Roberto Bitencourt: Para Globo e Eduardo Paes, a vida dos profissionais da Educação da rede municipal nada vale

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Traços de negacionismo: na semana passada, o prefeito Eduardo Paes foi flagrado em bar numa roda de samba, sem máscara. Além disso, retirou os professores da lista de prioridades de vacinação na cidade do Rio de Janeiro. Fotos: Reprodução de vídeo e de Facebook do Sepe/RJ

Globo e Eduardo Paes desprezam as vidas dos professores

por Roberto Bitencourt da Silva, especial para o Viomundo

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, desde que assumiu o cargo no início deste ano, tem revelado traços de negacionismo tão acentuados quanto qualquer empedernido bolsonarista de primeira hora.

As suas iniciativas e escolhas pouco se diferenciam, em essência e na prática, daquelas que tipificam o presidente da República: diminuem a gravidade da pandemia, expressam a mais ampla subordinação aos interesses desumanos e de curto prazo das grandes empresas, convertendo em status de normalidade situações absolutamente deploráveis de risco de morte para a população, sobretudo à classe trabalhadora.

Flagrado em bar numa roda de samba, todo pimpão e sem máscara, o mais próximo que decretou de um lockdown foi um feriadão, que contou com vastas atividades em funcionamento. Nos últimos dias, anda a acenar com a autorização de grandes eventos.

A banalização das perdas de vidas é a tônica, a despeito de alguns floreios retóricos e das lamúrias do prefeito, mais dedicadas a satisfazer o seu marketing político.

O transporte público rodoviário, um verdadeiro laboratório de circulação do covid 19, vive lotado, precarizado, sem ser submetido a qualquer tomada de decisão eficaz e incisiva de melhora.

Trata-se de um dos principais vetores da doença na cidade, atingindo as vidas da massa de trabalhadores, inclusive, por óbvio, trabalhadores rodoviários.

Um governo sério levaria a cabo ações em prol da estatização dos serviços do setor e utilizaria os lucros correntes na manutenção, no reparo e aperfeiçoamento dos equipamentos e das atividades.

No tocante à educação, de maneira absolutamente dogmática e destituído de qualquer sentido científico, o prefeito tem adotado o lema de que as “escolas são as últimas a fechar e as primeiras a abrir” em qualquer situação na pandemia.

Em vez de adotar medidas que assegurem a preservação das vidas dos profissionais de educação e das comunidades escolares – como o aporte substantivo de recursos financeiros e de meios técnicos que favoreçam o amplo acesso dos estudantes às aulas remotas (reitero: aulas e não circunstancial interação escrita), de sorte a mitigar no momento os problemas educacionais decorrentes da pandemia –, a aposta da Prefeitura está fundamentalmente concentrada no retorno das atividades presenciais.

As escolas foram paulatinamente abertas nesse ano, priorizando as séries iniciais e crianças de menor idade, agora já envolvendo todos os segmentos da educação fundamental da rede pública mantida pelo Município.

Denúncias de expansão de casos de covid-19 e de mortes de professores e demais profissionais de educação, como de seus parentes, são recorrentes e assustadoras, como demonstra o relatório produzido pelo Sindicato dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (na íntegra, ao final).

Cumpre observar que diariamente o telejornalismo local da Rede Globo tem produzido matérias e delineado enquadramentos e abordagens que atendem aos interesses do setor privado de ensino, ou seja, de abertura desmedida e irrefreável das escolas.

A grana acima de tudo. São enfoques jornalísticos que produzem imagens seguras e confortáveis das escolas, privilegiando vozes e segmentos sociais que defendem as atividades escolares presenciais.

Os professores raramente são ouvidos. Aos agentes centrais da educação, às suas principais e decisivas autoridades técnico-profissionais, não se conferem legitimidade mínima para falar de educação!

O prefeito Eduardo Paes, por sua vez, segue religiosamente essa agenda definida e reverberada pela Rede Globo, decretando a abertura irrestrita, sem condições elementares de atendimento à saúde pública.

Para piorar o cenário, Paes resolveu arbitrariamente retirar os professores e demais categorias profissionais da lista de prioridades elaborada pelo Ministério da Saúde.

A Globo, em matéria a respeito, sequer se deu o trabalho de assinalar a existência da listagem oficial do governo federal.

Demonstrando uma sutil forma de colocar a população contra os professores, o viés do telejornal local (RJ TV), nestes dias, manifestou nítidas linhas de estigmatização dos professores enquanto atores sociais que reivindicam “privilégios”.

Vidas submetidas ao risco de contrair a doença e, em decorrência, morrerem, simplesmente demonizadas.

Enquanto isso, Eduardo Paes brinca no seu Twitter com a atriz Clarice Falcão, fazendo demagogia irresponsável com a vacinação, ao mesmo tempo em que determinava que professores e demais trabalhadores que desempenham os seus ofícios em locais fechados, com acentuada característica de aglomeração ou em serviços tidos como essenciais, podem se submeter a maior vulnerabilidade e à espreita da doença e da morte.

Por seu turno, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro tem afirmado a necessidade de atendimento à lista oficial de prioridades.

Os profissionais de educação da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro permanecem em greve, concernente às atividades presenciais, mas mantendo os compromissos com o ensino remoto.

De certo, o terreno das divergências está aberto à judicialização, senão suscetível a promover um debate rigoroso e sério sobre a retomada segura das aulas presenciais, ao menos para garantir a proteção de um bem sagrado, uma dádiva elementar, esquecida por muitos: a vida.

Para a Rede Globo e o Eduardo Paes, a vida dos profissionais de educação, como de tantas outras faixas dos trabalhadores, nada vale.

*Roberto Bitencourt da Silva é historiador e cientista político.

Relatório Sindicato dos Profissionais da Educação RJ by Conceição Lemes on Scribd


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