Rafael Valim: Na Lava Jato, tudo foi arquitetado para alcançar propósitos políticos e pessoais

Tempo de leitura: 2 min
Fotos: Agência Brasil e redes sociais

O triste fim da operação Lava Jato

Tudo foi estrategicamente urdido para alcançar propósitos políticos e pessoais

Por Rafael Valim*, em A terra é redonda

O enredo era previsível. Os atores, sofríveis. Mesmo assim, multidões afluíam ao teatro e não só aplaudiam aquele espetáculo insólito, como hostilizavam duramente quem o criticava. Nada podia atrapalhar aquele momento apoteótico.

Após anos de intensa exibição, o teatro da Operação Lava Jato se aproxima de um fim melancólico.

A título de “combater” a corrupção, resultou no maior escândalo do Sistema de Justiça brasileiro.

Revelações recentes de mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram entre membros do Ministério Público e o então juiz Sergio Moro dão conta de uma profusão de ilegalidades cometidas contra inúmeros acusados, entre os quais se coloca o ex-Presidente Lula.

Combinação de atos processuais entre acusação e juiz, orientações do juiz à acusação, utilização de prisões cautelares como meio de tortura para obtenção de delações premiadas, monitoramento de advogados, quebras ilegais de sigilo fiscal, desrespeito às regras de competência jurisdicional, tratativas com agentes públicos estrangeiros à margem dos canais oficiais, articulação de atos processuais com a imprensa, incluindo vazamentos ilegais de informações, são alguns dos exemplos que podemos assinalar.

A qualquer observador razoável tais revelações não soam propriamente como uma novidade, mas é preciso reconhecer que os pormenores das conversas entre os membros da Operação Lava Jato impressionam pela absoluta desconsideração aos mais comezinhos princípios que informam um Estado de Direito.

Tudo era estrategicamente urdido para alcançar propósitos políticos e pessoais.

Os papéis de investigador, acusador, julgador se fundiam em um autoritarismo de punhos de renda perigosíssimo, camuflado no hermetismo da linguagem jurídica.

Alguns dos resultados da Operação Lava Jato já são amplamente conhecidos.

Profundo abalo da economia nacional, notadamente do mercado de infraestrutura, destituição de uma Presidente da República sem a ocorrência de crime de responsabilidade e a ascensão de um líder populista à chefia do Poder Executivo.

Descortina-se, porém, outra grave consequência da Operação, qual seja, um retrocesso nas estruturas que efetivamente ajudam a enfrentar a corrupção no Brasil.

Basta mencionar os sucessivos ataques à lei de acesso à informação pública nos últimos anos. Ironicamente, portanto, os “heróis” do combate à corrupção podem vir a se tornar os heróis dos corruptos.

Agora todas as atenções estão voltadas para o Supremo Tribunal Federal.

Sobram elementos para a anulação de diversos processos da Operação Lava Jato, mas já ecoa a preocupação com a histórica imagem de que os poderosos sempre se livram das garras da Justiça.

É certo que o desmoronamento da Operação Lava Jato frustra expectativas legítimas de todos os brasileiros de viver em um país sério, íntegro, livre da chaga da corrupção.

O Estado de Direito, porém, não admite atalhos. A Operação Lava Jato sucumbirá por seus próprios erros e assim deve ser, para que não tenhamos mais aventuras da mesma natureza.

*Rafael Valim, advogado, é doutor em Direito Administrativo pela PUC-SP, onde lecionou de 2015 a 2018. Autor, entre outros livros, de Lawfare: uma introdução (com Cristiano Zanin e Valeska Zanin Martins) (Editora Contracorrente).


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Zé Maria

https://image.slidesharecdn.com/petiquinta-210213003545/95/defesa-de-lula-ao-stf-24-638.jpg
https://image.slidesharecdn.com/petiquinta-210213003545/95/defesa-de-lula-ao-stf-25-638.jpg
https://www.slideshare.net/lcazenha/defesa-de-lula-ao-stf

A Força-Tarefa de Patifes de Curitiba tramou para que a “juizéca copia e cola”
permanecesse no Comando da Operação, após a saída de Moro da 13ª Vara.

Primeiro, os Procuradores praticamente eliminaram da Lista dos Juízes que
eles não queriam que assumissem a Titularidade da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Depois da Exoneração de Moro para assumir um Ministério de Jair Bolsonaro,
Gabriela Hardt ficou com os Processos da Lava Jato de Curitiba, vez que já havia
sido enquadrada pelo Juiz Moro.

E, mesmo com a nomeação de Bonat para Titular, a juizéca permaneceu despachando
nos Inquéritos da Polícia Federal (Mandados de Busca e Apreensão e de Prisões
Cautelares, Temporária e Preventiva), e atuando na Fase de Instrução do Processo
(homologações de delações premiadas no MPF, audiências de inquirição de
testemunhas e interrogatórios) e nas Execuções de Sentenças Prolatadas pelo
Novo Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Tudo por Portarias do TRF4, ao gosto da Força-Tarefa de Bandidos da Lava Jato:
(https://migalhas.uol.com.br/arquivos/2019/12/879B0D991BB047_Portaria489.pdf)
(https://migalhas.uol.com.br/arquivos/2019/12/3C6BEFE7F7389A_Portaria89.pdf)

É bom lembrar que foi Gabriela Hardt a juíza que homologou o acordo da Petrobras
com o MPF determinando o Depósito no Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba
da quantia de R$ 1, 2 BILHÃO EM FAVOR DA FORÇA-TAREFA DE PROCURADORES
(https://migalhas.uol.com.br/arquivos/2019/3/art20190308-18.pdf), decisão essa
que foi devidamente ANULADA pelo Supremo Tribunal Federal (STF): (http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15339734249&ext=.pdf),
decisão da qual foram intimados, em 18/03/82019, DD, Januário & Filhos Ltda,
pelo Supremo (http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5650140).

É por essas e outras que os Lavajatistas – Bolsonaristas ou não – devem sentir
um Ódio Muito Grande dos Ministros do STF.
.
.
Procuradores do Paraná se mobilizaram para que juiz aliado assumisse lugar de Moro

De acordo com as revelações do Intercept, Dallagnol listou possíveis sucessores de Moro, apontando aqueles que seriam bons ou maus candidatos.
O primeiro alvo da “lava jato” foi o juiz Eduardo Vandré, considerado péssimo por Dallagnol.
“O risco é a posição 6, o Vandré. Precisamos de um coringa, alguém que se disponha a vir até o número 5 e renuncie, se o Vandré se inscrever”.

Januário Paludo explicou o motivo da desconfiança:
Vandré “era PT” e “não gosta muito do batente”.
Com isso em vista, os procuradores buscaram garantir a candidatura dos cinco juízes mais bem posicionados na lista de antiguidade, tirando Vandré da disputa.

O preferido era o juiz Danilo Pereira Júnior. Por conta do regimento interno do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no entanto, o magistrado estava impedido de assumir o cargo, já que chefiava uma vara com a mesma especialidade daquela em que Moro atuava.

O impedimento não foi o bastante para conter os procuradores, que cogitaram convencer o então presidente do TRF-4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, a autorizar a candidatura.

Quem acabou assumindo o posto de Moro foi o juiz Luiz Antônio Bonat, visto como uma boa opção pelos procuradores. De acordo com os diálogos, Paludo e Dallagnol viam Bonat como um instrumento para impedir que um candidato indesejável assumisse o cargo deixado por Moro.

Os procuradores acreditavam, no entanto, que o magistrado não teria pique para assumir os processos da “lava jato”. A ideia, então, foi a de fazer do juiz uma espécie de “fantoche”.
Ele assumiria a 13ª Vara, mas teria juízes assessores [Gabriela Hardt] trabalhando
“por trás”.
(https://www.conjur.com.br/2020-out-13/procuradores-mobilizaram-aliado-assumisse-lugar-moro)
(https://www.conjur.com.br/2020-out-16/manobra-escolher-sucessor-moro-investigada-gilmar)

https://www.conjur.com.br/2018-nov-01/gabriela-hardt-substituira-moro-escolha-titular
https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2018-11/juiza-gabriela-hardt-deve-assumir-lava-jato-ate-chegada-de-titular
https://www.conjur.com.br/2019-mar-01/juiza-admite-baseou-sentenca-moro-condenar-lula2
https://www.conjur.com.br/2019-dez-01/marcelo-aith-justica-federal-contraria-stf-sitio-atibaia
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-o-trf-4-decidiu-rifar-a-juiza-copia-e-cola-gabriela-hardt-por-joaquim-de-carvalho

https://www.conjur.com.br/2021-fev-12/mpf-fez-planilha-indicar-prioridades-julgamento-hardt

Zé Maria

A Cúpula do MPF usou de um simples recurso retórico
para dizer que extinguiu a Força-Tarefa de Patifes,
substituindo-a por Núcleo do GAECO, mas mantendo
a Logomarca Midiática e alguns criminosos da FTLJ.

https://www.conjur.com.br/2021-fev-03/lava-jato-pr-institucionaliza-passa-integrar-gaeco

Henrique Martins

https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/psdb-rodrigo-de-castro-daniel-silveira/

É simples. Arthur Lira não passa de um bolsonarista disfarçado que foi eleito para colocar a Câmara de joelhos diante de Bolsonaro.

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