Sueli Scutti: Escritor antifascista lança livro escrito em um tonel durante isolamento pela covid-19

Tempo de leitura: 4 min

António Paixão: escritor antifascista observou a pandemia de dentro de um tonel

 Heterônimo de jurista lança o livro “Annus Horribilis – Escritos da Barrica”

Por Sueli Scutti, especial para o Viomundo

No pandêmico ano 2020, o escritor António Paixão se refugiou em um tonel para precaver-se de contágio pelo coronavírus e observar os acontecimentos aqui fora.

Com humor ácido e pitadas de ironia, ele escreveu contos e crônicas que misturam ficção e realidade, em mais de 30 capítulos produzidos durante o isolamento provocado pela Covid-19.

No deleite dos vinhos de São Roque, onde se localiza o tonel, ele tece crítica mordaz à (não) gestão da crise por parte do governo central do Brasil, ao abordar a forma como a epidemia vem sendo encarada, compreendida e (mal) administrada.

A pandemia é o pano de fundo que faz o autor António Paixão voltar à tona com seu novo livro, “Annus Horribilis – 2020 – Escritos da Barrica”, lançado em 15 de abril pela editora Observador Legal.

Em anos recentes, ele havia publicado “Shanghai Lilly”(2017); e “A História da Literatura Erótica e Meus Contos Malditos” (2018).

Paixão é o heterônimo antifascista e corintiano do advogado, jornalista e professor Durval de Noronha Goyos Jr., que se vale de pseudônimos no ambiente literário desde os anos 1970.

Ele se apropria na obra da máxima “in vino veritas” e, ao se recolher ao grande barril de vinho entre as vinícolas no interior de São Paulo, observou passo a passo o desencadear do surto virótico enquanto protegia a própria saúde.

Como uma espécie de diário, ele vai contando e interligando os fatos, reais ou imaginários, no país e no mundo, bem como relatando a sua própria rotina de confinamento, numa mistura que às vezes confunde e noutras faz o leitor se enxergar no Brasil inacreditável dos tempos atuais.

“Os contos são trabalhos de ficção literária, com breves intercorrências na realidade. Já as crônicas também por vezes têm elementos ficcionais, porque são obras de um escritor fictício”, ele adianta.

Com observação política certeira e crítica incisiva ao neofascismo, Paixão usa a arma das palavras para o combate à desinteligência que descreve em mais de 300 páginas, desde o início da quarentena até a imbecilidade aventada pela autoridade de que os cidadãos que tomassem vacina contra o vírus se transmutariam em jacarés.

Da embriaguez de seu tonel, o escritor vê tudo, de Jesus na goiabeira ao negacionismo da gripezinha, dos embates sobre aquisição de vacinas e suplementos ao descontrole total da doença, dos pseudo-auxílios aos miseráveis à crua realidade que deixa cidades arrasadas por mortes e pobreza ocasionadas pelos efeitos do coronavírus.

Com prefácio do poeta e jornalista Adalberto Monteiro, integrante do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois, “Annus Horribilis” é um documento literato de questionamento político e contraponto às negações e às certezas de terra plana.

É um trabalho que, mesmo com as veias abertas da realidade brasileira, ainda faz rir e, ao rir, questionar – por que estou rindo?

“É um livro de combate. E desde Cervantes se soube que o humor é uma arma tão eficaz quanto a espada. António Paixão demonstra que a alegria, a ironia, o escárnio, são, por vezes, punhais mais eficazes que as armas convencionais”, escreve Monteiro no prefácio.

Em outro trecho ele diz: “Este livro, ou esta adaga, como se queira, entre tantos aprendizados, apresenta-nos a lição de que o neofascismo não se enfrenta com a polidez de datas vênias ou tapas de luvas de pelica. Para esmagar o fascismo como a um inseto, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, é necessário que a resistência tenha no seu arsenal a contundência da verdade e a virulência do escracho”.

Sob o olhar atento do escritor, sobrou reação indignada até para “Bolsodoria”, o governador paulista que, lá pelas tantas, julgou merecer férias de fim de ano em Miami enquanto à sua população, naquele período, estavam reservadas as restrições da “zona vermelha” na escala de cores que indica as fases de maior ou menor abertura à circulação de pessoas, conforme a evolução da doença nas municipalidades.

O livro de António Paixão é uma espécie de dossiê sociopolítico sobre como o Brasil trata seu maior inimigo em uma guerra que já soma quase 400 mil soldados perdidos, sem liderança e sem rumo, uma guerra horribilis que parece longe do fim.

Eclético, Durval de Noronha Goyos Jr., o inventor de António Paixão, tem mais de 400 livros em acervos de bibliotecas acadêmicas nos seis continentes, conforme a WorldCat, com temas do universo do direito, relações internacionais, lexicografia, história e economia.

Também escreve poesia, romances e biografias.

Em 2020, lançou “O Escudeiro de São Jorge – Flavio La Selva e a Gaviões da Fiel”, publicado pela Observador Legal e apresentado em Portugal, na Feira do Livro de Lisboa, na Festa do jornal Avante e na Embaixada de Cuba.

O livro é biografia do fundador da torcida organizada do Corinthians e foi escrito em parceria com Wanda La Selva, irmã do biografado.

Antes, Noronha havia lançado “O Crepúsculo do Império e a Aurora da China” (2012); “A Campanha da Força Expedicionária Brasileira pela Libertação da Itália” (2013); “Introdução à Revolução Cultural na República Popular da China: aspectos econômicos, sociais e políticos” (2016); “Os Monges Guerreiros de Goyos e a Ordem do Hospital em Portugal” (2018); e “A Constituição de Cuba de 2019 à luz do direito comparado” (2020).

Na seara política, Durval de Noronha, especialista em direito internacional, é um dos subscritores da “Carta aos Juristas do Mundo”, de 2018.

Outro documento que ele assina, como presidente da União Brasileira de Escritores, é “UBE pede a Tribunal Internacional para enquadrar Bolsonaro”, de 2016.

Sueli Scutti é jornalista em São Paulo


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Zé Maria

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