Paulo Nogueira Batista Jr: Brasil, campeão da usura e desigualdade – o papelão do Banco Central
Tempo de leitura: 5 min
Brasil, campeão mundial da usura e da desigualdade – o papel (ou papelão) do Banco Central
Por Paulo Nogueira Batista Jr*
Hoje vou tratar de uma questão econômica especialmente complexa – a política de juros do Banco Central. O artigo vai ser um pouco mais técnico. Não desista, porém, leitor ou leitora. Se tiver dificuldades com algum parágrafo ou termo técnico, pule a passagem e continue, ou faça na rede consultas conceituais rápidas.
Desde o ano passado, na gestão Roberto Campos Neto, e em 2025, na gestão Gabriel Galípolo, o BC aumentou expressivamente a taxa básica de juro, a Selic. Os juros reais ex ante (a taxa nominal descontada a inflação esperada) subiram para níveis recordes, colocando o Brasil, mais uma vez, como campeão ou vice-campeão mundial da usura.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o comando do BC indicou que os juros continuarão altos por muito tempo, adaptando-se de maneira mais ou menos passiva às expectativas do mercado financeiro.
Esses movimentos do BC desencadearam intensa controvérsia no país. Muitos foram contra, outros tantos a favor.
Quem tem razão? Os financistas, rentistas e economistas do mercado, que costumam defender taxas de juro elevadas? Ou os setores industriais, os outros setores produtivos e os economistas mais heterodoxos, que rejeitam a política do BC? Como o leitor ou leitora provavelmente sabe, eu estou no segundo campo.
A questão é mais intrincada do que geralmente se imagina. As avaliações deveriam ser feitas portanto com certo cuidado, o que raramente acontece. A usual troca de slogans e adjetivos produz, como sempre, mais calor do que luz.
Mas esse cuidado não vai me impedir de ser incisivo nas conclusões do artigo.
A política de juros altos diminui mesmo a inflação? A que custo?
Algumas perguntas iniciais: juros elevados conseguem, de fato, controlar e reduzir a taxa de inflação, como costumam dizer seus defensores? E, em caso positivo, a que custo em termos de efeitos adversos sobre PIB, emprego, finanças públicas e distribuição da renda nacional? Trata-se de uma política eficaz? Ela é, também, eficiente?
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Não há muita dúvida de que juros altos contribuem em geral e de forma importante para reduzir a inflação. Por meio de três canais, pelo menos.
Primeiro, porque comprimem a demanda agregada de consumo e investimento na economia, o que exerce pressão baixista sobre os preços dos bens e serviços não comercializáveis internacionalmente (non-tradeables), inclusive sobre remuneração do trabalho.
Segundo, porque tendem a provocar valorização cambial, o que deprime os preços em reais dos produtos comercializáveis internacionalmente (tradeables), tantos exportáveis como importáveis.
Terceiro, porque a alta dos juros básicos, se for vista como sustentável, normalmente diminui as expectativas de inflação e, por essa via, tende a reduzir a inflação corrente e as taxas de juro de longo prazo.
Assim, a política de juros altos é, normalmente, eficaz em reduzir a inflação.
Porém, isso não significa que ela seja eficiente, pois diversos fatores limitam os seus efeitos anti-inflacionários e produzem impactos colaterais adversos. Ela é eficaz porque gera queda da inflação; mas não é eficiente porque obtém esse resultado produzindo grandes estragos e efeitos colaterais.
Vamos a alguns desses fatores. Numa economia continental como a brasileira, o grau de abertura comercial externa, medido pela razão fluxos de comércio exterior/PIB, é inferior àquele que se observa em países pequenos e abertos.
Em países pequenos, como a Suíça, a Bélgica ou a Holanda, entre muitos outros, onde o grau de abertura é muito elevado e quase sempre bem superior a 100%, a valorização externa da moeda nacional induzida por juros altos tem impacto decisivo sobre a inflação.
No caso do Brasil, quem tem um grau de abertura da ordem de 40%, o impacto anti-inflacionário de uma apreciação externa do real, ainda que não desprezível, raramente chega a ser decisivo. (Diga-se de passagem que nos Estados Unidos, outra economia continental, o grau de abertura é ainda menor do que o nosso, inferior a 20%).
Ou seja, a apreciação cambial requerida para obter determinada queda da inflação é maior em países como o Brasil, o que tende a solapar a competitividade internacional da economia e gerar desequilíbrio no balanço de pagamentos em conta corrente,.
Um segundo aspecto da questão: há sempre alguma rigidez dos preços e salários à baixa. Em economias como a brasileira, que tem longa tradição de indexação, existe também alguma inércia da inflação, isto é, a tendência a trazer a inflação passada para o presente, Assim, o efeito anti-inflacionário de uma determinada contração da demanda agregada é menor do que seria se os preços e salários fossem mais flexíveis e menor o componente inercial da inflação .
Em suma, por esses e outros motivos, é preciso muita contração da demanda e/ou muita apreciação cambial para reduzir a inflação e colocá-la dentro da meta, especialmente quando essa meta é fixada de modo excessivamente ambicioso.
É o que temos hoje – herança da incompetente gestão econômica do governo Temer, aquela que era conduzida por um suposto “dream team”, como se dizia na época em relação à Fazenda e o Banco Central.
O governo Lula deveria, logo de cara, ter aumentado a meta central de inflação e o intervalo em torno dela, como queria o presidente Lula. Nada foi feito, porém. Prevaleceu na área econômica o receio de desagradar o mercado.
Efeitos sobre as finanças públicas e a distribuição da renda nacional
Os juros altos produzem efeitos colaterais destrutivos. Além de desacelerar a economia, eles desestabilizam as finanças púbicas de duas formas – diretamente (ao sobrecarregar o custo da dívida pública) e indiretamente (via efeitos adversos da retração do nível de atividade sobre arrecadação e gastos cíclicos como o seguro-desemprego).
O setor público como um todo arca atualmente com despesas líquidas de juros da ordem de 8% do PIB! Esse componente, e não o badalado resultado fiscal primário, é que explica o déficit público e o crescimento da dívida do governo. O déficit primário está em torno de 0,6% do PIB.
E o problema não para aí. Quando o governo paga juros escorchantes, quem recebe? Quem são os credores do governo?
Fundamentalmente, as instituições financeiras, os super-ricos, os ricos e, em menor medida, a classe média alta, além dos credores estrangeiros. Os juros altos são, na verdade, um poderoso instrumento de concentração da renda em um país que já é, há muito tempo, o campeão ou um dos campeões mundiais em matéria de desigualdade social.
Convém reparar, além disso, que essa política monetária coloca reais exatamente na mão daqueles que têm alta propensão à fuga de capitais em momentos de incerteza, como no final de 2024 – fuga facilitada, recorde-se, pela liberalização prematura da conta de capitais, herança lamentável da gestão Fernando Henrique Cardoso. Alimenta-se assim com juros generosos o monstro da especulação cambial desestabilizadora. O país sofre e a turma da bufunfa comemora.
Ninguém está pedindo que o novo comando do Banco Central dê uma cavalo-de-pau na política monetária. Mas, francamente, status quo?? Manter tudo como estava nas gestões anteriores da instituição??
***
Versão ampliada de artigo publicado na revista Carta Capital.
*Paulo Nogueira Batista Jr é economista e escritor. Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela Editora LeYa Brasil o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, segunda edição 2021, e pela Editora Contracorrente o livro Estilhaços, em 2024
E-mail: [email protected]
Canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br
Portal: www.nogueirabatista.com.br
Comentários
marcio gaúcho
Já comentei anteriormente: Galípolo está pavimentando a sua estrada para assumir cargos relevantes na banca financeira internacional, após a sua saída do BC. Não tem outra explicação plausível!
Zé Maria
Livre Mercado
– Com esses Juros Escorchantes, o que faz o Comerciante
que necessita recorrer a Empréstimos Bancários
para formar Capital de Giro, para sustentar o Negócio?
– Aumenta o Preço das Mercadorias na Mesma Proporção
da Taxa de Juros.
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Zé Maria
Excerto
“Em economias como a brasileira, que tem longa tradição
de indexação, existe também alguma inércia da inflação,
isto é, a tendência a trazer a inflação passada para o presente.
Assim, o efeito anti-inflacionário de uma determinada
contração da demanda agregada é menor do que seria
se os preços e salários fossem mais flexíveis e menor
o componente inercial da inflação.”
.
Marco Paulo Valeriano de Brito
FERREM-SE OS REIS, E SEUS CLÃS, SOMOS DEMOCRATAS-POPULARES E REPUBLICANOS DE ESQUERDA
Companheiras e companheiros, eu não quero saber o motivo da exoneração, do Secretário de Estado de Transportes, Washington Reis, assinada pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, em exercício, e publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, em 03 de Julho de 2025.
A Família Reis precisa baixar o facho.
Washington Reis é um bolsonarista indisfarçável.
A ÁREA DE TRANSPORTES está um caos no RJ.
Creio que o Cláudio Castro pode reverter quando voltar do Gilmarpalooza (Fórum de Justiça Bacalhau), em Lisboa/Portugal, ao RJ, mas a fragilidade dos Reis está dada e é irreversível.
O Paes não dá ponto-sem-nó e deve estar atuando como desestabilizador dessa turma fundamentalista-miliciana, cristo-fascista, pois quer ser governador do RJ e vencer a eleição de 2026.
Deve ter dedo do Quaquá, também, nessa história, pois o PT de Duque de Caxias está sentindo o golpe por dentro, ao tentar enfrentar o Pansera, a pedido do Netinho Reis, prefeito de Duque de Caxias/RJ, você bem sabe como essa turma do PT/RJ é oportunista-fisiológica, só querem cargos, em qualquer governo municipal, estadual, federal, são apegados as boquinhas, não são ideológicos, que está no guarda-chuva do Quaquá e agora é o presidente da Codemar/Maricá-RJ.
Quero que todos se ferrem de verde-amarelo ou azul-oliva!
Precisamos retomar a política para o lado dos trabalhadores e derrotar esse pragmatismo neoliberal que está destruindo a Esquerda, a Centro-Esquerda e nos ‘reescravizando’.
Que a ‘Crise do IOF’ seja didática para o PT (Partido dos Trabalhadores) e demais partidos políticos à esquerda.
A Luta de Classes precisa ser vencida pela Classe Trabalhadora e Média, neste embate contra os Ricos.
Abaixo o neonazifascismo e o bolsonarismo!
Basta, chega de opressão!
À Luta de Classes, Camaradas!
Aquele abraço!
Marco Paulo Valeriano de Brito
Enfermeiro-Sanitarista, Professor e Gestor Público.
Servidor Público Federal Aposentado do Ministério da Saúde do Brasil
Filiado ao Partido dos Trabalhadores – Diretório Municipal de Duque de Caxias RJ.
Marco Paulo Valeriano de Brito
VAMOS DERROTAR A PLUTOCRACIA, BRASILEIRAS E BRASILEIROS!
”O Congresso Nacional do Brasil (Poder Legislativo) é dos ricos, para os ricos e pelos ricos, onde todo o poder emana dos ricos, que usam e abusam dos votos do Povo.”
A Suprema Corte (Poder Judiciário – STF) não é ‘flor-que-se-cheire’ e sempre seguiu o princípio da defesa das elites, justiça para os ricos e cadeia para os miseráveis, pobres, pardos e pretos.
A Presidência da República (Poder Executivo) é dependente do grande apoio popular, o voto é direto no Brasil, contudo, no nosso país sofre o encilhamento dos Poderes Legislativo e Judiciário, sempre que os governos são populares, dificultando a governança do Presidente da República e submetendo a sua governabilidade aos interesses da classe dominante, a burguesia agrária oligárquica e urbana patrimonialista-utilitária, ambas especuladoras e rentista, que conspira a favor da banca e do mercado e parasita o Estado Brasileiro.
O golpe das elites está sempre a postos no Brasil.
A melhor definição de Plutocracia à Brasileira.
Quem sabe agora, neste século XXI, o Povo Brasileiro acorde e assuma o protagonismo da Classe Trabalhadora, nesta luta de classes permanente, dentro do Sistema Capitalista.
Marco Paulo Valeriano de Brito
Enfermeiro-Sanitarista, Professor e Gestor Público