Paulo Metri: Onde estava o senador Walter Pinheiro que não votou no PL do pré-sal?

Tempo de leitura: 5 min

Wálter Pinheiro

Senador Walter Pinheiro (PT-BA) 

A votação do PL do Serra sobre o Pré-Sal

por Paulo Metri conselheiro do Clube de Engenharia

Escrevo este texto no dia seguinte ao da aprovação do PL 131 do senador José Serra sobre o Pré-Sal, que ocorreu em 24/02/16.

Assisti a todo o debate no plenário do Senado. A primeira dúvida, que os jornais não elucidam, é sobre a modificação introduzida de última hora pelo senador Romero Jucá, conforme menção do presidente do Senado, senador Renan Calheiros, que permitiu a conciliação entre os oposicionistas e a presidente Dilma.

Isto porque o texto aprovado, pelo que foi depreendido dos debates, foi o original do Serra com a modificação colocada pelo relator do projeto, senador Ricardo Ferraço.

Aliás, por onde andava este senador, que não votou?

Na minha compreensão, Romero Jucá foi ao Planalto, ainda antes da votação, para dizer à presidente que, pela experiência dele e do Renan, o projeto ia ser aprovado pela oposição com os sublevados da base (ele e Renan eram dois deles). Assim, eles estavam preocupados em dar uma “saída honrosa” para a presidente.

Acontece que o senador Lindbergh Farias discordava desta vitória da oposição líquida e certa do PL 131. O interessante é que eles não ofereceram nada em troca pelo apoio da presidente, porque o que foi colocado em votação depois foi exatamente o que estava para ser julgado antes.

Assim sendo, a presidente ficou com a seguinte dúvida. Ou apoia a rejeição do projeto e corre o risco de, no dia seguinte, as manchetes dos jornalões serem “Governo perde o embate no Senado do projeto do Serra sobre o Pré-Sal”, ou dá apoio ao projeto e deixa insatisfeita sua base aliada.

Decidiu pela opção errada, a meu ver, porque a oposição e os traidores da base aliada vão continuar fazendo chantagens, além dela não apoiar quem sempre a apoia. Dizem, as más línguas, que ela se definiu por esta posição desde a sua ida a Washington.

Muitos dos pronunciamentos dos senadores, retirando algumas exceções, foram deprimentes.

Um senador não tem obrigação de entender de todos os assuntos que passam pelo Senado para deliberação.

No entanto, eles têm que estudar, pelo menos, os temas mais relevantes e atuais, e se cercarem de assessores que possam lhes explicar as questões em debate.

Têm senadores que fazem discursos emocionais e, às vezes, bonitos, pensando que estão cumprindo o dever legislativo, quando deveriam expor aos pares explicações necessárias, análises inéditas e aconselhamentos.

Contribuíram muito para o aprofundamento da questão, sem ser exaustivo na citação e sem representar importância a ordem mostrada, os senadores Roberto Requião, José Serra, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Cristovam Buarque, Edson Lobão e Vanessa Grazziotin. Têm senadores que se expressam bem, mas só tangenciam o tema. Outros, muito inteligentes, buscam formas de dizer o secundário para defender o principal omitido, por ser inconfessável.

Não vi senador algum citar uma lista mais completa de razões porque a Petrobrás deve ser a operadora única do Pré-Sal.

Com a Petrobrás sendo a operadora,

(1) as compras locais de bens e serviços aumentam, inclusive a encomenda de desenvolvimentos tecnológicos no país; (

2) a geração de empregos no Brasil é maior;

(3) passa a ser viável a adoção de uma política industrial, devido à grandeza das contratações da Petrobrás;

(4) a produção predatória é evitada;

(5) o controle do Estado sobre o ritmo de produção de petróleo passa a existir;

(6) a segurança operacional e a ambiental são aumentadas;

(7) a participação do país em ações geopolíticas passa a poder ocorrer; e

(8) as fraudes na medição do petróleo produzido e nos custos ocorridos são evitadas.

Alguns senadores da base mencionaram um ou outro destes itens.

Senadores da oposição mencionaram à exaustão que a Petrobrás está falida e, como tal, eles estão retirando dela o ônus de ter que entrar em todo consórcio que se formar no Pré-Sal e dando o bônus da faculdade de entrar, se julgar conveniente.

Quem melhor respondeu a este argumento foi a senadora Grazziotin, que disse algo como: “se existir o leilão de um bloco amanhã e se for descoberto petróleo nele, demorará oito anos para o campo entrar em operação; neste tempo, a Petrobrás, certamente, com a sua geração de caixa, que não é pequena, irá se recuperar”.

Além disso, os senadores de oposição quererem retirar ônus e dar bônus para a Petrobrás é somente um jogo de palavras sem significado, pois graças a esta proposta, como bem disse o senador Requião, a Petrobrás poderá até vir a falir. Eles deveriam estar preocupados em satisfazer a sociedade brasileira, o que é normalmente esquecido.

A pressa para se aprovar este projeto de lei só se justifica se for compreendido que as petrolíferas estrangeiras estão contando com o Brasil oferecer muitos blocos do Pré-Sal em leilões já, enquanto todos os preços relacionados com o negócio do petróleo estão baratos, para elas ganharem os blocos em condições excepcionais e, assim, ficarem com um excelente portfólio de áreas.

O senador Lindberg lembrou algo no seguinte teor: “não faz sentido ter pressa para aprovar essa lei, a menos que se conte com a mudança para se realizar leilões imediatamente, em uma época em que o barril está a 30 dólares; isso será uma doação!

O senador Requião foi o único que lembrou o aspecto geopolítico do petróleo, que é extremamente relevante.

Guerras ocorreram pela sua posse, assim como outras foram perdidas pela falta dele. Também, no início dos anos 90 do século passado, a ação geopolítica de derrubada do preço do barril, realizada pelos Estados Unidos, a Arábia Saudita e outros países do Golfo, levou a União Soviética a se desintegrar, uma vez que a grande receita deste bloco era a da exportação de petróleo.

Nos dias atuais, se houver necessidade, a garantia de abastecimento futuro de petróleo pode servir como fator de convencimento de países para apoiarem teses brasileiras em fóruns multilaterais.

Lembrar que, quando uma empresa estrangeira extrai, por força de contrato, o petróleo brasileiro, este deixa de ser nacional, sendo impossível usá-lo em ações geopolíticas.

Gostei da honestidade do senador Cristovam que, sentindo-se incapaz de decidir por ver aspectos lógicos nas duas argumentações e graças à pressa injustificável, que tolheu as discussões nas comissões, ia abster-se de votar.

Gostei também da análise do senador Humberto Costa ao lembrar que esta lei deveria ser uma lei para o Estado brasileiro e, não, uma lei para o governo atual.

Em uma situação hipotética, pode vir um novo governo que providenciará vários leilões e dará ordem à nova diretoria da Petrobrás, nomeada por ele, para recusar a participação nos consórcios dos blocos do Pré-Sal, onde seria a operadora. Apesar da análise correta, o senador Costa, por dever de lealdade, se absteve. Onde estava o senador Walter Pinheiro, que não votou?

Achei curiosa a emenda do senador Antônio Carlos Valadares, que propôs a Petrobrás poder participar dos consórcios com um percentual menor que 30%, algo como uns 5%, segundo ele, e ainda poder ser cooperadora no bloco.

Pareceu-me uma proposta de interesse das petrolíferas estrangeiras, porque elas reconhecem que, consorciadas com a Petrobrás, fica mais fácil descobrir petróleo no Pré-Sal.

A emenda não foi aprovada, inclusive por não existir no mundo, que eu saiba, a duplicidade de operadoras em um campo. Enfim, o futuro é nebuloso, mas é sombrio.

Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia

Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/

 PS do Viomundo: Depois de ter-se cogitado a  ida de Walter Pinheiro (PT-BA) para o PDT, PSD e o PSB, no final de 2015, achava-se que o seu destino seria a Rede. Atualmente, especula-se que vá para o PMDB. A conferir.

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Comentários

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Urbano

Nossa crise é mais de presidências do que de qualquer outra situação. Analisem todas elas ligadas às necessidades de uma República com erre maiúsculo, a fim de se aperceber da tragédia em que vivemos. E depois da última salvação do cabo de guerra ter jogado a toalha, então se danou tudo…

    Urbano

    … a fim de se aperceberem…

Messias Franca de Macedo

… Há muito tempo esse senador tem se mostrado uma baita traidor!…

[Se não me engano esse senador “do PT” é evangélico!
Deus o perdoe!]

Messias Franca de Macedo
Feira de Santana, Bahia
República Destes Bananas Traidores

Francisco de Assis

Não foi só o Walter Pinheiro que apoiou a Chevron & Cia. O senador Jorge Viana (PT-AC) também fugiu do plenário e não votou contra a urgência (33 a 31) do projeto Serra-Chevron. Tampouco vi na lista de votação do projeto (40 a 26). Mas uma notícia da Folha, desta sexta, 26/02, talvez possa explicar a posição pró-Chevron de Jorge Viana: “PGR pede arquivamento de inquérito do petrolão sobre governador do Acre (Tião Viana, irmão de Jorge Viana)”. É aquela história: uma mão suja a outra. V. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1744005-janot-pede-arquivamento-de-inquerito-do-petrolao-sobre-governador-do-acre.shtml

Francisco

Conformem-se…

E eu que já votei duas (02) vezes, em primeiro turno, para Roberto Freire…

Elias

Com esse trunfo Serra garantiu sua candidatura à presidência em 2018. Foi para isso que se elegeu senador. Em breve veremos as forças de direita, a mídia e os EUA a apoiá-lo. O sobrinho do Tio Sam merece. Fez a lição de casa direitinho.

    Elias

    Quanto a Walter Pinheiro que esqueci de comentar, há uma coisa só a dizer: Boa viagem!

    Antonio

    Você se esqueceu de escrever que Serra com esse projeto passou para a galeria dos maiores Filhos da put…que já nasceram em terras brasileiras.

Mario Santos

Quem já foi o combativo Walter Pinheiro do sindicato dos telefonicos da Bahia na década 1980 e 90, depois vereador e pelas carreiras de deputado até chegar ao Senado.

Pinheiro já havia demonstrado sinais de aderir ao pragmatismos da política brasileira em algumas oportunidades:

– na década de 1990 nem depois não lembro de uma defesa enfática da sua parte para contra a má prestação do serviços das operadoras de telefonia nem da Anatel.

– nas eleições de 2008 para prefeito de Salvador se deixou abater por João Henrique o pior prefeito da cidade em todos os tempos.

– sendo do movimento sindical e da área de telecomunicações nunca fez defesa enfática dos projetos de banda larga do governo federal.

Do sindicalista nos anos 1980 não restou nada desse político, talvez só as palavras ao vento.

Nelson

Permita-me discordar, engenheiro Metri. De alguém que, no passado, se mostrou tão cioso com o patrimônio nacional, eu esperava que o Sr Buarque tivesse votado convictamente contra a entrega do Pré-Sal e não se abstido.

Mas, pensando bem, eu coloquei o verbo mostrar no tempo correto, no passado. O Sr Buarque já vinha dando mostras de que passara a renegar seu passado.

Joel Miranda

Amigos, votei com Pinheiro para deputado, para prefeito e para senador, imaginam vocês a minha tristeza com ele?
Que posso fazer? Não ganhará mais nunca o meu voto!

    mineiro

    mas infelizmente gente dessa laia sempre vai ser eleito , o povo é a cara do politico que elege . mas esse salafrario nao se ausentou sem mais nem menos nao , ele com certeza recebeu ordens do fantoche de pres. da direita. foi tudo planejado , nao se ausentou a torto e a direito nao foi conivente com a corja golpista. mais uma vez temos que exigir do lulinha desgraçado paz e amor , o que ele tem a dizer do seu fantoche de pres. traidora que ajudou a entregar o pre-sal aos stats. daqui um tempo ela ta viajando para la para receber o agradecimento deles. traidora dos quintos dos infernos.

    MANREL

    JOEL, infelizmente tenho que lhe informar que o Waltinho sempre te enganou.

    Ele tem o miolo fraco, e não é de hoje.

mineiro

todo mundo tem que cobrar explicaçoes desses salafrarios que nao votou , como que num dia importante como esse , esses vermes se ausenta. e depois nao quer ser chamados de traidores. a menos que haja uma explicaçao bem convincente , mais tem que mesmo e olhe la , tem que ser chamdo de traidor sim. e o pior de todos esse desgoverno maldito traidor , o pior deles , ajudou a oposiçao a entregar o pres. vamos lulinha paz e amor fala alguma coisa agora.

Jose Carlos Dias

Quando eu imagino que já votei em um cara ( Walter Pinheiro ) desse. Me dar nojo.

    Anesio

    Só espero que canalha desses não se eleja nunca mais. Covarde traidor!

FrancoAtirador

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Articulando com o PPSDemB para sair do PT.
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