Paulo Pimenta: CPI do Genocídio já expõe os crimes de Bolsonaro

Tempo de leitura: 3 min
Edilson Rodrigues/Agência Senado

CPI do Genocídio expõe crimes de Bolsonaro: impeachment já!

Por Paulo Pimenta (*)

A moenda começa a girar.

As instituições impuseram, em quinze dias, sucessivas derrotas ao governo: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado de Bolsonaro, não queria instalar a CPI da pandemia.

Teve que fazê-lo por determinação do Supremo Tribunal Federal.

O Palácio do Planalto tentou interferir na composição da Comissão.

Tinha nomes para presidente e relator.

Não emplacou nenhum dos dois.

Teve que engolir as indicações de Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL).

Num último esforço para bloquear o funcionamento da CPI, o Palácio do Planalto obteve uma liminar expedida por um juiz de Brasília para impedir que Renan Calheiros assumisse a relatoria.

Uma manobra desastrada.

Por inepta, a liminar foi sumariamente revogada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski.

O general sem máscara — Nesta terça-feira 4 o governo Bolsonaro começou a ser exposto aos senadores.

Os primeiros a serem ouvidos na CPI foram os ex-ministros da saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, já que o general Eduardo Pazuello, depois de ser fotografado sem máscara, no fim de semana, alegou não poder se apresentar à Comissão por ter mantido contato com oficiais que contraíram a covid-19.

Aparentemente, o general está preocupado com a saúde dos seus interrogadores, preocupação que não teve com a população brasileira quando ocupou, com absoluta incompetência e desprezo à vida, o cargo de ministro da Saúde.

Ou talvez não tenha concluído os ensaios das respostas às questões que lhe serão apresentadas.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros ofereceu uma saída rápida e objetiva ao general Pazuello: “Faça um teste de Covid, general, e participe da CPI”.

Repete-se nestes dias de aquecimento da CPI, entre os líderes políticos mais experientes, a frase atribuída ao dr. Ulysses Guimarães: “Sabe-se como começa uma CPI, nunca se sabe como termina”.

Por isso não vale a pena fazer especulações sobre os resultados, mesmo porque essa CPI da pandemia traz consigo uma peculiaridade: o que ela vai inquirir aos seus interrogados já foi objeto de confissão pública dos autores.

Ou seja, o Executivo Federal tornou público seu próprio roteiro das “23 vulnerabilidades” para preparar os seus.

O roteiro se constitui num subsídio relevante para o trabalho dos senadores.

Sem prejuízo, naturalmente, de questionamentos, cujas respostas não tenham sido objeto de “CPI training”…

Calamidade sanitária e mobilização popular — A CPI inicia os trabalhos com o governo na defensiva.

A cada dia, setores mais amplos do País passam a exigir explicações convincentes para a maior calamidade sanitária da história.

Os movimentos da oposição, importantes sem dúvida, para o desgaste do governo Bolsonaro e para visíveis modificações na correlação de forças na sociedade, seguem, porém, no âmbito da institucionalidade: STF e Congresso Nacional.

Falta um ingrediente que será decisivo para as forças populares desequilibrarem a balança: as mobilizações de rua.

Hoje o grande aliado de Bolsonaro é o vírus, quem sabe seja uma retribuição pelos serviços prestados ao longo de um ano pelo ocupante do Palácio do Planalto à propagação…

Hoje o Brasil conta mais de 412 mil mortos, com a sociedade imobilizada, presa entre dois medos: morrer asfixiada antes de chegar ao hospital ou mesmo depois de ser internada, ou morrer de fome.

A pergunta da hora é: poderão as investigações da CPI despertar a indignação da sociedade e mobilizar os setores populares para avançar no convencimento do cidadão comum sobre a condução negacionista e criminosa do governo frente à gravidade da pandemia?

Estamos diante de uma complexa encruzilhada para onde convergem: a pandemia da Covid-19 que já ultrapassou os 412 mil mortos e não dá sinais de arrefecer; uma crise econômica provocada pelas políticas ultraliberais de Bolsonaro/Guedes, que se expressam, entre outras mazelas, nas mais elevadas taxas de desemprego – mais de 14 milhões de desempregados –, na volta da fome para as camadas mais pobres e da inflação que empurra para baixo as classes médias.

O desalento e a desesperança tomam conta da população brasileira.

Calamidade nacional — Como responder a esse conjunto de desafios e pôr abaixo um desgoverno que se tornou disfuncional para a esmagadora maioria da população?

Dentro de um ano e meio o Brasil voltará às urnas. Não há saída para a calamidade em que o País foi lançado pela extrema-direita ancorada na direita neoliberal, fora da política.

Fora dos partidos institucionalizados e dos movimentos sociais organizados.

Para que o país construa um caminho capaz de conduzi-lo a escapar ao cerco da barbárie e se reencontrar consigo mesmo é necessária, mais do que nunca, a ação política madura das forças sociais comprometidas com a sobrevivência física de vastas camadas da população brasileira, com a democracia e com a dignidade nacional.

412 mil mortos depois, os setores sociais e políticos que ainda sustentam o governo genocida Bolsonaro deixam de ser apenas base social de um governo destrutivo – explicitamente confessado pelo psicopata que o guia – para se tornarem cúmplices de um genocídio.

O impedimento de Jair Bolsonaro é um imperativo de sobrevivência do Brasil como nação.

*Paulo Pimenta é deputado federal (PT-RS)


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Comentários

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Henrique Martins

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/05/05/arroubo-retorico-marco-aurelio-bolsonaro.htm

Concordo inteiramente com a posição do ministro Marco Aurélio. O melhor que o STF e o TSE com podem fazer agora é deixar esse louco falando sozinho. Simplesmente ignora-lo enquanto ele desce a ladeira.

Henrique Martins

A morte de Paulo Gustavo está gerando comoção.
A questão é que o rapaz era jovem – como tantos outros que já morreram, incluindo médicos e profissionais de saúde – e famoso, e a morte dele pode acabar mostrando ao povo brasileiro que a Covid não é uma gripizinha e que agora com os idosos vacinados são pessoas jovens que vão morrer.
Paulo teve o melhor tratamento possível e mesmo assim morreu de Covid. Imagine as pessoas que estão nas UTIs, algumas faltando até medicamentos para a intubação.
Pelo jeito somos nós os idosos vacinados que vamos ter que sair às ruas para obrigar o Congresso votar o impeachment de Bolsonaro.
Se isto acontecer, podem contar comigo.

Henrique Martins

Complementando o comentário que fiz em outro post, digo ao companheiro e aos amigos e familiares do humorista Paulo Gustavo, que eu sinceramente, acredito que onde o espírito dele estiver agora – com certeza numa ótima esfera espiritual, porque era uma pessoa caridosa – está feliz com a repercussão de sua morte porque sabe que sua morte servirá para salvar muitos brasileiros.

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