Patrus: A Vale diante de uma contradição insolúvel

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Beatriz Cerqueira/Facebook

O LUCRO OU A VIDA?

por Patrus Ananias*, via whatsapp

Quando nos encontramos em um momento triste e grave de refletir sobre a preservação da vida, do meio ambiente compartilhado e também sobre a defesa dos direitos daqueles mais fragilizados, exigimos a ação e a responsabilidade do Estado, para garantir o cumprimento dos direitos e a penalização daqueles que são explicitamente culpados. Exigimos a presença do Estado, com plena razão.

Porém, corre em nossa sociedade a percepção de que a privatização, a entrega dos bens nacionais à iniciativa privada, é capaz de tornar tudo melhor.

Mas qual o compromisso primordial da iniciativa privada, o lucro ou o bem comum? Os acionistas ou a preservação da vida? O ganho máximo ou a preservação do meio ambiente para as gerações futuras?

Existe aí uma contradição insolúvel.

As empresas desejam o lucro maximizado e o que observamos no Brasil é a presença ampla de um capitalismo selvagem.

Um capitalismo que avança sobre a vida dos trabalhadores e daqueles que não têm maneiras de se defender contra a força concentrada do capital.

A iniciativa privada ultrapassa suas metas e exporta suas realizações, sem preocupações com desenvolvimento sustentado – exceto aquelas que são impostas pelo Estado.

O compromisso com o bem comum, com a preservação da vida e com um projeto de nação são responsabilidades do Estado Democrático.

O Estado é o único capaz de garantir metas de longo prazo para o futuro de um país, no sentido de integrar as várias dimensões da vida – econômica, política, cultural, ambiental.

Integrar as dimensões da vida buscando a superação de desigualdades e o compartilhamento efetivo de um bem comum, em um país que garanta oportunidades e defenda a vida.

Se aceitamos a economia de mercado, se aceitamos o empreendedorismo como forma de avanço econômico, isso deve estar sempre subordinado ao Direito à vida. Organizamo-nos em sociedade, em primeiro lugar, para garantir um conjunto de direitos e deveres que preservam a vida.

As tragédias de Mariana e de Brumadinho impõem a necessidade de refletir sobre os limites que devem pairar sobre a iniciativa privada.

A iniciativa privada deve estar subordinada à garantia dos direitos, ao bem comum, à justiça social e ao projeto de nação que queremos para o Brasil.

*Patrus Ananias é deputado federal (PT-MG), ex-ministro do Desenvolvimento Social, que implantou o Bolsa Família, e do Desenvolvimento Agrário.


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Comentários

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Nelson

De outra parte, o capitalismo já nada tem a oferecer à humanidade que não seja destruição, desespero e morte. O sucesso de um sistema sócio-econômico-produtivo, deveria ser medido a partir de sua capacidade em distribuir, para o conjunto da humanidade, a riqueza que é produzida socialmente.

E o capitalismo não tem essa capacidade. A lógica de funcionamento desse sistema não permite entregar a cada ser humano a vida digna a que ele tem direito. Pelo contrário, a lógica de funcionamento do capitalismo só amplia o universo dos que são alijados, excluídos do usufruto dos benefícios da riqueza produzida por todos. A lógica capitalista concentra, inexoravelmente, a riqueza em uma quantidade cada vez menor de mãos.

Por conta disso, eu digo que, se queremos viver em um mundo de paz e aprazível no futuro, teremos que, o mais breve possível, engendrar um outro sistema sócio-econômica-produtivo que seja includente e não excludente como o capitalismo é.

Nelson

Na segunda metade da década de 1990, eu costumava ler com frequência as colunas que Jânio de Freitas escrevia para a Folha de São Paulo. Ele é um dos poucos jornalistas que mantiveram sua coerência no decorrer do tempo.

Àquela época, eu costumava recortar as colunas que considerava mais interessantes e contundentes para guardá-las em um arquivo. Também recortei muitas do grande Aloysio Biondi.

Devo tê-la, guardada, porém, não tive tempo de ir procurá-la para reproduzir os termos exatos utilizados pelo Jânio. Refiro-me a uma coluna em que Jânio faz uma afirmação peremptória, e corretíssima. Nessa coluna, ele escreveu mais ou menos assim: “A iniciativa privada não faz um país. Para isso, é necessário um serviço público qualificado”.

Não fosse a avassaladora propaganda ideológica, que procura, acirradamente, incensar a iniciativa privada aos nossos olhos, o povo teria condições de enxergar melhor e se dar conta do quão acertda é a afirmação de Jânio de Freitas.

Não. Não se trata aqui de, por opção ideológica, difamar a iniciativa privada ou denegrir a sua imagem. Estou apenas retratando a coisa como ela é, na realidade.

A empresa privada tem o objetivo primeiro, e muitas vezes único, de gerar lucros para seu dono e/ou seus acionistas. Então, não podemos exigir dela uma preocupação com o todo.

Essa preocupação tem que ficar a cargo do serviço público, que olha por todos.
Isto vem demonstrar, deixa bastante claro, que necessitamos, sim, manter e até ampliar, os serviços públicos e, consequentemente, com eles, as empresas públicas e estatais.

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