, às 20h30m, na TV Brasil.




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